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7 O PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UFC

7.2 Publicação

Para discorrer sobre a publicação, buscamos conhecer como esse assunto foi concebido, desde os primórdios do Programa. Nessa empreitada, identificamos o fato de que a preocupação com a publicação, no Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da UFC, está presente nos seus propósitos desde o período de sua gestação como Programa. Referindo-se à publicação dos trabalhos de pesquisa dos docentes, Loiola (1991, p. 108, grifo nosso) registra:

Com efeito, em 1972 a Diretoria da então Faculdade de Educação, tendo à frente o Professor Antônio Carlos de Almeida Machado, iniciou um Programa que basicamente visava a criar as condições necessárias à implantação da pós- graduação strito-sensu, isto é, do curso de Mestrado. Os objetivos deste Programa foram os seguintes:

1) Intensificar a formação de recursos humanos ao nível de Mestrado e iniciar a formação a nível de Doutorado;

2) Desenvolver a prática da pesquisa científica, valorizando as iniciativas individuais e estimulando a formação de grupos de pesquisadores através de projetos mais amplos negociados com instituições nacionais e estrangeiras; 3) Iniciar a oferta de cursos de pós-graduação, latu-sensu, em Metodologia do ensino superior, destinados a docentes Universitários da Região Norte e Nordeste, em convênios com órgãos do MEC;

4) Criar uma publicação periódica para divulgação dos trabalhos dos docentes.

Na contemporaneidade, essa preocupação com a publicação dos achados da pesquisa desenvolvida pelo Programa permanece e foi atualizada. As nove linhas de pesquisa produzem publicações impressas sob a forma de livros. Conforme relato dos professores- coordenadores estes livros são escritos individualmente ou sob a forma de coletâneas (o que é mais comum na realidade pesquisada) que reúnem trabalhos de pesquisa de docentes e alunos da pós-graduação. Além dos livros impressos, docentes e alunos do Mestrado e do Doutorado publicam artigos em revistas e periódicos.

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Em consonância com as características sociais próprias da Modernidade, mais precisamente da era tecnológica, docentes e alunos da pós-graduação socializam os achados de estudos e pesquisas, também, em publicações online. As nove linhas de pesquisa que integram o Programa atualmente fazem a socialização de seus estudos e achados de pesquisa, ou parte destes, sob a forma de artigos, livros e revistas na internet.

Ao discorrermos sobre as publicações na Educação Superior, em particular no âmbito do Programa sob estudo, consideramos oportuno registrar o fato de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9394/96, em seu Capítulo IV, que trata da Educação Superior, no Art. 43. Inciso IV, estabelece que a Educação Superior tem por finalidade “promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação.” (BRASIL, 1996, p. 14).

Não obstante, porém, o que preconiza a legislação, no contexto pesquisado, identificamos que esta determinação legal – de que a Educação Superior (pós-graduação) deve divulgar os conhecimentos que produz por meio da publicação – não encontra sustentação material nas condições objetivas propiciadas à universidade pública pelo Governo brasileiro, na atualidade.

Sobre a socialização do conhecimento científico de forma impressa um professor- coordenador expõe as limitações que vivencia no contexto social contemporâneo. Ele expõe os seguintes argumentos:

[...] a universidade passa por uma crise de corte de gastos, inclusive a publicação não é amparada. Embora haja uma cobrança muito grande em termo da produtividade, da publicação, em relação ao professor, a universidade não dá condições de promover a comunicação dos trabalhos. Normalmente os professores é que têm custeado, em grande medida, os livros, sobretudo os da Linha. [...] o desejo que temos de ter uma publicação própria não tem o respaldo da universidade, o financeiro da universidade. Esse é um problema, para fazer circular o conhecimento que está sendo produzido [...] a universidade poderia, deveria financiar a publicação e desse modo promover a maior divulgação dos trabalhos. (Professor-coordenador 02).

Conforme abordado no capítulo 6 desta tese, esta crise que assola a universidade brasileira, a que o professor-coordenador 02 se reporta, decorre dos ajustes estruturais, econômicos e políticos de proteção ao capital. São as políticas neoliberais de minimização do Estado que fazem encolher sistematicamente os investimentos na universidade pública. Nesse contexto, é imperioso elucidar, e mesmo denunciar, a dicotomia intrínseca ao Estado e suas

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proposições à universidade. Noutros termos, o Estado que promulga uma Lei delegando atribuições à universidade (neste caso, publicar o conhecimento científico) é o mesmo Estado que se exime da responsabilidade de financiar a universidade pública satisfatoriamente.

Essa ação dicotômica do Estado é muito transparente nas palavras do professor- coordenador 02, quando diz “Embora haja uma cobrança muito grande em termo da produtividade, da publicação, em relação ao professor, a universidade não dá condições de promover a comunicação dos trabalhos”. É oportuno lembrar ainda que, no contexto da Reforma do Estado, Este, ao mesmo tempo em que se minimiza como agente financiador, se maximiza feito agente administrativo que vai cobrar da universidade eficiência, eficácia e, acima de tudo, produtividade. Daí o relato do professor-coordenador, que diz: “há uma cobrança muito grande”. Ressaltamos que essa cobrança de produtividade, na contemporaneidade, é efetivada por meio da avaliação da pós-graduação.

Evidenciamos mais uma vez a dissonância entre a Lei que determina publicar, a política do governo que não garante financiamento e a avaliação da pós-graduação, que cobra publicação (aprofundamos a crítica a esta situação contraditória no capítulo 8 dessa tese).

O que consideramos pertinente registrar, entretanto, é que, no concernente à publicação, não obstante as condições materiais com as quais se defrontam, os docentes, mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFC publicam sistematicamente seus achados de pesquisa, quer seja pelas condições mínimas oferecidas pela Universidade (no contexto pesquisado, identificamos que alguns livros são publicados pela Editora da universidade- Edições UFC), quer seja pagando do próprio bolso, como afirmou o professor-coordenador 02: “normalmente os professores é que têm custeado, em grande medida, os livros”. Cabe destacar que essa informação foi apontada por sete dentre os nove coordenadores entrevistados.