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Quadro legal específico para Protecção do Património Cultural Subaquático

Capítulo II – Convenções UNESCO e de Quioto

1. Quadro legal específico para Protecção do Património Cultural Subaquático

A Convenção sobre a Protecção do Património Cultural Subaquático foi aprovada pela 31.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) 2001, em Paris156.

A Convenção de 2001 apresenta duas partes distintas:

─ O texto principal, que se refere aos princípios e directrizes de preservação e conservação; e ─ O anexo, que contém regras práticas e sistemas de operação para intervenções submarinas.

A cooperação entre Estados na protecção do património subaquático é encorajada pela Convenção dependendo a regulamentação da localização do património:

─ Os Estados Partes têm o direito exclusivo de regular as actividades internas nas suas águas e arquipélagos e no mar territorial correspondente;

─ Dentro de sua zona contígua os Estados Partes podem regulamentar e autorizar actividades dirigidas para o património cultural subaquático;

─ Dentro da zona económica exclusiva, ou da plataforma continental e dentro da área, ou seja, as águas fora da jurisdição nacional, é criado um regime específico de cooperação internacional que engloba notificações, consultas e coordenação na implementação de medidas de defesa.

A sua interpretação e aplicação são feitas no contexto e em conformidade com o direito internacional, incluindo as disposições constantes da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982.

Na Convenção de 2001 sobressai o aspecto da arqueologia subaquática como Património Cultural. Este tipo de património é um testemunho da cultura das civilizações passadas e da história da humanidade que as organizações internacionais têm feito esforços em preservar. O património subaquático, em especial, dá-nos a conhecer modos de vida, de trabalho, rotas comerciais, civilizações e guerras. Um naufrágio, assim como uma ruína submersa é uma cápsula do tempo esperando para ser revelada.

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Convenção sobre a Protecção do Património Cultural Subaquático adoptada pela Conferência Geral da UNESCO em 2 de Novembro de 2001 (Convenção de 2001) é um tratado internacional cujo objectivo é proteger o património cultural subaquático. Entra em vigor para os Estados que a ratificaram três meses após a vigésima ratificação. O conceito de antiguidade, em termos temporais, é idêntico ao da legislação aduaneira, 100 anos.

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O valor histórico e cultural do património coberto pelos oceanos é imenso. Estima-se que existam mais de três milhões de naufrágios ainda desconhecidos no fundo do oceano. Remanescentes de civilizações antigas, como as ruínas do famoso farol de Alexandria no Egipto, e cidades inteiras como Porto Real na Jamaica, podem ser encontrados sob as ondas. Enquanto o património cultural terrestre beneficiou nas últimas décadas de protecção nacional e internacional, o património subaquático careceu de protecção legal.

Devido ao aperfeiçoamento das tecnologias de mergulho, a pilhagem desse património cultural subaquático aumenta rapidamente deixando-o vulnerável a actividades predatórias de caçadores de tesouros.

Muitos países ainda não protegem esses bens de maneira adequada e naufrágios e ruínas localizados em águas internacionais encontram-se ainda desprotegidos.

Em termos de evolução histórica desta Convenção, diremos que em 1982, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar sublinhou a necessidade de os Estados Partes protegerem o património cultural subaquático codificando-o sob o termo “objectos arqueológicos e históricos”. Foi criada a obrigação de os Estados Partes protegerem tais objectos, mas não foi regulada ou articulada especificamente tal protecção. Abre espaço, no entanto, para uma regulamentação internacional específica para a protecção deste património. Assim, em 1993, a UNESCO iniciou esforços para desenvolver uma nova convenção para a protecção do património cultural subaquático para preencher essa lacuna, tendo em 1996 o organismo decidido pela necessidade de um instrumento legal vinculante, iniciando em 1998 os trabalhos do projecto da convenção.

Em consequência, a Convenção de 2001 foi enfim adoptada pela Conferência Geral da UNESCO, configurando-se como uma resposta da comunidade internacional ao saque e destruição do património cultural subaquático. A Convenção oferece um alto padrão internacional de protecção a esse património, fornecendo medidas apropriadas a nível legal, administrativo e operacional, adoptadas pelos Estados Partes de acordo com suas respectivas possibilidades. No entanto, cada Estado, se assim o entender, pode garantir um padrão ainda mais elevado de protecção do que o previsto na Convenção.

A Convenção de 2001 define “património cultural subaquático” como todo o resquício de existência humana que tenha um caráter cultural, histórico e arqueológico, que esteja submerso parcial ou totalmente, periódica ou continuamente, por pelo menos 100 anos.

102 Os princípios gerais desta Convenção são os seguintes:

1. Os Estados Partes da Convenção devem preservar o património cultural subaquático para o benefício da humanidade, tomando providências nesse sentido;

2. O património cultural subaquático deve ser protegido de exploração comercial e especulação. Os Estados Partes devem tomar medidas contra tráfico ilícito de bens culturais. Este princípio não deve ser entendido em oposição à arqueologia profissional, depósito do património recuperado em projecto de pesquisa ou prevenção de actividades predatórias desde que os requisitos da Convenção sejam observados. Objectiva-se assim que qualquer recuperação de património cultural subaquático alcance sua máxima protecção;

3. A Convenção dá preferência à preservação in situ do património cultural subaquático, ou seja, a sua actual localização no fundo do mar. Esta preferência reforça a importância do contexto histórico do objecto cultural e seu significado científico. Reconhece também que tal património se encontra bem preservado submerso devido à baixa deterioração e a inexistência de oxigénio sob circunstâncias normais e, portanto, não se encontra necessariamente em perigo. Outras actividades podem, no entanto, ser autorizadas se atenderem ao propósito de fazer uma contribuição significante para a protecção ou conhecimento do património cultural subaquático;

4. Os Estados Partes devem promover difusão de informação, formação e treino em arqueologia subaquática, transferência de tecnologia e sensibilização da população sobre a importância do património cultural subaquático e sua preservação.

Por sua vez, é importante destacar que a Convenção de 2001 não regula a questão da titularidade ou propriedade dos destroços ou ruínas entre os Estados interessados. Não modifica a legislação nem os direitos de soberania dos Estados.

Portugal, em legislação própria das Alfândegas, relativamente aos achados e arrojos, consagra a atribuição de competências à autoridade aduaneira157.

157 Regulamento das Alfândegas, Título V – Dos sinistros marítimos e aéreos, dos achados e dos arrojos,

artigos 679.º a 690.º. Assim, dispõe o “Art.º 679.º Quando ocorram quaisquer sinistros marítimos na costa, nos portos, nos rios ou enseadas, cumpre à autoridade aduaneira ou da guarda-fiscal mais próxima providenciar imediatamente, no que estiver ao seu alcance, para efectuar a salvação de pessoas, embarcações e fazendas, devendo estas ser cuidadosamente inventariadas.

§ 1.º A autoridade da guarda-fiscal aludida neste artigo deverá dar imediato conhecimento da ocorrência à competente estância aduaneira, utilizando para isso a via mais rápida.

§ 2.º Todas as estâncias aduaneiras que tenham conhecimento de qualquer sinistro, nos termos do corpo deste artigo e seu § 1.º, deverão comunicá-lo superiormente, utilizando também para isso a via mais rápida.

§ 3.º Qualquer das autoridades aludidas neste artigo entregará os salvados e respectivo inventário ao funcionário que for presidir ao salvamento, nos termos do artigo seguinte.”

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O Regulamento das Alfândegas prevê disposições com respeito aos objectos achados no mar ou por ele arrojados, devendo os achadores, qualquer que seja a sua qualidade ou categoria, comunicar o facto à estância aduaneira mais próxima. Aos objectos achados, que ficarão sob fiscalização, são aplicáveis regras próprias relativamente às despesas e remoção dos objectos achados no mar. Também se estabelece que será feito inventário, nos termos do artigo 681.º, dele devendo constar o nome dos achadores, o local em que os objectos foram encontrados e o seu valor aproximado.

2. Quadro legal específico dos Regimes e Procedimentos Aduaneiros – Convenção de