• Nenhum resultado encontrado

Zona Marítima Particularmente Sensível

Capítulo I O Domínio Marítimo do Estado

5. Zona Marítima Particularmente Sensível

A Zona Marítima Particularmente Sensível (ZMPS) foi criada no seio da Organização Marítima Internacional (OMI)40 e estabelecida em 15 de Outubro de 2004. A figura da ZMPS

38 Casos da Plataforma Continental do Mar do Norte, International Court of Justice (ICJ) Reports 1969. p. 22. 39 FERRÃO Marisa Caetano – A delimitação da Plataforma Continental além das 200 milhas. 2009. Lisboa:

AAFDL. p. 13.

40 A Organização Marítima Internacional (OMI) foi criada na sequência da Conferência de Geneve 1948,

33

teve em vista clarificar os conceitos previstos na International Convention for the Prevention

of Pollution from Ships 73/78 (Convenção MARPOL)41, sobre áreas especiais de protecção, pelo que esta convenção é considerada uma das mais importantes em matéria de ambiente marítimo com vista a minimizar a poluição no mar, através da eliminação das descargas de óleo e outras substâncias.

Através das Resoluções A.720 (17) e A.885 (21) daquela Organização e, posteriormente, com a publicação das orientações técnicas – Resolução A.927 (22), de 29 de Novembro de 2001 – foram estabelecidas as linhas de orientação que definem os critérios em que se devem basear as propostas a apresentar à OMI sobre esta matéria.

Este acervo de legislação visa prevenir os acidentes ocorridos com navios que têm provocado muitos acidentes com substâncias perigosas, como o ocorrido com o Prestige, em 2001, ao largo da costa da Galiza.

A necessidade de preservar o existente nestas áreas levou à designação deste tipo de zonas como sendo zonas particularmente sensíveis. Por um lado, visa-se garantir aos Estados ribeirinhos os recursos de elevada importância económica, ecológica e científica, por outro lado, dada a vulnerabilidade a substâncias nocivas derivadas da navegação marítima proteger esse meio ambiente de acidentes ocorridos com navios.

Assim, têm sido identificadas áreas mais sensíveis a fim de lhes ser atribuído um estatuto especial de protecção, o que decorreu, com mais vigor, da Convenção MARPOL, e seria reforçado pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.

Pela Parte XII, desta Convenção, quando os Estados costeiros tenham motivos razoáveis para acreditar que uma área particular e claramente definida das suas respectivas zonas económicas exclusivas requer a adopção de medidas obrigatórias especiais para prevenir a poluição proveniente de embarcações, a mesma prevê que esses Estados possam apresentar uma

navegação internacional. Essa conferência terminou com a adopção da Inter-governamental Maritime Consultative Organization, ou IMCO, nome que em 1982 mudou para IMO (International Maritime Organization), em português: OMI. Portugal aderiu em 1976.

41 Marpol (International Convention for the Prevention of Pollution From Ships), criada em1973 e

modificada pelo Protocolo de 1978. ("Marpol" é a abreviatura de marine pollution). As emendas de 1984, introduzidas ao anexo ao Protocolo da Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios, concluída em Londres, em 7 de Setembro de 1984, foram aprovadas para adesão pelo Decreto n.º 48/90, de 7 de Novembro.

Vide tb. COM (2011) 286 final - Relatório da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho sobre a execução do Regulamento (CE) n.º 2038/2006, relativo ao financiamento plurianual das actividades da Agência Europeia da Segurança Marítima no domínio do combate à poluição causada por navios, no período 2007-2009.

34

proposta fundamentada do ponto de vista científico e técnico, a uma organização internacional competente, no sentido de, então, ser definida uma ZMPS.

A este título, já anteriormente, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PNUMA – 1980)42, no seu Relatório Anual sobre o Estado do Ambiente no Planeta, havia indicado existirem 146 zonas costeiras mortas, por carência de oxigénio, e que desde 1990 essas zonas já terão duplicado, o que se fica a dever à poluição de origem telúrica e aos acidentes marítimos. Também a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) havia já aprovado, por Resolução de 1963, a Convention on International Trade in

Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES)43, que obriga que o comércio internacional de espécimes das espécies previstas nas listas dos seus anexos sejam sujeitas a controlos. Estes exigem que toda a importação, exportação, reexportação e a introdução num dado território aduaneiro, designadamente a proveniente do mar, de espécies abrangidas pela Convenção tem de ser autorizada através de um sistema de licenciamento.

Ainda no que se refere à ZMPS, e no que respeita a Portugal, a contribuição para a definição da ZMPS da Europa Ocidental, passou por estudos técnicos fundamentados, após recolha de pareceres de diversas entidades, designadamente, a Direcção-Geral da Autoridade Marítima, Instituto de Conservação da Natureza, Instituto Hidrográfico, Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, Instituto de Investigação Agrária e das Pescas e Direcção-Geral do Turismo.

Estas políticas salientaram, especialmente, os aspectos de carácter biológico, ambiental, sociológico, cultural e económico que caracterizam a nossa ZMPS, tendo igualmente dado conta do volume de tráfego costeiro que utiliza os espaços marítimos sob a soberania portuguesa, identificando os que transportam mercadorias perigosas. Estes elementos foram recolhidos pelo sistema de monitorização costeira VTS de Finisterra.

42 "A Estratégia Mundial para a Conservação" 1980, Nova York. Realizada sob o patrocínio e supervisão do

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF). Tal documento explora, basicamente, as interfaces entre conservação de espécies e ecossistemas e entre manutenção da vida no planeta e a preservação da diversidade biológica, introduzindo pela primeira vez o conceito de "desenvolvimento sustentável".

43 Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora em vias de extinção

(CITES) conhecida como Convenção de Washington é um acordo internacional entre governos, elaborado como resultado de uma resolução aprovada em 1963 durante uma reunião dos membros da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). A convenção entrou em vigor em 1 de Julho de 1975, tendo sido aprovada por oitenta países em Washington, cujo objectivo é garantir que o comércio de espécimes de animais e plantas selvagens não ameace a sua sobrevivência atribuindo diferentes graus de protecção para mais de 33.000 espécies de animais e plantas.

35

Para além do Sistema Nacional de Controlo de Tráfego Marítimo (VTS)44, foi aprovada uma medida de protecção associada, consistindo na notificação de entrada e saída por parte dos navios, obrigatória para todos os petroleiros com mais de 600 tons que transportem crude, fuelóleo e betumes e asfaltos ou emulsões, com determinadas características técnicas, e que entrou em vigor em 1 de Julho de 2005.

O Protocolo, que se pode dizer baseado no princípio da precaução, que formaliza a cooperação entre os 6 Estados Membros subscritores da ZMPS da Europa Ocidental, consiste em análise estatística e outras medidas administrativas associadas, para além da definição de mais áreas protegidas, bem como a notificação obrigatória para navios que transportem determinadas cargas. Foi assinado em 30 de Junho de 2005, em Lisboa, sendo os Estados em causa: Portugal, Espanha, Bélgica, França, Reino Unido e Irlanda, que se comprometeram a definir a zona sensível e a solicitar posterior autorização à Organização Internacional Marítima (IMO), que é uma das entidades com poder legislativo sobre o domínio marítimo.

44 O Sistema Nacional de Controlo de Tráfego Marítimo (VTS), foi aprovado na Organização Marítima

Internacional (OMI), e entrou em vigor em 2005. O VTS tem como objectivos: afastar a navegação da costa portuguesa das 5 milhas para as 14/15 milhas, harmonizar o sistema com o negociado e acordado com o reino de Espanha e criar corredores de passagem para navios transportando cargas poluentes.

O sistema instalado no continente tem disponíveis dois níveis de serviço: o serviço Costeiro (toda a costa continental) e o Portuário (Aveiro, Viana do Castelo, Figueira da Foz, Faro e Portimão).

O VTS, assim, foi projectado para melhorar a segurança e eficiência da navegação, salvaguarda da vida humana no mar e a protecção do ambiente marinho.

36