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ANO CONTEÚDOS E LIVROS

1º ANO CONTEÚDOS

 Grammatica elementar; tradução de auctores fáceis; versão de trechos simples de prosa; exercícios de conversação.

 Estudo theorico e pratico da phonologia franceza; leitura reiterada de trechos determinados, dando o professor o modelo da pronuncia.

Conjugação, na pedra, dos tempos simples dos auxiliares avoir e être, dos verbos regulares aimer, finir, recevoir e confondre.

 Conjugação dos tempos compostos e de differentes verbos regulares.

 Estudo elementar dos pronomes, artigo, substantivo, adjectivo e suas variações; sua syntaxe essencial.

Orthographia dos verbos terminados em cer, ger, eler, e eter e outros.

 Verbos pronominaes e impessoais.

 Idem regulares mais comumente empregados.

 Noção dos abverbios, preposições essenciaes, principaes conjuncções; sua syntaxe em regras claras e resumidas.

 Verbos conjugados negativa e interrogativamente.

 Leitura e traducção de exercícios de grammatica; leitura, traducção e analyse logica de trechos selectos de prosadores faceis: Themas variados e gradualmente mais difíceis.

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 Halbout: Grammatica franceza, 6ª edição.

 Moreira de Sá: Selecta franceza

 Diccionarios: Francez-portuguez e vice-versa. 2º ANO CONTEÚDOS:

 Revisão da grammatica elementar. Leitura e traducção de auctores gradualmente mais difíceis.

 Exercicios de versão e conversação. COMPÊNDIOS:

 Halbout, Grammatica franceza, 6ª edição.

 Moreira de Sá, Selecta franceza.

 Racine e Corneille – Theatro.

 F. Barreto e V. de Souza, Selecção litteraria.

3ºANO CONTEÚDOS

 Grammatica complementar, traducção de auctores mais difíceis: exercícios de versão e conversação. Estudo completo.

 Recapitulação da grammatica estudada, insistindo-se mais em pormenores.

 Regras sobre a formação dos tempos; verbos irregulares.

 Lições resumidas de syntaxe, sendo os exemplos escriptos na pedra a fim de habituar os alumnos com a orthographia da língua, tornando também as regras de mais fácil intuição. Com preferencia a syntaxe de pronomes e do verbo. Idiotismos mais comuns.

 Noticia succinta sobre a origem, formação e desenvolvimento da língua franceza.

PARTE PRATICA

 Leitura e traducção de trechos, escriptos na pedra, dictados pelo professor.

 Traducção e versão escriptas de auctores cada vez mais difficeis, prosadores e poetas.

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 Exercicios de conversação.

 As recordações serão por escripto. LIVROS DIDÁTICOS:

 Moreira de Sá, Selecta Franceza.

 Charles André, Petit Cours de Littérature Française.

 Racine, Britannicus, Bérénice e Athalie.

 Fausto Barreto, Selecção literaria.

Nessas análises, os conteúdos desse programa de 1892 nos levaram à referência de gramática que nele consta, a Grammatica Franceza, de Halbout. Nosso objetivo, ao verificar o conteúdo desta gramática, foi o de buscar pistas que nos levassem às filiações que compareciam no ensino de gramática do francês no colégio, nesse momento.

José Francisco Halbout era professor de francês do Colégio Pedro II e escreveu a Gramática Teórica e Prática da Língua Francesa para atender, segundo ele, como consta no prólogo do autor desta obra, a uma demanda não suprida pelas gramáticas então existentes (Halbout, 1937). Na edição a que tive acesso, a 39ª, o prefácio dos editores aponta para a popularidade dessa gramática no ensino secundário brasileiro, sendo ela adotada naquele momento pelo Colégio Pedro II, pela Escola Normal do Distrito Federal, pela Escola Militar e Naval, pelo Mosteiro de São Bento e maior parte dos Liceus, Seminários e Colégios públicos e privados do país. Essa popularidade se deixa marcar pelo próprio número de edições e pelo tempo que durou sua circulação como referência no ensino de francês, no mínimo 40 anos. A edição que consta nesse programa de 1892 é a 6ª e a que tive acesso era de 1937. Essa obra também não traz referências bibliográficas.

Como dissemos, o método-tradução gramática ainda era o que balizava o ensino de língua nesse momento. Não escapando dessa perspectiva, a gramática de Halbout, “correta e melhorada”, assim como consta em sua contracapa, propõe um ensino da língua francesa pela comparação com a língua nacional, da boa língua nacional, fazendo com que a língua estrangeira fosse aprendida a partir das regras conhecidas da língua nacional e, desta forma, os alunos poderiam “melhorar as traduções e evitar as

153 impropriedades de termos e principais galicismos que corrompem a pureza de nossa língua.” (HALBOUT, [1890] 1937). Evitar as “impurezas e os galicismos” na língua nacional pelos clássicos da língua francesa aponta para um imaginário sobre esses clássicos que também gira em torno do bom uso da língua e da potencialidade dos clássicos franceses funcionarem como exemplo desse bom uso da língua, como também pudemos ver com a gramática de Sevene no programa anterior. A ideia de gramática se liga, então, aos sentidos de pureza e de boa forma da língua, tanto da francesa quanto da portuguesa.

Auroux, tratando da forma como a gramática passa a representar a correção da língua, afirma que

A gramática definiu, desde seus primeiros tratados, propriedades centrais ou, pelo menos, ela os colocou em questão por sua ausência, designadas como barbarismos ou solecismos. Há barbarismos quando utilizamos uma forma que não existe (infrato para infarto) e solecismo quando empregamos uma expressão (superar a um

obstáculo para superar um obstáculo). Percebemos imediatamente que a

propriedade subjacente é a boa formação das expressões, a correção (...). (Auroux, 2012, p. 27 – negritos e itálicos do autor)

Trazer essa concepção de gramática assim defendida por Auroux nos faz pensar em um ideal de língua homogênea, correta, passível também de uma tradução ideal, um funcionamento que liga a língua francesa e a portuguesa ao conceito de língua imaginária (Orlandi, 2002).

Ainda sobre o impacto da gramática na representação de uma língua, Dias nos afirma que há duas dimensões que dão à língua uma representação de completude e unidade pela gramática.

Em primeiro lugar a gramática é afetada por uma unidade da língua historicamente projetada. Com efeito, uma língua não suporta uma completude em si mesma. Ela se beneficia da força aglutinadora advinda da sua contraparte: o idioma. (Dias, 2007, p. 184)

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(...) a língua, apreendida como idioma, se constitui pela projeção de uma unidade, aglutinada no imaginário social, e determinada pelas coerções de ordem histórica. E é em função dessa unidade que se configuram as designações do tipo gramática da língua portuguesa, gramática da língua francesa ou gramática da língua espanhola. (Dias, 2007, p. 184)

Sobre a segunda dimensão, o autor afirma que

A gramática é afetada pela convergência de uma “tecnologia intelectual”36

, que visa a configurar uma harmonia entre as suas partes. A gramática é produzida sob uma perspectiva de ordem teórica e metodológica que orienta desde questões como a relação entre o conceito/regra e demonstração até a conformação dos capítulos do livro que lhe fornece o suporte. (Dias, 2007, p. 185)

A gramática, então, confere à língua que ela representa sob a forma do ensino, uma unidade imaginária e uma coesão que dão à língua a imagem de homogeneidade e totalidade.

Mais uma vez as obras literárias que constam nesse programa de ensino de francês, assim como nos programas dos outros campos disciplinares, tem a função de promover o contato com os autores clássicos, mas também de fornecer subsídios para que o ensino de língua pudesse ser baseado no método tradução-gramática. A concepção de que os escritores clássicos são os detentores da língua pura e correta faz ainda da literatura uma fonte de textos a serem estudados para fins gramaticais e de tradução. Sobre essa questão, Halbout afirma no prólogo do autor que,

para familiarizar os estudantes com os nomes dos principais autores clássicos franceses, e, ao mesmo tempo, firmar as regras em bases seguras, extraí quasi todos os exemplos de escritores da melhor nota, e na tradução desses exemplos encontrarão os alunos rico cabedal de significados, e se acostumarão a verter os galicismos com facilidade, exatidão e alguma elegância. (Halbout, [1890] 1937)

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Segundo Auroux (1994), a produção de gramáticas ao longo da história criou uma “tecnologia intelectual”, cuja força e importância transcendem o próprio campo de estudos de linguagem. A nota consta na citação de Dias (2007).

155 Assim, os exercícios aparecem nessa gramática sempre relacionados a um ponto da gramática estudado. No exercício 12, que trazemos no quadro abaixo, o objetivo era o estudo dos artigos: