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QUALIDADE DE VIDA

No documento ALARGAR A UNIÃO EUROPEIA (páginas 54-64)

Os cidadãos da UE estão preocupados com a qualidade de vida na UE alargada. Interrogam-se sobre a forma como o alargamento irá afectar a sua vida quotidiana nos domínios da segurança interna, do ambiente, da segurança nuclear e dos padrões alimentares. Será que as negociações de adesão deram resposta a estas preocupações dos cidadãos? Será preferível incorporar os novos membros na UE, em vez de os manter fora?

Segurança interna

As questões relacionadas com a delinquência, as drogas, o terrorismo e a migração ilegal ocupam um lugar destacado nos interesses dos cidadãos europeus, independentemente do que venha a ocorrer com alargamento; a UE e os Estados-Membros têm de se esforçar mais a fim de satisfazer as expectativas dos cidadãos. O alargamento pode vir a ter consequências muito positivas na segurança interna, uma vez que intensificará a cooperação em matéria de polícia, fronteiras e assuntos judiciais em todo o continente europeu.

Na presente secção são analisadas as dificuldades com que se depara a União no domínio da segurança interna, bem como a forma de as enfrentar. Em seguida, são questionados os efeitos prováveis do alargamento da União no domínio da segurança interna − os problemas que o alargamento ajudará a resolver, os que o alargamento poderá agravar e como poderão ser resolvidos.

A UE estimula a livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas no seu território, em benefício de todos os seus cidadãos. Mas a existência destas liberdades pode criar

oportunidades para a delinquência (designadamente o crime organizado, cujas actividades excedem as fronteiras nacionais), que as autoridades nacionais terão dificuldades em abordar sozinhas. É esse o desafio que a União Europeia procura enfrentar através da cooperação em matéria de segurança interna, mas deve procurar-se um equilíbrio entre a resolução das preocupações dos cidadãos em questões de segurança e a protecção dos direitos e liberdades individuais. Essa foi a razão por que a União introduziu no Tratado de Amesterdão o objectivo

de criar uma zona de liberdade, justiça e segurança, que foi analisado em pormenor no Conselho Europeu de Tampere em 1999.

Esta zona de liberdade, justiça e segurança excede largamente as questões de segurança e inclui a cooperação judicial em questões civis. O alargamento da UE produzirá benefícios também nestes domínios: facilitará, por exemplo, o recurso dos cidadãos aos tribunais civis em outros Estados-Membros em processos relacionados com as suas vidas privadas ou com os seus interesses comerciais.

No domínio da segurança, a UE adoptou medidas na área da cooperação internacional em matéria judicial e policial, bem como da gestão comum da fronteira externa da UE. Os resultados incluem a Europol, cujo propósito é reforçar a cooperação policial e aduaneira através do intercâmbio e análise de informações e coordenar projectos comuns de investigação, e a Eurojust, que facilita a cooperação entre representantes do Ministério Público na Europa. Estão a ser criadas normas comuns para definir os delitos e as sanções mínimas para crimes como o tráfico de seres humanos e de drogas, o terrorismo, os delitos informáticos, o racismo e a xenofobia, de forma a impedir a existência de "paraísos seguros" para estas actividades criminosas. O acordo sobre o mandato de captura europeu simplificará os procedimentos de extradição na UE. Na sequência dos atentados de 11 de Setembro de 2001, a cooperação em questões antiterroristas intensificou-se e os futuros Estados-Membros associaram-se

integralmente ao plano de acção da UE de combate ao terrorismo.

Imigração ilegal

A imigração ilegal constitui uma das preocupações da opinião pública. Quando as condições políticas, económicas e sociais em determinados países estimulam as pessoas a procurarem melhores oportunidades no estrangeiro, o crime organizado adapta-se de forma a abastecer as necessidades deste "mercado". O tráfico de migrantes (muitos dos quais não originários dos

pelo crime organizado tem, portanto, repercussões no índice de criminalidade tanto nas sociedades dos países de passagem como nas dos países de destino.

A imigração ilegal pode envolver não só o contrabando de seres humanos como também a utilização ilegal de vistos (prolongamento indevido de estadia, trabalho sem autorização), os matrimónios fictícios ou o falso estatuto de estudante. Muitos migrantes carecem de estatuto legal, mas não têm ligações criminosas. O estatuto ilegal, porém, reduz a possibilidade de os migrantes utilizarem o sistema bancário ou recorrerem normalmente à ordem jurídica, tendo como resultado um aumento do incentivo ao pequeno delito. Não existem soluções simples para estes problemas, que envolvem questões de direito, de política social e de direitos humanos.

A boa gestão das fronteiras externas constitui uma das formas de a UE combater a imigração ilegal e salvaguardar-se contra outras formas de actividade criminosa. O sistema de Schengen envolve a abolição dos controlos fronteiriços internos de pessoas entre os Estados-Membros da UE, com excepção do Reino Unido e da Irlanda9, de forma a facilitar as deslocações. A fim de compensar a supressão dos controlos, os Estados-Membros estabeleceram várias medidas nas fronteiras externas, incluindo regras comuns nas passagens, controlos e fiscalização na fronteira e um regime comum de vistos, bem como a cooperação no combate ao crime e à imigração ilegal.

Uma grande parte da imigração ilegal na Europa não está relacionada com os países vizinhos da UE, procedendo de países que sofreram guerras ou conflitos internos. A Comissão tem

procurado solucionar as condições apresentadas pelo países de onde provêm as correntes migratórias, de forma a reduzir a incidência dos factores que levam aos elevados níveis de migrantes potenciais que procuram entrar na UE, e integrar a gestão da migração na política externa da UE.

A zona de liberdade, justiça e segurança é um domínio relativamente novo da actividade da UE, e ainda existe um desfasamento considerável entre as aspirações e a realidade. Muitas questões relacionadas com o direito de asilo, a gestão da migração, as fronteiras externas e a cooperação em questões policiais e judiciais exigem um acordo unânime no Conselho, e os papéis do Parlamento Europeu e do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias são limitados. A

justiça e a segurança são questões de grande sensibilidade política e os governos nacionais esperam ter uma palavra a dizer na evolução das medidas. Mas a falta de vontade política, juntamente com a regra da unanimidade, têm atrasado a realização de progressos em, por exemplo, áreas como o direito de asilo e a cooperação judicial.

O que irá mudar com o alargamento?

O processo de alargamento melhorou a capacidade dos futuros membros de desempenharem o seu papel nas políticas de segurança da União. A questão do controlo eficaz das fronteiras tem sido continuamente tratada nas negociações de adesão e os futuros membros aceitaram impor um nível elevado de controlo das fronteiras externas após a adesão. O programa de ajuda de pré-adesão disponibilizou fundos consideráveis para o reforço das fronteiras externas e a formação da polícia de fronteiras e do aparelho judicial, domínios em que também se recorreu amplamente à assistência técnica e a projectos de geminação. Estão disponíveis fundos através do programa da Comissão para melhorar as infra-estruturas fronteiriças na Rússia e na Ucrânia. Os novos Estados-Membros conseguirão um nível de controlo de fronteiras semelhante ao que existe nas actuais fronteiras externas do espaço Schengen. Após a adesão, prosseguirá a substancial assistência financeira para questões de segurança de fronteiras.

Os novos Estados-Membros, contudo, não participarão em todos os aspectos do acordo de Schengen imediatamente após a adesão; os controlos fronteiriços internos só serão levantados quando esses países demonstrarem que satisfazem todos os requisitos do acervo de Schengen. Essa situação exigirá o acordo unânime de todos os Estados-Membros que já suprimiram os controlos fronteiriços internos e será baseada em vários exercícios de avaliação. Tanto a Grécia como a Itália tiveram de actualizar as suas normas ao longo de vários anos antes de se tornarem membros plenos de Schengen.

dos Balcãs ocidentais. A estabilidade política e a prosperidade económica dos novos

Estados-Membros aumentará com a adesão à UE, o que por si só contribuirá para combater o crime internacional e a migração ilegal.

O alargamento originará novos problemas?

Em primeiro lugar, a maior diversidade e número de membros aumentará a dificuldade de tomada de decisões no processo de criação da prevista zona de liberdade, segurança e justiça europeia, de forma a satisfazer as exigências dos cidadãos no sentido de uma acção eficaz contra o crime internacional e a imigração ilegal.

Embora seja provável que questões como a harmonização do direito penal e do processo de direito penal permaneçam sensíveis para os governos nacionais, a UE tem de reformar os seus dispositivos de tomada de decisão a fim de reduzir o âmbito da regra da unanimidade e de reforçar o escrutínio democrático. Os resultados da Convenção sobre o Futuro da Europa neste domínio terão um impacto significativo no êxito do alargamento.

Em segundo lugar, a cooperação em matéria de justiça e segurança exige uma administração honesta, eficaz e competente de forma a permitir a confiança sobre a qual assenta a cooperação. A capacidade de os novos Estados-Membros desempenharem um papel activo na cooperação judicial europeia dependerá das capacidades nacionais. Apesar das consideráveis e

impressionantes reformas realizadas, um recente relatório10 concluiu que os novos

Estados-Membros da Europa central e oriental não podem ainda garantir processos judiciais independentes, competentes e responsáveis. Esta é, evidentemente, uma área em que há problemas nos actuais Estados-Membros, mas a experiência histórica e a herança dos novos Estados-Membros trouxe problemas específicos.

Em terceiro lugar, muitos dos novos membros têm minorias nacionais ou linguísticas, ou comunidades romanichéis. O processo de pré-adesão obrigou-os a prestar mais atenção aos direitos dessas várias comunidades. Foram reforçados os quadros jurídicos e institucionais para a protecção das minorias e foram criados planos de acção para melhorar a situação das

comunidades romanichéis, incluindo a aplicação de legislação antidiscriminação em

processo de alargamento reduziu os riscos de fricção entre sociedades, ou mesmo entre países, e contribuiu para melhorar a segurança na UE alargada.

Ambiente

Tanto na UE-15 como nos futuros Estados-Membros são levantadas questões sobre o impacto do alargamento no ambiente. Na UE, a opinião pública está preocupada com a herança

ambiental da era comunista na Europa central e oriental. Os futuros Estados-Membros estão preocupados com os custos necessários para cumprir a legislação ambiental da UE.

Por tudo isso, o ambiente surgiu inicialmente como um "problema do alargamento", mas tem-se vindo a tornar claro que esta é uma área em que o alargamento produz benefícios substanciais. A perspectiva da adesão à UE fez aumentar o perfil das políticas ambientais nos futuros

Estados-Membros. Esta possibilidade ajudou-os a limpar zonas industriais poluídas, a melhorar a saúde pública, a reduzir a deterioração das florestas, dos campos e das instalações pesqueiras, a aumentar a protecção dos habitates naturais e a introduzir uma gestão de resíduos mais segura e sólida. Os investimentos no ambiente e uma tecnologia mais moderna melhorarão a eficácia e a produtividade económicas.

O impacto do alargamento

Na sequência de décadas de degradação ambiental na Europa central e oriental, a pressão popular no sentido da democracia em 1989 deveu-se em parte a preocupações a este respeito. Ao longo da última década, os futuros Estados-Membros tentaram resolver muitos destes problemas, recorrendo às orientações da UE para introduzir nova legislação, reforçar a capacidade institucional e abordar questões do desenvolvimento sustentável no contexto da transição. Em resultado da passagem de uma economia planificada para uma economia de mercado, muita da indústria pesada desses países foi reorganizada e modernizada, tendo melhorado a eficácia energética.

alargamento da UE proporcionará um mercado crescente para as tecnologias do ambiente que propiciam a inovação e uma maior procura. Em Chipre e Malta tem sido dado relevância às questões da gestão de resíduos, tendo ambos os países introduzido legislação pertinente.

Para a maior parte dos antigos países comunistas, o sistema de planeamento central deu lugar a grandes complexos agro-industriais estatais com muitos empregados, sem grande preocupação com o impacto ambiental. A necessidade de satisfazer as exigências da UE incentivou os novos Estados-Membros a prestar mais atenção às questões ambientais na agricultura e no

desenvolvimento rural. Em muitos casos, a derrocada do planeamento central e a falta de investimento fez com que as explorações se dedicassem à agricultura ecológica. Com o

crescimento da procura de produtos orgânicos na UE, esta pode ser uma boa oportunidade para os agricultores nos futuros Estados-Membros.

Os futuros Estados-Membros oferecem à União alargada uma fonte de biodiversidade muito rica, com parques naturais, florestas e paisagens protegidas, áreas naturais não degradadas e espécies vegetais e animais raras na Europa ocidental, tais como o urso, o bisonte, o lince, etc. Estes activos virão enriquecer o ambiente europeu e reduzir as pressões nos ecossistemas locais.

Aplicação do acervo e financiamento

O cumprimento efectivo das normas da UE em matéria de ambiente exige um esforço administrativo e um investimento maciço, designadamente em relação a algumas directivas comunitárias como a da gestão da água (águas residuais urbanas e água potável), substâncias perigosas no meio aquático, resíduos (aterros sanitários, incineração de resíduos,

condicionamento de resíduos), qualidade do ar, grandes unidades de combustão, prevenção e redução integradas da poluição, protecção da natureza e transportes.

O essencial do investimento deve concentrar-se na redução da poluição do ar, na gestão da água e das águas residuais e na gestão e eliminação dos resíduos municipais e perigosos. A Comissão Europeia e o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento estimam os custos da aplicação desta legislação para o conjunto dos futuros Estados-Membros numa quantidade que oscila entre 80 e110 mil milhões de euros. A maior parte dos custos terá de ter origem nacional, embora a UE e as instituições financeiras internacionais contribuam com fundos de

A fim de reduzir os efeitos deste impacto, a UE previu disposições transitórias permitindo a isenção temporária dos aspectos mais difíceis da legislação em matéria de ambiente, onde o ajustamento requer mais tempo. Esta situação diz respeito a aproximadamente 15 directivas de um total de 149, em relação às quais estão previstos períodos transitórios na maior parte das vezes inferiores a 10 anos. Não foram autorizados períodos transitórios nos seguintes domínios: ar, resíduos, água, avaliação do impacto, protecção da natureza (habitat, aves), elementos essenciais do mercado interno (toda a legislação relacionada com os produtos) e novas instalações. Tal significa que os novos investimentos nos futuros Estados-Membros devem respeitar integralmente as normas da UE em matéria de ambiente, dado que praticamente toda a legislação deve estar concluída no momento da adesão.

Em resumo, este é um domínio em que os países da Europa central e oriental estão a aproximar as normas ambientais dos níveis da UE, em grande parte à sua própria custa, com benefícios positivos não só para os seus próprios cidadãos como também para os outros países da UE.

A fim de garantir resultados positivos, será necessário um acompanhamento eficaz da aplicação das normas da UE, bem como um verdadeiro esforço para ter em conta o ambiente em outras medidas aplicadas nos novos Estados-Membros, tendo em vista o desenvolvimento económico sustentável.

Segurança nuclear

Na UE alargada, os países membros continuarão a escolher livremente o cabaz energético para o abastecimento de electricidade, podendo, portanto, optar pela energia nuclear. Dos dez futuros Estados-Membros, cinco têm centrais nucleares em funcionamento. Nos últimos cinco anos, a UE solicitou que assegurassem um elevado nível de segurança nuclear em conformidade com a abordagem adoptada pelo Grupo dos Sete países industrializados avançados. Em consequência do processo de alargamento, os novos países encerraram, ou comprometeram-se a encerrar, as

está a tornar extensiva aos futuros países membros. Assim, o alargamento ajudará a aumentar a segurança nuclear na Europa.

Padrões alimentares

A importância das questões de segurança alimentar nos actuais Estados-Membros foi levantada devido a crises recentes como a doença das "vacas loucas", relacionada com práticas agrícolas intensivas que estão menos difundidas nos futuros Estados-Membros. A UE lançou em 2000 uma reforma que aproxima todos os aspectos da segurança alimentar ao longo de toda a cadeia alimentar, desde as disposições em matéria de higiene até aos correspondentes requisitos

fitossanitários e de saúde dos animais. O objectivo é permitir em toda a UE alargada um elevado nível de saúde pública e de protecção dos consumidores.

Os futuros Estados-Membros aceitaram aplicar toda a legislação em matéria de segurança alimentar e criar mecanismos de controlo adequados. Não foram concedidas isenções nesta matéria nas negociações de adesão; os alimentos que não satisfaçam integralmente as normas da UE não podem ser comercializados nos outros Estados-Membros. O objectivo é que o

alargamento da UE não leve de forma nenhuma à redução dos actuais níveis de segurança alimentar.

O alargamento ampliará aos novos membros um conjunto de regras comuns, aumentando assim o nível global de segurança. Dessa forma, assegurará que as novas fronteiras da UE protegerão com eficácia dos riscos a saúde pública, vegetal e animal. Contudo, o alinhamento por estas regras é uma tarefa complicada para os futuros Estados-Membros. A UE presta assistência financeira e a Comissão está a acompanhar a situação no que respeita à segurança alimentar para verificar a aplicação correcta das normas.

Conclusão

Em muitos domínios importantes para os cidadãos, o alargamento está a ajudar a UE a melhorar os padrões de protecção e segurança:

· reforça a capacidade da UE para combater o crime e a imigração ilegal ao assegurar uma melhor cooperação e controlo destes problemas nos futuros membros

· eleva o nível de respeito ambiental dos futuros membros, incluindo a segurança nuclear, com benefícios positivos para os seus cidadãos e para o conjunto da UE

· amplia a esses países as normas da UE em matéria de segurança alimentar.

Mas esses benefícios necessitam de ser reforçados e salvaguardados através de:

· mais esforços no sentido da criação da zona de liberdade, justiça e segurança da UE, incluindo uma reforma do sistema de tomada de decisão

· cooperação mais estreita e mais acções dos Estados-Membros e das instituições da UE para combater o crime internacional e controlar a imigração

· integração das questões ambientais em outras políticas

· acompanhamento eficaz da aplicação das normas da UE nos Estados-Membros actuais e futuros.

Capítulo 5

No documento ALARGAR A UNIÃO EUROPEIA (páginas 54-64)

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