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ALARGAR A UNIÃO EUROPEIA

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ALARGAR

A UNIÃO EUROPEIA

***

REALIZAÇÕES

E DESAFIOS

Relatório de Wim Kok

À Comissão Europeia

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Wim Kok nasceu em 1938 em Bergambacht. Antes de entrar na política, foi um activista sindical tendo chegado a Presidente da Federação dos Sindicatos dos Países Baixos e a Presidente da Federação Europeia dos Sindicatos. Foi membro do Parlamento e líder do Partido Trabalhista (PvdA) dos Países Baixos e vice-presidente da Internacional Socialista. Entre 1989 e 1994, foi Ministro das Finanças e Vice-Primeiro-Ministro e, entre 1994 e 2002, Primeiro-Ministro dos Países Baixos.

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ÍNDICE

Introdução por Wim Kok

Os meus objectivos neste relatório Porquê o alargamento? Contexto actual A minha abordagem Uma agenda em cinco pontos

Resumo

Paz e estabilidade numa escala continental Agir em conjunto como europeus

Dinamizar a economia Tornar a Europa mais segura Política de vizinhança

Papel da Europa na cena mundial

1 Construir a nova Europa

Razões do alargamento da UE

Razões pelas quais os países desejam aderir Anteriores alargamentos

O actual ciclo

2 Os cidadãos e o processo de alargamento da União

Os actuais Membros Os futuros Membros Perguntas mais frequentes

3 Economia, mercado de trabalho e finanças

Os efeitos económicos Comércio Investimento

Migração e mercado de trabalho União económica e monetária A estratégia de Lisboa Os custos orçamentais 4 Qualidade de vida Segurança interna Ambiente Segurança nuclear Padrões alimentares 5 A Europa no mundo

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Anexos

Mapa da Europa

Quadros

1. Dados de base da UE e dos futuros Estados-Membros 2. Apoio ao alargamento nos Estados-Membros da UE 3. Apoio à adesão nos futuros Estados-Membros 4. Comércio da UE com a Europa Central e Oriental 5. Despesas orçamentais da UE com o alargamento

6. Crescimento económico na UE e nos futuros Estados-Membros

Reuniões e participantes 1. Workshops no Instituto Universitário Europeu

2. Consulta de organizações não governamentais

3. Visitas a futuros Estados-Membros Bibliografia

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Agradecimentos

Fui convidado por Romano Prodi, Presidente da Comissão Europeia, a apresentar este relatório até ao final de Março de 2003. No reduzido período de tempo de que dispus (quatro meses), procurei ter em conta o maior número possível de pontos de vista, tendo, para o efeito, realizado reuniões com peritos de países e origens distintos, contactado organizações não governamentais europeias e efectuado visitas a futuros países Membros.

Embora o relatório seja da minha responsabilidade, para ele contribuíram muitos indivíduos e organizações.

Desejo agradecer ao pessoal do Centro Robert Schuman de Estudos de Pós-Graduação do Instituto Universitário Europeu de Florença pela preparação e publicação do presente relatório, bem como pela organização de uma série de reuniões com peritos.

O relator e chefe do projecto, no Centro Robert Schuman, foi Graham Avery, assistido por Wim Van Aken e Will Phelan, que contaram com a assistência e incitamento de Helen Wallace e Jan Zielonka.

Entre os muitos peritos que participaram no projecto, desejo especialmente agradecer a Christoph Bertram, Fernando Fernandez, Heather Grabbe, Andras Inotai e Olli Rehn, que generosamente consagraram muito do seu tempo a orientar-me e a aconselhar-me nas fases finais do relatório, bem como a John Wyles e GPlus Europe que me assistiram nos contactos com a imprensa.

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INTRODUÇÃO

Os meus objectivos neste relatório

O presente relatório analisa as implicações e desafios do próximo alargamento da União Europeia (UE).

Em primeiro lugar, procura dar resposta às principais questões colocadas pelos cidadãos durante o processo de ratificação respeitante a dez novos Membros que deverão aderir à União em 1 de Maio de 2004. Porque é que a UE vai passar de 15 para 25 (e mais tarde mais) Membros?

Quais as consequências do alargamento no dia a dia dos cidadãos? As esperanças e dúvidas, manifestadas nos actuais e futuros países Membros, são justificadas? Estas perguntas dos

cidadãos merecem uma resposta séria. O meu objectivo consiste em explicar, de uma forma equilibrada, não só as vantagens e oportunidades proporcionadas pela entrada de novos Membros na UE, mas também os eventuais obstáculos, custos e riscos.

Em segundo lugar, o relatório aborda os principais desafios colocados pelo alargamento. A adesão de dez países, em 2004, mais não é do que uma fase de um processo que começou há mais de uma década e que prosseguirá por muitos anos. Muito foi conseguido até ao presente, tanto pelos antigos como pelos novos Membros, mas muito mais continua por fazer. Como

assegurar o êxito do alargamento? O que é que é necessário fazer para tirar o máximo partido possível do alargamento e para evitar que este seja um êxito parcial ou mesmo um fracasso? A

este respeito, procuro enunciar os principais domínios em que a UE necessita de desenvolver uma estratégia para assegurar o êxito do alargamento.

Embora a opinião pública tenha, em geral, uma opinião positiva sobre o alargamento, existe uma necessidade generalizada de mais informação. Algumas das questões colocadas respeitam a problemas essenciais da integração europeia. O alargamento da UE a um maior número de países traduzir-se-á numa perda da identidade nacional? Será possível tomar decisões numa UE com tantos Membros? O alargamento contribuirá para reforçar a voz da UE na cena mundial? Com a aproximação do alargamento, a UE necessita de responder a estas perguntas.

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O processo de aproximação das sociedades e dos povos começa agora. É como uma fusão no mundo dos negócios: só quando se torna uma realidade no quotidiano das pessoas no local de trabalho é que começa o verdadeiro teste de toda a operação. É por essa razão que necessitamos de ter uma agenda clara para gerir a mudança na UE alargada.

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Porquê o alargamento?

O alargamento é o projecto mais ambicioso em que a UE está empenhada. Efectivamente, trata-se da reunificação do continente europeu, dividido em consequência da última guerra mundial. Os anteriores alargamentos tiveram lugar numa Europa dividida, enquanto este alargamento contribui para realizar o sonho dos pais fundadores da UE: construir uma Europa livre e unida.

Ao longo de toda a minha vida, sempre fui um europeu convicto. Da minha juventude recordo a última guerra mundial, daí que hoje dê o verdadeiro valor à paz, estabilidade e prosperidade que conhecemos. Tenho perfeita consciência de tudo aquilo que ganhámos com o processo de integração europeia no último meio século. As guerras e as atrocidades cometidas na ex-Jugoslávia mostraram bem o que os europeus podem fazer uns aos outros quando se permite que as forças da desintegração se sobreponham ao desejo de unidade.

Por isso, para mim, o alargamento da União Europeia é a concretização de uma visão - uma visão de que as pessoas se esquecem demasiado facilmente quando a segurança e a prosperidade na Europa são um dado adquirido. Mas se pararmos para reflectir, vemos que esta visão é a verdadeira essência da UE e do seu alargamento: a reunificação dos povos da Europa num enquadramento constitucional que os leve a unir esforços num ambiente de paz e de estabilidade.

Para os povos da Europa Central e Oriental, a Europa simbolizou os valores a que aspiraram regressar durante mais de uma geração, durante o período da Cortina de Ferro e da Guerra Fria. Mas para esses povos, o regresso à Europa foi muito mais do que um símbolo: a perspectiva de adesão à UE ajudou-os a tornar irreversível a sua opção por uma democracia pluralista e por uma economia de mercado e encorajou-os na via da reforma. A perspectiva desta âncora de estabilidade constituiu a condição prévia para a restauração da prosperidade económica, que por sua vez está subjacente à manutenção da estabilidade na região.

Mas o seu caminho para a Europa não tem sido fácil. O processo de transformação conduziu a uma profunda alteração em toda a Europa Central e Oriental, em que as novas oportunidades

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proporcionada pelas antigas estruturas. O custo real do alargamento não se mede pelo orçamento da UE: as principais consequências da adaptação já se fizeram sentir nos futuros Estados-Membros.

Para os povos que actualmente constituem a UE, a estabilidade e a democracia na Europa Central e Oriental já proporcionaram grandes benefícios, não só em termos de segurança, mas também de prosperidade: o rápido aumento do comércio traduziu-se em oportunidades para as empresas, em investimento, em mais emprego e num maior crescimento na Europa Ocidental.

A concretização do alargamento, em 2004, permitirá consolidar e aumentar estas vantagens, tanto para os antigos como para os novos Membros, desde que a UE consiga enfrentar os desafios com que presentemente se depara.

Contexto actual

O alargamento tem lugar numa altura em que a UE enfrenta importantes desafios em termos de

desempenho económico, de coesão interna e do seu papel no plano externo.

A economia mundial atravessa uma situação difícil. O motor do crescimento na Europa está praticamente parado, pelo menos nos actuais Estados-Membros, e o desemprego continua teimosamente elevado. Na sua estratégia de Lisboa, os líderes da UE fixaram como objectivo que a União Europeia se tornasse o espaço económico mais dinâmico e competitivo baseado no conhecimento. No entanto, até ao presente, estas palavras bem intencionadas não foram acompanhadas das reformas estruturais necessárias para permitir um crescimento estável a longo prazo e para dar uma resposta dinâmica à globalização. O mundo não espera por nós.

A nível das suas políticas internas, devido à falta de vontade política e a dificuldades no processo de decisão, a UE não conseguiu dar uma resposta adequada às preocupações dos seus

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No plano externo, a UE não participou na resolução do problema do Iraque, que presentemente constitui o problema de política externa mais importante a nível mundial. Os seus Membros estiveram profunda e visivelmente divididos. Pior do que isso, a UE e os seus instrumentos de política externa não desempenharam qualquer papel. Embora determinados Estados-Membros tivessem tido um papel activo na cena internacional no que respeita a esta questão, a Europa, como um todo, não existiu. E esta situação não é aceitável para os cidadãos europeus. O peso económico da UE deve ser acompanhado de uma voz política nos assuntos mundiais.

Estes três importantes desafios - económico, interno e externo - acompanham o desenvolvimento da UE, que necessita de recuperar o seu dinamismo económico e competitividade, de dar uma resposta efectiva às exigências dos seus cidadãos e de definir o seu papel político no plano mundial.

A minha abordagem

Penso que a dinâmica criada com o próximo alargamento da UE proporciona uma oportunidade única para enfrentarmos de forma decisiva os desafios. Estes problemas não resultam do alargamento da UE, mas o próximo alargamento obriga-nos a enfrentá-los e, em alguns casos, ajuda-nos a encontrar soluções. O alargamento pode funcionar como catalisador para a solução de alguns dos actuais problemas da Europa, na medida em que nos pode incutir o dinamismo que nos leve a dar um salto em frente.

Para mim, tornou-se igualmente claro que necessitamos de refocalizar a nossa abordagem em relação às políticas da UE, passando desde já a considerar a situação da UE alargada - a futura União Europeia dos Vinte e Cinco. O discurso dos "actuais Membros" e dos "países candidatos" já está ultrapassado e temos de olhar em frente para a situação no futuro em que os novos Membros serão nossos parceiros. É por essa razão que no presente relatório utilizo, sempre que possível, a expressão "futuros Membros" em vez de "países candidatos".

Considero que os novos parceiros têm de fazer mais para concluir a sua preparação para a adesão. Mas também acho que têm muito a dar-nos devido à sua recente experiência a nível das reformas políticas, económicas e sociais.

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Uma agenda em cinco pontos

As vantagens e oportunidades do alargamento compensam largamente os eventuais obstáculos, custos e riscos. Trata-se da mais acertada decisão de política externa jamais tomada pela UE. Qualquer atraso no alargamento, ou o seu abandono, em consequência da não-ratificação por qualquer dos Estados-Membros da UE, constituiria um fracasso político importante para a Europa. Além disso, teria custos consideráveis tanto para a UE como para os países candidatos.

No entanto, um alargamento mal gerido também não seria melhor. Caso a UE não avance com as reformas e ajustamentos que o alargamento agora exige, perderá, talvez para sempre, a oportunidade de construir uma Europa mais forte e mais segura, no interesse dos seus cidadãos, dos seus vizinhos e do mundo.

Por isso, considero que chegou a altura de desenvolvermos uma nova visão do que a Europa pode fazer com os seus novos Membros e de como o pode fazer. A estratégia de gestão da mudança que tenho em mente pode ser resumida em cinco temas:

1. Agir em conjunto na Europa: precisamos de um melhor processo de decisão e de determinação e vontade política que nos permitam definir políticas verdadeiramente europeias na UE alargada.

2. Dinamizar a economia europeia: precisamos de mais inovação e de reformas que proporcionem crescimento, competitividade e emprego no mercado alargado.

3. Tornar a Europa mais segura para os seus cidadãos: devemos utilizar o alargamento para dar um grande salto em frente a nível da cooperação em matéria de justiça e assuntos internos, que nos permita alcançar padrões mais elevados e uma maior segurança.

4. Desenvolver a nossa parceria com países vizinhos na Europa: à medida que as fronteiras da UE se vão alargando, necessitamos de uma política de vizinhança que

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Estas ideias são explicadas de forma mais pormenorizada no resumo do relatório e nos seus diferentes capítulos.

O que proponho exige um esforço de compreensão por parte dos antigos e dos novos Membros. No passado, os actuais Membros da UE colocaram a tónica no "acervo", incitando os futuros Membros a aplicarem as regras europeias e aconselhando-os quanto ao modo de o fazer. Quando se tornarem Membros de pleno direito e parceiros em plano de igualdade - com direitos e também com obrigações - a linguagem do "nós" e "vós" tem de passar a ser outra: "nós em conjunto" na União alargada.

Para os novos Membros isso também constituirá uma mudança psicológica importante, na medida em que passam a "tomar decisões" em vez de se limitarem a "aceitar decisões". Terão, pois, de definir as suas posições relativamente aos diferentes domínios de actividade da UE, sem perderem de vista a necessidade de perseguir objectivos comuns e simultaneamente de negociar compromissos na UE alargada.

Este alargamento é diferente dos anteriores porque com ele a actividade da UE atinge uma nova dimensão - uma dimensão continental, que lhe poderá permitir funcionar melhor, dar uma melhor resposta aos anseios dos seus cidadãos e desempenhar o seu verdadeiro papel na cena mundial desde que seja capaz desta oportunidade.

Até à adesão dos novos Membros, em Maio de 2004, temos uma oportunidade única de preparar o êxito deste alargamento e de envolver os futuros Membros nesses preparativos.

Para concretizar este projecto ambicioso, precisamos de um plano coerente e é por essa razão que apresento à Comissão Europeia, bem como às outras Instituições Europeias, as recomendações que figuram no presente relatório.

Wim Kok

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RESUMO

O presente relatório analisa as consequências do alargamento da União Europeia (UE) de 15 para 25 e, posteriormente mais Membros.

Embora tenham sido publicados muitos estudos sobre o alargamento, a maioria deles abordou este tema de um ponto de vista nacional ou sectorial. O presente relatório analisa o alargamento de um ponto de vista europeu, tomando por base um conjunto de ideias, opiniões e estudos, não procurando reflectir os variadíssimos interesses e pontos de vista dos diferentes países - o que ultrapassaria o seu âmbito - mas ter efectivamente em conta os interesses e os pontos de vista dos actuais e dos futuros Membros e examinar as perspectivas da UE alargada no seu conjunto.

Em sucessivos capítulos, o relatório:

· analisa o processo de alargamento até ao presente e avalia os resultados já alcançados (Capítulo 1: Construir a nova Europa); e

· identifica as principais questões colocadas pelo público em geral e pelos círculos políticos no que respeita ao alargamento(Capítulo 2: Os cidadãos e o processo de alargamento da União).

O relatório aborda em seguida estas questões dividindo-as em quatro temas: · Aspectos económicos (Capítulo 3: Economia, mercado do trabalho e finanças); · Segurança interna e normas de protecção (Capítulo 4: Qualidade de vida); · Políticas externas da UE alargada (Capítulo 5: A Europa no mundo);

· Governação e identidade europeias (Capítulo 6: Agir em conjunto na Europa).

Estes temas não são analisados de uma forma estática mas dinâmica, dado que o relatório aborda não só as consequências da aplicação das actuais regras e políticas da UE, mas também as reformas que a UE tem de empreender para a assegurar o êxito do alargamento.

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Paz e estabilidade numa escala continental

Qual é a principal vantagem que o alargamento da UE proporciona? É a oportunidade de alcançar a paz e a estabilidade numa escala europeia:

Ø O alargamento da UE está a reunificar de forma progressiva o nosso continente, dividido no pós-última guerra mundial, tornando extensivo aos habitantes da Europa Central e Oriental a zona de paz, estabilidade e prosperidade de que os habitantes da Europa Ocidental gozam há mais de uma geração. A realização histórica da Comunidade Europeia, actual União Europeia, foi evitar conflitos, ou mesmo guerras, através da integração económica e política dos seus Membros. O seu alargamento ao resto da Europa constitui um bem de valor inestimável.

Ø Na última década, a perspectiva de adesão à UE ajudou a consolidar o regresso dos países da Europa Central e Oriental à democracia pluralista e à economia de mercado. A UE apoiou os seus esforços no processo de reforma e de transição. A estabilidade e maior prosperidade resultantes desse processo beneficiam tanto esses países como os actuais Membros.

Ø O final da Guerra Fria, que trouxe o fim da divisão artificial da Europa, fez igualmente emergir potenciais conflitos entre minorias e grupos étnicos e nacionais na Europa Central e Oriental. A perspectiva de adesão à UE ajudou a resolver muitos desses problemas.

Esta visão de reunificação - de uma Europa "livre e unida" - está na base do alargamento da UE.

O processo de alargamento proporciona resultados positivos em muitos domínios de política geral de interesse para os cidadãos europeus. Mas para que o processo seja levado a bom termo, é necessário definir uma estratégia clara. Como é que o processo pode ser gerido por forma a produzir todos os seus benefícios? No passado, a atenção da comunicação social, da opinião pública e dos decisores políticos centrou-se no processo de adesão - "Como e quando aderirão os novos países"? Agora é preciso dirigir a atenção para a pergunta "O que acontecerá após a adesão?" e "De que políticas precisamos na UE alargada?". Precisamos de uma agenda para gerir a mudança.

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O presente relatório identifica cinco domínios essenciais em que a UE pode tomar medidas por forma a assegurar o êxito do alargamento:

1. Agir em conjunto como europeus

Ø A chegada dos novos Membros, com a sua rica herança cultural, irá aumentar a diversidade da UE. O alargamento significará um maior intercâmbio de ideias e uma melhor compreensão de outros europeus. As instituições da UE continuarão a respeitar as línguas nacionais e a promover a aprendizagem de outras línguas.

Ø Com a passagem de 15 para 25 Membros, a UE tem de reformar o seu sistema de tomada de decisão, por forma a evitar o risco de que "mais" passe a significar "menos". As Instituições Europeias já são objecto de críticas. O alargamento que exige a "melhoria" do nosso sistema de governação, simultaneamente proporciona a oportunidade para o fazer. A articulação dos desafios que a União enfrenta actualmente com a necessidade de uma melhor governação, poderá trazer a solução que a união política exige.

Ø Esta acção conjunta exige um esforço de compreensão mútua por parte dos europeus, por forma a identificar interesses comuns e a lutar contra o medo de que uma União Europeia alargada possa significar uma perda de identidade. Para agirmos em conjunto e encontrarmos soluções europeias, temos de ter confiança na Europa.

Por conseguinte, o presente relatório recomenda:

· A Convenção sobre o Futuro da Europa deve produzir um texto constitucional claro e compreensível. Precisamos de um documento que indique aos cidadãos da UE alargada o que podem e o que não podem fazer e um sistema de governação que estabeleça um melhor equilíbrio entre as necessidades simultâneas de eficácia e de legitimidade democrática. · As reformas devem contemplar um maior recurso ao voto por maioria, o reforço do "método

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de diferentes grupos da sociedade, de experiências de trabalho, da realização de estudos por jovens noutros países da União e do reforço das redes de universidades europeias.

Se quisermos efectivamente que a UE funcione melhor, precisamos de tomar as atitudes correctas. Não devemos entrincheirarmo-nos em percepções nacionais: países grandes ou pequenos, antigos ou novos Membros, regiões ricas ou pobres. Todos somos europeus. Trata-se de um processo de aproximação não só de entidades políticas mas de sociedades e de povos. Aquilo de que precisamos é de compreender as grandes questões em causa, de sentir um verdadeiro desejo de integração europeia e de estarmos determinados a atingir esse objectivo. Se a Europa não quiser ser unida, nenhuma adaptação institucional a unirá!

2. Dinamizar a economia

O processo de alargamento já proporcionou benefícios económicos e pode proporcionar ainda mais, designadamente:

Maior prosperidade para os antigos e para os novos Membros resultante de um mercado mais vasto

O rápido crescimento do comércio e do investimento ocorrido nos últimos anos entre a UE e os seus futuros Membros proporcionou grandes ganhos económicos. Ao abolir os controlos das mercadorias nas fronteiras, a adesão permitirá a plena integração dos novos Membros no mercado. É igualmente de esperar a obtenção de ganhos resultantes da liberalização dos serviços, do capital e do trabalho, que são semelhantes aos resultantes da concretização do mercado único sem fronteiras em 1993.

Melhores perspectivas económicas para os actuais Membros

A este respeito, é de referir:

· igualdade de condições de concorrência no mercado alargado, · acesso a uma mão-de-obra com boas qualificações,

· maior procura resultante do crescimento registado nos novos Membros.

A oportunidade de os novos Membros atingirem a prosperidade da Europa Ocidental

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· maior investimento, para além da entrada de capitais verificada nos últimos anos, de que resultarão melhorias a nível da produtividade, das competências e da transferência de tecnologias,

· um enquadramento jurídico e económico estável proporcionado pela adesão à UE, · apoio dos fundos comunitários.

Os novos Membros registam taxas de crescimento mais elevadas do que a UE. Caso a situação se mantenha, daí resultará:

· uma redução do fosso social e económico, · rendimentos e normas sociais mais elevados,

· menos incentivos para migrar para outros países da UE.

A chegada dos novos Membros dá à UE a oportunidade de reformular as suas políticas económica e social em função das suas necessidades. O alargamento não constitui uma ameaça, mas um impulso à renovação.

A UE pode aprender lições com os novos Membros e com a sua experiência de reforma social e económica. Alguns deles introduziram as mudanças necessárias mais rapidamente do que actuais Membros da UE.

O alargamento, com as mudanças que implica, pode trazer benefícios a longo prazo, no entanto, os custos podem preceder os ganhos e haverá perdedores tal como haverá vencedores. O desafio reside na gestão da mudança.

Por conseguinte, o presente relatório recomenda:

· As políticas europeias e nacionais devem conferir prioridade ao crescimento e à convergência económicos: tal significa uma elevada taxa global de crescimento para a União Europeia a Vinte e Cinco e taxas, se possível ainda mais elevadas, para os novos Membros. Crescimento e convergência devem ser palavras-chave para a UE alargada.

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e a liberalização dos sectores da energia, das telecomunicações e dos transportes, por forma a melhorar o funcionamento do mercado comum. Os novos Membros deverão desde agora participar plenamente na estratégia de Lisboa.

· Os actuais e os futuros Estados-Membros necessitam de políticas de emprego que contribuam para uma política social e económica eficaz e, por conseguinte, para o êxito do alargamento. A migração da mão-de-obra em função do mercado, através da livre circulação de pessoas no mercado comum, constitui um factor de crescimento. Os actuais Estados-Membros deverão abrir os seus mercados à oferta de mão-de-obra proveniente dos novos Estados-Membros logo que possível. Mesmo com o termo das restrições, é provável que o afluxo de trabalhadores seja limitado.

· A UE necessita de um modelo económico e social que combine os melhores elementos dos actuais e dos novos Membros e destinado a facilitar o ajustamento a novos empregos em vez da protecção dos postos de trabalho existentes. Será desde já necessário preparar medidas para ter em conta todos aqueles que serão afectados pelo alargamento, num contexto europeu que será comum.

· Será necessário preparar o terreno para as importantes decisões que serão tomadas logo após o alargamento no que respeita ao futuro quadro orçamental da UE, a fim de aplicar as políticas que serão realmente necessárias numa União Europeia a Vinte e Cinco.

A União necessita de demonstrar solidariedade e a coesão para com os seus novos Membros, dado que o seu crescimento e desenvolvimento pagarão dividendos a todos. Paralelamente, é indispensável introduzir reformas a nível das políticas: não só para poupar dinheiro, mas também para executar melhores políticas. Ao decidirmos essas mudanças, deveremos ter presente os objectivos da agenda de Lisboa e a necessidade de inovação e crescimento:

Ø No que respeita à política agrícola comum, necessitamos de uma reorientação constante do apoio, que deverá deixar de privilegiar os preços e as quantidades e passar a privilegiar a qualidade, bem como de uma política de desenvolvimento económico rural que facilite em vez de impedir a redução do emprego na agricultura nos países da Europa

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Central e Oriental. Tal significa também maiores possibilidades igualmente para os países em desenvolvimento, através do comércio de produtos agrícolas.

Ø Quanto às despesas estruturais, necessitamos de medidas adaptadas às necessidades e prioridades dos novos Membros, bem como à integração regional da Europa Central e Oriental. Será necessário investir nos domínios do ambiente e das infra-estruturas, bem como dos recursos humanos e da educação.

Ø A utilização do orçamento da UE para o apoio a outras políticas, designadamente a investigação e o desenvolvimento, deverá ser inovadora.

A nível das receitas orçamentais, precisamos de um sistema mais equitativo, transparente e estável.

Em todo o continente, a UE precisa de proporcionar os resultados que as pessoas desejam, ajudando as economias maduras a inovar e as menos maduras a concluírem a sua transformação. O mundo não espera por nós!

3. Tornar a Europa mais segura

Em muitos domínios importantes para os cidadãos, o alargamento já está a melhorar a cooperação com os futuros países Membros. Ao alargar a UE, não estamos a importar problemas desses países, mas a transmitir a nossa capacidade para encontrar soluções.

Maior eficácia contra o crime internacional

Os futuros Membros reforçaram a cooperação entre as suas forças policiais e o poder judicial em matéria de aplicação efectiva da lei. Será mais fácil controlar o tráfico internacional de drogas e de seres humanos quando os países da Europa Central e Oriental adoptarem normas

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Protecção do ambiente

À medida que os futuros Membros começam a respeitar as regras da UE em matéria de poluição do ar e da água, o ambiente nos seus países torna-se mais seguro para os seus próprios cidadãos e para os cidadãos dos países vizinhos. A política da UE apoia-los-á no que respeita à conservação do seu rico património em espécies e habitats naturais.

Normas mais elevadas no domínio da segurança nuclear

A UE está a transmitir uma cultura de segurança global aos países da Europa Central e Oriental e a reforçar as suas centrais nucleares por forma a respeitarem níveis de segurança mais elevados.

Normas alimentares

As normas da UE no que respeita à protecção dos consumidores serão mantidas: as normas em vigor nos actuais Estados-Membros continuarão a ser rigorosamente aplicadas mesmo após o alargamento, beneficiando os consumidores dos novos Estados-Membros de uma protecção reforçada.

No entanto, em todos estes domínios muito resta por fazer tanto por parte das autoridades nacionais como europeias para tranquilizar os cidadãos.

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Por conseguinte, o presente relatório recomenda:

· um passo importante no sentido da criação de uma zona europeia de liberdade, justiça e segurança, incluindo uma reforma do sistema de tomada de decisão

· uma cooperação mais estreita e uma melhor acção por parte dos Estados-Membros e das instituições da UE a fim de combater o crime internacional e de controlar a imigração

· a integração de preocupações ambientais noutras políticas

· um controlo efectivo da aplicação das regras comunitárias nos actuais e futuros Estados-Membros.

4. Política de vizinhança

Com o alargamento da UE, necessitamos de uma política de vizinhança que transmita prosperidade e boa governação aos países vizinhos, por forma a criar um cordão de estabilidade e de segurança à nossa volta. Novas formas de parceria podem contribuir para que a UE difunda estabilidade, prosperidade e boa governação aos países que não a integram. Para alguns desses países, a perspectiva de adesão à UE pode constituir um poderoso incentivo na via do progresso e da reforma.

Por conseguinte, o presente relatório recomenda:

· Deveriam ser desenvolvidas melhores formas de parceria da UE com os países vizinhos, independentemente de aderirem ou não à UE.

· Relativamente aos países que poderão vir a aderir à UE nos próximos anos, deveríamos insistir numa preparação satisfatória da adesão, bem como no respeito dos critérios políticos e outros.

· O processo de alargamento deverá prosseguir com a Bulgária e a Roménia, bem como com a Turquia. Relativamente aos países dos Balcãs Ocidentais, a perspectiva de uma futura

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ajudará a Europa a enfrentar o desafio da globalização. Mas, como o demonstram acontecimentos recentes, a UE só poderá ter uma influência nos acontecimentos mundiais se conseguir adoptar uma política clara e falar a uma só voz.

Ø No domínio das relações económicas internacionais, a UE já é um dos principais actores, mas não tira plenamente partido de todo o seu peso económico. O alargamento será a ocasião de reforçar a sua influência.

Ø No que respeita à política externa, à segurança e à defesa, os progressos realizados foram limitados, não tendo a UE desenvolvido os meios nem a vontade de agir de uma forma efectiva. Presentemente, numa questão essencial de política externa - o Iraque - a UE, enquanto tal, está totalmente ausente. A UE não pode continuar a combinar poder económico com fraqueza política.

Ø Devemos agarrar a oportunidade de, com 25 Membros, adquirirmos uma maior autoridade, coerência e influência na cena internacional. A UE e os seus Estados-Membros deverão rapidamente retirar as lições da actual experiência com o Iraque: utilizar e melhorar os mecanismos existentes no âmbito da UE para chegar a um entendimento e a uma posição comum relativamente aos problemas essenciais.

Por conseguinte, o presente relatório conclui que, na perspectiva do alargamento:

· deveríamos reflectir urgentemente na necessidade de reconstruir uma verdadeira política externa comum com o objectivo de falarmos a uma só voz

· a Convenção sobre o Futuro da Europa deveria conduzir a uma melhoria da actuação da UE no plano externo.

A Europa é, ou deveria ser, uma verdadeira União política. Se os políticos e os povos da Europa partilharem essa vontade política, então essa união será uma realidade. Se essa vontade política não existir (ou tiver deixado de existir), então teremos de deixar de nos enganar a nós próprios.

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Não-alargamento

Uma pergunta hipotética

Pergunta-se por vezes "Qual é o custo do não-alargamento?" É possível calcular quais seriam as consequências caso a UE não prosseguisse o alargamento previsto - precisamente como antes da concretização do mercado único europeu se calcularam "os custos da não-Europa"?

As duas situações são diferentes. O alargamento da UE é um processo que está em curso há mais de uma década e que já deu resultados: não é viável "por o relógio para trás". Além disso, as razões que estão na base do alargamento não são unicamente económicas, mas também políticas, pelo que a sua quantificação é difícil. Mas a pergunta merece uma resposta e obriga-nos a analisar os resultados e as perspectivas do processo de alargamento.

O que é que foi alcançado até ao presente?

♦ A perspectiva de adesão à UE acelerou o processo de transformação na Europa Central e Oriental que se seguiu ao colapso do comunismo.

♦ A emergência de democracias estáveis naquela região contribuiu para reforçar a segurança da Europa no seu conjunto. Eliminaram-se causas de conflitos, tais como as questões relacionadas com minorias e os problemas de fronteiras.

♦ O rápido crescimento do comércio trouxe consigo novos mercados e investimentos para os Membros da UE: os futuros Membros já realizam a maior parte das suas trocas comerciais com a UE.

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E no futuro?

Um atraso no alargamento, ou o seu abandono, em consequência da não-ratificação pelos Membros da UE, constituiria um fracasso político importante para a Europa que teria custos não só para a UE como para os países candidatos:

O não-alargamento do mercado único, de que resultaria um menor crescimento nos países candidatos, privaria a UE de ganhos económicos.

Relativamente aos países candidatos, o não-alargamento enfraqueceria o incentivo para a reforma, desencorajaria o investimento estrangeiro e reduziria o crescimento económico.

O não-alargamento criaria instabilidade política, com eventuais repercussões a nível da UE. Aumentaria também os riscos na região dos Balcãs, onde a paz e a estabilidade ainda são frágeis.

Sem o alargamento, a UE estaria em piores condições para combater os problemas do crime organizado, da imigração ilegal e do terrorismo.

A desilusão nos países candidatos alimentaria o eurocepticismo na UE e noutras regiões. Por conseguinte, os custos - políticos e económicos - do não-alargamento seriam elevados e seriam pagos pelos actuais Membros, bem como pelos países excluídos. Significaria não só a perda de futuros benefícios, mas também o deitar fora de muitos dos esforços e investimentos realizados no passado. Os "outros europeus" continuariam a ser vizinhos da UE, mas vizinhos infelizes e despeitados, que estariam menos dispostos a resolver os problemas que ultrapassassem as suas fronteiras nacionais ou a partilhar a responsabilidade pela definição do papel da Europa no mundo.

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Capítulo 1

CONSTRUIR A NOVA EUROPA

O próximo alargamento constitui um outro passo no sentido da integração europeia, proporcionando uma oportunidade histórica para pôr termo à divisão artificial entre a Europa Ocidental e a Europa Oriental e para reunificar o nosso continente.

O alargamento a 10 novos Estados-Membros, incluindo Estados da Europa Central e Oriental, reforça as ideias, os valores e os objectivos subjacentes à UE, criada com o objectivo de promover a paz, a estabilidade, a democracia e a prosperidade em toda a Europa através da integração dos seus Estados e dos seus povos. O alargamento é a concretização desta visão ao promover a integração política e económica. Para os novos Estados-Membros da Europa Central e Oriental, a adesão simboliza um regresso à Europa e a oportunidade de consolidarem firmemente as suas democracias dentro da UE.

A unificação do continente europeu á a prova do dinamismo e do progresso constantes da UE que, nos últimos 30 anos, acolheu novos membros em quatro vagas sucessivas - constituindo o próximo alargamento a quinta vaga. O alargamento da UE não impediu o seu progresso, que frequentemente ocorreu paralelamente à adesão de novos membros. No entanto, o actual alargamento coloca novos desafios que comportam oportunidades mas também riscos.

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Principais datas do processo de alargamento

1989 Queda do muro de Berlim

Início do apoio financeiro da Comunidade Europeia aos países da Europa Central e Oriental tendo em vista a reforma e a reconstrução das suas economias

1990 Chipre e Malta solicitam a adesão à UE

1990-1996 Conclusão de Acordos de Associação (Acordos Europeus) com os Estados da Europa Central e Oriental

1993 O Conselho Europeu de Copenhaga aprova o alargamento da UE aos países da Europa Central e Oriental e define os critérios de adesão

1993 A Comissão Europeia publica os seus pareceres sobre Chipre e Malta 1994 O Conselho Europeu de Essen aprova a estratégia de pré-adesão 1994-1996 Dez Estados da Europa Central e Oriental solicitam a adesão à UE

1997 A Comissão Europeia publica os seus pareceres sobre os países da Europa Central e Oriental e propõe uma estratégia para o alargamento no seu documento "Agenda 2000"

1998 Início das negociações de adesão com a Hungria, a Polónia, a Estónia, a Eslovénia, a República Checa e Chipre

Malta reactiva o seu pedido de adesão à UE

1999 O Conselho Europeu de Berlim aprova a "Agenda 2000" e uma perspectiva financeira para o alargamento da UE A Turquia é aceite no processo de alargamento da UE com base nos critérios de Copenhaga

2000 Início das negociações com a Eslováquia, a Letónia, a Lituânia, a Bulgária, a Roménia e Malta

2002 O Conselho Europeu de Copenhaga conclui as negociações de adesão com Chipre, Malta, a Eslováquia, a República Checa, a Polónia, a Hungria, a Eslovénia, a Estónia, a Letónia e a Lituânia

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Razões do alargamento da UE

O alargamento da UE resulta da decisão de partilhar os benefícios alcançados pela Europa Ocidental através da criação de uma zona de estabilidade em que a guerra se torne impossível. Cabe à UE favorecer o desenvolvimento económico e democrático dos países vizinhos, bem como promover a estabilidade e a segurança.

Este ideal europeu resultou da experiência de convulsões que atingiram o continente europeu no período entre as duas guerras, na destruição causada pela última guerra e no optimismo surgido no pós-guerra. A paz e a estabilidade constituem requisitos indispensáveis para uma economia próspera e vice-versa. O raciocínio dos pais fundadores da UE baseou-se no princípio de que a integração das economias da Europa Ocidental contribuiria para impedir a guerra e para criar paz, estabilidade e prosperidade para os cidadãos de toda a Europa. Esta visão continua válida, como o demonstrou a violenta desintegração da antiga Jugoslávia.

O alargamento aos novos países membros definirá o contexto político e económico da UE para a próxima e para as futuras gerações.

Razões pelas quais os países desejam aderir

Ao longo da sua história, os países da Europa Central e Oriental sofreram as consequências do expansionismo dos seus vizinhos mais poderosos a Leste e a Ocidente. Os seus pedidos de adesão à UE reflectiram o receio de reencontrarem a liberdade mas de ficarem ao sabor da situação numa Europa em rápida mudança. Para maior segurança quiseram, pois, aderir à UE e também à NATO.

A adesão à UE representa o culminar do seu sonho de regresso à Europa após a divisão artificial constituída pela Cortina de Ferro. Para além de simbolizar a reentrada na família europeia, a adesão contribui para estabilizar as suas jovens democracias e para criar um contexto para o desenvolvimento de economias de mercado equilibradas do ponto de vista social. A adesão pressupões vantagens socioeconómicas que consolidarão o desenvolvimento democrático através do acesso ao mercado único e de uma maior assistência financeira. Proporciona ainda maiores possibilidades de investimento directo e de retoma económica, assim como um contexto empresarial estável e políticas sociais progressistas.

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Anteriores alargamentos

A história da UE está associada a vários alargamentos bem sucedidos. A Grã-Bretanha, a Dinamarca e a Irlanda aderiram em 1973, tendo sido seguidas pela Grécia, em 1981, e por Espanha e Portugal, em 1986, após a queda das respectivas ditaduras, consolidando assim o seu desenvolvimento democrático. Em 1995, acolheu a Áustria, a Finlândia e a Suécia. Nos últimos 30 anos, a UE passou de 6 membros com uma população de 185 milhões de habitantes para uma entidade internacional de 15 membros com 375 milhões de cidadãos. Encontra-se presentemente em vésperas de um novo alargamento na sequência do qual passará a contar 25 membros e 450 milhões de cidadãos.

O alargamento não impediu a aprofundamento. Aquando da adesão de Espanha e de Portugal, a UE lançou o programa do mercado único e políticas em matéria de ambiente, de coesão económica e social, de investigação, de tecnologia e de assuntos sociais. Em 1992, o Tratado de Maastricht preparou a União Económica e Monetária enquanto decorria o processo de adesão da Suécia, da Finlândia e da Áustria. Em seguida, a UE introduziu a moeda única (o euro) enquanto negociava o actual ciclo de alargamento.

O ciclo actual

A UE prepara-se agora para integrar oito países da Europa Central e Oriental (Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa e República Eslovaca, Hungria e Eslovénia) e dois Estados mediterrânicos, Malta e Chipre (ver, em anexo, Quadro 1 que contém os dados de base relativos à sua população, superfície e economia). Estes países estão a preparar a sua adesão há mais de uma década, em conformidade com os critérios formulados pela UE.

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Os critérios de adesão

A cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da UE realizada em Copenhaga, em Junho de 1993, formulou a promessa histórica de que "os países da Europa Central e Oriental que o desejem poderão tornar-se membros logo que estejam em condições de assumir as obrigações decorrentes da adesão ao satisfazerem as condições económicas e políticas".

O Conselho Europeu enunciou pela primeira vez as condições de adesão, que, desde então, ficaram conhecidas por "critérios de Copenhaga". Segundo estes critérios, os países que desejem aderir à UE devem satisfazer as seguintes condições:

♦ Possuir instituições estáveis que garantam a democracia, o Estado de Direito, os direitos do Homem e o respeito pelas minorias e a sua protecção.

♦ A existência de uma economia de mercado em funcionamento e a capacidade para fazer face à pressão da concorrência e às forças de mercado no interior da União Europeia. ♦ A capacidade do país candidato para assumir as obrigações decorrentes da adesão,

incluindo a adesão aos objectivos da união política, económica e monetária.

O primeiro critério, o critério "político", constitui uma condição prévia para a abertura das negociações de adesão, enquanto os outros critérios devem estar preenchidos no momento da adesão.

O terceiro critério pressupõe que os novos Membros assumam e apliquem efectivamente as políticas e regras da UE (o "acervo").

Os aspectos positivos do processo de alargamento já são visíveis. Nos futuros Estados-Membros da Europa Central e Oriental, surgiram democracias estáveis com instituições democráticas e um maior respeito pelas minorias. As reformas económicas por eles empreendidas permitiram atingir taxas de crescimento mais elevadas (em comparação com as taxas de crescimento na UE)

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adesão à UE e pela assistência financeira de que beneficiaram tanto por parte da UE como de outras instituições internacionais.

A "condicionalidade" associada aos critérios de adesão à UE fez acelerar o ritmo das reformas e tornou-as irreversíveis. A estabilidade e maior prosperidade resultantes dessas reformas beneficiam não só os actuais como os futuros membros da UE.

A UE está, pois, a reunificar progressivamente o continente e a tornar extensiva a outros europeus a zona de paz, estabilidade e prosperidade de que os europeus da Europa Ocidental gozam há mais de uma geração.

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Capítulo 2

OS CIDADÃOS E O PROCESSO DE ALARGAMENTO

Um dos objectivos do presente relatório é dar resposta às perguntas, problemas e dúvidas manifestados por pessoas de diferentes quadrantes à medida que se aproxima o alargamento da UE. Que sabemos sobre as preocupações e as expectativas dos cidadãos dos actuais e dos futuros Estados-Membros?

Membros actuais

Uma das principais preocupações dos cidadãos no que respeita ao alargamento da UE prende-se com a segurança pessoal. Os cidadãos da UE temem um maior risco de crime e mais imigração e que se verifique uma redução dos níveis de protecção dos consumidores, em especial no que respeita às normas relativas aos produtos alimentares, e maiores problemas em matéria de ambiente, designadamente riscos inerentes às centrais nucleares nos futuros membros. Estes receios resultam não só do desconhecimento da situação real naqueles países, mas também do facto de estarem conscientes do enorme fosso social e económico criado durante o período em que os países da Europa Central e Oriental estiveram sob regimes comunistas e em que no Ocidente foram sendo introduzidas normas mais estritas.

O desnível económico e social está na base de outras preocupações nos actuais Estados-Membros, isto é, que os salários mais baixos e a menor protecção social que caracterizam os novos Estados-Membros possam conduzir a uma deslocação do investimento e do emprego, como já aconteceu em alguns casos, e que a livre circulação de trabalhadores no mercado alargado se traduza num afluxo de trabalhadores migrantes. Estas preocupações com o alargamento inscrevem-se, naturalmente, no contexto de ansiedade geral que caracteriza os sectores vulneráveis da sociedade resultantes do processo de ajustamento mundial que acompanha a globalização.

As perguntas colocadas diferem consoante os países. Países como a Alemanha e a Áustria, que são vizinhos dos futuros membros, estão preocupados com o impacto económico e social directo da abolição das fronteiras, enquanto essa preocupação é menos acentuada nos Estados-Membros

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Finalmente, em muitos quadrantes, há dúvidas quanto à capacidade de as instituições da UE, na sua forma actual, gerirem a maior complexidade do processo de decisão. Será que quando o número de membros passar de 15 para 25 "mais" passará na realidade a significar "menos"?

Os inquéritos de opinião realizados revelam que nos 15 Estados-Membros a opinião pública é geralmente favorável ao alargamento. No inquérito Eurobarómetro mais recente (publicado em Novembro de 2002 - ver Quadro 2 em anexo), 66% dos inquiridos na UE a 15 manifestaram-se favoráveis ao alargamento, tendo 22% manifestado uma opinião contrária. Os restantes, ou não responderam (9%) ou responderam que dependia dos países em causa (3%).

A maioria dos respondentes (82%) já havia ouvido falar do processo de alargamento, embora a percentagem dos que sabiam quais os países envolvidos fosse inferior (40% não conseguiram dizer sequer o nome de um país). Entre os países candidatos mais conhecidos da opinião pública da UE a 15 figuram a Turquia (referida por 31% dos respondentes), a Polónia (30%), a República Checa (16%) e a Hungria (12%). Os inquiridos que já tinham ouvido falar do processo manifestaram em geral uma opinião mais favorável do que aqueles que o desconheciam.

Os níveis mais elevados de apoio foram registados em Itália e na Irlanda (aproximadamente 80%), seguidas da Espanha e da Bélgica (70%-75%). O nível mais baixo de apoio registou-se no Reino Unido, na Suécia e na Finlândia (50%-55%), enquanto na Alemanha e em França esses níveis se situaram próximo da média da UE (66%).

Outras perguntas do inquérito Eurobarómetro dão uma indicação interessante da opinião dos cidadãos quanto às consequências do alargamento. A maioria dos inquiridos (mais de dois terços) considerava que o alargamento:

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· o alargamento seria muito caro para o respectivo país · muitos cidadãos dos novos membros se fixariam no seu país

· a abertura das fronteiras tornaria mais difícil a luta contra o crime organizado e o tráfico de estupefacientes

e uma minoria significativa considerava que: · o desemprego no seu país aumentaria · o nível de bem-estar social seria reduzido.

No entanto, as razões políticas gerais do alargamento obtiveram uma ampla aprovação, tendo a maioria dos inquiridos manifestado a opinião de que:

· "temos um dever moral de reunificar a Europa após as divisões da Guerra Fria"

· "a adesão dos novos membros à UE é natural e justifica-se do ponto de vista histórico e geográfico.

Futuros membros

Nos futuros países membros, as principais questões no que respeita ao impacto da adesão são de natureza diferente, uma vez que a UE ainda é algo de "estranho" de que a maioria dos cidadãos não tem qualquer experiência directa. No entanto, algumas das perguntas colocadas relativamente às consequências da adesão a uma organização supranacional são comuns a actuais membros da UE e prendem-se com a perda da soberania nacional ou da identidade nacional ou local, assim como com a dificuldade de influenciar e de compreender as decisões tomadas a nível europeu.

No domínio económico e social, as esperanças e receios relativamente à UE reflectem a experiência da transição económica, uma experiência frequentemente difícil, em que as reformas e os ajustamentos provocaram um maior crescimento económico mas também mais desigualdade. A concorrência do Ocidente e o investimento estrangeiro já colocam as empresas locais sob pressão.

Os debates sobre a UE nos futuros Estados-Membros foram influenciados pelas negociações de adesão, cujos resultados foram minuciosamente examinados. Embora nos círculos políticos se

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parceiro nas negociações, surgiu frequentemente sob uma luz desfavorável, por exemplo no que respeita aos capítulos agrícola e orçamental das negociações e à posição restritiva que adoptou quanto à livre circulação de trabalhadores. Daí que, nestes países, exista uma percepção de que, mesmo após a adesão, podem não ser tratados como parceiros iguais mas ter uma espécie de estatuto de "segunda classe".

Nos futuros 10 Estados-Membros, o Eurobarómetro registou sempre níveis elevados de apoio à adesão à UE. De acordo com os últimos resultados disponíveis (baseados em entrevistas realizadas em Setembro e Outubro de 2002 - ver Quadro 3 em anexo):

· 52% dos inquiridos consideraram que a adesão seria "uma boa coisa" · 61% votariam "sim" num referendo.

Resta saber se estas indicações serão confirmadas nos referendos que terão lugar nestes países no decurso de 2003. Quando o presente relatório estava a ser finalizado, o primeiro referendo já havia sido realizado em Malta, tendo o resultado sido favorável a uma adesão à UE.

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Perguntas mais frequentes

Embora exista um certo consenso geralmente favorável ao alargamento tanto nos actuais Estados-Membros da UE como nos futuros membros, o público em geral e os círculos políticos colocam muitas perguntas, frequentemente eivadas de cepticismo.

Perguntas mais frequentes

· De que modo é que o alargamento afectará o emprego e os salários? O aumento da concorrência na UE alargada provocará perdas de postos de trabalho? Haverá "dumping social"?

· Os novos membros aplicarão correctamente as regras da UE, incluindo as regras respeitantes ao mercado único?

· Os novos membros adoptarão a moeda europeia no momento da adesão?

· O alargamento provocará um aumento da insegurança, um maior risco de criminalidade e mais imigração?

· A chegada de novos membros fará baixar o nível de protecção dos consumidores e do público em geral (por exemplo, normas relativamente aos produtos alimentares, à segurança nuclear, à protecção do ambiente, etc.)?

· A adesão à UE implicará uma perda de identidade para mim ou para o meu país?

· O meu país perderá a sua soberania ao aderir à UE? Será um membro de "segunda classe"?

· Será possível tomar decisões numa UE com 25 membros?

· Com tantos membros, como poderá a Europa falar efectivamente a uma só voz na cena mundial?

· O próximo ciclo de alargamento será seguido de outros, que trarão consigo a adesão de mais países?

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Estas perguntas estão agrupadas em quatro grandes temas nos capítulos seguintes do presente relatório, que analisa as consequências do alargamento para:

· a economia europeia (emprego, crescimento, finanças, etc.),

· a qualidade de vida dos cidadãos europeus (segurança, normas de protecção, etc.), · as relações da UE com os seus vizinhos e o seu papel na cena mundial,

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Capítulo 3

ECONOMIA, MERCADO DE TRABALHO E FINANÇAS

O presente capítulo resume os resultados conseguidos em termos de integração das economias dos futuros membros na UE, bem como o que ainda falta fazer para que o alargamento seja um êxito. Aborda uma série de questões frequentemente colocadas sobre o impacto do alargamento no crescimento económico, no emprego e nas finanças da UE.

O êxito do alargamento dependerá da forma como venham a ser geridas as oportunidades e os riscos económicos que implica tanto para os actuais como para os futuros Estados-Membros. Os benefícios e as perdas dos países, das empresas e dos cidadãos dependerão das suas próprias decisões e não do simples facto do alargamento. Apesar da importância das políticas

comunitárias, o êxito económico dos países membros tem estado e continuará a estar em grande medida nas suas próprias mãos.

Em termos económicos simples, o próximo alargamento da UE corresponde à integração num grupo de países que constitui uma grande economia rica de 375 milhões de habitantes de um grupo de países muito menos ricos e com 75 milhões de habitantes. Para avaliar as

consequências económicas prováveis, devemos basear-nos tanto na teoria como nas experiências anteriores.

Em termos relativos, o aumento de população (20%) e de superfície (23%) resultante do

alargamento de 2004 não é superior ao de alargamentos anteriores. O alargamento de 1973, com a adesão do Reino Unido, da Dinamarca e da Irlanda, foi proporcionalmente maior em termos de população e o alargamento de 1995, com a adesão da Áustria, da Suécia e da Finlândia, foi proporcionalmente superior em termos de superfície.

O presente alargamento é, contudo, muito diferente dos anteriores em termos de diferenças económicas: os futuros membros têm um PIB médio per capita de cerca de 40% dos membros actuais (em paridade de poder de compra). A situação mais comparável foi a adesão de Espanha e Portugal em 1986, que pressupôs um aumento de 16% da população da UE: esses países tinham um PIB médio per capita de cerca de 70% da UE de então (em paridade de poder de compra).

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Outra diferença entre o presente alargamento e os anteriores é que a maior parte dos novos membros está a concluir a transição de economias planificadas para um sistema de mercado e tem sido objecto de reformas económicas difíceis independentemente dos esforços de adesão à UE.

Alguns comentadores compararam o próximo alargamento com a criação do Acordo de

Comércio Livre da América do Norte (NAFTA) entre os Estados Unidos da América, o Canadá e o México nos anos 90, uma vez que os rendimentos do México eram e ainda são bastante inferiores aos dos EUA e do Canadá.1 Mas o NAFTA é apenas uma zona de comércio livre, enquanto a adesão à UE implica uma união aduaneira com uma abundante legislação comum, uma moeda única, livre circulação e integração política e jurídica.

As condições económicas dos Estados-Membros actuais e futuros são consideravelmente distintas: não faz parte do âmbito do presente capítulo analisar os países individualmente, embora sempre que necessário se mencione o impacto em casos particulares. Centra-se, necessariamente, nos efeitos da introdução dos países da Europa central e oriental; Chipre e Malta são muito mais pequenos, com produtos internos brutos de, respectivamente, 10 e 4 mil milhões de euros, e não sofreram a transição de uma economia planificada. Devido ao seu tamanho reduzido, não têm muita influência na análise económica global. Entre os actuais Estados-Membros, o alargamento terá um impacto económico maior nos que possuem fronteiras comuns com os novos membros, em especial a Alemanha e a Áustria.

Os efeitos económicos

O alargamento para 25 Estados-Membros acrescentará 75 milhões de consumidores ao mercado interno da UE. Esse facto levará à intensificação do comércio de bens e serviços, à realização de economias de escala, ao aumento da concorrência e dos fluxos de investimento, tendo como resultado um maior crescimento económico, tanto nos actuais Estados-Membros como nos novos. A este respeito, o alargamento assemelha-se ao processo de conclusão do mercado interno que a UE conheceu nos anos 90. Além disso, os novos Estados-Membros podem esperar

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Comércio

Está já a ter lugar uma extensa integração económica entre os Estados-Membros actuais e os novos, como parte do processo de pré-adesão (o quadro 4 do anexo mostra os dados relativos ao rápido crescimento do comércio nos últimos anos).

Dado que o comércio de mercadorias com a UE foi largamente liberalizado durante a década de 90, a adesão à UE pressupõe a passagem de uma zona de comércio livre a uma união aduaneira. Por essa razão, o impacto imediato no comércio de mercadorias com os novos membros será reduzido, sendo os principais benefícios visíveis apenas a médio e a longo prazo, como resultado do aumento de investimento e de uma maior especialização da produção.

Contudo, subsistem áreas onde o comércio não foi ainda integralmente liberalizado, tais como o sector automóvel, e o comércio de serviços, incluindo os serviços financeiros, é limitado. O comércio de produtos agrícolas não está também integralmente liberalizado, embora o comércio de produtos agro-alimentares tenha aumentado substancialmente no período de pré-adesão. Os comentadores têm observado que o alargamento pode aumentar o volume do comércio entre os

novos membros, especialmente na Europa central e oriental.

As estimativas do impacto do alargamento na UE actual tendem a ser limitadas, devido à sua dimensão económica muito superior. Algumas estimativas afirmam que os actuais membros da UE obterão, a longo prazo, benefícios totais de cerca de 10 mil milhões de euros, com um aumento de uma vez só do respectivo PIB de 0,2%, o que poderia levar à criação de cerca de 300 000 postos de trabalho (pressupondo uma relação trabalho-produção constante)2. Este benefício económico seria distribuído desigualmente entre os actuais Estados-Membros, correspondendo à Alemanha cerca de um terço.

Em relação aos novos Estados-Membros, o consenso dos economistas é que é provável que os benefícios sejam proporcionalmente muito maiores, reflectindo o facto de 70% das exportações se destinarem à actual UE (apenas 4% das exportações da UE se destina actualmente aos novos Estados-Membros) e de as suas economias serem bastante mais pequenas. Um estudo recente resume a literatura económica da seguinte forma: “as simulações orientadas para o comércio mostram em geral que os candidatos, enquanto grupo, beneficiam de aumentos do PIB entre 1½% e 8% ou mesmo 10% a curto e médio prazo”.3

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Investimento

Dado que existe já uma substancial liberdade de comércio, e que a mobilidade da mão-de-obra após o alargamento será limitada ainda durante alguns anos, a chave do futuro crescimento económico dos novos Estados-Membros reside no investimento.

A perspectiva da adesão à UE estimulou já o investimento directo estrangeiro (IDE) nos novos membros, embora seja difícil calcular o nível do seu aumento no futuro. Na sequência de adesões anteriores, alguns países, designadamente Portugal e Espanha, registaram aumentos consideráveis nos fluxos de IDE, mas o mesmo não sucedeu em todos os países. O aumento do IDE depende de medidas de ajustamento sólidas e de boa governação a nível nacional. Segundo algumas fontes, dado o nível já elevado de IDE, o termo dos incentivos fiscais especiais e a conclusão do processo de privatizações, não é provável que se registem novos aumentos após a adesão. Por outro lado, alega-se que a entrada real na UE provocará um afluxo importante de IDE, sempre que o clima local seja favorável. A maior segurança jurídica associada à adesão à UE e o fim das "cláusulas de salvaguarda" nos presentes acordos com a UE, que podem ter limitado as suas exportações, constituirão factores favoráveis. Alguns círculos empresariais consideram que muitas empresas têm novos projectos de investimentos que aguardam a

conclusão do alargamento, o que sugere a possibilidade de um aumento de investimentos. É de assinalar que o NAFTA levou a um considerável aumento do investimento no México. No caso da adesão à UE, as repercussões da ampliação do acesso ao mercado, da legislação comum e das orientações económicas deverão ser ainda maiores.

Assim, é possível que o efeito dinâmico (um círculo virtuoso de crescimento e investimento) possa acelerar ainda mais o crescimento económico nos novos Estados-Membros após a adesão. A experiência dos alargamentos precedentes mostra, contudo, que este dinamismo não é

automático; dependerá da adopção de medidas favoráveis ao crescimento nos novos Estados-Membros e na UE.

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futuros Estados-Membros (ver quadro 5 do anexo) são superiores às dos actuais membros da UE.

Migração e mercado de trabalho

Uma vez que a migração de trabalhadores gera benefícios económicos nos países receptores, isso pode constituir uma das principais vantagens do alargamento da UE.

A maior parte dos cidadãos dos futuros Estados-Membros já pode viajar livremente (sem necessidade de visto) na UE. Mais de 850 000 residem já na UE, o que representa 0,2% da sua população. A imigração (frequentemente de mão-de-obra sazonal) concentra-se nos países e regiões adjacentes; dois terços destes imigrantes residem na Alemanha e cerca de 14% na Áustria.

A opinião pública na UE mostra-se preocupada com a eventualidade de uma vaga migratória em larga escala de trabalhadores dos novos Estados-Membros após o alargamento devido à grande diferença entre os rendimentos. Contudo, não é provável que esses temores se venham a confirmar na prática.

A experiência das adesões anteriores de países de baixos rendimentos é reveladora. Os fluxos líquidos migratórios procedentes de Espanha e Portugal após a adesão à UE foram quase nulos na segunda metade da década de 80, durante o período transitório de sete anos em que existiam restrições à emigração. Quando as restrições foram levantadas, coincidindo com a recessão do início dos anos 90, o aumento dos fluxos migratórios procedentes desses países foi praticamente inexistente.

Foram acordadas medidas transitórias similares para o próximo alargamento: os actuais Estados-Membros terão o direito de restringir a entrada de mão-de-obra procedente da Europa central e oriental durante um período de sete anos. Três dos actuais Estados-Membros

anunciaram a intenção de não restringir a entrada de trabalhadores procedentes dos novos Estados-Membros após o alargamento. Uma vez que os países receptores de emigração obtêm vantagens económicas com uma imigração que preenche as carências de mão-de-obra

qualificada e não qualificada, estes três países beneficiarão com essa decisão. Os outros Estados-Membros devem igualmente admitir a hipótese de permitir a livre circulação de trabalhadores da Europa central e oriental assim que puderem, sem esperar pelo fim do período transitório.

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Livre circulação de pessoas

Uma das liberdades conferidas pela União Europeia consiste na livre circulação de pessoas: os cidadãos europeus têm a liberdade de residir e trabalhar em qualquer dos Estados-Membros da União.

Como será esta liberdade aplicada aos novos membros? Existem diferentes aspectos desta questão: o direito de deslocar-se a outros Estados-Membros, o direito de residir e de trabalhar neles e a participação no espaço Schengen.

Após a adesão, os cidadãos dos novos Estados-Membros terão o direito de viajar e de residir em qualquer dos actuais Estados-Membros. No entanto, durante um período de sete anos, os

Estados-Membros actuais podem restringir o direito de cidadãos procedentes dos países da Europa central e oriental de desempenharem tarefas remuneradas.

Uma questão independente do direito de trabalhar é a livre circulação de pessoas no espaço Schengen. Os países do espaço Schengen concordaram com a abolição de controlos fronteiriços entre si, compensando-os com o intercâmbio de informações e o reforço das fronteiras externas. Um cidadão de um Estado-Membro tem a liberdade de viver e trabalhar em qualquer outro Estado da UE, sem que esse Estado seja membro do espaço Schengen; como sucede

actualmente com o Reino Unido e a Irlanda. Os novos Estados-Membros não se converterão imediatamente em membros do espaço Schengen, mas apenas depois de satisfazerem as normas em matéria de segurança nas fronteiras.

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É provável que os países e as regiões da UE mais próximos dos novos Estados-Membros venham a ser mais afectados do que os outros. Um recente relatório do Centre for Economic

Policy Research sugere que a emigração cumulativa líquida (emigração a longo prazo)

procedente dos novos Estados-Membros (15-20 anos após a introdução da livre circulação de trabalhadores) ascenderá a 2-3% da população na Alemanha5. As regiões fronteiriças

conhecerão também um fenómeno de migração a curto prazo (inclusive de trabalhadores transfronteiriços) considerável por motivos laborais.

Estas estimativas devem ser analisadas à luz do envelhecimento da sociedade europeia. A substituição de gerações não está a ter lugar: a taxa de fertilidade é baixa, a esperança de vida aumentou e os coeficientes de dependência (relação entre a população idosa e a população em idade activa) aumentarão nos próximos anos. Daí que, em relação aos actuais membros da UE, o aumento da migração possa compensar (parcialmente) o aumento da dependência devida ao envelhecimento.

Por último, convém assinalar que se as medidas económicas estimularem um alto nível de emprego e de crescimento económico nos novos Estados-Membros, os trabalhadores

mostrar-se-ão optimistas em relação ao futuro, o que contribuirá para mantê-los nos seus países. Em consequência, o mais provável é que os números totais de migração procedente dos novos Estados-Membros sejam limitados. Quais poderão ser as outras consequências nos mercados de trabalho dos Estados-Membros actuais? Isso dependerá, em parte, do tipo de trabalhadores que emigrem e dos sectores do mercado de trabalho a que se dediquem.

Existem já trabalhadores qualificados procedentes dos futuros Estados-Membros a suprir carências do mercado de trabalho em serviços e empregos vitais. Contam com níveis de educação formal relativamente elevados, mas frequentemente não são tidas em conta as suas qualificações, pelo que tendem a trabalhar nos mesmos sectores do que os outros trabalhadores estrangeiros, tais como a construção civil, os serviços de limpeza e a indústria. Na UE alargada, um aumento da oferta de mão-de-obra qualificada (incluindo o emprego informal) poderá ter impacto nos salários e no emprego de trabalhadores não qualificados nos actuais

Estados-Membros, em especial em regiões próximas dos novos Estados-Membros. Poderá igualmente haver consequências na procura de mão-de-obra não qualificada em resultado de transformações na localização industrial. No NAFTA, as empresas americanas aproveitaram as diferenças económicas para deslocar para o México as indústrias com uma

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