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4 ADAPTAÇÕES ESCOLARES PARA QUALIDADE DE VIDA DE ALUNOS E

4.1 A QUALIDADE DE VIDA COMO RESULTADO DE UM PROCESSO DE

educadores, educandos e comunidade em geral é a tão sonhada “qualidade de vida” que, uma vez estimulada, facilitará as condições de vida das crianças na condição de futuros cidadãos.

4.1 A QUALIDADE DE VIDA COMO RESULTADO DE UM PROCESSO DE CONSCIENTIZAÇÃO

Com a elaboração de novos conceitos sobre o modo de vida e constantes descobertas científicas relacionadas ao conforto e bem estar do corpo, nas últimas décadas, ocorre uma crescente preocupação com as questões relativas à qualidade de vida. No campo das ciências biológicas, assuntos valorizando o controle de sintomas, diminuição da mortalidade e aumento da expectativa de vida vêm ocupando, cada vez mais, o cenário mundial. Autores, como Pereira et al. (2012, p.241) e Seidl e Zannon (2004 p.581), afirmam que uma nova tendência tem sido o constante interesse em investigar as mudanças de perfil de morbimortalidade. Em países desenvolvidos, nota-se a alta prevalência de doenças crônico-degenerativas. Com os avanços em tratamentos, surgem novas e efetivas possibilidades de controle de enfermidades, as quais proporcionam aumento da longevidade às pessoas. Assim, a qualidade de vida é abordada por muitos autores como um sinônimo de saúde, e por outros, como um conceito mais complexo e abrangente em que as condições de saúde e de vida do individuo acabam sendo mais consideradas.

Qualidade de vida pode ser entendida como uma noção eminentemente humana, que encontra um grau de satisfação na vida familiar, amorosa, social e ambiental, e à própria estética existencial. Minayo, et al. (2000, p.07) acreditam que a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que a sociedade considera padrões de bem-estar podem caracterizar o conceito de “qualidade de vida”, embora este carregue significados que refletem conhecimentos, experiências e valores individuais e coletivos de diferentes épocas e espaços históricos, sendo, portanto, uma construção social marcada pela relatividade cultural.

Estes fatores se tornam evidentes nas palavras de Matos (1999, p.03), ao dizer que “quanto mais aprimorada a democracia, mais ampla é a noção de qualidade de vida, o grau de bem-estar da sociedade e de igual acesso a bens materiais e culturais”.

Ainda sob a perspectiva da noção de qualidade de vida em um plano individual, Minayo et al. (2000, p.09) trazem uma definição que a torna muito relativa, sendo modificada de acordo com três pontos distintos: primeiramente, de acordo com a história, através do desenvolvimento econômico, social e tecnologia de uma sociedade específica, em determinado período histórico, podem-se observar diferentes formas de apresentação da qualidade de vida, da população que vivencia o período; a Cultura, também, é outro fator que modifica a situação da qualidade de vida de uma população, valores e necessidades são hierarquizados em diferentes povos e civilizações, de acordo com suas tradições e modos culturais, por isso, a vida e a saúde são vistas de formas diferentes de acordo com a cultura de cada região, e por fim, a organização econômica de cada indivíduo, ou classes sociais em que está inserido interferem nos valores da qualidade de vida, de acordo com a posição social dos cidadãos, são percebidas heterogeneidades e desigualdades fortes, as quais influenciam diretamente no bem-estar e na saúde de classes mais favorecidas em relação às menos.

No artigo de Seidl e Zannon (2004, p.581), está descrito que, a partir da década de 90, os estudiosos entraram em consenso sobre dois aspectos relacionados à qualidade de vida: a subjetividade e a multidimensionalidade. Na subjetividade, o indivíduo avalia sozinho, sua situação pessoal, observando cada uma das dimensões que relacionam o seu bem estar e qualidade de vida, ficando contrário às antigas tendências, em que a saúde era avaliada somente por um profissional especializado e, através de sua percepção externa, definia a qualidade de vida do sujeito. Quanto à multidimensionalidade são referidos o reconhecimento do termo como mais amplo e composto por diversas dimensões.

Para definir realmente o conceito Qualidade de Vida, existem atualmente diferentes concepções. Segundo Pereira et al. (2012, p.241), não existe uma definição, que seja amplamente aceita. Fica cada vez mais evidente que a qualidade de vida não inclui apenas fatores relacionados à saúde, como bem-estar físico, funcional, emocional e mental, mas também outros elementos importantes da vida das pessoas como trabalho, família, amigos e outras circunstancias do cotidiano, sempre valorizando a percepção pessoal do indivíduo. Sendo assim, segundo conclusões do grupo que desenvolve pesquisas relacionadas à qualidade de vida, WHOQOL (1994), a percepção do indivíduo é caracterizada como, sua posição de vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

No estudo de Seidl e Zannon (2004, p.582), foram descritas as principais definições de qualidade de vida relacionadas à saúde, estas definições estão aqui citadas, conforme encontradas no artigo, referenciando seus devidos autores:

“É a valoração subjetiva que o paciente faz de diferentes aspectos de sua vida, em relação ao seu estado de saúde.” Guiteras e Bayés (1993, p. 179) 13

“Refere-se aos vários aspectos da vida de uma pessoa que são afetados por mudanças no seu estado de saúde, e que são significativos para a sua qualidade de vida.” Cleary et al. (1995, p.91)

“É o valor atribuído à duração da vida, modificado pelos prejuízos, estados funcionais e oportunidades sociais que são influenciados por doença, dano, tratamento ou políticas de saúde.” Patrick & Erickson apud Ebrahim (1993, p.1384).

Na área da saúde, ainda conforme as autoras, Seidl e Zannom (2004), mencionam que, o interesse pelo conceito de Qualidade de Vida é relativamente recente e é decorrente de novos paradigmas que influenciam as políticas e as práticas dessa área nas últimas décadas. Os determinantes do processo saúde-doença são multifatoriais e complexos. Assim, a saúde e a doença configuram processos continuados relacionados às condições econômicas, socioculturais e de experiências pessoais e estilos de vida. Mudanças frequentes de paradigmas que auxiliam na melhora do conceito de “qualidade de vida” são resultados dos avanços científicos, práticas assistências modernas e das políticas públicas de prevenção e promoção de saúde.

Para auxiliar no diagnóstico e prognóstico de patologias e enfermidades, estão sempre sendo desenvolvidas pesquisas sobre como pode ser avaliada a Qualidade de Vida dos indivíduos, tanto de uma forma individual, como coletiva. Sobre isso, há duas tendências, quando o enfoque é avaliativo: Qualidade de Vida como conceito mais genérico, e Qualidade de Vida relacionada à saúde. No primeiro caso, a Qualidade de Vida apresenta uma caracterização mais ampla, fazendo referências às disfunções e agravos. Em um estudo para elaborar um instrumento de avaliação para a qualidade de vida, o grupo WHOQOL

13

Referencial encontrado no artigo de Seidl Eliane Maria Fleury, Zannon Célia Maria Lana da Costa. Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, n.20, v.2, p.580-588, mar- abr, 2004.

Guiteras AF, Bayés R. Desarrolllo de un i n s t ru m e nto para la medida de da calidad de vida en enfermidades crónicas. In: Fo rns M, Anguera MT, organizadore s. Ap o rtaciones recientes a la eva l uación psicologica. Ba rcelona: Un i versitas; p. 175-95, 1993.

Cleary PD, Wilson PD, Fowler FJ. He a l t h - relate quality of life in HIV-infected persons: a conceptual model. In: Dimsdale JE, Baum A, editors.Quality of life in behavioral medicine research .New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates; p. 191-204, 1995.

Ebrahim S. Clinical and public health perspectives and applications of health-related quality of life measurement. Soc Sci Med, v.41, n.13, p. 83-94, 1995.

(1995, p.1405) descreveu que a Qualidade de Vida pode ser definida como: “[...] a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos e expectativas, padrões e preocupações”.

Já, quando o termo é relacionado à saúde, encontra-se mais frequentemente na literatura, e é conceituado de uma forma geral, tornando-se, dessa forma, mais utilizado para relacionar aspectos associados a enfermidades ou a intervenções em saúde. Há ainda controvérsias, segundo Seidl e Zannon (2004, p.586), em relação ao uso de medidas específicas da Qualidade de Vida, ou seja, uma linha de autores acredita que a enfoques específicos da qualidade de vida, utilizando sua medição, podem contribuir para melhor identificar as características relacionadas às patologias ou agravos. Outros autores acreditam que essa abordagem torna-se restrita aos sintomas e às disfunções, contribuindo pouco para uma visão mais abrangente.

Como podemos perceber nos parágrafos acima, o tema qualidade de vida é tratado a partir de diferentes concepções, seja na área da ciência, através de suas disciplinas e estudos específicos, ou no senso comum, sendo sob o ponto de vista objetivo e subjetivo, individual ou coletivo. No âmbito da saúde, o sentido do termo é ampliado e tem como base a compreensão das necessidades humanas fundamentais, materiais e espirituais, enfocando principalmente o conceito de “promoção de saúde”. Nessa perspectiva, a qualidade de vida em saúde tem como base a capacidade de viver sem doenças e/ou superar as dificuldades de alguma condição de saúde instável. Isso porque, se olharmos para os profissionais da saúde na atualidade, percebemos que eles possuem subsídios técnicos que podem influenciar diretamente na saúde do indivíduo, participando da avaliação e de intervenção nos estados de dor, mal-estar e nas doenças já instaladas, buscando minimizar os desconfortos e as consequências que uma afecção pode causar. Porém, ainda que os profissionais da área da saúde reconheçam sua importância sobre a qualidade de vida da população, muitas vezes, sentem-se vulneráveis em frente a algumas políticas públicas que não priorizam tais cuidados.

Por outro lado, é preciso assinalar, também, que o estado de saúde dos indivíduos e o da coletividade influencia e é influenciado pelo ambiente global. Deve-se reconhecer que nem todos os aspectos da vida humana que influenciam a qualidade de vida são, necessariamente, uma questão médica ou de saúde sanitária. Ações governamentais ou comunitárias, compartilhadas com setores econômicos e sociais ocorrem por interesse de

diferentes grupos e organizações, não se responsabilizando, portanto, apenas a área da saúde por tais iniciativas.

Para concluir, utilizando a fala de Minayo et al. (2000, p.16), podemos dizer que a questão da qualidade de vida é um padrão de vida que a própria sociedade o define, se mobiliza e deve ter a consciência para conquistar. É preciso que as mudanças positivas nas políticas públicas e sociais provoquem o desenvolvimento humano e social, auxiliando na melhoria das condições e estilos de vida, cabendo, portanto, ao setor da saúde uma parcela significativa na formulação e responsabilidades das políticas de promoção de saúde e qualidade de vida.