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CAPÍTULO I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.5 Qualidade de Vida

1.5.4 Qualidade de Vida e Psicologia da Saúde

A intervenção da psicologia da saúde na promoção da qualidade de vida tem sido um tema de crescente interesse. Esta intervenção consiste na mudança de estilo de vida em geral, mais particularmente, dos componentes que são considerados em todos os modelos de qualidade de vida ao nível da percepção e da acção. Um dos elementos centrais na mudança deve ser o comportamento.

Deste modo, a mudança comportamental inclui a abordagem de aspectos cognitivos e emocionais que são consequência ou que estão subjacentes ao próprio comportamento. Normalmente, estas mudanças são complexas e dependentes de vários aspectos da personalidade do indivíduo. Esta relação entre comportamento e outros aspectos da personalidade salientam a globalidade inerente à concepção de qualidade de vida.

Segundo Pais Ribeiro (1994) existem duas conclusões importantes a ser retiradas da intervenção psicológica na promoção da qualidade de vida, a primeira é que a intervenção deve ter sempre em primeira linha de conta os aspectos positivos e nunca os negativos da situação, enfatizar sempre as potencialidades e não as disfunções do inquirido, a segunda é que a

intervenção deve ser primordialmente comunitária, uma vez que os aspectos funcionais e psicológicos devem estar sempre a par dos aspectos sociais.

Igualmente, segundo o autor, o interesse da qualidade de vida na psicologia da saúde faz-se sentir a nível da (1) avaliação, uma vez que a contribuição para a produção de medidas de qualidade de vida é decisiva, dado as características destas técnicas exigirem o recurso a metodologias clássicas da psicologia; da (2) intervenção, uma vez que o comportamento é um dos elementos centrais a mudar para a promoção da qualidade de vida, a psicologia tem um lugar privilegiado devido à sua experiência no desenvolvimento de técnicas visando a modificação do comportamento, cognições, atitudes, emoções; e da (3) ligação existente entre as variáveis componentes da qualidade de vida e as variáveis tradicionais da psicologia, uma vez que a psicologia da saúde pode explorar a contribuição de variáveis psicológicas clássicas para o bem-estar e qualidade de vida.

O interesse das disciplinas ligadas à saúde pela qualidade de vida poderá ter, por uma lado, provavelmente a ver com a capacidade e sucesso da medicina no prolongamento da vida e, por outro lado, com a situação dos indivíduos doentes, objecto dos cuidados de saúde.

No quadro da psicologia da saúde, as relações entre os cuidados de saúde e a qualidade de vida são abordadas em função dos factores e domínios com os quais a qualidade de vida está relacionada.

Assim verifica-se que, para além dos problemas decorrentes da doença que, diariamente, afectam a qualidade de vida do indivíduo, muitos dos procedimentos médicos intrínsecos aos processos terapêuticos poderão ser responsáveis pela maior deterioração da qualidade de vida. Facto, ainda mais pertinente, no caso de uma doença crónica.

A categoria das doenças crónicas está longe de ser homogénea, mas as diferentes doenças exercem, por definição, uma influência a longo prazo na vida dos sujeitos. São geralmente doenças cuja cura ainda não foi descoberta nas quais não existe tratamento para a patologia subjacente. Por estes motivos se impõe uma prestação de cuidados de saúde mais exigente, com o objectivo da promoção e restauração da qualidade de vida (Anderson & Bury, 1988).

Com efeito, o impacto da doença crónica na qualidade de vida, constitui uma preocupação crescente tanto na sociedade como nos cuidados de profissionais de saúde. Parece ser um facto aceite que, só o conhecimento e compreensão do impacto de uma doença crónica na qualidade de vida do indivíduo, poderá permitir o desenvolvimento e estruturação de intervenções no sentido de assegurar ou melhorar a sua qualidade de vida.

Parece igualmente importante situar-se a doença crónica no contexto actual, tomando em consideração a extensão do número de indivíduos com patologias crónicas e sistematizando a diversidade que elas podem assumir.

Nesta sistematização é comum serem considerados cinco grandes grupos de doenças crónicas, (1) doenças que permitem ao individuo períodos de vida praticamente normais, entrecortados por crises durante as quais tem de ser imposto um tratamento médico específico, (2) doenças para as quais foi conseguida uma estabilização através de um tratamento específico, constante e rigoroso, (3) doenças marcadas pela fragilidade, (4) doenças que provocam uma invalidez permanente na sequência de um episódio patológico e (5) doenças caracterizadas por uma evolução imprevisível.

Para qualquer destes grupos de doenças crónicas são válidos os critérios que definem a cronicidade como seja a longa duração, que tende a estender-se ao período de vida do doente, podendo ainda originar graus

diferentes de invalidez. A doença crónica tem uma especificidade onde se encontram incluídas várias ordens de problemas que vão desde as condições e necessidades psicológicas do indivíduo aos contextos e dimensões de natureza social, incluindo a relação dos profissionais de saúde com este tipo de doença. Desta forma torna-se importante avaliar a qualidade de vida de indivíduos com doença crónica, sendo necessário encontrar formas de avaliação que não se apoiem exclusivamente em indicadores médicos, os quais decorrem exclusivamente da avaliação da presença ou ausência de sinais indicadores de doença.

No entanto, apesar de existir grande interesse em estudar os factores que podem fundamentar, de forma inequívoca, uma avaliação da qualidade de vida de indivíduos com doenças crónicas, a medida de factores de funcionamento, quer de natureza bioquímica quer fisiológica continua a fundamentar critérios de avaliação de qualidade de vida. Um outro critério de avaliação do ajustamento à doença crónica parte do princípio de que a velocidade e facilidade na recuperação dos padrões de comportamento, nas actividades quotidianas, poderá medir um elemento importante e significativo na qualidade de vida do indivíduo.

Alguns autores consideram que os aspectos positivos da doença verificados na sequência de um acontecimento devastador para a vida do indivíduo, se enquadram no processo definitivo deste, através da manutenção da auto-estima. No entanto, outros consideram que estes aspectos positivos são dados enviesados que o doente fornece com o objectivo de não demonstrar a realidade da sua situação.

Várias investigações realizadas referem que os indivíduos, perante uma doença crónica tentam, muitas vezes com sucesso, conseguir e obter benefícios e valores desse novo facto ou simultaneamente, numa posição

realista, procuram adaptar-se à nova situação dentro dos seus aspectos adversos.

Salienta-se, ainda que a abordagem multidisciplinar é fundamental no tratamento da doença crónica.