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5 A ESCOLA MUNICIPAL DE ARACAJU COMO LOCUS DE ESTUDO

5.5 VOZES QUE ECOAM

5.5.1 Qualidade da Educação

O tema avaliação educacional traz subjacente uma dada concepção de qualidade e, uma vez que envolve escolhas, não pode ser considerada um campo neutro. (SOUSA, 2014)

A primeira pergunta da entrevista tratou da percepção de professores e diretores a respeito da qualidade da educação. Cinco dos entrevistados (professores e diretores) definiram escola de qualidade como aquela que acolhe o aluno e lhe dá condições para nela permanecer, e construir sua identidade. Quatro professores apontaram como escola de qualidade aquela

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Em estudo sobre as percepções e as práticas relacionadas às avaliações externas de aprendizagem em dois municípios com distintas políticas educacionais, os citados autores fazem referência aos mundos ordinário e extraordinário enquanto recurso analítico para destacar as oposições presentes entre as atividades mais cotidianas – da ordem e previsíveis – e as atividades que problematizam o cotidiano – extraordinárias e nada previsíveis. Os intensos diálogos entre estes dois mundos faz com que um evento extraordinário se transforme progressivamente, em um evento ordinário.

que apresenta adequadas condições de funcionamento, uma estrutura física dotada de ventilação, iluminação, salas e equipamentos compatíveis com a necessidade de desenvolvimento do trabalho pedagógico, onde todos cumpram suas obrigações. Um terceiro grupo entende como escola de qualidade aquela em que todos são ouvidos e há cumplicidade no encaminhamento das ações. Entre os três diretores, as posições foram unânimes nas afirmações sobre o que, numa escola, assegura a aprendizagem.

A escola de qualidade é que tenha condições de trabalho, que tenha estrutura física adequada, que tenha uma direção preocupada, que tenha o apoio de pais, que tenha aluno que frequente, que tenha professores que participem das reuniões, que participem dos projetos, que participem de tudo que tenha na escola, em prol do aluno e que busque o bem coletivo. (PEB 1).

Uma escola de qualidade é onde todos os agentes são ouvidos, são participantes e são cúmplices na tarefa de educar. Não é uma escola que tenha lousa eletrônica, mas que não tem carteiras que permita a você fazer um trabalho coletivo, onde o professor não é ouvido nas decisões, principalmente na época de comprar materiais, onde a família só vem a escola quando é chamado para uma reclamação do filho, ou vem pra desacatar professores e funcionários. Então, pra mim uma escola de qualidade deveria ter parceria entre a Semed, professores, funcionários e família. (PED 2).

Escola de qualidade é a que oferece um bom ensino, que valoriza aquilo que o aluno conhece, o mundo em que vive e faz ele refletir sobre esse mundo, descobrir mais sobre esse mundo. Escola de qualidade é a que ensina a partir das dificuldades que o aluno tem e daí começa a angariar resultados. E se não tá dando resultados nisso, procurar estratégias, procurar ver o que pode fazer pra melhorar. Em passos bem lentos e pequenos desde 2007 que a gente vem superando as metas que são estabelecidas do Ideb. Ainda não é o almejado, mesmo porque a gente precisa melhorar, a gente tem muita dificuldade, a gente tem alunos com distorção idade e série. (D2).

Os sentidos de qualidade da educação externados pelos professores e gestores foram múltiplos e híbridos, mesclando direito à educação e à aprendizagem, infraestrutura e recursos didático-pedagógicos adequados ao exercício da profissão, espaços de reflexão e discussão coletiva. Nenhum dos professores ou diretores fez referência ao Ideb, como indicador educacional, tratado nesse estudo como uma categoria à parte.

Como já apresentado, o conceito de qualidade foi se revestindo de significados distintos, dependentes do contexto histórico vivenciado, transitando de uma visão de qualidade como acesso à escola, para outra que a entende como a criação de condições que assegura a permanência (assegurando insumos e qualificação docente). Vivencia-se, atualmente, uma fase de eficiência na aplicação dos recursos e de resultados quantificáveis, ou como se refere Ball (2005), da cultura da performatividade. Contrapondo-se a essa visão

mercadológica, emergiu uma qualidade social da educação com foco no aluno e em uma educação para emancipação do indivíduo.

A perspectiva da qualidade social da educação norteou as respostas das diretoras das escolas A, B e D. Quanto à direção da Escola C, o discurso foi na direção da justificação do desempenho da escola, atribuindo-lhe como causa à reação dos professores, frente à imposição do Programa Estruturado do Instituto Alfa e Beto.

Ainda que não haja um padrão único de qualidade, necessário se fez estabelecer a definição de dimensões, fatores e condições para sua efetivação na escola. Nesse sentido, houve identificação com a perspectiva delineada por Mantoan (2008) para quem,

[...] escolas de qualidade são espaços educativos de construção de personalidades humanas autônomas, críticas, nos quais as crianças aprendem a ser pessoas. Nesses ambientes educativos ensinam-se os alunos a valorizar a diferença, pela convivência com seus pares, pelo exemplo dos professores, pelo ensino ministrado nas salas de aula, pelo clima sócio-afetivo das relações estabelecidas em toda a comunidade escolar - sem tensões competitivas, solidário, participativo. Escolas assim concebidas não excluem nenhum aluno de suas classes, de seus programas, de suas aulas, das atividades e do convívio escolar mais amplo. São contextos educacionais em que todos os alunos têm possibilidade de aprender, frequentando uma mesma e única turma. (MANTOAN, 2008, p. 61).

A construção dessa qualidade, se, por um lado, não pode desconsiderar as referências analíticas e políticas que embasam a melhoria do processo educativo, por outro, não pode prescindir de mecanismos de controle social e monitoramento de políticas educacionais e de seus resultados.