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Qualidade do grafismo

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3.2 Segunda etapa dos resultados da pesquisa: análise dos aspectos psicodinâmicos vistos

3.2.1 Aspectos gerais

3.2.1.4 Qualidade do grafismo

em outro interpretados conforme os processos de avaliação de Van Kolck (1984).

Nesta categoria, encontramos em 11 desenhos traço interrompido indicando incerteza, temor, angústia; 8 (oito) desenhos com traço contínuo indicando características como decisão, rapidez, energia, esforço dirigido, autoafirmação, mas também falta de sensibilidade e de vida, medo de iniciativas; seguido de 6 (seis) desenhos com linha grossa (energia, vitalidade, iniciativa, decisão, constância, confiança em si, possivelmente agressão e hostilidade para

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com o ambiente, esforço para manter o equilíbrio da personalidade, falta de adaptação, e 5 (cinco) desenhos com linha fina, o que representa insegurança, timidez, sentimento de incapacidade, falta de energia e de confiança em si, mas também personalidade hipersensível e artística (Van Kolck, 1984, p. 9-10).

A resistência significa basicamente a existência de atitudes negativistas e de oposição; a negação pode assumir outros significados, como "intensa inferioridade da pessoa, que se sente muito inadequada para arriscar-se à imperfeição e ao julgamento; severo bloqueio, em um meio histérico e desconfiança do paranoico" (Van Kolck, 1984, p. 9-10).

Encontramos adolescentes que não completaram o desenho da primeira figura 3 (três) adolescentes apresentaram resistência para desenhar a primeira figura e 2 (dois), a segunda figura; 2 (dois) adolescentes apresentaram negação para desenhar a segunda figura, que pode ser analisada em conexão com o significado próprio da área em que aparece.

Entre os 10 adolescentes, 7 (sete) apresentaram resistência para desenhar, com omissão de uma parte integrante da figura, o que constitui indício de problemas e conflitos em relação à parte faltante e ao que ela significa. Nestes desenhos foi considerado o surgimento de possíveis fatos de maior gravidade, tanto pela extensão da área apresentada no desenho como o fato de poder estar ou não associado a outros aspectos característicos com indício de perturbações ou depressão.

Quanto aos indicadores, não houve um padrão específico e comum. Apenas o indicador posição na folha apresentou uma maioria de adolescentes. o que poderia ser interpretado, de acordo com Van Kolck, (1984) como não opositora perante o ambiente, e nenhuma expressão direta de negativismo ou oposição em relação à ordem dada, ou seja, como adolescentes em aceitação da ordem da autoridade.

3.2.2 Aspectos formais

A seguir serão descritos os aspectos estruturais do desenho, que são traços gráficos que podem ser analisados de maneira geral, mas com uma adaptação ao próprio tema executado: Tema; Postura; Movimento; Perspectiva; Transparência; Sequência; Simetria; Linha mediana; Articulações; Anatomia interna; Pormenores; Complementos; Proporções; Indicadores de conflitos; Ordem das figuras; Tratamento diferencial. Essas categorias estão dispostas no Quadro 10 ( conforme Apêndice B).

Em relação ao Tema, os adolescentes desenharam 8 (oito) figuras com idades aproximadas às suas próprias idades, indicando uma adaptação ao que se esperava como

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proposta, ou seja, num aspecto realista quanto a atribuição de idade à pessoa. Seguiram-se 7 (sete) desenhos que representavam uma figura mais velha, indicando identificação estreita com as figuras paterna e materna. Desenhos que representaram figura mais jovem foram 5 (cinco), indicando fixação emocional ou alguma forma de reação a uma situação presente que leva o indivíduo a pensar em situações mais felizes e anteriores em sua vida. Em número menor, porém relevante quanto ao número da amostra, foram 4 (quatro) desenhos de 2 (dois) adolescentes, representados por desenhos pedagógicos que frequentemente são apresentados por psicopatas e por aqueles que acham as relações interpessoais muito desagradáveis. Isso pode levar à suspeita de organicidade.

● postura – todos os 10 (dez) adolescentes desenharam a primeira e segunda figuras em pé (comuns).

● movimento – todos desenharam a primeira figura estática e que são comuns a este instrumento.

● perspectiva − Todos os 10 (dez) adolescentes, quanto à perspectiva, desenharam ambas as figuras: a primeira e a segunda de frente, indicando exibicionismo, ingenuidade e comunicabilidade social.

● transparência – somente em 2 (dois) desenhos houve algum tipo de transparência indicandobaixa autoestima ou imaturidade, impulsividade e comportamento actingout.

● sequência – os desenhos feitos pelos 10 (dez) adolescentes indicaram sequência normal em ambas as figuras (primeira e segunda) adequado ao instrumento.

● simetria – a maioria dos desenhos com distúrbio na simetria na primeira e na segunda figuras indica transtorno dos impulsos, o excesso de espontaneidade por descuido, falta de controle, grande atividade e difusão.

● linha mediana – significa preocupação com o corpo e sentimento de inadequação e dependência; dependência materna, também imaturidade emocional, apresentada na maioria dos desenhos com ausência de linha mediana.

● articulações – não encontramos este conteúdo em nenhum dos desenhos dos 10 (dez) participantes, nem na primeira figura, nem na segunda.

● anatomia interna – nenhum indicativo de anormalidade. ● pormenores – não tiveram relevância para interpretação geral.

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● proporções – em 17 desenhos houve ausência de proporções, um item com maior relevância para interpretação, indicando desarmonia na personalidade e no comportamento representado pelos adolescentes.

● indicadores de conflito – nesta categoria, surgiram correções, retoques, na maioria dos desenhos, indicando insatisfação e insegurança; às vezes, agressividade; sombreamento indicando tato e sensibilidade, mas também ansiedade, quando nos desenhos surgiram omissões; foi observada a indicação de insegurança e desejo de perfeccionismo, além de indícios de conflitos.

● ordem das figuras − os 10 (dez) adolescentes desenharam a primeira figura referente ao próprio sexo; do ponto de vista da identificação sexual, é normal que seja primeiro o próprio sexo a ser representado, o que é indício de identificação com o papel característico do próprio sexo; na segunda figura foi desenhado o sexo oposto.

● tratamento diferencial − observamos que na maioria dos desenhos a figura menor e menos elaborada foi representada na primeira figura, indicando depreciação, medo ou hostilidade; o desenho da segunda figura, maior e mais elaborada, foi feito por três adolescentes o que indica real importância atribuída àquele sexo referente ao desenho (masculino ou feminino).

3.2.3 Aspectos de conteúdo

As categorias referentes aos aspectos de conteúdo do material desenhado (DFH) se referem àquilo que constitui o conjunto mais peculiar ao tema: Cabeça; Cabelos; Rosto; Bigode e barba; Olhos; Nariz; Boca; Orelha; Pescoço; Tronco; Tórax; Ombros; Seios; Cintura; Cadeiras e nádegas; Zona genital; Abdômen; Braços; Mãos; Dedos; Pernas; Pés; Roupa; Acessórios. Essas categorias estão dispostas no Quadro 11, (conforme Apêndice B) como:

Em relação à categoria cabeça, observamos que a maioria dos adolescentes desenhou cabeças de tamanho grande, o que indica ênfase excessiva e confiança exagerada na função social e ideacional.

Na categoria cabelos, de acordo com Van Kolck (1984), encontramos: cabelos ausentes podem indicar sentimentos de impotência; passividade ressentida; isolamento e vacuidade, no caso de um delinquente juvenil; cabelos curtos e bem cuidados indicam domínio dos impulsos sexuais sobre os intelectuais; desenhos com cabelos em abundância significam vitalidade sexual, sensualidade, luta pela virilidade (em sujeitos do sexo

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masculino) e sensibilidade social, interesse em uma aparência social aceitável, preocupação em deslumbrar e seduzir (frequente em adolescentes do sexo feminino); e destacados da cabeça, que significam caráter regressivo ou esquizoide (VAN KOLCK, 1984).

Na categoria rosto, observamos que a maioria dos desenhos apresentou sombreamento e acentuação dos caracteres faciais, indicando sujeitos tímidos e fugidios (importância do próprio eu e forte tendência à participação social, egocentricamente bloqueada), maior ansiedade ou culpa com relação ao contato social, tendência a evitar problemas; indivíduo evasivo com referência à relação interpessoal. Conforme Van Kolck (1984), superficialidade, cautela e hostilidade são características nas relações interpessoais desses sujeitos. A categoria bigode e barba ficou ausente nos desenhos dos 10 (dez) adolescentes.

Os olhos como categoria revelaram um desenho com olhos de tamanho médio, sobrancelhas e pestanas, significando relação com atração sexual, conferida à figura e seguida de desenho de tamanho grande, que representa a forma de absorver o mundo visualmente, curiosidade, dependência do ambiente e das experiências visuais, mais dependência, emoção, superficialidade e falta de discriminação. Encontramos na categoria nariz, na maioria dos desenhos, com nariz de perfil em rosto de frente e em um só traço, o que significa persistência de maneira infantil de desenhar e infantilidade no plano sexual. Desenhos de nariz de tamanho grande e com narinas em ênfase também apareceram em número relevante, indicando sentimento de impotência sexual, necessidade adolescente de afirmação agressiva do papel sexual e acentuação específica da agressividade. Na categoria boca, os desenhos em sua grande maioria apresentaram bocas com traços para cima, que são desenhos de crianças, significando desejo de obter aprovação; afeto não apropriado e ambição, oralidade, intemperança, crises de mau-humor, seguido de lábios "em arco de cupido" indicando dependência oral em nível imaturo (VAN KOLCK, 1984).

Na categoria orelha, encontramos desenhos na maioria com omissão simples, o que indica, na figura feminina, traço comum caso seja, no desenho, coberta por cabelos; e omissão sinal de indiferença em relação ao sexo masculino; sua aparência também pode sugerir alucinação auditiva. Observa-se na categoria pescoço que o desenho representou libertação ou perda de controle, desamparo perante os impulsos que assaltam o sujeito, imaturidade ou regressão, porque é uma realização infantil do desenho; também há indícios de controle rígido e moralismo, principalmente por se associar ao comprido ou longo, o que pode indicar supercontrole repressivo (pessoas severas se excessivamente morais) ou pode ser indício de

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sintomas somáticos nessa área, como dificuldade de engolir, perturbações digestivas psicogênicas. São desenhos encontrados em pessoas com disposições esquizoides que têm dificuldades de integrar pensamentos com sentimentos e impulsos vitais; os desenhos indicam acentuada separação entre o controle e os instintos com indícios de conduta guiada mais pelos instintos do que pelo intelecto; obstinação e mau humor. Na categoria tronco, os desenhos do tipo retangular podem representar característica esquizoide, distorção na forma referindo a descontentamento com o próprio corpo. A categoria tórax pequeno indica sentimentos de inferioridade, possível problema somático; o desenho apresentou sombreamento, indicando ansiedade em relação ao desenvolvimento corporal como expressão de masculinidade; problemas com a respiração. Na categoria ombros, os pequenos ou delgados significam sentimento de inferioridade ou inadequação.

Os seios como categoria apareceram em um único desenho, sem que isso possa ser colocado de forma relevante na análise geral.

Segue-se a análise das demais categorias: cintura – os desenhos indicaram preocupação ou policiamento dos impulsos; braços – estendidos para o ambiente que indicaram a urgência de participação social e sentimentos de amplos horizontes, porém sem capacidade de manipulação; mãos – indícios de expressão direta de inadequação com sombreamento indicando evasão, mas também indício de masturbação e, possivelmente, delinquência. As respostas referentes às categorias acima e à categoria roupa, que tem significação funcional no sentido de proteger o corpo, foram ampliadas para os de aparência e de “fachada social” cuja roupa estende, altera, e acrescenta a imagem corporal, representando o nível de superfície da personalidade (como a pessoa é em aparência ou como desejaria aparecer aos outros), os aspectos socialmente convencional e sublimado; os conflitos expressos na roupa se apresentaram menos profundos que os do corpo, que apresentaram significados relacionados à rebelião contra a sociedade (figuras paternas) ou então consciência de conflitos sexuais, encontrada em indivíduos com elementos de "voyeurismo" ou relacionado à figura de autoconceito indicando (ausência em figura de autoconceito) narcisismo pelo corpo e três na segunda pessoa indicando rebelião contra a sociedade (figuras paternas) ou então consciência de conflitos sexuais. As categorias nádegas e zona genital não apareceram nos desenhos; e quanto a acessórios, alguns desenhos mostraram aspectos representando apresentação social com aspecto fálico na figura masculina.

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As categorias referentes aos dedos de forma arredondada e em número inferior ao real representam realização infantil, o que, combinado com outros traços indicativos de agressividade, será indício de agressividade infantil, pouca habilidade manual e infantilidade; a categoria pernas finas na primeira figura indica sentimento de deficiências ou declínio, de indivíduos com transtornos no desenvolvimento; no adolescente, além de finas com sombreamento, podem indicar conflito ou exagerada consciência sexual; e na categoria pés se observaram distorções e expressão de falta de autonomia.

De modo geral, as características do DFH desta amostra de adolescentes revelaram-se semelhantes às descritas por Van Kolck (1984), sugerindo a presença de inadequação e dificuldade no controle de impulsos, aspectos que parecem ser comuns nessa fase do desenvolvimento humano. Há indicadores emocionais que apareceram com frequência maior do que o esperado, o que nos leva a uma leitura a esse respeito, mas com muita cautela para discriminar distúrbios psicológicos nesta faixa etária.

Assim, no que diz respeito a esses indicadores emocionais, foi possível observar no DFH evidências de forte tendência à participação social, o que coincide com a primeira parte do estudo, conforme vistos nos Quadros 6, 7 e 8 (quadros com indicadores da vida social/grupal dos jovens). Por outro lado, também são evidenciadas ansiedade e culpa em relação a esse mesmo contato social, tendência a ser evasivo e certa superficialidade e hostilidade no âmbito das relações interpessoais. Tais aspectos são contraditórios e ambíguos. Entretanto, se nos reportarmos a Knobel (1981) e Aberastury (1981), observaremos essas ambiguidades e contradições como características comuns nessa fase da vida e, portanto, comuns em adolescentes em geral. Arminda Aberastury (1981) explica que, ao fugir do incesto e concomitantemente desprender-se internamente dos pais, o adolescente inicia uma busca do objeto de amor no mundo externo e isso se concretizará na descoberta de um par. Mas, antes de se chegar a essa maturidade, o jovem passa por um conflito entre o impulso do desprendimento e a defesa diante do temor da perda do que é conhecido; assim, o adolescente sentir-se-á confuso, ambivalente, e essa fase revelar-se-á como contraditória e dolorosa. Aberastury (1981) explica que um quadro como este é com frequência confundido com crises e estados patológicos, se torna alarmante para o adulto responsável por este adolescente e o leva a buscar soluções equivocadas.

Considerando ainda essa ambiguidade, essas contradições e a tendência grupal observadas nos adolescentes da amostra estudada, é interessante dizer que nos chamou

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atenção a existência de um grande número de adolescentes que assinalaram “não se considerar pertencente a nenhum grupo” (conforme o Quadro 7) – o que poderia indicar retraimento e dificuldades de contato. Mas, em outros Quadros (6 e 8) esse número se diluiu ao observarmos as identificações com seus “iguais”, o que também revela oscilação de humor, contradição, ambiguidade; pois a tendência grupal se mostrou muito presente e intensa nessa amostra de adolescentes.

Desse modo, cabe aqui uma análise dessa intensidade de desejo ou interesse por vida grupal e das suas contradições, considerando os apontamentos de Knobel (1981) ao descrever que, na busca e afirmação da identidade adulta, o adolescente recorre, como forma de defesa, à busca pela uniformidade, que pode lhe fornecer segurança e autoestima. Nesta busca o indivíduo encontra então no grupo um processo massivo de identificação coletiva. Entretanto, cabe também dar uma atenção maior para os acting-out. Knobel (1981) afirma que o pensamento passa a funcionar de acordo com as características grupais, por meio do apoio e do reforço que ele recebe quando se identifica com os outros egos. Essa dinâmica pode explicar o fenômeno da “turma”; quando nessas situações, o adolescente pode adotar papéis mutáveis e compartilhar a conduta, a responsabilidade com o grupo, introjetando experiências ao pensamento; de modo que os objetos internos e os afetos também se tornam fragmentados, como partes do grupo. Assim, evita responsabilidades pessoais do mesmo modo que, a partir de uma perspectiva nosológica, ocorre em casos de psicopatia. Nesses casos, os objetos da fantasia e da realidade são elaborados de forma inadequada e permanente fazendo com que o ego fique debilitado.

Assim, ainda segundo Knobel (1981), o adolescente acaba por conservar uma situação infantil e irreal de irresponsabilidade, aparentando independência. Se, por um lado, o adolescente normal vive um conflito em relação à dependência e com ela pode viver a frustração, por outro lado, o adolescente com transtorno de personalidade é incapaz de reconhecer e aceitar a frustração. Por isso, o adolescente com indicativos patológicos vai bloquear a culpa, o que o induz a atuações grupais do tipo acting-out, muitas vezes sem se comprometer de forma direta. Essas atuações são resultado da dissociação entre pensamento e afeto. Eis então um indicador dessa distinção – que reside na afetividade.

Isso parece se dar nos indicadores gráficos (traço fragmentado, cílios/pestanas, olhos grandes, sombreado), pois esses poderiam estar relacionados com dimensões próprias da adolescência, como sexualidade e erotização pelas mudanças corpóreas, conforme assinalou

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Aberastury (1981) e também conforme já encontraram Baeza e Toledo (2010) em análises de DFH em adolescentes. Além disso, a preocupação com o externo e a aparência e seus detalhes são características desse grupo etário, aspecto também apontado por Baeza e Toledo (2010), além de ter sido muito bem descrito por Koppitz (1991).

Mas, no que tange aos traços que expressam sexualidade e erotização, bem como a aparência, cabe também entender com Knobel (1981) que, no processo de elaboração dos lutos infantis (principalmente do luto do corpo) surgirão os fenômenos da intelectualização e

acting-out físico. Isso porque, ao não poder controlar as mudanças que ocorrem em seu corpo,

o adolescente experimenta um sentimento de impotência que o leva a deslocar a rebelião que seria contra o seu próprio corpo para as esferas do pensamento, fazendo com que sua mente tenda a um manejo onipotente das ideias. Nesse processo, em um adolescente normal, essa manipulação das ideias ajuda a substituir a perda do corpo infantil e a falta de uma personalidade adulta, o que, no entanto, não ocorrerá com aqueles com comportamentos infratores.

Desse modo, é possível levantar uma hipótese clínica, de que esses adolescentes infratores, ao empregarem grande parte de suas energias em forma de acting out – em experiências (em geral, grupais) associadas à agressão, teriam menos energia a ser investida na elaboração de lutos e vivências mais simbólicas, próprias de sua etapa evolutiva – o que se reflete em suas produções gráficas. De modo que esse funcionamento pode também ser uma expressão do que Aberastury ([1970;1971] 1981) explicou como sendo uma reação provocativa, onipotente e de negação da perda, num desprendimento súbito da infância e dos pais e sem expressão de dor. Essa negação do sofrimento pode ser uma das patologias mais sérias da adolescência, podendo levar a crises de rebeldia que resultam em atitudes antissociais e autodestrutivas.

Da mesma maneira Winnicott (1990) o entende: esse jovem infrator busca a relação parental ideal, comportando-se diante da sociedade com sentimento de frustração e ao mesmo tempo com necessidade de encontrar a autoridade paterna que lhe imporá limites, como um efeito concreto de seu comportamento impulsivo e a atuação de ideias diante de sua excitabilidade.

Por isso, também nas produções gráficas aparecem dificuldades de integrar pensamentos com sentimentos e impulsos vitais; os desenhos indicam acentuada separação entre o controle e os instintos e uma agressividade infantil. Pode-se aqui encontrar correlato

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ao que Aberastury (1981) considerou como flutuação entre a necessidade de solidão e de comunicação, entre as ideias de bondade e de maldade, de egoísmo e de altruísmo, de asceticismo e de sexualidade, de tendência à sujeira e à limpeza; e isso tudo simboliza o que está dentro do adolescente, suas relações com o objeto, como oposto e como conflito interno. Sobre esse aspecto, Tardivo (2007) indica que a identidade se dá por contradição e se inicia a partir de bruscas mudanças na vida, e a adolescência, como fase natural do desenvolvimento, só pode ser compreendida pela consideração dos fatores psicológicos, sociológicos e biológicos, bem como pela relação entre as características da personalidade e seu processo de socialização, essencial em qualquer estudo reflexivo sobre o ser humano e sua conduta.

As produções gráficas ainda indicaram uma forma de absorver o mundo visualmente, com dependência do ambiente e das experiências visuais, superficialidade e falta de discriminação. Sobre tais aspectos, muitos autores atribuem sua causalidade a algumas contingências, entre as quais estão questões eminentemente sociais. Entre esses autores, Ikumi et al. (2013) entendem que a conduta delituosa de adolescentes é uma ação agressiva contra a sociedade; de alguma forma, esses adolescentes percorreram várias trajetórias institucionais sem serem sensibilizados a ponto de transformar suas condutas de maneira pró-social. Consideram que houve falha das políticas públicas que deveriam inseri-los na rede de atendimento de suas comunidades e que todo o aparato do sistema de garantia de direitos – assistência social, saúde, justiça/segurança pública e educação – também fracassaram.

Assim, entendemos que, mesmo que muito dos indicadores antes mencionados estejam associados à adolescência, estudos comparativos com amostra de adolescentes infratores e não infratores precisam ser feitos e melhor examinadas as possíveis diferenças e semelhanças. Além disso, haverá necessidade de controle de variáveis econômico-culturais e sociofamiliares.

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4 CONCLUSÃO

A distinção entre crianças e adultos dá-nos o indicativo de um período intermediário,

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