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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO. VALÉRIA GOUVEIA DE MACEDO. CARACTERÍSTICAS PSICOSSOCIAIS E DE PERSONALIDADE DE ADOLESCENTES INFRATORES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. São Bernardo do Campo 2016 [Digite texto].

(2) VALÉRIA GOUVEIA DE MACEDO. CARACTERÍSTICAS PSICOSSOCIAIS E DE PERSONALIDADE DE ADOLESCENTES INFRATORES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de PósGraduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Psicologia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marília Martins Vizzotto. São Bernardo do Campo 2016 [Digite texto].

(3) FICHA CATALOGRÁFICA. Macedo, Valéria Gouveia de. M151c. Características psicossociais e de personalidade de adolescentes infratores em cumprimento de medida socioeducativa / Valéria Gouveia de Macedo. 2016. 96 f.. Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde) –Escola de Ciências Médicas e da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2016. Orientação de: Marília Martins Vizzotto.. 1. Adolescentes 2. Menor infrator 3. Desenho da figura humana 4. Delinquente juvenil I. Título CDD 157.9. [Digite texto].

(4) Dissertação de mestrado intitulada: Características psicossociais e de personalidade de. adolescentes infratores em cumprimento de medida socioeducativa. 96 fls., elaborada por Valéria Gouveia de Macedo, foi apresentada em 07 de março de 2016, perante banca examinadora composta por: Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto (Presidente/UMESP), Profa. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia (Titular/UMESP) e Profa. Dra. Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo (Titular/Instituto de Psicologia da USP, SP).. ___________________________________________________________ Profª. Dra. Marília Martins Vizzotto Orientadora e Presidente da Banca Examinadora. ____________________________________________________________ Profª. Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado/Doutorado em Psicologia da Saúde. [Digite texto].

(5) Ao meu esposo Rubens, seu apoio incondicional me fortaleceu, abraçou meus sonhos, se fez cada vez mais especial em minha vida. Aos meus filhos, nora, genros e netos amados . Cada um surgiu em minha vida como um fecho de luz, me iluminando com seus sorrisos, serenando minha alma, agitando meus dias dando leveza ao meu ser.. [Digite texto].

(6) Agradecimentos À minha querida mãe Celeste, pela possibilidade de crescimento compartilhando a minha vida nas incansáveis lutas, favorecendo minha caminhada com aprendizado e carinho. Aos meus mestres do stricto-senso, em especial à minha Orientadora Profª. Dra. Marília Martins Vizzoto, à Profª. Dra Hilda Rosa Capelão Avoglia, à Profª. Dra Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo e à Profª. Dra Miria Benincasa Gomes, pelas ideias e ensinamentos esclarecedores que muito contribuíram para finalização deste trabalho. Aos colegas do curso de pós-graduação em Psicologia da Saúde, dos grupos de estudos e pesquisa da UMESP pela troca de conhecimentos e ajuda para realização da pesquisa. Ao Prof. Dr. Ryad Simon, que generosamente ofereceu sua contribuição escutando meus questionamentos, dando sugestões, me estimulando a desenvolver este trabalho e permitindo que as colegas do grupo de estudos me apoiassem nas discussões. À Ivani Blum, que permitiu o meu desenvolvimento na escrita, partilhando seu conhecimento de forma generosa e carinhosa. À Elisangela Aparecida de Castro Souza pela colaboração e atenção sempre que solicitada. À Diretora Técnica Samara Kelly Xavier e Silva, à Coordenadora Técnica Maria Lúcia de Lucena do Centro de Atendimento às Medidas Socioeducativas (Case) da Fundação Criança de São Bernardo do Campo e à toda equipe técnica que acolheu esta pesquisa, colaborando com seus conhecimentos esclarecedores, dando suporte essencial a este trabalho. À Joana Maria Gouveia Franco Duarte, Chefe de Divisão da Proteção Social Especial da Secretaria de Assistência Social e Cidadania da Prefeitura Municipal de Diadema, à Valquiria Batista Rocha Longo, Coordenadora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS do município de Diadema, que nos deu oportunidade para desenvolver este trabalho e à equipe técnica do CREAS que atenciosamente possibilitou o contato para a pesquisa. Ao Jean Fernando do Santos, Gerente do Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS do município de Mauá, e à equipe técnica que nos apoiou para a realização desta pesquisa. Ao Emerson que realiza um projeto promissor em Diadema, que generosamente deu oportunidade para o desenvolvimento da pesquisa cuidando do vínculo e receptividade dos adolescentes que atende. Por fim, agradeço aos adolescentes e familiares que tornaram possível este estudo. Para eles minha gratidão e meus esforços como incentivo para que encontrem um lugar ao sol, sem grades que os aprisionem, com menos privações e vulnerabilidade diante da vida.. [Digite texto].

(7) Programa: Pós-Graduação em Psicologia da Saúde Área de Concentração: Psicologia da Saúde MACEDO, V G. Características psicossociais e de personalidade de adolescentes infratores em cumprimento de medida socioeducativa. 96 fls. Dissertação de Mestrado [Psicologia da Saúde]. Escola de Ciências Médicas e da Saúde, Universidade Metodista de São Paulo. 2016. RESUMO Para atingir os objetivos propostos, ou seja, levantar e descrever indicadores socioculturais de uma amostra de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, e descrever características psicológicas e de personalidade dos adolescentes infratores, num estudo que pesquisou adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. O trabalho foi realizado em duas as etapas: na primeira, os 47 adolescentes participaram de uma entrevista semidirigida; na segunda, dez desses adolescentes foram selecionados e submetidos a um instrumento projetivo para investigação de aspectos da personalidade: o “desenho da Figura Humana” de Machower, adaptado por Van Kolck (1956; 1984). A discussão teórica dos resultados baseou-se numa abordagem psicanalítica pós-freudiana para a compreensão da adolescência tanto como fase do desenvolvimento humano como dos comportamentos antissociais. Os resultados do estudo corroboraram a teoria advinda da literatura psicológica que aborda padrões comuns no período da adolescência, fase em que ocorre um complexo de fatores individuais da maturidade biológica associados ao meio social/cultural e que, por sua vez, estabelecem relações com as instâncias psicológicas ou psíquicas do sujeito junto com as características específicas de cada indivíduo. Na busca da compreensão desses padrões comuns da amostra dos adolescentes infratores utilizados no presente estudo, foram levantados dados do perfil psicossocial, cultural e demográfico; dos aspectos psicossociais e aspectos psicodinâmicos e de características de personalidade. A título de conclusão, o estudo destacou a problemática do adolescente em conflito com a lei, associada às questões sociais, de saúde mental, além do desenvolvimento psíquico, sinalizando a necessidade de ações psicoprofiláticas voltadas para população infantil, jovem, agrupamentos familiares e para a comunidade que representa seu entorno. Palavras-chave: Adolescente. Ato infracional. Delinquência Juvenil. Desenho da Figura Humana (DFH).. [Digite texto].

(8) MACEDO, V G. Características psicossociais e de personalidade de adolescentes infratores em cumprimento de medida socioeducativa. 96 fls. Dissertação de Mestrado [Psicologia da Saúde]. Escola de Ciências Médicas e da Saúde, Universidade Metodista de São Paulo. 2016.. ABSTRACT. To achieve the proposed objectives, ie up and describe sociocultural indicators of a sample of adolescents in compliance with socio-educational measures, and describe psychological characteristics and personality of juvenile offenders, the study surveyed 47 adolescents in compliance with socio-educational measures. There were two stages of work: first, the 47 teens participated in a semistructured interview; in the second, ten of these adolescents were selected and submitted to a projective tool to research aspects of personality: the "Drawing the Human Figure" of Machower, adapted by Van Kolck (1956; 1984). The theoretical discussion of the results was based on a post-Freudian psychoanalytic approach to understanding both adolescence as a phase of human development as the antisocial behavior. The study results confirmed the arising theory of psychological literature that addresses common patterns during adolescence, a phase in which there is a complex of individual factors of biological maturity associated with social / cultural environment and, in turn, establish relations with the psychological or mental bodies of the subject along with the specific characteristics of each individual. In search of understanding of these common sample of adolescent offenders used in this study patterns, psychosocial, cultural and demographic data were collected; psychosocial aspects and psychodynamic aspects and personality characteristics. In conclusion, the study highlighted the adolescent problematic in conflict with the law, associated with social, mental health, and the psychic development, signaling the need for focused Psychoprophylactic actions for child population, young family groups and the community representing its surroundings. Keywords: Adolescents. misdemeanors. Juvenile Delinquency. Human Figure Drawing (HFD).. [Digite texto].

(9) LISTA DE QUADROS QUADRO 1. Distribuição da amostra conforme idade e sexo......................... 38. QUADRO 2. Composição familiar da amostra de adolescentes infratores...... 40. QUADRO 3. Distribuição da amostra conforme moradia............................... 41. QUADRO 4. Distribuição da amostra segundo idade e escolaridade.............. 42. QUADRO 5. Distribuição da amostra conforme tipo de delito....................... 44. QUADRO 6. Distribuição de respostas conforme tipo de passatempos/hobbies.................................................................. 47. QUADRO 7. Grupos aos quais o jovem se sente pertencente ........................ 50. QUADRO 8. Distribuição de respostas segundo qualidades atribuídas aos seus pares.................................................................................... 53. QUADRO 9. Análise dos aspectos gerais do Desenho da Figura Humana (DFH).......................................................................................... QUADRO 10. QUADRO 11. [Digite texto]. Análise dos aspectos formais do Desenho da Figura Humana (DFH), segundo Van Kolck....................................................... Análise dos aspectos de conteúdo do Desenho da Figura Humana (DFH) dos participantes da amostra, segundo Van Kolck ........................................................................... 76. 77. 81.

(10) SUMÁRIO Apresentação ........................................................................................................................ 11 1 Introdução.......................................................................................................................... 17 1.1 Adolescência: normal ou sindrômica?.............................................................................. 20 1.2 A síndrome normal ........................................................................................................... 21 1.3 Adolescência e identidade ................................................................................................ 24 1.4 Adolescência e conduta antissocial .................................................................................. 27 1.5 Adolescência e comportamentos infracionais .................................................................. 28 2 Método ................................................................................................................................ 32 2.1 Participantes ..................................................................................................................... 32 2.2 Ambiente .......................................................................................................................... 33 2.3 Instrumentos ..................................................................................................................... 33 2.4 Procedimentos .................................................................................................................. 35 2.5 Riscos e benefícios ........................................................................................................... 36 3 Resultados e discussão ................................................................................................................. 38 3.1 Primeira etapa dos resultados da pesquisa ....................................................................... 38 3.1.1 Dados psicossociais, culturais e demográficos ............................................................ 38 3.1.2 Interesses e sentimentos de pertencimento ao grupo .................................................... 47 3.2 Segunda etapa dos resultados da pesquisa: análise dos aspectos psicodinâmicos vistos a partir da figura humana ................................................................................................. 55 3.2.1 Aspectos gerais ........................................................................................................... 55 3.2.1.1 Posição da folha ......................................................................................................... 55 3.2.1.2 Localização da página ............................................................................................... 56 3.2.1.3 Tamanho em relação à folha ...................................................................................... 56 3.2.1.4 Qualidade do grafismo ............................................................................................... 56 3.2.2 Aspectos formais ........................................................................................................... 57 3.2.3 Aspectos de conteúdo .................................................................................................... 59 4 Conclusão ........................................................................................................................... 66 Referências ............................................................................................................................ 69 Apêndices .............................................................................................................................. 74 Anexos ................................................................................................................................... 95 [Digite texto].

(11) 11. APRESENTAÇÃO. O tema da violência tem sido motivo de preocupação, tanto para o cidadão quanto para a sociedade, além de ser um complexo problema para o Estado. No que tange ao tema da violência em relação ao adolescente, há dois lados preocupantes: a violência cometida pelos jovens e a violência que os acomete. A violência que ocorre no país, em suas diversas formas, é anunciada fartamente pela imprensa brasileira, e as mídias muitas vezes abordam o tema de forma sensacionalista, o que impede uma reflexão mais profunda sobre os acontecimentos. A própria discussão atual sobre a redução de maioridade penal tem gerado grande polêmica social, midiática e política. Galvão (2011) argumenta que o debate acerca da redução da maioridade penal está vinculado a questões referentes ao desenvolvimento moral individual, à existência de fatores históricos, culturais, econômicos, políticos e ideológicos. Além disso, a mídia tende a criar estigmas e estereótipos que instigam a população ao desejo de vingança. Assim, continua o autor, embora o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em 1990, trouxesse novas perspectivas sobre um atendimento diferenciado à criança e ao adolescente, observa-se que, na prática, o Estado não tem sido capaz de fornecer a esses jovens os meios para sua reinserção na sociedade. O autor lembra que, após o ECA, crianças e adolescentes são penalmente inimputáveis em caso de cometimento de delitos ou crimes; são, todavia, objetos de medidas socioeducativas ou internação em estabelecimentos educacionais por até três anos, as quais devem ser aplicadas em casos graves. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal no 8069/1990), no Artigo 2º do Título I, o período de vida que se define como adolescência está compreendido entre os 12 anos incompletos e os 18 anos, mas há casos excepcionais nos quais o atendimento em medida socioeducativa se estende a jovens de 18 a 21 anos de idade; nesse caso estão alguns participantes desta pesquisa, ou seja, entre os 18 e os 19 anos incompletos. O ECA, em seu Artigo 103, afirma que se considera como ato infracional a conduta da criança e do adolescente descrita como crime ou contravenção penal. Como aponta a pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Data Folha (2015)1 sobre a diminuição da maioridade penal, se a população adulta brasileira fosse consultada a respeito 1. Disponível em: <http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2015/04/1620652-87-dos-brasileiros-sao-afavor-da-reducao-da-maioridade-penal.shtml>. Acesso em: 17 maio 2015.. [Digite texto].

(12) 12. do tema, 87% votariam a favor da redução de 18 para 16 anos. É provável que esse cenário reflita o medo que acomete a sociedade brasileira e coloque o adolescente infrator como uma das causas preponderantes da tensão social. É preciso que se esclareçam os meios que a sociedade utiliza para enfrentar os problemas resultantes das condutas infratoras dos adolescentes em nosso país. Aquino (2012) elucida em seu artigo que a pessoa maior de 18 anos que comete crime, delito ou contravenção penal sofre punições conforme previsão legal de maneira distinta da criança e do adolescente, que são inimputáveis. Isso significa que, em algumas jurisprudências, os assuntos correlatos à pratica de crime ou contravenção penal, quando praticados por menores de 18 anos, são referidos como “ato infracional regido pela Lei no 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente”. Aquino (2012) esclarece que as medidas socioeducativas constituem a resposta estatal aplicada pela autoridade judiciária ao adolescente que cometeu o ato infracional. O autor explica que essas medidas, apesar de possuírem aspectos sancionatórios e coercitivos, não se tratam de penas ou castigos. Conclui salientando que uma evolução natural da sociedade na qual, cada vez mais pessoas se aproveitam da medida socioeducativa aplicada e esses delitos que se extinguem quando o infrator completa 21 anos para, dessa forma, acobertar ou até mesmo praticar diversos crimes com a certeza de que, se condenados, terão brevemente a liberdade e, por tais medidas não possuírem natureza de pena, terão suas fichas limpas, beneficiando-se, dessa forma, para cometerem outros crimes e não terem antecedentes criminais. (AQUINO, 2012, versão online).. O comportamento infrator do adolescente é fenômeno que envolve dimensões de difícil compreensão e que se relacionam com aspectos psicológicos, biológicos, educacionais, além de aspectos político-sociais. São questões que vêm sendo debatidas com maior intensidade desde os anos de 1990, quando se estabeleceu o ECA, porém as discussões sobre o enfrentamento do problema e suas possíveis soluções, por sua vez, têm-se arrastado e ganhado visibilidade por sua gravidade. Conforme apontou Minayo (1994), em sua dialética interioridade e exterioridade, a violência integra não só a racionalidade da história, mas a origem da própria consciência do indivíduo e da sociedade. Por isso mesmo não pode ser tratada de forma fatalista, pois há sempre um caminho possível capaz de potencializar o diálogo mediante a ampliação do conhecimento do fenômeno e do processo civilizatório. Minayo observa que não há sociedade [Digite texto].

(13) 13. em que a violência não esteja presente, e considera que essa situação faz parte da dialética do desenvolvimento social, que traz à tona os problemas mais vitais e angustiantes do ser humano, desde tempos imemoriais. Minayo (1994) afirma que essa circunstância incita a preocupação do ser humano a entender a essência do fenômeno da violência, sua natureza, suas origens e meios apropriados de reflexão, a fim de atenuá-la, preveni-la ou eliminá-la da convivência social. A autora considera que o conhecimento atingido no âmbito das Ciências Humanas permite inferir alguns elementos consensuais sobre o fenômeno da violência, seus aspectos dinâmicos biopsicossociais, suas raízes biológicas, seu espaço de criação e desenvolvimento na sociedade, suas especificidades históricas que se entrecruzam com a política, a economia, a moral, o direito, a psicologia, as relações humanas e institucionais e, principalmente, suas manifestações no plano individual. Em relatório, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)2 ressalta as questões que envolvem os jovens e a violência: a crise de valores éticos, sociais, morais e de qualidade nas inter-relações, como modelo familiar e social oferecido a esses adolescentes. Muito embora esse relatório aponte para o fato de que as maiores conquistas tivessem suas origens no âmbito do Estado, ou seja, na criação de políticas públicas, planos e programas em países como Brasil, Argentina, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai, a violência é um fenômeno complexo e pluricausal que demanda esforços não apenas do Estado, mas também de todos os segmentos sociais. Pelas palavras de seu representante no Brasil, Gary Stahle, a UNICEF e a Organização das Nações Unidas (ONU, 2015)3 manifestaram-se publicamente contrárias ao projeto que propõe a diminuição de 18 para 16 anos da maioridade penal no Brasil. Segundo o Portal Brasil (2015)4, a ONU considera que os jovens brasileiros são mais vítimas do que autores de atos violentos e que as infrações cometidas por adolescentes e jovens não devem ser tratadas exclusivamente como uma questão de segurança pública. Do ponto de vista cronológico, a Organização das Nações Unidas, por meio da UNICEF, define a adolescência como um período de transição que pode ser dividido em três etapas: préadolescência (10 a 13 anos), média (14 a 16 anos), e tardia (17 a 19 anos), e ressalta a importância de experiências, conhecimentos e aptidões adquiridos nessa fase para as oportunidades do indivíduo em sua vida adulta. Além disso, a UNICEF e a ONU preveem que 2. UNICEF. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/media_29163.htm>. Acesso em: 17 maio. 2015. ONU. Disponível em: <http://nacoesunidas.org/?post_type=post&s=maioridade+penal>. Acesso em: 17 maio 2015. 4 PORTAL BRASIL Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/05/onu-reducao-damaioridade-penal-pode-agravar-violencia>. Acesso em: 17 maio 2015. 3. [Digite texto].

(14) 14. o problema da violência no Brasil poderá ser agravado, caso não se dê atenção aos direitos fundamentais de cidadania e justiça às crianças e jovens do país. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL)5, em pesquisa realizada em 1998, já assinalava, como a UNICEF e a ONU, fortes indícios sobre a probabilidade do agravamento da violência em todas as cidades latino-americanas, bem como a desconfiança das pessoas nos controles institucionais e a sensação do aumento da corrupção. A violência foi apontada pela pesquisa da CEPAL (1998) como um fenômeno multicausal e multidimensional, relacionada às circunstâncias familiares e individuais que interagem mutuamente e aos padrões políticos, sociais e culturais de determinado momento histórico (CEPAL, 1998, p. 210). A CEPAL (1998) afirmava, nessa pesquisa, que a situação já se mostrava grave, na medida em em que a taxa de mortalidade por violência afetava diretamente a taxa de mortalidade geral. Sobre a violência na América Latina, o relatório da CEPAL faz especial referência aos jovens. De acordo com a instituição, os anos de 1990 trouxeram mudanças nas causas e na natureza da violência. Entende-se, dessa forma, que, se em anos anteriores a violência esteve ligada a conflitos ideológicos, ao confronto com os defensores do sistema político vigente, a partir da década de 1990 a violência passou a se vincular ao crime e à delinquência. Há uma observação importante registrada pela CEPAL sobre os processos de modernização rápida e de comercialização globalizada e os efeitos dos meios de comunicação, que deram forma a um ambiente propício para o aumento da insegurança (CEPAL, 1998, p. 208). Numa sequência cronológica, é possível observar agravos. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2003)6 publicou um panorama da delinquência entre os jovens, elaborado com base em um Mapeamento Nacional sobre a Situação das Instituições que Aplicam Medida Socioeducativa de Privação de Liberdade ao Adolescente em Conflito com a Lei no Brasil e realizado junto ao Departamento da Criança e do Adolescente (DCA) da Secretaria dos Direitos Humanos, em conjunto com Ministério da Justiça. Os resultados dessa pesquisa mostraram que, no último semestre de 2002, o perfil do adolescente em privação de liberdade no Brasil, ligado ao atendimento socioeducativo por parte das instituições responsáveis em todas as unidades da Federação, tinha características específicas em algumas 5. Disponível em: <http://www.cepal.org/es/publicaciones/panorama-social-de-america-latina-1998//>. Acesso em: 04 abr. 2015. 6 Disponível em: < http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=4548>. Acesso em: 07 abr. 2015.. [Digite texto].

(15) 15. regiões. O estudo registrou que em cada grupo de 10 mil adolescentes havia 2,88% de jovens privados de liberdade, ou seja, cumprindo medida socioeducativa em uma das 190 instituições disponíveis no país. O levantamento do IPEA apontou para o fato de que o fenômeno contemporâneo do ato infracional juvenil estava associado principalmente à desigualdade social, à não possibilidade do exercício da cidadania, à ausência de políticas sociais básicas supletivas e de proteção pelo Estado. A pesquisa concluiu que o ato infracional não estava propriamente associado à pobreza ou à miséria em si, mas à convivência em um mesmo espaço social de adolescentes pobres e ricos. O IPEA considerou que essa convivência, como contraste de convívio social, dificultava a busca do adolescente por reconhecimento social na direção da construção de sua identidade. O relatório indicou que talvez fosse esse o motivo para que os alvos preferenciais do delito juvenil fossem os objetos que lhe eram expropriados, como roupas, objetos de marca, bonés, tênis, relógio ou itens que tipificassem as representações de status na ordem do consumo na sociedade contemporânea. Em 2013, o Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo: Diretrizes e eixos operativos para o SINASE (BRASIL, 2013), relatório de referência no Brasil da Presidência da República da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), órgão gestor nacional do SINASE − Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo − foi construído como um Plano com base no diagnóstico situacional do atendimento socioeducativo, considerando as propostas deliberadas na IX Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, no Plano Decenal dos Direitos da Criança e do Adolescente e no Plano Nacional de Direitos Humanos III – PNDH 3 e seus documentos são ancorados à Constituição Federal, à Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, às Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude, às Regras das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens com restrição de liberdade, ao ECA, à Resolução 119/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e à Lei Federal 12.594/2012. Portanto, o Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo: Diretrizes e eixos operativos para o SINASE (BRASIL, 2013), deu indicações dos avanços na garantia dos direitos humanos, em. que crianças e adolescentes podem ser reconhecidos como sujeitos de direitos. Esse relatório ressalta que ainda há necessidade de mudanças para a concretização dos princípios consagrados na legislação prevista pela Constituição Federal. O material também demonstrou que, apesar de os adolescentes envolvidos com atos infracionais estarem em condição de proteção, há muito o que fazer, pela situação complexa que envolve a vulnerabilidade social junto ao quadro de contradições visto em nossa sociedade. No relatório é explicado que tal contradição se dá pelo retrocesso dos princípios e avanços concretizados pela legislação [Digite texto].

(16) 16. brasileira, como a tramitação da proposta de rebaixamento da idade mínima de responsabilidade penal pelo Congresso Brasileiro. Pela afirmação do Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo (BRASIL, 2013), é preciso modificar a realidade desses adolescentes infratores, essencialmente, conhecê-la, pois não foram feitas, na prática, as mudanças necessárias para a incorporação da maioria dos avanços consolidados na legislação. Esse mesmo relatório de 2013 sobre a população adolescente (12 a 18 anos incompletos) informa que, em 2011, havia 19.595 adolescentes cumprindo medida socioeducativa em regime fechado e 88.022 em meio aberto (prestação de serviços à comunidade ou liberdade assistida), visto que o número crescente de adolescentes infratores no Brasil tem gerado índices preocupantes de situações de violência, embora o país tenha lançado medidas para sua redução.. [Digite texto].

(17) 17. 1 INTRODUÇÃO. O presente texto basear-se-á numa abordagem psicanalítica para a compreensão da adolescência e da adolescência delituosa. Muito embora seja a abordagem psicanalítica, vamos nos assentar na psicanálise inglesa pós-freudiana. Isso, pois, conforme afirmam Vieira e Vorcaro (2014), Sigmund Freud não aprofundou os estudos sobre a fase da adolescência, embora tenha focado a questão da puberdade associada ao momento de emergência das neuroses ligadas à irrupção da sexualidade na puberdade fundamentando em sua teoria o domínio das pulsões como forma de aliviar a tensão sexual pela qual as funções biológicas e relações de objeto significativas ao sujeito que se sobrepõe. Laplanche e Pontalis (1996) explicam que os conceitos freudianos sobre o desenvolvimento psicossexual são marcados pela organização das pulsões parciais, compreendendo dois momentos, separados pelo período de latência: um relacionado à fase fálica, ou organização genital infantil, e outro à organização genital que inicia a puberdade. A evolução das ideias de Freud sobre o desenvolvimento psicossexual levou-o cada vez mais à sexualidade infantil para explicar a sexualidade adulta. Freud (1905), em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, elucida que, nos estágios anteriores à puberdade, as fantasias podem permanecer inconscientes na maior parte do tempo e são de grande importância para a gênese de muitos sintomas que se estabelecem ao longo da vida. São nas transformações ocorridas na puberdade, diante de uma nova carga libidinal, que os componentes libidinais recalcados procuram se satisfazer, tendo que readaptar-se por já ter sofrido a angústia infantil. O período de latência, por exemplo, é quando a barreira do incesto se estabelece. Esse é um aspecto que Aberastury (1981;1983) retomará ao se dedicar aos estudos sobre adolescência normal, embora essa autora amplie esses conceitos baseando-se na teoria das relações de objeto de Melanie Klein e seus seguidores. A barreira do incesto vem para que se integrem, entre outros entraves sexuais, preceitos morais para que se exclua definitivamente a escolha de parentes consanguíneos, amados na infância, como objetos sexuais (FREUD, [1901/1905] 1996). Melanie Klein parte das ideias de Freud e segue na compreensão de que as distinções anatômicas entre os sexos afetam tanto o desenvolvimento do superego quanto o do ego de várias maneiras. Porém, a autora ampliou sua teoria, dando ênfase às fantasias inconscientes. Como apresenta em Psicanálise da Criança, Klein ([1932] 1997) compreende que as fantasias [Digite texto].

(18) 18. atuam na mente de crianças, adolescentes e adultos, ao longo de todo o desenvolvimento psíquico, por meio de diferentes conteúdos imaginários, nas experiências ansiogênicas e nas fixações reprimidas; Klein ([1932] 1997) observou, na puberdade, nos movimentos pulsionais inconscientes, uma vida de fantasia muito rica. A modificação e o afastamento da ansiedade, como função do ego, são realizados com maior êxito pelo ego mais desenvolvido no adolescente. Isso em parte acontece pelo fato de o adolescente já ter desenvolvido interesses e atividades variados, voltados também à finalidade de controlar o sentimento de ansiedade, contrabalançá-lo e mascará-lo tanto para si quanto para os outros. A atitude de desafio e rebeldia característica do adolescente é uma forma de conseguir esses intuitos. Simon (1986) observa que Melanie Klein, ao falar sobre as fantasias edipianas, considera que estas estão submetidas a novos mecanismos que encobrem sensações de angústia e culpa. O autor destaca também outros conceitos referentes à tendência dos rapazes em tomar como modelos positivos aquilo que consideram como grandes homens. Mesmo distantes desses modelos, existe uma fácil identificação em razão de uma supercompensação dos sentimentos negativos pela imago paterna, ou melhor, pela clivagem dessa figura paterna ou de outros objetos que se assemelham, como professores, chefes etc. No caso da mocinha púbere, o autor ressalta que Klein considera que o início da menstruação causa angústia intensa porque é concretizada a destruição do próprio corpo e, como defesa dessa angústia primitiva, a adolescente poderá reforçar componentes masculinos ou desenvolvê-los somente como conteúdo intelectual, mantendo-se latente no campo da sexualidade e da personalidade. Podem-se encontrar, também, diferenças devidas ao complexo de castração tanto na menina como no menino. A menina rivaliza com a mãe, sentindo culpa e angústia pelos sentimentos agressivos contra ela, o que pode levá-la a rejeitar o papel feminino, o que contribui para o complexo de castração, devido a uma mãe internalizada como vingativa, pelo medo de destruição do próprio corpo impedindo a adoção de uma posição feminina e maternal. Há a menina do tipo inibido, cuja vida sexual se encontra reprimida tal como na fase de latência; ou a mocinha do tipo muito feminino com uma falsa e exagerada posição feminina, que mascara e reprime angústias provenientes do complexo de masculinidade e, mais profundamente, temores derivados de sua primeira posição feminina, como a imago da mãe malvada e persecutória (SIMON, 1986, p. 44-46).. [Digite texto].

(19) 19. Aberastury (1981;1983) afirma que, ao longo do processo de busca da identidade e de estruturação de seu ego, o adolescente se depara com pais que também apresentam dificuldades em aceitar as mudanças que ocorrem com seus filhos. Diante disso, segundo a autora, o adolescente é empurrado em direção a uma fuga defensiva. Essa busca defensiva mantém e reforça a relação com os objetos internos e externos, a hostilidade do adolescente perante os pais e o mundo em geral e, por conta desses fatores, o adolescente expressa sua desconfiança na ideia de não ser compreendido. Aberastury (1981;1983) explica que esse período é de flutuação entre sua necessidade de solidão e de comunicação, entre as ideias de bondade e de maldade, de egoísmo e de altruísmo, de asceticismo e de sexualidade, entre a tendência ora à sujeira, ora à limpeza e à elegância; essas flutuações simbolizam o que está dentro do adolescente, suas relações com o objeto, como opostos e como conflitos internos. Em Cardoso et al. (2011), encontramos explicações que ampliam a compreensão do desenvolvimento do adolescente e de sua complexidade do ponto de vista de sua temporalidade não linear, do desenvolvimento de sua subjetividade envolta por sua experiência de ruptura e transformação na passagem da infância para a vida adulta. Os autores consideram, assim como outros estudiosos da psicanálise, que há grande desafio em compreender essa etapa de vida, pois o adolescente se confronta com situações de sofrimento individual e crises promovidas por circunstâncias que o afetam profundamente, como também afetam seu contexto coletivo que, por sua vez, influencia o adolescente de forma simultânea. Os autores destacam aspectos como a prevalência das atuações e das passagens ao ato, os mecanismos defensivos mais arcaicos e elementares, a precária elaboração, sinalizando, dentre várias consequências, a intensificação de um estado de desamparo e de desorientação subjetiva. Tais fatores atingem em especial os adolescentes e jovens adultos que se sentem implicados por um período no qual há dissoluções de certezas no plano individual, impulsionadas pelas perdas e rupturas, numa condição traumática, portanto violenta, a favor de novos ganhos. Tardivo (2007) observa outras situações importantes na busca do adolescente para aliviar seu sofrimento. Quando carente de figuras de identificação, a tendência é procurar uma forma mágica e ilusória, como um poder semelhante ao da droga. A autora ressalta que o mágico e o ilusório, às vezes, é o que mais se aproxima da identificação do jovem com aquilo que de pior vivencia na cultura de seu país. A autora relata que, em sua experiência junto aos adolescentes, se deparou com sérias crises de autoridade, fato que considera ocorrer em toda a [Digite texto].

(20) 20. sociedade, visto que os papéis aprendidos pelos pais com seus próprios pais não servem mais para seus filhos, o que gera a crise que se constitui na família, nos dias atuais. 1.1 Adolescência: normal ou sindrômica? Compreender a adolescência é um grande desafio, um período complexo na medida em que se trata de um processo que compreende a passagem da infância para o mundo adulto. Ajuriaguerra (1985) ressalta a dificuldade de definir a adolescência diante das modificações de personalidade do indivíduo, pois nessa fase se incluem as tão conhecidas crises que podem descrever as características psicológicas do adolescente sem que realmente se apresente alguma patologia no seu desenvolvimento. Nos estudos de Aberastury (1981) e Knobel (1981), encontramos um ponto-chave para o entendimento da fase da adolescência vista e descrita como período natural do desenvolvimento psicológico humano em razão da perda definitiva da condição infantil. O adolescente sente as mudanças psicológicas e corporais que o distanciam dos tipos de relações parentais que, até então, estavam acostumados a ter desde o nascimento. Isso significa que a forma de relações de objeto que a criança passa a ter (com o mundo interno e externo) sofre ajustes, havendo então conflitos resultantes da perda de uma condição com a qual estava acostumada e a necessidade de aceitação das mudanças impostas. Assim, a autora entende que haverá sentimentos de luto pela perda de uma identidade infantil para um novo processo de construção de identidade que se inicia. A autora descreve: Só quando o adolescente é capaz de aceitar, simultaneamente, seus aspectos de criança e de adulto, pode começar a aceitar em forma flutuante as mudanças do seu corpo e começa a surgir a sua nova identidade. Esse longo processo de busca de identidade ocupa grande parte de sua energia e é a consequência da perda da identidade infantil que se produz quando começam as mudanças corporais. (ABERASTURY,1981, p. 14).. Destacando a adolescência como continuum do processo evolutivo, Knobel (1981) salienta que é necessário entender que o caminho da adolescência para o estado adulto deve ser aceito pelo indivíduo conforme sua nova configuração humana, podendo integrar-se à nova morfologia adulta. A obtenção de uma nova imagem corporal lhe impõe outras necessidades, uma nova ideologia que lhe permita adaptar-se a uma condição mais madura. Nessa etapa de vida, o indivíduo fica dividido entre a condição de dependência e a busca da independência, entre suas necessidades emocionais peculiares e as exigências do mundo externo. [Digite texto].

(21) 21. Rosenthal e Knobel (1983) apresentam ideias que surgiram em um grupo de estudo dirigido por Arminda Aberastury sobre as perdas dos aspectos infantis que o adolescente terá na passagem da infância para o mundo adulto, numa progressão à maturidade: a) Luto pelo corpo infantil perdido: a transformação do corpo em consequência da puberdade impõe nova constituição corporal fora de seu controle e independente de sua vontade sentindo-se impotente diante das alterações que vai sofrendo e, simultaneamente, o desejo desse porvir. b) Luto pelo papel e identidade infantis: ocorre quando a criança vive o sentimento de perda dos privilégios e da situação inerente à condição infantil, que darão lugar a novos aspectos vinculados aos impulsos sexuais e agressivos. A expectativa de pertencer ao mundo adulto vem dotada de ambições pelos privilégios e prazeres que espera ter, ao mesmo tempo que existem temores pela aceitação de responsabilidades que na maioria lhe são desconhecidas. c) Luto pelos pais da infância, representado pelo esforço do adolescente em tentar reter os pais em sua personalidade, por eles lhe servirem de refúgio, proteção diante do desconhecido que se manifesta em si mesmo e aflora em seus pensamentos. O jovem é capaz de perceber as divergências entre seus desejos e ideias e a dos seus pais e sentir remorso por isso, em não assumi-los, por temer as consequências de suas escolhas e a perda de seus pais da infância. Rosenthal e Knobel (1983) consideram que o exagero na intensidade ou na persistência desses fenômenos configura a psicopatia, no sentido nosológico do termo, mas, no processo de passagem da infância para a adolescência, de acordo com Knobel (1981), um certo grau de conduta psicopática é inerente à evolução normal dessa etapa. 1.2 A síndrome normal A adolescência é um período de contradições. Com a expressão “síndrome normal da adolescência”, Knobel (1981) descreve características desse período, com destaque, além dos aspectos individuais, para a situação cultural e antropológica em que os adolescentes se encontram, especialmente em família, ambos (adolescente e família) envolvidos numa situação de crise e sofrimento, aspectos bem presentes nessa fase de vida. Ao falar de “síndrome da adolescência normal”, o autor se refere às características do comportamento do adolescente que, por questões inerentes a esse período da vida, têm aparência patológica, mas são comuns aos indivíduos − neste sentido, a utilização dos termos pelo autor “normal” e [Digite texto].

(22) 22. “sindrômica”.. Com o conceito de síndrome da adolescência normal, o autor admite. características antes consideradas sintomas e as coloca como formas de desajustes e desencontros como consequência do impacto de gerações, portanto, não como conflitos negativos, mas sim como o esforço de encontrar facilitações que promovam o desenvolvimento humano. Essas características, de acordo com Knobel (1981), podem ser descritas como: 1. A busca do self, ou de si mesmo e da identidade estabelecidos pelo aparelho psíquico logo após o nascimento, aceitando que o psiquismo já está estruturado mediante uma determinação durante o período embrionário e fetal, quando se começa a elaborar ansiedades básicas, substrato da personalidade desde o nascer, num processo psicológico, num continuum até a maturidade, passando pelo reconhecimento da própria identidade, a função da genitalidade de procriação, como um efeito biopsicodinâmico que determina modificações na conquista de uma identidade adulta. A ideia de si mesmo ou do self passa por um processo que implica algo amplo em todas as etapas do desenvolvimento, como o conhecimento da individualidade biológica e social e do ser psicofísico do mundo que o circunda referente às características especiais próprias da adolescência. Já as mudanças físicas se definem em três níveis: no primeiro, alterações ativadas pelos hormônios necessários para as modificações sexuais; no segundo, as consequências imediatas que adjudicam à secreção de vários hormônios importantes, como os hormônios de crescimento, da produção de óvulos, espermatozoides etc. e, no terceiro nível, o desenvolvimento das características sexuais primárias, como aumento do pênis nos garotos e do útero nas meninas, e outras modificações corporais externas visíveis aos olhos nesse período da vida, as quais trarão consequências no esquema corporal e interferirão no autoconceito, na experiência do autoconhecimento, na identidade etc; 2. A tendência grupal é posta como uma característica fundamental – a busca da uniformidade que possa proporcionar segurança e estima pessoal. Seria um comportamento defensivo, no qual é consolidado “um processo de superidentificação em massa, ou seja, todos se identificam com cada um” (KNOBEL, 1981, p. 36). Às vezes, tal processo é tão intenso que a separação do grupo parece quase impossível e o indivíduo pertence mais ao grupo de coetâneos do que ao grupo familiar; 3. Necessidade de intelectualizar e fantasiar são uma forma típica de pensamento do adolescente, por sentir que é preciso renunciar ao próprio corpo antigo, aos pais da infância e [Digite texto].

(23) 23. aos papéis que representam a bissexualidade relacionada à identidade infantil. A realidade é imposta ao adolescente, que deverá fazer renúncias e se confrontar com sentimentos de fracasso, impotência, o que o levará a recorrer a pensamentos de compensação de perdas dentro de si que não podem ser evitadas. As fantasias conscientes e a intelectualização servem como mecanismos defensivos diante dessas situações dolorosas; 4. Nas crises religiosas, os adolescentes podem flutuar por extremos que vão do ateísmo ao fanatismo e são mais propensos a ser envolvidos por seitas e movimentos fanáticos, que deixam o adolescente em situação de vulnerabilidade quanto ao seu desenvolvimento; 5. A deslocação temporal surge como uma característica fundamental do adolescente e a ausência de localização temporal é esperada nesse período; muitos dos adolescentes vivem como se o passado não existisse e o futuro acontecesse no presente, favorecendo a onipotência e negando riscos reais que interferem na aceitação das experiências dos pais; 6. A evolução sexual, desde o autoerotismo até a heterossexualidade, em referência à bissexualidade da criança; apesar de sua capacidade de amar, no geral o adolescente volta-se para si mesmo – autoerotismo – e começa o processo de busca pela heterossexualidade adulta, que implica o investimento afetivo real do outro, ou seja, do parceiro sexual; 7. A atitude social reivindicatória é característica que conduz à luta por ideais, à crença de que se pode fazer a diferença, proporcionando mudanças na vida ou, ao contrário, se voltar a tendências antissociais no desejo de reivindicação e contestação, o que pode trazer riscos para ele e para a sociedade; 8. As contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, caracterizada pela contradição de sentimentos e comportamentos, numa intensa vivência de mudanças, podem ocasionar uma alteração de comportamento: ora serenidade, ora crises impulsivas motivadas por algo que parece não ter importância. Vive o conflito entre o que deseja e o que pode ter e, quando há falta de estrutura anterior – família e comunidade, o furto é uma saída. Tal ato é a expressão típica do adolescente, compreendida como a sua busca de identidade para atender seu desejo e pautada na impossibilidade de adiar a satisfação. É a forma de compreender as tendências antissociais de modo defensivo, ou seja, um mecanismo de defesa do adolescente diante da sua percepção do que lhe é proporcionado pela sociedade; 9. A separação progressiva dos pais gera conflitos, pela aquisição de independência relativa e pela dependência que perdura ainda nesta fase. Na separação progressiva dos pais, [Digite texto].

(24) 24. surge a capacidade de realizar tarefas, das quais tem que dar conta sozinho, o que inclui a formação da própria identidade; 10. Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo fazem parte desse período: depressão e euforia, vigor, desânimo e apatia são condições que devem ser observadas para que, se detectada a intensificação desses estados, o atendimento seja imediato. Knobel (1981) assinala que a identidade adolescente se caracteriza pela mudança da relação do indivíduo com seus pais, basicamente (p. 36). Seu estudo, embasado em fatores psicobiológicos, geográficos e histórico-sociais, aponta critérios diferenciais para se compreender a adolescência como período de vida, sobre sua expressão circunstancial e, como todo fenômeno humano, está dentro de um marco sociocultural no qual se desenvolve. Como observa o autor, o investigador, ao se aproximar de seu objeto de estudo, deve buscar compreendê-lo em seu processo histórico (KNOBEL, 1981, p. 36-37). Zimermann (2004) salienta que quaisquer tipos de comportamentos convergem para o entendimento sobre a subjetividade humana gerada no seio de uma cultura e vice-versa, e contribuem para a compreensão dos fenômenos da dinâmica dos grupos, compreensão que precisa ser buscada nas inter-relações estabelecidas em sociedade e na perversão dos sistemas sociais − aspecto esse que fora antes mencionado e observado por Tardivo (2007). Nesse aspecto, em todos os domínios que envolvam o ser humano, a psicanálise como método é considerada suscetível de se aplicar, ou seja, de servir de ferramenta para investigação (MIJOLLA, 2005). 1.3 Adolescência e identidade Conforme Tardivo (2007), a identidade é condição de ser si mesmo ou aquilo que se mantém em cada um. Na adolescência, a identidade se dá por contradição e se inicia a partir de bruscas mudanças na vida do indivíduo. A adolescência, como fase natural do desenvolvimento, só pode ser compreendida pela consideração dos fatores psicológicos, sociológicos e biológicos, bem como pela relação entre as características da personalidade e seu processo de socialização, essencial em qualquer estudo reflexivo sobre o ser humano e sua conduta. Para Tardivo (2007), as condutas do adolescente são reveladoras, pois é por meio delas e de sua organização indeterminada que se revelam as imagens, ou a falta delas, de identificação com o mundo. Esse processo de identificação deve ser explicado para além da relação do adolescente com ele mesmo, pela relação com a família e sociedade.. [Digite texto].

(25) 25. Um dos grandes defensores de que há uma nova identidade na adolescência foi Erikson (1987). Com base em pesquisas, formulou a teoria segundo a qual as sociedades criam mecanismos institucionais que enquadram o desenvolvimento da personalidade, embora as soluções específicas para problemas similares variem de cultura para cultura. Erikson (1987) defende a ideia de que a energia ativadora do comportamento é de natureza psicossocial, integrando não apenas fatores pulsionais biológicos e inatos, como a libido, mas também fatores sociais, aprendidos em contextos histórico-culturais específicos. Assim, para Erikson (1987), o desenvolvimento psicossocial seria sinônimo de desenvolvimento da personalidade, que ocorre em oito estágios que, no seu conjunto, constituem o ciclo da vida. Cada estágio corresponde à formação de um aspecto particular da personalidade. O autor aponta o crescimento humano do ponto de vista do modo como o indivíduo lida com os conflitos internos e externos ao longo da vida, e a adolescência seria a fase de grande importância na qual se desenvolveriam os requisitos preliminares para o amadurecimento mental, de crescimento fisiológico e responsabilidade social para atravessar a crise da identidade, e mediante uma personalidade saudável, é capaz de dominar ativamente seu meio, por perceber corretamente o seu mundo e a ele próprio. Erickson (1987) apresenta uma sequência de fases do ciclo vital que ocorre num gradual desenvolvimento, progressivo no tempo e descreve como o indivíduo desenvolve sua personalidade em fases sucessivas rumo a uma crescente capacidade da adaptação às necessidades da vida passando por estágios intitulados: 1- “Confiança Básica versus Desconfiança Básica” (do nascimento até cerca de 1 ano); 2- “Autonomia versus Vergonha e Dúvida” (de 1 a 3 anos, aproximadamente); 3“Iniciativa versus culpa” (dos 3 aos 5 anos). Este estágio corresponde à fase fálico-edípica de Freud; 4- “Diligência versus Inferioridade” (dos 6 aos 11 anos); 5- “Identidade versus Difusão de papéis” (dos 11 anos ao final da adolescência); 6- “Identidade versus autoabsorção ou isolamento” (dos 21 aos 40 anos); 7- “Generatividade versus estagnação” (dos 40 aos 65 anos); 8- “Integridade versus desespero” (terceira idade) (ERICKSON, 1987). Os estágios não podem ser compreendidos como períodos isolados, pois as fases anteriores deixarão marcas que vão influenciar a forma como se vivenciam as crises. Tem-se então que a identidade, que se forma numa continuidade, une as diferentes transformações em um processo cumulativo de desenvolvimento. Nesse contexto, o termo “crise” não tem uma acepção dramática, por tratar-se de algo pontual e localizado, com polos positivos e negativos, como identidade versus confusão de papéis. [Digite texto].

(26) 26. A adolescência é a fase que vai dos 12 aos 18 anos aproximadamente. Durante todo o desenvolvimento, a criança teve uma longa série de identificações e, assim, conseguiu adquirir algumas características dos pais, de professores e de muitas outras pessoas. Na adolescência, o indivíduo abandonará alguns aspectos de suas identificações anteriores, fortalecerá outros e, finalmente, deverá encontrar-se, descobrir quem é e ser capaz, enfim, de responder à pergunta central. Ao conseguir definir sua identidade, o adolescente começa a considerar-se uma pessoa coerente, integrada, única. Se não puder encontrar-se ou se não tiver um objetivo na vida, é possível afirmar que ele sofreu difusão da identidade. Os jovens sentem-se, ainda, perturbados pela dificuldade em se definir quanto à profissão. Nessa idade, raramente o jovem se identifica com seus pais; ao contrário, rebela-se contra o domínio deles, seu sistema de valores e a intromissão em sua vida particular, pois o jovem tem o desejo de separar sua identidade da de seus pais. O adolescente também tem uma necessidade intensa de pertencer a um grupo social. Os companheiros de idade, a roda de amigos e a “turma” ajudam o indivíduo a encontrar sua própria identidade no contexto social. Em muitas escolas e em outras instituições, os adolescentes são forçados a permanecer passivos, não tendo, portanto, oportunidade de experimentar a responsabilidade. Erikson (1987) afirma que, para ajudá-los a crescer, necessitamos atribuir-lhes, cada vez mais, independência e responsabilidade. Mas, Erikson (1987) explica que a identidade se forma à medida que as pessoas resolvem três questões importantes: a escolha da ocupação, a adoção de valores nos quais acreditam e segundo os quais querem viver, e, por fim, o desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória. Levisky (2000), ao analisar os aspectos do processo de identificação do adolescente na sociedade contemporânea, considera alguns fatores adicionais no conflito da identidade do adolescente. O autor aponta para o fato de que, na medida em que a sociedade vem se globalizando rapidamente, indivíduos e instituições, condescendentes com esse movimento, deixam de preservar a evolução ética dos grupos sociais, fragilizando mecanismos para que os papéis e as funções de valores, leis, normas de convivência, memória, enfim, da preservação dos bens culturais comuns, sirvam à qualidade da transformação cultural. A organização social dita democrática e, teoricamente, igualitária, mostra uma realidade oposta, que gera tensão, desorganiza, desrespeita o indivíduo e provoca frustrações que desencadeiam violência moral e física. Na visão de Levisky (2000), esse cenário é fruto da ausência [Digite texto].

(27) 27. simbólica de pais, representados por um sistema social efetivo e continente das angústias de seus participantes. Levisky (2000) assinala que a sociedade contemporânea, ao mesmo tempo que, com suas conquistas tecnológicas e obtenção de liberdade social, é facilitadora de situações que prolongam a crise da adolescência como estado da mente, favorecendo cisões e ambivalências que seriam toleráveis ao período de adolescência normal, estado que tem se hipertrofiado no próprio adolescente e em outros indivíduos, transformando num padrão comportamentos sociais como a indiferença, o conformismo, a impotência, a apatia, a rebeldia, a desfaçatez, que levam muitas vezes ao radicalismo e ao vandalismo, à delinquência, à perda de respeito pelo privado e pelos bens comunitários, à falência das relações humanas. Esses comportamentos tornam-se modelos de autoafirmação e rebelião, além da produção do sofrimento decorrente da violência que facilita a incorporação de objetos caóticos de identificação no processo evolutivo do adolescente. 1.4 Adolescência e conduta antissocial Winnicott (1999) nos oferece as disposições sociais necessárias aos cuidados de uma criança que apresenta condutas antissociais. Observou os problemas básicos e comuns dos sujeitos com comportamentos antissociais e o que está por trás desses comportamentos, as defesas e pulsões manifestadas. Para Winnicott (1999), as crises comuns desses sujeitos são previsíveis, o que dá condições de aplicabilidade de suas observações aos estudos sobre o tema. Os pontos a ressaltar são seus conceitos sobre o crescimento e o desenvolvimento emocional da criança diante da privação da vida familiar, isto é, a perda de algo bom durante seu crescimento e como isso interfere em seu desenvolvimento emocional. Esclarece sobre como os pais lidam com as circunstâncias do dia a dia tanto nos cuidados da criança como em sociedade, e como tais circunstâncias sociais os afetam e se refletem na vida familiar e no desenvolvimento emocional do sujeito em formação. Ao estudar o que está por trás dos comportamentos. delinquentes,. Winnicott. (1999). traça. um. paralelo. entre. esses. comportamentos e o comportamento de uma criança normal7, seu desenvolvimento e a forma como um “lar” se desenvolve. 7. Winnicott chama de criança normal aquela que tem a possibilidade de pôr à prova seu poder no ambiente familiar permitindo reações inerentes ao seu desenvolvimento emocional. Quando isso acontece, se sente segura por esse ambiente conseguir suportar tudo o que a criança pode fazer para desorganizar o lar, como elemento novo gerador de mudanças. Assim, ela poderá sossegar porque percebe que haverá estabilidade da instituição parental que lhe oferece aquilo de que necessita emocionalmente (WINNICOTT, 1999).. [Digite texto].

(28) 28. Winnicott (1999) menciona um tema essencial nas relações entre pais e filhos: a confiança que a criança deve ter em seus pais. No desenvolvimento emocional da criança há movimentos na dinâmica familiar que põem à prova a convivência de todos. O elemento novo, no caso, a presença de uma criança entre seus membros, põe a família à prova, com seu poder de desintegrar, destruir, assustar, cansar, manobrar, consumir e apropriar-se da convivência familiar. Um lar que permite esses testes com tolerância dá condição à criança de se apropriar de um quadro de referências em que exercita sua liberdade na busca de prazer, ao mesmo tempo em que aprende os limites dessa liberdade, impostos pelos pais. Desse modo, continua Winnicott (1999), quando o lar não lhe oferece segurança, e se a criança tem esperança de encontrar de alguma forma aquilo de que necessita emocionalmente, procura fora de casa referências para seu desenvolvimento, com avós, tios, amigos da família etc. A criança vai em busca de uma estabilidade para não enlouquecer; tenta obter em outras relações e na escola o que não obteve em casa. A criança com tendência antissocial vai mais longe e recorre à sociedade a fim de adaptar-se em seu desenvolvimento emocional. Winnicott (1999) ilustra a procura do delinquente por seu ideal parental exemplificando: [...] quando a criança rouba açúcar está procurando a mãe boa, de quem ela tem o direito de tirar toda a doçura que houver [...]. Também procura o pai, se assim podemos dizer, que protegerá a mãe de seus ataques contra ela, ataques realizados no exercício do amor primitivo. (WINICCOTT, 1999, p. 130-131).. A criança infratora estará então à procura da relação parental ideal, comportando-se diante da sociedade com sentimento de frustração e ao mesmo tempo com necessidade de encontrar a autoridade paterna que lhe imporá limites, como um efeito concreto de seu comportamento impulsivo e a atuação de ideias diante de sua excitabilidade. Na delinquência, a transgressão contra a sociedade seria uma tentativa de restabelecer o controle proveniente do exterior diante de sua necessidade aguda de um pai rigoroso, severo e forte, que aplaque seu sentimento de culpa e recupere seus impulsos primitivos de amor e desejo de corrigir-se. Exemplifica: “Tudo o que leva as pessoas aos tribunais tem seu equivalente no normal na infância na relação da criança com seu próprio lar” (WINNICOTT, 1999, p. 129). 1.5 Adolescência e comportamentos infracionais Ikumi et al. (2013) referem-se aos aspectos do comportamento infrator de adolescentes e jovens como situações que emergem de circunstâncias relacionadas à instituição familiar e [Digite texto].

(29) 29. social; ressaltam ainda que as várias formas de exclusão social vividas durante a trajetória existencial do adolescente infrator culminam com a possível inclusão numa comunidade marginal e delituosa como opção existencial e de iniciação ocupacional. Para pertencer ao grupo infrator, tais fatores trazem ao adolescente um sentimento de poder e de ser respeitado, como conduta reativa ante os dispositivos sociais. Observaram que a remuneração, comparativamente ao trabalho considerado “formal”, obtida por meio das ações infracionais, possibilita que os adolescentes infratores construam sua identidade. Seria uma forma de ressignificarem o poder repressor da autoridade e de se iludirem numa representação onipotente – de poder tudo e ter tudo. Para Ikumi et al. (2013), as representações sociais de conduta delituosa formuladas por adolescentes em conflito com a lei estão ancoradas na compreensão do fenômeno da violência como potência e o ato infracional como uma ação agressiva contra a sociedade; de alguma forma, esses adolescentes percorreram várias trajetórias institucionais sem serem sensibilizados a ponto de transformar suas condutas infratoras em condutas socialmente aceitas. Ikumi et al. (2013) consideram, pois, que no Brasil houve falha das políticas públicas que deveriam inseri-los na rede de atendimento de suas comunidades e que todo o aparato do sistema de garantia de direitos – assistência social, saúde, justiça/segurança pública e educação – também fracassaram parcialmente (IKUMI et al., 2013). Com outro foco investigativo, Zappe e Dias (2012) mostram que a violência e a prática de atos infracionais cometidos por adolescentes apresentam elementos que fazem parte dos processos de identificação. Os autores consideram que a constituição da identidade do adolescente em conflito com a lei revela sinais de fragilidade nas composições familiares, ou seja, a delinquência juvenil tem traços de ligação com a dinâmica familiar vivenciada por esses jovens no processo de desenvolvimento psíquico. Nessa mesma direção, Freitas (2006) estudou transtornos de conduta em adolescentes e observou dificuldades no desenvolvimento da personalidade e na idealização da figura paterna, além da percepção, pelo adolescente, de um futuro inalcançável. Souza e Rezende (2012) estudaram casos de adolescentes infratores por furto e por homicídio e descreveram traços de personalidade desses indivíduos; os resultados revelaram ansiedade, sentimentos de culpa e remorso, e possibilidades de engajamento terapêutico para aqueles que cometeram furto; os demais apresentaram traços de constrição afetiva, ausência de ansiedade e de remorso. [Digite texto].

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