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Escala de Qualidade na Interação Familiar (EQIF) - Subescalas de Comunicação A Escala de Qualidade na Interação Familiar (EQIF) de Weber e cols., (2008) é um

4.2 Material e Instrumentos

4.2.3 Escala de Qualidade na Interação Familiar (EQIF) - Subescalas de Comunicação A Escala de Qualidade na Interação Familiar (EQIF) de Weber e cols., (2008) é um

conjunto de nove subescalas para levantamento da percepção dos filhos sobre o comportamento do pai e da mãe, separadamente, por meio de 40 questões no modelo Likert (nunca ou quase nunca, às vezes e sempre ou quase sempre). Para a particularidade deste trabalho foram utilizadas duas delas: comunicação positiva e comunicação negativa, totalizando oito itens, sendo que três se referem à subescala de aspectos positivos da comunicação parental e cinco à subescala de aspectos negativos. Exemplo de item da escala

48 de comunicação positiva: “eu costumo contar as coisas boas que me acontecem para meu pai/minha mãe”, e da escala de comunicação negativa: “meus pais costumam falar alto ou gritar comigo”. Para este trabalho foi necessária uma adaptação das duas subescalas utilizadas para um modelo Likert de três itens de resposta, sendo eles: nunca ou quase nunca, às vezes e sempre ou quase sempre, para melhor compreensão das crianças. Os itens de pergunta, no entanto, não sofreram nenhuma alteração. A Escala de Qualidade na Interação Familiar (EQIF) tem padronização para o Brasil (Weber & cols., 2008).

4.3 Procedimentos

Este projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Paraná - Setor de Ciências da Saúde - Parecer nº 489.156 e se pauta nos princípios e normas estabelecidos na Resolução 466/2012 pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) para pesquisas com seres humanos, publicada em 13 de junho de 2013 no Diário Oficial da União.

O contato inicial com as escolas foi realizado via e-mail. Foram contatadas aproximadamente 60 escolas em três diferentes cidades: São Bento do Sul (SC), Curitiba (PR) e Pinhais (PR), solicitando uma entrevista com o responsável pela instituição para apresentação da pesquisa. Dessas, doze responderam ao e-mail, oito entrevistas foram permitidas e, finalmente, quatro escolas aceitaram a realização da pesquisa. Algumas escolas solicitavam os instrumentos via e-mail, após o envio destes a autorização para a realização da pesquisa era negada. Aproximadamente 250 pais foram convidados para a pesquisa, 69 aceitaram participar e autorizaram a participação de seus filhos. Em uma sala de aproximadamente 35 alunos, eram obtidas em média cinco duplas participantes (pai/mãe e filho(a)).

Diante do alto número de recusa das escolas para a execução deste trabalho, sugere-se relevante relatar mais detalhadamente as dificuldades encontradas pela pesquisadora em encontrar escolas dispostas a ceder espaço para esta pesquisa. De modo geral, as recusas se deram quando do conhecimento da equipe escolar, geralmente na pessoa da diretora ou coordenadora escolar, sobre as perguntas acerca da percepção e da monitoria parental sobre a coerção do professor. A frequente resistência das escolas frente ao tema central do trabalho fez com que fosse adicionado à Carta de Apresentação da pesquisa aos pais o seguinte parágrafo: “Salientamos que as perguntas do questionário foram feitas com base na literatura da área, não fizemos nenhuma observação prévia nesta escola sobre o tema”. Esse detalhe passou a ser explicado para os responsáveis das escolas, mas ainda assim a resistência persistiu. Dentre as escolas que aceitaram participar da pesquisa, somente nas públicas apareceu a preocupação com estas perguntas, mas após a realização da pesquisa. Na fala de

49 uma das coordenadoras “estas perguntas não são boas para nós, os pais não entendem”. A preocupação desta coordenadora representava um medo de que os pais passassem a se sentir no direito de questionar o uso de castigos pela escola. Porém, não houve esta preocupação em ambas as escolas privadas. Em uma delas, ao apresentar os instrumentos de pesquisa e explicar as questões sobre coerção e a advertência colocada na carta de apresentação a coordenadora relatou não haver problema algum, pois seus professores sabiam muito bem o que poderiam ou não fazer com os alunos.

Nas escolas públicas ocorreu o seguinte fenômeno: quando a pesquisadora deixava a sala de aula, após explicar às crianças sobre a pesquisa e entregar-lhes os envelopes contendo os instrumentos parentais para que elas entregassem aos pais, as professoras pegavam o envelope de alguma criança e liam as questões. Foi dito à pesquisadora que a pesquisa foi explicada aos professores, que estavam cientes da sua execução, porém, ao tomar contato com as perguntas sobre coerção demonstravam preocupação, a qual era relatada verbalmente à coordenação e direção. Esse fato sugere a hipótese de que quando a escola tem um protocolo definido de ações consequentes para comportamentos inadequados discentes, o professor não precisa se preocupar com o questionamento parental sobre tais práticas, pois ele conhece suas possibilidades e seus limites. Quanto aos pais, ao escolherem a escola na qual matricularam seus filhos, é possível que tais procedimentos tenham sido explicados. É possível que as professoras de escolas públicas tenham uma maior liberdade quanto às práticas punitivas, e deste modo se sentem mais ameaçadas frente à possibilidade de monitoria ou envolvimento parental nesse aspecto. Essas são, no entanto, apenas conjecturas. Após a realização da pesquisa, já em fase de análise de dados, foi enviado um e-mail a todas as escolas solicitando informações sobre a existência de protocolos para aplicação de castigos. Nenhum e-mail foi respondido.

Neste sentido, o presente trabalho também concorda que ”abordar a temática dos castigos escolares é caminhar por um solo ainda quente, que perpassa tensões entre estratégias e táticas, práticas e representações, sendo um tema ainda pertinente, porquanto inesgotável” (Aragão & Freitas, 2012, p. 19). Ainda que as autoras façam referência ao seu estudo em relação a castigos físicos, parece pertinente estender esta angústia para o tema geral da coerção, mesmo porque, conforme já salientou Skinner (1972), o formato das punições apenas se modificou na forma no decorrer dos anos, passando da violência física para a psicológica.

Para determinação da amostra foram definidos critérios de inclusão e exclusão dos participantes. Fizeram parte desta pesquisa pais que aceitaram participar e autorizaram a participação de seu(a) filho(a), aceites estes expressos por meio de assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo E); e que devolveram junto aos termos o

50 questionário para pais preenchido. Foram consideradas participantes da pesquisa as crianças cujos pais preencheram o questionário e assinaram o termo as autorizando a participar e ainda, que aceitaram o convite de participar da pesquisa, após receberem as devidas explicações sobre os objetivos da pesquisa e o procedimento de aplicação do questionário. No caso de crianças com mais de 12 anos, foi considerado critério também a sua assinatura no Termo de Assentimento Informado Livre e Esclarecido (Anexo F), após a leitura e as explicações devidas.

O contato inicial com os pais foi realizado por meio de uma Carta de Apresentação (Anexo G) enviada pelas crianças em envelope que também continha o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os instrumentos de pesquisa para pais (Questionário de Percepção e Monitoria sobre Coerção - versão para pais e o Inventário de Envolvimento Parental) para preenchimento em casa. Inicialmente, objetivou-se realizar a aplicação dos instrumentos dos pais em reunião coletiva pré-agendada nas escolas, essa opção não se mostrou possível em função da agenda da equipe escolar.

Nos dias seguintes as crianças (ou adolescentes) cujos pais autorizaram no TCLE a sua participação na pesquisa e responderam aos instrumentos de pesquisa para pais foram convidadas a realizar a aplicação do Questionário de Percepção e Monitoria sobre Coerção - versão para crianças e as subescalas de Comunicação da Escala Qualidade na Interação Familiar, em ambientes separados dentro da escola, como sala de reunião e informática, que possibilitaram privacidade na aplicação. A aplicação dos instrumentos para as crianças foi feita sem a presença de pais, professores ou diretora.

A aplicação do Questionário de Percepção e Monitoria sobre Coerção e das Escalas de Comunicação com as crianças foi realizada em dias pré-agendados com a escola. A aplicação foi individual, em um ambiente com pouca probabilidade de interrupções cedido pela própria escola, em período de aula. Com as turmas cujas crianças foram participantes da pesquisa será realizado um breve Treinamento de Habilidades Sociais5 com foco no ensino de comportamentos assertivos diante da exposição da criança a contingências aversivas, como compensação pelo tempo destinado à pesquisa, em dias sugeridos pela Direção, que não substituam períodos de aula, como nos momentos pedagógicos do professor, por exemplo, ou em atividades de contraturno. Aos pais e professores será oferecida uma devolutiva na forma de palestra ou comunicação por escrito, de acordo com a preferência da equipe escolar, abordando os principais resultados alcançados na pesquisa.

5 Um Treinamento em Habilidades Sociais (THS) é uma intervenção educativa que objetiva a aprendizagem de comportamentos adaptativos de interação como meio de superação dos déficits em desempenhos sociais (Bolsoni-Silva, 2002).

51 A aplicação do Questionário de Percepção e Monitoria sobre Coerção e das Escala de Comunicação com as crianças teve duração média de 20 minutos cada uma. Após um breve rapport lúdico6 a pesquisadora lia em voz alta as questões e após a resposta da criança às perguntas fechadas assinalava a opção no questionário. Os itens das opções escalares (Nunca ou quase nunca, Às vezes e Sempre ou quase sempre) foram digitalizados em material colorido que ficou em frente à criança para facilitar sua compreensão. As perguntas abertas foram registradas por meio de gravação em áudio, e as respostas foram transcritas na íntegra para posterior categorização. A escolha da aplicação do questionário de forma oral se justifica pela idade das crianças participantes, que poderiam não apresentar um bom desempenho na leitura das questões e na escrita das respostas. Após a realização da aplicação a pesquisadora orientava a conversa para assuntos cotidianos da criança como brincadeiras e desenhos preferidos, na tentativa de minimizar qualquer desconforto que possa ter ocorrido em função da pesquisa.

Ambos os instrumentos foram identificados por meio de códigos a partir da combinação de número e letra, que permitirão parear pais e filhos, em atenção a questões de confidencialidade e para análises estatísticas correlacionais posteriores.