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2.1. PROJETO DE ARQUITETURA – PROCESSO E QUALIDADE

2.1.2. Qualidade no projeto de arquitetura

2.1.2.1. Qualidade nos projetos de obras públicas

Nas obras públicas, o uso do chamado ―Projeto Básico‖ como documento de representação da demanda de Empreendimento de Construção Pública-EPC nos processos

licitatórios é uma constante. Os processos administrativos internos, a celeridade induzida pela necessidade de atendimento de demandas sociais sempre deficientes, as imposições de cunho

político e, ainda, a necessidade de utilização dos recursos destinados pelo orçamento público para cada período, leva a elaboração de ―Projetos Básicos‖ cada vez mais resumidos e incompletos que, comprometem o produto final: a obra. A qualidade do ―Projeto básico‖ é um reflexo da qualidade de cada um dos seus documentos e projetos que o compõe. Essa

qualidade fica comprometida desde o início do processo de elaboração onde partes integrantes

e importantes terminam sendo suprimidas.

Segnini (2008, p.168), mostra o conceito de Projeto Básico descrito pela

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCRITÓRIOS DE ARQUITETURA - AsBEA, no seu Manual de contratação dos serviços de arquitetura e urbanismo (1992):

―[...] solução desenvolvida do anteprojeto, já compatibilizadas todas as

interferências dos projetos complementares. ... Constitui-se no conjunto de elementos que define a obra ou serviço ou o complexo de obras e serviços que compõem o empreendimento, possibilitando a estimativa de seu custo e prazo de execução. Integra um projeto completo, do qual não se pode dissociar, devendo ser precedido por estudos iniciais e sucedido pelo projeto executivo.‖

Há uma discussão no meio técnico quanto à eficiência do uso do Projeto Básico nas obras públicas, visto que, na maioria dos casos o que é denominado de ―Projeto básico‖ constitui-se apenas do projeto arquitetônico e suas especificações de materiais. O custo das obras é determinado por orçamentos baseados na simples leitura das informações do projeto

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arquitetônico de onde se produz as estimativas dos demais projetos como: estrutural, de instalações, urbanização e etc. Desta forma a compatibilização entre os projetos, os

detalhamentos e os métodos construtivos passam a ser determinados por estimativas e especulações, levando aos ajustes de custos na etapa de execução das obras.

Zanferdini (2011, p.100) relata que estes fatos já vem sendo discutidos por outros autores que mesmo direcionados à edificações habitacionais refletem a mesma problemática

das obras públicas:

Nesse sentido, algumas das dificuldades que ocasionam distorções no processo de projeto relativamente à construção de edifícios habitacionais no Brasil obtido por Melhado e Barros (1993), que foram reproduzidas por Novaes e Franco (1997) no âmbito da iniciativa pública, como: limitação do projeto à caracterização do produto, para quantificação e orçamentação, necessárias para a licitação da obra; inadequação ou omissão nos detalhamentos, adiando decisões de compatibilização para a etapa de execução da obra; influência de interesses políticos na definição de prazos; indeterminação de responsabilidades para os agentes intervenientes no processo de projeto; ausência de clareza quanto às implicações da redução de custos e de melhoria da qualidade.

―O Estado, por sua vez, enquanto regulador da produção em geral, tem se ausentado dessa discussão, as obras públicas continuam a ser contratadas sobre estimativas de custo elaboradas a partir do chamado Projeto Básico‖ (SEGNINI, 2008, p.168).

Ainda, segundo Zanferdini (2011,p.101) há uma variação quanto ao entendimento

sobre o que seria o Projeto básico:

Assim, o entendimento quanto à definição de projeto básico que pode variar desde um entendimento simplificado constituído de um anteprojeto de arquitetura, de um memorial descritivo genérico e de um orçamento estimativo elaborado com base no anteprojeto, até um entendimento completo que incluiria todos os projetos básicos (arquitetura, fundações, estruturas e instalações), o memorial descritivo da obra e de

42 cada um dos projetos básicos fornecidos, as especificações técnicas dos serviços e dos materiais, o orçamento detalhado com a composição unitária de cada um de seus itens, os critérios de medição dos serviços, as composições detalhadas do BDI e das Leis Sociais utilizadas, bem como o cronograma físico financeiro obtido a partir do orçamento e do prazo de execução.

As falhas no controle ou na cobrança de critérios de qualidade nos Projetos Básicos

levam a situação de reconhecimento de que este fato pode ser encarado como um dos aspectos

que justificam o descontrole do custo final das obras públicas. A revisão dos custos iniciais em obras públicas é uma constante que onera as obras e favorece as empresas do ramo. A

falta de detalhamento, junto com a elaboração de Projeto Executivo após a contratação da obra leva a esse descontrole e ajustes nos projetos, principalmente no projeto arquitetônico.

A elaboração do projeto executivo aparece como a solução técnica para esse problema de ajuste de orçamento e aumento de custos, já enraizado no setor. Contudo essa prática, além

de depender de elaboração antes da execução da obra, deve ser produzida levando como base os projetos que compõem o Projeto básico, com seus devidos detalhamentos e

compatibilidades resolvidas. Segundo Dias (2012):

A adoção de projetos executivos de engenharia para o início de obras passou a ser mais frequente em obras desenvolvidas por órgãos do governo federal para evitar paralisações e superfaturamento dos empreendimentos. Há uma tendência de que as grandes obras do governo federal só comecem depois de um ano de estudos, tempo considerado necessário para a elaboração desse tipo de projeto. E também deve ser cada vez mais comum que as licitações sejam feitas com base no projeto executivo, e não mais usando o básico.

Mudanças começaram a ocorrer no âmbito do governo federal que, a partir de 2012, em alguns ministérios como o Ministério das Cidades, passou a exigir em suas contratações

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de obras o Projeto Executivo. O intuito é dar maior qualidade ao processo e assim garantir melhor qualidade nas obras. Também tem a intenção de evitar o atraso das obras e os aditivos

no orçamento. Esse posicionamento requer um olhar mais atento no projeto arquitetônico, que é o primeiro produto deste processo e a base inicial dos projetos complementares de cada

obra.

A contratação de obras públicas segue processo de Licitações de acordo com a Lei

federal nº 8666/93. Esta lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos

administrativos pertinentes a obras, serviços (inclusive de publicidade), compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Nela estão previstas as modalidades de licitações: concorrência, tomada de preços, convite, concurso e leilão, podendo ser do tipo de Menor Preço, Melhor Técnica ou Melhor Técnica e

Preço. A maioria das obras públicas segue por licitação através de concorrência de menor preço o que favorece a perda de qualidade em todo o processo, iniciando com o projeto

arquitetônico.

Uma total fragmentação do processo de projeto, muitas vezes, é causada por licitações

feitas com os projetos separadamente, ou seja, o projeto de arquitetura é licitado primeiro, depois da realização deste é licitado o projeto de estruturas, seguido pelo projeto das

instalações prediais e assim sucessivamente (CAIADO e SALGADO, 2006). Ainda, a lei de licitações impede a participação do responsável pelo desenvolvimento do projeto na licitação

para execução da obra, mesmo sendo o contrato de forma global (todos os projetos inclusos). Com este contexto entende-se que os projetos arquitetônicos de obras públicas sofrem

com a forma que são desenvolvidos, com a falta de análise e detalhamento mais apurados que objetivariam propiciar compatibilidade ou, no mínimo, informações que direcionem os

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constantes nos processos administrativos dos órgãos públicos dificultam e engessam o processo do projeto arquitetônico.

Os prazos determinados para a elaboração dos projetos nem sempre são suficientes para o cumprimento, de forma adequada, de todas as etapas dos processos de projetação e o

resultado certamente não é o esperado.

A reestruturação dos corpos técnicos de alguns órgãos está sendo revista e há uma

tendência de melhoria na qualidade dos trabalhos produzidos visto que, os autores dos

projetos passaram progressivamente a ser servidores do órgão com responsabilidade direta sobre estes e com uma suposta maior carga de conhecimento das necessidades do projeto.

Esteves (2013, p.2) comenta da atual existência de escritórios internos de projetos em muitas universidades trabalhando nas demandas de expansão e que, em geral, ainda há o

auxílio de empresas terceirizadas contratadas:

Ainda em relação à gestão do espaço físico dos campi, dentro de muitas universidades, existem os escritórios internos de projeto que desenvolvem os projetos das edificações e gerenciam as expansões físicas da universidade. A equipe desses escritórios pode atuar desde a concepção de um projeto até o detalhamento para execução e acompanhamento de obra. Muitas vezes, as equipes de trabalho desses escritórios não possuem uma organização de suas atividades, fluxos de informações e processos, e por consequência não conseguem atender à demanda de projetos.

Em geral, essas equipes desenvolvem o projeto arquitetônico, ou parte dele, e contratam externamente os demais projetos. Portanto, é comum que empresas terceirizadas sejam contratadas para desenvolver parte dos projetos, sem um controle efetivo do produto contratado. E frequentemente são encontrados alguns problemas ao longo do processo, como: falta de escopo claro de projeto, controle insuficiente de documentos ou de informações, falta de comunicação entre os agentes envolvidos no processo, erros de compatibilização, ausência de análise crítica do processo e projeto.

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De sorte que, no caso específico das IFES, a reestruturação das equipes técnicas responsáveis pelos projetos está acontecendo e há uma perspectiva de avanço na resolução

dos problemas relacionados aos seus projetos arquitetônicos de autoria própria (arquitetos da instituição). O caráter social exemplificativo de uma IFES interfere positivamente nessa busca

de demonstração de qualidade nos projetos e obras desses órgãos.

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