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3 QUANTIFICAÇÕES DO DJA

3.2 QUANTITATIVOS GERAIS DOS FINALISTAS

Infelizmente, a Global Editors Network, instituição que promove o DJA, não divulga informações sobre os trabalhos que são inscritos, mas não chegam a ser considerados finalistas. Sobre o ano de 2012, sabemos apenas que houve mais de 300 inscrições de 60 países (EUROPEAN JOURNALISM CENTRE, 2012). Em 2013, o número de inscritos se repetiu (ROGERS, 2013), mas a quantidade de finalistas, que anteriormente era de 59, aumentou para 72. Acompanhe as variações no gráfico 2.

49 No original Institute National de la Statistique et des Études Économiques. Tradução nossa.

Gráfico 2 – Relação entre inscritos, finalistas, organizações e países de origem dos finalistas do DJA de 2012 a 2014.

Fonte: Dados da pesquisa com sistematização própria.

Aparentemente, o ano de 2014 teve o maior nível de exigência até então, já que 445 inscritos não chegaram à lista de finalistas. Se por um lado, o simples fato de existirem produções de jornalistas interessados em mostrar seus trabalhos no DJA e que as consideram como jornalismo de dados já é animador por si só, demonstrando um núcleo de ânimo em uma indústria com números descendentes, um outro aspecto dos quantitativos gerais preocupa: a variabilidade de origem das produções, por sua implicação como variável proxy50 para a diversidade. No ano com o maior número de inscritos e maior número de finalistas, 2014, a quantidade de países com um representante entre os finalistas caiu radicalmente, chegando quase à metade do que era no ano anterior.

Com o estudo de maior profundidade sobre os ganhadores do DJA, mais adiante neste trabalho, pretendemos identificar se a menor variabilidade de nações entre os locais de origem dos finalistas em 2014 pode estar relacionada a uma tendência à padronização na linguagem, técnicas e temáticas dos produtos jornalísticos considerados de excelência

50 De acordo com a NBR 14653-2, variável proxy é “Variável utilizada para substituir outra de difícil mensuração e que se presume guardar com ela relação de pertinência” (ABNT, 2004).

pelo júri do DJA. Cabe lembrar ainda, que em alguns casos as produções são inscritas vinculadas ao país em que os jornalistas que a executaram trabalham, mas a empresa de comunicação criadora se localiza em outro. Um bom exemplo é a reportagem China Conectada51, vencedora da categoria Seção ou site de jornalismo de dados em 2013, que tem como local de origem Hong Kong, mas foi desenvolvida pela Thomson Reuters, uma empresa com sede em Nova York e fundação no Canadá.

Mas ainda mais preocupante do que a limitada quantidade de países com finalistas – ou sintomático da realidade da mídia – é a concentração de produções em alguns polos. Em todos os anos, os Estados Unidos foram o país com o maior número de finalistas, com o Reino Unido em segundo lugar em 2012 e 2013, e a Alemanha em segundo lugar em 2014. Isso por si só não é um dado com grande significado autônomo, é necessário complementá-lo com outros comparativos: em nenhum ano a soma de trabalhos finalistas de Reino Unido e EUA foi menor do que a soma de todos os outros países. Em 2014, sozinho, os EUA tiveram sete finalistas a mais do que todos os outros países juntos. Observe o gráfico 3.

Gráfico 3 – Distribuição de nomeações de finalistas entre Estados Unidos, Reino Unido e demais países.

Fonte: Dados da pesquisa com sistematização própria.

Se optássemos por comparar os Estados Unidos a toda a União Europeia, o resultado seria menos desigual, pois em 2013 o conjunto de países chega a ter mais finalistas que os EUA, ainda que por apenas uma unidade de diferença. Mas se tentarmos reajustar nosso foco para os continentes, veremos disparidades ainda mais incisivas e ainda mais semelhantes às desigualdades existentes com relação à distribuição da mídia e dos demais recursos geopolíticos. Em 2014, África e Oceania não tiveram nenhum finalista no DJA. A América do Sul parece ser mais expressiva quantitativamente, com 17 finalistas no total, mas é importante lembrar que mais da metade destas, nove produções, vem de uma mesma empresa jornalística, o La Nación (a partir de suas redações na Argentina e em Costa Rica). Essa concentração é mais facilmente visualizada no gráfico 4.

Gráfico 4 – Distribuição de nomeações de finalistas por continente.

Fonte: Dados da pesquisa com sistematização própria.

Mais à frente, ao analisarmos detalhadamente os vencedores e ao nos voltarmos precisamente aos estilos apreciados, retomaremos esta temática da origem geográfica das produções de jornalismo de dados e a maneira com a qual a sua distribuição está relacionada aos paradigmas predominantes do jornalismo como um todo.

A diminuição no número de instituições com finalistas em 2014 também poderia ser um indicativo de redução na diversidade dos

trabalhos reconhecidos, mas a contextualização dos dados favorece uma visão mais otimista. Das 35 organizações finalistas em 2014, apenas dez já haviam sido finalistas em edições anteriores do DJA, ou seja, mais de 70% dos indicados eram estreantes (ou faziam parte de um consórcio inédito entre organizações). Destas 25 organizações que apareceram na shortlist pela primeira vez, quatro acabaram se tornando vencedoras, mas este ainda não é o momento de falar delas.

Até temos instituições que conquistaram um número significantemente maior de nomeações como finalista do que as demais, mas essa situação não representa uma constante em todos os anos analisados, com a predominância variando a cada edição. O que temos ao tentar representar graficamente a distribuição de indicações entre as organizações é um típico gráfico de cauda longa, ou seja curvas cujo “prolongamento inferior é muito comprido em relação a cabeça” (ANDERSON, 2006). Isso é mostrado no gráfico 5.

Gráfico 5 – Distribuição de nomeações de finalistas entre instituições.

Fonte: Dados da pesquisa com sistematização própria.

Notas específicas: Devido à limitação de espaço, aproximadamente metade dos nomes de instituições não estão sendo exibidos. Um quadro com todas as instituições e a quantidade respectiva de trabalhos finalistas consta entre os apêndices desta dissertação.

Para os 206 finalistas das três primeiras edições do DJA, temos 113 instituições de origem. Isso dá menos de dois trabalhos por instituição, em média. Mas não há grande utilidade nesse número: interessa mais entender que 84 organizações, ou mais de 74% do total, tiveram apenas

uma indicação. Esse estado de coisas tem de fato vários pontos de convergência com a teoria da cauda longa de Anderson, pois além de se tratar de um fenômeno essencialmente contemporâneo, ele possivelmente decorre da alta disponibilidade, nesse caso, de recursos, própria da economia da abundância. Esse aspecto ficará mais claro ao falarmos dos softwares gratuitos utilizados por muitos dos ganhadores, perspectiva na qual melhor avançamos em nosso quinto capítulo, como parte do processo do jornalismo de dados.