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3 QUANTIFICAÇÕES DO DJA

3.3 QUANTITATIVOS GERAIS DOS GANHADORES

Há muito mais que poderemos dizer sobre os ganhadores do que sobre os finalistas, já que nos debruçamos com maior afinco sobre esse recorte de nosso corpus. Porém, interessa retomar os aspectos já discutidos com relação ao universo mais amplo de trabalhos reconhecidos pelo DJA, para assim tentarmos identificar se certas tendências se acentuam ou se atenuam.

Para 26 prêmios distribuídos em três anos, temos dez países vencedores. Como média, é uma distribuição que parece mais concentrada do que a dos finalistas, mas comparativamente o predomínio dos polos não é tão acentuado. Em nenhum ano os Estados Unidos chegaram a receber metade dos prêmios e no total sua participação não chega aos 30%. Metade dos países recebeu apenas um prêmio na história do DJA até então e apenas três países tiveram representantes vencedores em todas as edições. É possível visualizar essa relação no gráfico 6.

Gráfico 6 – Distribuição de vencedores por país.

Fonte: Dados da pesquisa com sistematização própria.

Temos quatro continentes representados entre os ganhadores do DJA, os mesmos que possuem finalistas em todos os anos: América do Norte, Europa, América do Sul e Ásia. A representação da América do Sul se limita aos prêmios recebidos pelo La Nación a cada ano. Quanto à Ásia, temos duas premiações em 2013, uma para Hong Kong (China) e outra para as Filipinas. Mas é preciso relativizar a origem do prêmio atribuído a Hong Kong, pois trata-se de uma produção da Thomson Reuters, a qual mencionamos rapidamente no item 2.2, assumidamente dirigida a um público ocidental.

Com relação a instituições, o quadro analítico é mais simples: apenas duas vezes uma mesma instituição ganhou mais de um prêmio em um mesmo ano. Em ambos os casos, os quais foram Jean Abbiatecci e Ask Media em 2013 e o The New York Times em 2014, a organização venceu em uma categoria que consideramos como efetivamente representativa de um modo de produção no jornalismo de dados, como explicado no item 2.1, e também recebeu a escolha do público. Ou seja, apenas um prêmio foi concedido pelo júri, o outro decorreu de uma apreciação popular.

O jornal argentino La Nación é o único com três vitórias, uma por ano, sendo a de 2012 uma menção honrosa. Ao mesmo tempo em que isso

parece indicar um bom desempenho da América Latina no jornalismo de dados, é preciso relembrar que o La Nación é a única instituição latino- americana a vencer no DJA e, mais do que isso, é a única organização Argentina a figurar entre os finalistas.

Um outro aspecto, também de cunho geopolítico, o qual podemos abordar de maneira quantitativa com relação aos ganhadores, apesar de não ter sido possível fazer esse levantamento em relação a todos os finalistas, é o idioma. Nos regulamentos das edições de 2013 e 2014 do DJA há explicitamente a exigência de que todas as inscrições sejam feitas em inglês e todos os trabalhos em outros idiomas serão aceitos apenas se acompanhados de traduções. Segue os trechos pertinentes:

Todas as inscrições devem ser feitas em inglês. Produções em outros idiomas que não o inglês serão aceitas desde que estejam acompanhadas por traduções do trabalho. Palavras incluídas em gráficos, bases de dados e aplicações também deverão ser traduzidas. Material de rádio deverá ser transcrito em inglês e material de vídeo deverá conter legendas em inglês. Se um trabalho originalmente publicado em outro idioma que não o inglês passar pela pré-seleção do júri, os inscritos podem ser solicitados a fornecer informações adicionais e traduções. (...) Não há taxas de inscrição, no entanto custos de tradução podem ser gerados para trabalhos em idiomas que não o inglês, os quais terão que ser cobertos pelos inscritos. (DAHUNSI, 2013)52

Não tivemos acesso ao regulamento de 2012 para podermos determinar se essas disposições passam a existir em 2013 ou foram pensadas desde a criação do projeto. Conforme fica evidente, elas representam uma desvantagem para participantes que não possuem o

52 No original “All submissions must be in English. Entries in languages other than English will be accepted provided that they are accompanied by translations of the work. Words included in graphics, databases and applications must also be translated. Radio material must be transcribed in English and video material must contain English subtitles. If a work originally published in a language other than English passes the pre-jury selection stage, applicants may be asked to provide additional information and translations. (…) There are no submission fees, however translation costs may be incurred for works published in languages other than English, which will need to be covered by the applicant”. Tradução nossa.

idioma inglês como nativo e podem até mesmo representar um impedimento de participação para produções de não-falantes do inglês que também não possuem recursos para produzir traduções.

Feitas estas considerações, não surpreende que mais de 65% das produções ganhadoras, ou 17 delas, tenham como idioma original de publicação o inglês. Dentre as nove restantes, temos três em espanhol, do La Nación, cujos links fornecidos na divulgação dos vencedores redirecionam para comentários sobre as reportagens em inglês, dois em alemão, sendo que um deles possui textos em inglês também, pois trata- se de um portfólio, dois em francês, sendo que um deles com uma versão em inglês, um em italiano, também com partes em inglês e um em russo. Esses dados também corroboram a predominância de Estados Unidos e Reino Unido evidenciada na análise dos locais de origem.

Encerramos por aqui nossa abordagem dos aspectos quantitativos do DJA, a qual serviu para descrever o universo do corpus que decidimos considerar, tanto em sua delimitação específica, quanto no conjunto que o engloba. Seguimos agora para a análise qualitativa das obras vencedoras.

4 ASPECTOS QUALITATIVOS NO CONTEXTO DO