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CAPÍTULO 3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

3.6 Quanto ao programa Associativismo

O programa Associativismo, segundo os próprios agricultores associados, teria que funcionar com um técnico agrícola por comunidade. A comunidade da Bela Vista teve um técnico muito ativo no período de implementação do programa:

Eu trabalhei praticamente 5 anos, né, na comunidade, e foi um grande desafio quando eu assumi o distrito. Quando fui designado para trabalhar na associação a recém estava começando, e essa Associação, quando ela surgiu, ninguém tinha muito claro, né? Então a gente começou a fazer várias reuniões com os trabalhos, bastante, e fazer o debate, mas isso eu te digo que foi um trabalho, que foi iniciativa minha como técnico. A gente não tinha cartilha pronta, não, e a gente foi lá e fez este trabalho. E começou fazendo um bater muito forte com a diretoria, então começou a ficar definido que eu iria fazer a parte mais técnica e a diretoria iria se envolver com a parte administrativa, documentos, dinheiro, com os pagamentos, com os recursos com os projetos.

Notamos o envolvimento da comunidade no programa: os agricultores estavam e ainda continuam muito envolvidos e empenhados juntamente com o técnico agrícola para constituir a associação

Nós montamos um planejamento que consiste a principalmente na visitação técnica, né, na assistência técnica nas propriedades, coisa que antes não tinha. Então se preferiu fazer um trabalho muito forte e aí, dentro desse trabalho de visitação, nós tínhamos várias categorias de agricultores assistidos, né. Então

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aquele agricultor mais interessado ou de ponta que tinha vontade de crescer e poderia aumentar sua produção, esse era visitado com uma frequência maior. Aquele agricultor intermediário que ainda não tinha definido bem o seu projeto da propriedade e aquele produtor que visivelmente dizia e que mostrava através do seu comportamento que estava bom como do jeito que estava. Então esse não era o foco do nosso trabalho, nosso foco era aqueles agricultores que tinham projetos, que queriam crescer e que também de certa maneira como foco mais forte da associação. Então através dele esse trabalho técnico em parceria com a diretoria da associação, e que eu levantava as demandas através das visitas e chegava para a diretoria e explicava, ó, precisamos...

Pensando no crescimento da região da Bela Vista, discutiam-se nas assembleias quais seriam as prioridades, quais seriam as metas, os projetos que os associados precisavam desenvolver. As assembleias continuam sendo muito importantes e decisivas nos rumos da associação, “nas assembleias nós montamos um plano estratégico para Associação, então nós criamos um projetinho de financiamento que originou, né, um bom recurso em caixa, e esse dinheiro serve pra financiar uma parte dos projetos”.

Devido aos repasses que vinham sendo feitos pela prefeitura municipal de Três Passos, a associação foi “fazendo caixa”: “todo recurso que a prefeitura repassava era utilizando para financiar projetos dos agricultores associados à associação da Bela Vista, isso gerou um volume de dinheiro muito grande para a associação, então conseguimos atender quase todo mundo que é associado”.

Sem dúvida, estes projetos fizeram e ainda fazem muito bem aos seus associados, pois foi através destes projetos que “conseguimos organizar os serviços de máquina através das patrulhas agrícolas, o óleo que o pessoal pegou serviu pra ampliar as áreas de pastagem, preparar novas áreas de pastagem para silagem”, e ainda, além dos projetos, foram feitos vários cursos de capacitação, realizados em dias de campo, com visitas nas propriedades, “e esse trabalho todo conjuntamente com as capacitações que foram feitas muitas, foi realizado visitas de estudo de campo, palestras, né, cursos de capacitação mais assistência técnica”.

Quando perguntado se de fato, como técnico agrícola, entende que existe uma consciência associativista nesta associação, o entrevistado afirma:

Sim, eu acredito claramente E isso gerou e criou uma consciência nova e vários associados relataram que nunca tinham recebido assistência técnica, alguns comentaram ‘você é o primeiro técnico que está vindo aqui fazer um trabalho como esse’, então só na questão na produção leiteira, este trabalho, nós conseguimos aumentar a produção em 40%.

66 Observamos, a partir desta entrevista com o técnico agrícola, que hoje é secretário municipal de agricultura do município de Três Passos/RS, o grande envolvimento que se teve, por parte de todos, técnico, associados, diretoria, para que realmente as coisas funcionassem, pois não foi um programa escrito, no qual se deveria seguir um roteiro, mas, sim, um programa que foi construído com a ajuda de todos os agricultores.

Todos os agricultores entrevistados fizeram parte de outros programas desenvolvidos no município. Um programa muito importante foi o PRORENDA: “eu participei do Prorenda, sim, vinha um pessoal de fora, a Alemanha tava envolvida nisso. A gente aprendeu muito com eles”; “eu utilizei algumas técnicas aprendidas no Prorenda na associação”; “mas eu acho que era uma coisa boa, eu não achei ruim, né, tu sempre foi aprendendo coisas”.

A importância deste programa para os agricultores foi imensa, mas consideram que ele deveria ter continuado, pois os dois programas poderiam ser continuidade um do outro: “é quase a mesma coisa, vamos dizer, Prorenda e associação têm o mesmo caminho, a cooperação”.

Participei do programa Prorenda. Que eu me lembro, recebemos um dinheiro da Alemanha, acho que hoje dá em torno de R$ 200,00 por sócio, era um bom dinheiro pra época. Aí a gente investiu na propriedade, eu lembro que foi feito uma plantação de milho comunitária, plantamos e fomos colher todos juntos.

Outro entrevistado comenta que os programas foram sendo esquecidos:

nós tivemos uns programa aqui que... que é esses programas, ele simplesmente foram esquecidos ou certamente, eu não sei, o município não quis mais trabalhar em cima, porque nós tinha Prorenda, nós tinha o Pronafinho que também praticamente desapareceu, que era através dos bancos, que o município não fez nada pra seguir.

O lamento pela falta de continuidade é um índice da relevância dos programas de apoio e incentivo para a vida dos agricultores em torno do tema associativismo. Mas também a educação foi lembrada como fator de coesão e desenvolvimento da comunidade, como veremos no próximo segmento.

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