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Organização cooperativa como alternativa de desenvolvimento social e local – as experiências no município de Três Passos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

LINHA DE PESQUISA III: EDUCAÇÃO POPULAR EM MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

ORGANIZAÇÃO COOPERATIVA COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E LOCAL – AS EXPERIÊNCIAS NO

MUNICÍPIO DE TRÊS PASSOS

Mestranda Gabriela Ledur

Orientador

Professor Dr. Walter Frantz

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GABRIELA LEDUR

ORGANIZAÇÃO COOPERATIVA COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E LOCAL – AS EXPERIÊNCIAS NO

MUNICÍPIO DE TRÊS PASSOS

Dissertação apresentada junto ao programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientador: Professor Dr. Walter Frantz

Ijuí, RS, Brasil Agosto de 2018

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AGRADECIMENTOS

Ao realizar esta dissertação, muitas pessoas foram envolvidas e contribuíram de diversas formas para a elaboração do presente trabalho. Primeiramente, quero agradecer aos meus pais, Cesar e Kátia Ledur, que, desde o início da minha vida acadêmica, sempre me incentivaram a estudar. Tenho consciência que se não fosse o apoio deles não seria a pessoa que sou hoje, não mediram esforços, abrindo mão dos seus próprios sonhos para que eu concretizasse ou meus. Serei eternamente grata a tudo que fizeram e fazem por mim até hoje.

A minha família, que entendeu meus momentos de ausência, que não foram poucos, mas que sempre compreenderam e me deram força para continuar, meu agradecimento especial.

Apesar de uma dissertação ser um trabalho solitário, tenho consciência que muitas pessoas contribuíram, intervieram na investigação e cada uma à sua maneira contribuiu para este trabalho estar finalizado.

Não posso deixar de agradecer o empenho e a disponibilidade do Sr. Mario Zart, presidente da Associação Bispo Pedro Fernandes Sardinha de Desenvolvimento, e do Secretário de agricultura da cidade de Três Passos, Sr. Evandro Colombo, pessoas de um coração enorme, que não mediram esforços para ajudar a concluir este trabalho e divulgar o associativismo como uma maneira de transformar vidas. Serei eternamente grata pelo que fizeram. Aos agricultores que participaram e colaboram com a pesquisa, meu “muito obrigada!”.

E por fim não poderia deixar de fazer um agradecimento muito especial ao meu professor e orientador, doutor Walter Frantz, pelo seu acolhimento, confiança e paciência que teve comigo.

Querido professor Walter, o privilégio foi meu de ser sua orientanda neste mestrado, algumas pessoas costumam tocar profundamente nossos corações, despertando algo dentro de nós que nem imaginávamos sentir e o senhor é uma pessoa dessas, encerro este ciclo, o mestrado, e posso dizer que tenho orgulho da pessoa que me tornei.

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RESUMO

Associação, cooperação e educação popular são o resultado de esforços das comunidades em busca de emancipação e desenvolvimento. Entender a relação entre elas pode ser a chave para a compreensão de processos de organização social que correm à margem das práticas institucionalizadas do capitalismo industrial. Este trabalho tem por objetivo investigar a relação entre as práticas educativas populares e as iniciativas de cunho associativo e cooperativo. Para tanto, aborda primeiramente o desenvolvimento histórico do associativismo e do cooperativismo no Brasil. Em seguida, aborda o conceito de educação popular, e estabelece relações entre essa e as iniciativas de associação e cooperação. Nesse ponto, busca-se firmar o entendimento sobre a educação popular como uma prática cooperativa e também sobre o caráter educativo das práticas cooperativas e associativas. Tendo por base essas concepções, parte-se, no capítulo seguinte, para a descrição das principais iniciativas de cunho associativo e cooperativo presentes na realidade estudada, o município de Três Passos - RS. Nesse momento, descrevem-se programas como o PRORENDA agricultura familiar no Rio Grande do Sul, o programa Semeando Saúde e Educação na Agricultura Familiar, e o Programa Associativismo Rural. Todos eles são abordados para contextualizar o objeto de análise da presente investigação: a associação Bispo Pedro Fernandes Sardinha, da cidade de Três Passos. No capítulo dedicado à análise e interpretação dos dados, apresentamos o material coletado na pesquisa de campo: entrevistas semiestruturadas com os sujeitos envolvidos no processo. Nelas, buscou-se detectar a relação entre educação popular e práticas associativas e cooperativas, indagando-se: Quais as práticas educacionais desenvolvidas no interior dessa experiência? As atividades educativas desenvolvidas nos espaços e ações dessa experiência permitem que os associados consigam aplicar na prática estes conhecimentos ensinados? Qual a importância dada à educação, voltada à cooperação, para o desenvolvimento das atividades dessa experiência? Das respostas e da interpretação dada a elas é que derivamos as conclusões do trabalho. Elas apontam para a relação intrínseca entre a natureza da educação popular e as práticas associativistas e cooperativistas.

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ABSTRACT

Association, cooperation and popular education are the result of efforts of communities seeking emancipation and development. Understanding the relationship between them may be the key to understanding processes of social organization that run counter to the institutionalized practices of industrial capitalism. This work aims to investigate the relationship between popular educational practices and initiatives of an associative and cooperative nature. To do so, it addresses first the historical development of associativism and cooperativism in Brazil. It then approaches the concept of popular education, and establishes relations between it and the initiatives of association and cooperation. At this point, it is sought to establish the understanding about popular education as a cooperative practice and also about the educational character of cooperative and associative practices. Based on these conceptions, the following chapter, for the description of the main associative and cooperative initiatives present in the studied reality, is divided in the municipality of Três Passos - RS. At that moment, programs like PRORENDA family agriculture in Rio Grande do Sul, the program Sowing Health and Education in Family Agriculture, and the Rural Associativism Program are described. All of them are approached to contextualize the object of analysis of the present investigation: the association Pedro Fernandes Sardinha, from the city of Três Passos. In the chapter dedicated to the analysis and interpretation of data, we present the material collected in the field research: semi-structured interviews with the subjects involved in the process. In them, we sought to detect the relationship between popular education and associative and cooperative practices, asking ourselves: What educational practices developed within this experience? Do the educational activities developed in the spaces and actions of this experience allow the associates to apply in practice this knowledge taught? What is the importance given to education, focused on cooperation, for the development of the activities of this experience? From the answers and the interpretation given to them is that we derive the conclusions from the work. They point to the intrinsic relationship between the nature of popular education and associative and cooperative practices.

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Território de Três Passos...27 Mapa 2 - Bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul...30

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Projeção do número de alunos na escola Bispo Pedro Fernandes Sardinha até o ano de 2015, nas séries

finais do ensino fundamental...47 Tabela 2: Evolução dos associados da Associação

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LISTA DE ANEXOS

Perguntas aos agricultores...83

Perguntas ao Secretário de Agricultura...84

Diário de Bordo 01...85

Diário de Bordo 02...88

Diário de Bordo 03...89

Estatuto da associação bispo Pedro Fernandes Sardinha de desenvolvimento...90

Certidão de Registro geral...93

Lei n° 4.752, de 19 de março de 2013 ...98

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LISTA DE SIGLAS

COREDE/NORC – Conselho Regional de Desenvolvimento

FIDENE – Fundação de Integração, Educação e Desenvolvimento do Noroeste do Estado

GTZ – Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Sociedade Alemã de Cooperação Técnica)

PLAGEDER – Curso Superior em Desenvolvimento Rural PMDR – Plano Municipal de Desenvolvimento Rural PRORENDA – Agricultura Familiar no Rio Grande do Sul

PSESAF – Programa Semeando Educação e Saúde na Agricultura Familiar SMA – Secretaria Municipal de Agricultura

SMEC – Secretaria Municipal de Educação Cultura

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...12

CAPÍTULO 1 - HISTÓRIA DO ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO NO BRASIL...19

1.1 Como nasceram e se desenvolveram as cooperativas no Brasil?...19

1.2 Educação Popular ...22

1.3 Organização cooperativa e as possibilidades de educação...24

CAPÍTULO 2 - O CONTEXTO LOCAL DAS INICIATIVAS ASSOCIATIVASE COOPERATIVAS...27

2.1 O município de Três Passos...27

2.2 O programa PRORENDA...33

2.3 O programa Semeando Saúde e Educação na Agricultura Familiar...40

2.4 O programa Associativismo Rural...49

2.5 A Associação Bispo Pedro Fernandes Sardinha...52

CAPÍTULO 3 - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS...54

3.1 Quanto ao início da associação...56

3.2 Quanto ao associativismo...57

3.3 Quanto aos produtos cultivados e à agricultura de subsistência...58

3.4 Quanto às dificuldades enfrentadas ...60

3.5 Quanto ao êxodo rural ...61

3.6 Quanto ao programa Associativismo ...64

3.7 Quanto à Educação Popular ...66

3.8 Síntese do capítulo: cooperação, associação e educação popular como pilares da cidadania...71

CONCLUSÕES...75

REFERÊNCIAS...80

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12 INTRODUÇÃO

O movimento cooperativo tem uma longa história e está inserido em diferentes contextos culturais, sociais, políticos e econômicos. Dito de modo amplo, o movimento cooperativo moderno europeu foi produto histórico das dificuldades econômicas e sociais decorrentes da Revolução Industrial, no século XIX. Este movimento espalhou-se por diversos espaços e territórios geográficos, à medida que suas economias foram sendo integradas à dinâmica das relações econômicas de mercado (FRANTZ, 2012).

Ao longo desse processo de expansão, a integração ao mercado trouxe problemas e desafios a diferentes setores das economias familiares. Os produtores familiares passaram a ver na associação e organização cooperativa um instrumento de soluções às dificuldades decorrentes das mudanças e transformações verificadas nas bases materiais de suas pequenas unidades econômicas, isto é, de suas propriedades familiares ou mesmo comunidades históricas de inserção social.

O sistema de cooperação não é algo novo, ele sempre existiu, baseado no trabalho de um determinado grupo ou na soma de esforços com o objetivo de superar dificuldades, solucionar problemas e gerar benefícios comuns aos associados e comunidade. Esses, em suas economias pessoais ou familiares, passam a interagir com seus semelhantes, através da reunião de esforços em atividades de produção e distribuição de seus resultados.

No caso do meio rural, “o associativismo é um instrumento vital para que uma comunidade saia do anonimato e passe a ter maior expressão social, política, social, ambiental e econômica” (FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, 2009, p. 2).

A agricultura familiar se destaca como uma atividade que busca integrar em um sistema associativo um determinado grupo de economias familiares com vistas à formação de uma organização mais estável e com mais poder nas relações de mercado. As economias familiares vislumbram, no associativismo e na cooperação, meios essenciais à manutenção das atividades agrícolas, ao fortalecimento dos agricultores e à permanência no meio rural.

Para além disso, o associativismo e o cooperativismo devem ser vistos como instrumentos de transformação social. Nas camadas sociais de renda inferior, podem abrigar diferentes processos educativos, basta considerarmos que o empreendimento cooperativo deve envolver a todos os seus associados em debates sobre o que fazer, isto é, sua organização e funcionamento, sobre seu desempenho e ações nas relações

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13 econômicas: “A educação para a cooperação, voltada à organização cooperativa, pode ser definida como uma ação “entre sujeitos”, que buscam construir acordos, influenciando-se em ideias e modos de pensar comuns, favoráveis à natureza da prática cooperativa” (FRANTZ, 2003, p. 2002).

Diante do quadro de dificuldades, o sistema associativista e cooperativista pode ser uma esperança, algo concreto que sobreviva como sistema coletivo, apesar dos problemas que temos hoje em uma sociedade cada vez mais individualista.

Nesse sentido, busca-se analisar e compreender o lugar e o papel da educação na organização e funcionamento desta iniciativa de cooperação. Especificamente, busca-se entender a relação entre associativismo e educação popular (ALDART; PEREIRA; ALENTEJANO; 2012; STRECK; ESTEBAN; 2013). Entende-se a educação popular como um processo que valoriza saberes de um determinado povo e suas realidades culturais com o objetivo de construir conhecimentos que viabilizem sua constituição em sujeitos e atores com poder de ação sobre suas condições de vida, estimulando um olhar crítico com relação à realidade que os engloba e influencia (TORRES, 2008).

Parte-se do pressuposto de que isso pode facilitar o desenvolvimento da comunidade na qual o educando está inserido, estimular a participação comunitária, utilizando os saberes das comunidades como referência de ensino-aprendizagem, valorizando os sujeitos sociais neste processo, tornando-o um lugar de receptividade e compromisso entre os associados.

O processo de ensino-aprendizagem na educação popular é visto como ato de conhecimento e de transformação social por não ser uma educação imposta, considerando-se que se baseia no saber da comunidade e incentiva o diálogo, visando também à formação de sujeitos com conhecimento e consciência cidadã.

Transformar a participação individual e familiar em participação grupal e comunitária se apresenta como uma “alavanca”, um caminho estratégico, que pode acrescentar capacidade produtiva, comercial e educacional a todos os associados, colocando-os em melhores condições para viabilizar suas atividades. A troca de saberes e a utilização de uma estrutura comum lhes possibilitam explorar o potencial de cada um e, consequentemente, conseguir maior crescimento, estabilidade e ganhos de suas economias familiares pela soma de esforços, de maior poder de atuação nas relações de mercado.

A união dos pequenos produtores em associações torna possível a aquisição de insumos, equipamentos com menores preços, melhores prazos de pagamento, uso

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14 coletivo de tratores, colheitadeiras, caminhões para transporte. Tais recursos, quando divididos entre vários associados, tornam-se acessíveis, pois reúnem esforços em benefício comum, bem como o compartilhamento do custo da assistência técnica do agrônomo, do veterinário, de tecnologias e de capacitação profissional.

Nesse sentido, o município de Três Passos/RS apresenta um histórico de iniciativas, a partir das quais realizamos a presente investigação. Há mais de duas décadas, o município de Três Passos/RS, localizado na Região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, vem desenvolvendo um trabalho voltado ao cooperativismo e ao associativismo em pequenas propriedades rurais familiares.

Partindo desta explanação, as perguntas que norteiam este projeto são: Quais as práticas educacionais desenvolvidas no interior dessa experiência? As atividades educativas desenvolvidas nos espaços e ações dessa experiência permitem que os associados apliquem na prática estes conhecimentos? Qual a importância dada à educação, voltada à cooperação, para o desenvolvimento das atividades dessa experiência?

Com base nestes questionamentos, o estudo busca subsídios nas cooperativas e associações, dentro do contexto da educação popular, fundado no desenvolvimento dos diversos projetos e programas de apoio à agricultura familiar, no município de Três Passos/RS, através da organização cooperativa. Certamente, tais elementos permitem diferentes leituras e interpretações sob diferentes hipóteses como:as associações e suas práticas cooperativas promovem mudanças na condição de vida de seus associados, através de processos educativos de educação, especialmente de caráter popular, estimulando práticas participativas, atitudes de cooperação, integração e comprometimento, influenciando e promovendo, assim, o desenvolvimento local. O desenvolvimento local como resultado das práticas associativas de cooperação é importante para a permanência dos agricultores familiares no meio rural.

A presente pesquisa aborda, especificamente, uma experiência de cooperação e associação localizada no município de Três Passos/RS, a “Associação Bispo Pedro Fernandes Sardinha de Desenvolvimento”, buscando por conhecimento e resultados, a partir da coleta de dados e informações. Essa tarefa é feita por meio de entrevistas semiestruturadas que combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto.

Como objetivo geral, busca-se: Investigar, analisar e interpretar os processos educativos desenvolvidos nas experiências cooperativas e associativas desenvolvidas no

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15 município de Três Passos. Como objetivos específicos, pretende-se: Identificar e caracterizar as economias familiares envolvidas na experiência de cooperação estudada; Verificar se o jovem que está inserido, hoje, na experiência de cooperação estudada participou de outros programas de associativismo e cooperação, desenvolvidos pelo município, e quais as contribuições que os outros programas tiveram para sua permanência no campo; Identificar o papel da mulher dentro da associação; Identificar os métodos educativos desenvolvidos pela experiência da cooperação estudada e verificar se foram e são importantes para o desenvolvimento da cooperativa e suas economias familiares associadas.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com revisão bibliográfica incluindo autores tais como Paulo Freire, Carlos Rodrigues Brandão, José Carlos Libâneo, Mario Osorio Marques e Walter Frantz. A abordagem da problemática da pesquisa está fundada em referenciais teóricos de concepção histórica e interpretação crítica da realidade social.

Por ser uma pesquisa qualitativa, a análise e interpretação dos dados obtidos durante a pesquisa serão feitas mediante o emprego de relatórios e de um banco de dados, contendo todas as informações que foram obtidas durante as entrevistas (GALLIANO, 1979).

Embora já existam estudos sobre organização cooperativa em processos locais de desenvolvimento, a presente pesquisa assenta suas justificativas em dois aspectos: primeiro, busca-se atualizar informações, dados e conhecimentos a respeito desses processos em bases empíricas atuais; segundo, o tema e as práticas do associativismo e cooperativismo sempre me instigaram em me aproximar dessa realidade pela via de uma abordagem científica. O fato de possuir experiência de trabalho com cooperativas de produtores de leite me despertou a curiosidade em pesquisar e conhecer como funciona uma cooperativa, considerando ser uma iniciativa complexa que envolve não só economia, mas também cultura, relações sociais, comportamentos, necessidades e interesses. No caso, trata-se de uma associação de agricultores familiares que organizaram uma cooperativa para dar conta das questões de suas economias familiares.

O critério para escolher a associação e as famílias entrevistadas foi a proximidade com a temática da investigação e a possibilidade de acesso aos sujeitos envolvidos no processo.

Pesquisar a realidade destes agricultores e o incentivo à permanência no campo, através de programas de apoio ao cooperativismo, voltados à educação e à prática do associativismo e cooperação, contribui para que novas demandas sejam percebidas, tais

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16 como melhoramento dos programas existentes ou até mesmo a elaboração de novos programas de incentivos para estes agricultores.

Parte-se do pressuposto de que isso facilita o desenvolvimento local, no qual os agricultores estão inseridos, pelas práticas da participação na iniciativa comum, utilizando os saberes das comunidades sobre cooperação como matéria-prima de ensino-aprendizagem, valorizando os sujeitos sociais neste processo, tornando-o um lugar de receptividade e compromisso entre os associados.

As associações e cooperativas voltadas para os agricultores desenvolvem um trabalho focado na qualificação de seus associados, com reuniões semanais, palestras, seminários, atendimentos domiciliares, visando a dar suporte ao agricultor, qualificando-o e incentivandqualificando-o-qualificando-o para que pqualificando-ossa tqualificando-ocar sua prqualificando-opriedade da melhqualificando-or maneira pqualificando-ossível.

Sendo assim, o associativismo, seja formal ou informal, proporciona condições para que o agricultor amplie seus conhecimentos a respeito da sua realidade, passando a assimilar melhor as técnicas agrícolas e administrativas, participando e interferindo, positivamente, no processo de comercialização. A organização em grupo de natureza associativa e cooperativa possibilita condições para obtenção de resultados na economia de escala, na participação, capacitação, utilização de máquinas e equipamentos, oferta de trabalho, preservação do meio ambiente, estabilidade e renda, assim como na utilização dos escassos serviços públicos.

Busca-se também saber se os aspectos acima contribuem para manter o pequeno proprietário rural na terra, evitando a fuga do homem do campo para a periferia dos centros urbanos e, em decorrência, podendo contribuir com o desenvolvimento local.

A educação é um processo social fundamental na vida dos seres humanos. Na cooperação, como um processo social, produz-se educação; sendo assim, a organização cooperativa, além de seus outros significados, também é um lugar social de educação. No processo da educação pode-se identificar práticas cooperativas e no processo da cooperação pode-se identificar práticas educativas (FRANTZ, 2002 p. 18).

A educação é um fenômeno social que ocorre na relação humana e acontece em diferentes lugares e de diversos modos. José Carlos Libâneo (1998, p. 22) a define como “o conjunto das ações, processos, influências, estruturas, que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais”.

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17 Afirma Carlos Rodrigues Brandão (1995, p. 9) que “não há uma forma única nem um modelo único de educação”. Ela acontece em diferentes ambientes e lugares, onde os seres humanos vivem. Escreve o autor que a educação é “uma fração do modo de vida dos grupos sociais” (1995, p. 10). Libâneo define a educação como “uma prática social que atua na configuração da existência humana individual e grupal” (LIBÂNEO, 1998, p. 22). Mario Osorio Marques (1996, p. 14) escreve que ela “se cumpre num diálogo de saberes, [...] na busca do entendimento compartilhado entre todos os que participam da mesma comunidade de vida, de trabalho, de uma comunidade discursiva de argumentação”.

A educação, como função construtora e reconstrutora dos espaços de vida, faz-se prefaz-sente pela via das organizações sociais, entendidas estas como lugares de cultura, de política, de economia, associando-se a processos de comunicação e interação pelos quais os membros de uma sociedade assimilam saberes, habilidades, técnicas, atitudes, valores (LIBÂNEO, 1998, p. 24).

Portanto, ela acontece em espaços de relações sociais. A cooperativa é um espaço dessa natureza, na qual podemos encontrar relações econômicas, culturais, sociais, de poder, de educação. No caso de uma organização cooperativa, essas relações têm como base os interesses, as necessidades de seus integrantes e os objetivos da associação. A educação na organização cooperativa atua na configuração dessa associação, levando-se em conta os interesses, as necessidades e os seus objetivos. Estes se fazem “força pedagógica” no processo da educação (FRANTZ, 2002).

Escreve Walter Frantz (2003, p. 18) que cooperativas nascem “da articulação e da associação de indivíduos que se identificam por interesses ou necessidades, buscando o seu fortalecimento pela organização e instrumentalização, com vistas a objetivos e resultados, predominantemente, de ordem econômica”.

A prática cooperativa como expressão das ações entre pessoas que se associam em razão de seus interesses ou necessidades é, certamente, também um lugar privilegiado de processos de comunicação, de interação, isto é, de educação. E, como tal, as organizações cooperativas também se constituem em “espaços pedagógicos” de educação e, consequentemente, também de poder.

No primeiro capítulo deste trabalho, será abordada a história do associativismo e do cooperativismo no Brasil, com o objetivo de caracterizar os conceitos e as práticas de associação e cooperação, recuperando a discussão teórica sobre organizações cooperativas e suas potencialidades educativas enquanto práticas econômicas.

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18 Contextualiza-se nesse ponto o cooperativismo como produto de lutas sociais pela constituição de poder nas relações de mercado em favor da melhoria de condições de vida das famílias a ele vinculadas. A seguir, abordam-se conceitos de educação, especialmente de educação popular, com o objetivo de subsidiar a análise e interpretação dos dados da pesquisa. Ainda que em amplos traços, aborda-se um histórico da educação popular no Brasil, com o objetivo de poder compreender o seu papel em organizações cooperativas, a partir de autores como Paulo Freire, Carlos Rodrigues Brandão (1995), Afonso Torres (2008), Conceição Paludo (2001) e Walter Frantz (2001; 2002; 2003).

No segundo capítulo, far-se-á a contextualização da comunidade local, a associação de agricultores e o município de Três Passos. O processo histórico destas famílias que vivem na comunidade na qual a associação está inserida, a política municipal em favor do desenvolvimento local, através dos diferentes programas de apoio à organização cooperativa no município, são temas abordados nesse ponto.

No terceiro capítulo, faz-se a análise dos dados obtidos durante a pesquisa, a partir de documentos, observações e gravações de entrevistas. É nesse ponto que aplicamos os conceitos abordados nos capítulos iniciais em um corpus específico, constituído pela experiência de educação associativa e cooperativa da Associação Bispo Pedro Fernandes Sardinha de Desenvolvimento, do município de Três Passos – RS. Com base na observação e reflexão acerca dos dados obtidos nessa fase é que apresentamos, no segmento final de nossa investigação, as considerações finais.

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19 CAPÍTULO 1 - HISTÓRIA DO ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO NO

BRASIL

Neste capítulo apresentamos primeiramente um levantamento histórico do cooperativismo, a fim de situar nosso objeto de estudo. Em seguida, traremos os conceitos de educação popular e o de educação cooperativa, com vistas a relacionar ambas as áreas.

1.1 Como nasceram e se desenvolveram as cooperativas no Brasil?

Para saber a origem do associativismo e do cooperativismo, precisamos recuar até à Pré-História, onde nossos ancestrais se utilizavam da caça e pesca coletiva, entre os indivíduos, tendo um objetivo extremamente comum.

O termo “cooperativa” é derivado do latim, cooperativus, que tem o significado de cooperar, colaborar, trabalhar com outros, e o próprio sentido etimológico aparece na terminologia jurídica para designar organização ou sociedade (FRÓES, 2001, p. 18).

O movimento cooperativo passou por diversas transformações, foi evoluindo conforme a sociedade também foi evoluindo.

O primeiro contato que o ser humano tem em grupo é com a nossa própria família, “a mãe e pessoas que o cercam têm consequências peculiares, de profunda importância para o seu desenvolvimento, dos quais nascem, inevitavelmente, as necessidades básicas de cooperação, ou, mais precisamente, a solidariedade natural que se desenvolve no grupo familiar (FRÓES, 2001, p. 20).

Com a chegada da Revolução Industrial, cada vez mais se começaram a exigir novas técnicas de produção, a contratação de grandes massas de trabalhadores, para trabalhar nas fábricas, nas quais o trabalho era desempenhado coletivamente, exigência dos grandes capitais na época. Foi surgindo por necessidade a Sociedade Anônima.

Ao tempo em que Robert Owen realizava esforços no sentido de dar nova visão às relações econômico-sociais, como já referido, William King, na Inglaterra, promovia a organização de trezentas entidades cooperativas, editando um jornal, o “cooperator”, cuja iniciativa não teve sucesso prático, mas plantou sementes. Em 1844, em Rochdale, distrito industrial de Manchester, Inglaterra, 28 trabalhadores em tecelagem, passando por grandes dificuldades, após uma greve malsucedida, resolveram fundar uma

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entidade que recebeu a denominação de “Sociedade dos Equáveis Pioneiros de Rochdale”, fundando uma cooperativa de consumo. Eles foram os primeiros a definirem as regras de funcionamento de um sistema cooperativo, as quais foram confirmadas pela experiência, graças ao bom senso e sabedoria de seus princípios, disseminados por todo mundo. (FRÓES, 2001, p. 41)

No Brasil, possuímos uma legislação específica que define a política nacional de cooperativismo, dada pela Lei nº 5.764 de 1971. São entidades de natureza própria, conforme artigo Art. 4º:

As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características:

I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;

II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes;

III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais; IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade;

V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade;

VI - quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral baseado no número de associados e não no capital;

Percebemos o caráter diferenciado das associações cooperativas já pelo teor dos incisos listados: o comprometimento pela participação, seja pela adesão voluntária, seja pela singularidade do voto e pelo quorum baseado no número de associados. E há ainda outras especificações, como segue:

VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral;

VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social;

IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social; X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa;

XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços.

Assim, as cooperativas são sociedades baseadas na cooperação, com a finalidade de satisfazer as necessidades coletivas, “o cooperativismo moderno se constitui como uma reação às dificuldades técnicas e políticas com o sentido de inserção social e de

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21 resistência à exclusão econômica, frente à lógica da acumulação do capital” (FRANTZ, 2012, p. 131)

Toda e qualquer cooperativa, bem como uma associação, pretende “a organização coletiva das atividades econômicas, visa atender não apenas às necessidades dos cooperantes, mas também aos seus interesses econômicos (FRANTZ, 2012, p. 134).

O associativismo nasceu a partir das necessidades dos homens somarem esforços para alcançar um objetivo comum. Primeiramente como uma maneira de sobrevivência da espécie humana, e mais tarde transformou-se em uma necessidade para enfrentar mudanças impostas por um sistema. Mas qual a relação entre associativismo e cooperativismo? Segundo Andrioli, o associativismo “é mais amplo que o cooperativismo, pois contempla, além da economia, também a organização em torno de questões sociais, políticas, culturais, religiosas, esportivas e de lazer” (ANDRIOLI, 2007, p. 34).

Já o cooperativismo, segundo Andrioli, “é um movimento bastante recente se comparado ao associativismo, e se caracteriza pela sua inserção na economia. A presença do cooperativismo ocorre através da cooperativa, uma empresa organizada para resolver problemas econômicos dos associados” (ANDRIOLI, 2007, p. 34). Isso não quer dizer que uma cooperativa tenha apenas visões econômicas, mas também dimensões políticas, sociais e culturais.

Em termos objetivos, façamos a seguinte pergunta: o que é uma Cooperativa? Para Frantz (2002, p. 75),

Uma organização cooperativa é, antes de tudo, uma associação de pessoas e não de capitais que se propõe atuar na perspectiva da economia dos componentes dessa associação, isto é, na perspectiva de sua racionalidade econômica como economias individuais. Porém, ao fazê-lo, essa associação cria, organiza e estrutura um instrumento adequado que vem a ser a empresa cooperativa: uma empresa comum com o objetivo de apoiar e complementar a administração das economias individuais, dando-lhes suporte no jogo competitivo do mercado.

O movimento cooperativo tem uma longa história e está inserido em diferentes contextos culturais, sociais, políticos e econômicos. Dito de modo amplo, o movimento cooperativo moderno europeu foi produto histórico das dificuldades econômicas e sociais decorrentes da Revolução Industrial, no século XIX. Este movimento espalhou-se por diversos espaços e territórios geográficos, à medida que suas economias foram sendo integradas à dinâmica das relações econômicas de mercado: “O cooperativismo moderno se constituiu como uma reação às dificuldades técnicas e políticas com o sentido de

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22 inserção social e de resistência à exclusão social econômica, frente à lógica da acumulação do capital” (FRANTZ, 2013, p. 274).

Nesse sentido, a experiência cooperativa e associativa também incide sobre as práticas da educação popular, como veremos no próximo segmento.

1.2 Educação Popular

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar (BRANDÃO, 1995, p. 7)

Ao abordarmos o tópico da educação popular no âmbito da cooperação e do associativismo, estamos nos acercando do nosso objeto de estudo a partir do entendimento de que há relações intrínsecas entre as formas de associação e cooperação e as iniciativas de caráter educativo (GOHN, 1999; 2003). Como vimos, o que leva as comunidades a somar esforços para crescer economicamente é a percepção de que se podem construir alternativas de melhoria nas condições de vida a partir do trabalho conjunto.

O mesmo vale para aquele que é talvez o maior dos bens que a cultura oferece: a educação. Também ela tem sido objeto de esforço coletivo para a melhoria das condições de vida, sobretudo quando observamos o contexto da educação popular – aquela que ocorre fora do eixo formal e que adentra a cultura e o cotidiano das populações atendidas. A relação entre as práticas educativas, cooperativas e associativas mostra-se profícua em diversos contextos justamente por responder ao anseio de crescimento material e espiritual das comunidades – em especial, daquelas menos favorecidas.

Em termos conceituais, há dúvidas sobre a exata definição da educação popular: “O que é educação popular?”. Para Torres (2008, p. 13), não existe uma única e/ou absoluta compreensão ou definição de educação popular. Ela parte, todavia, primeiro do reconhecimento da existência e depois do protagonismo histórico dos sujeitos e dos coletivos evoluídos.

Todavia, há alguns indicadores, se considerarmos a evolução e as características historicamente observadas nas iniciativas de cunho popular:

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23

A educação popular se constrói historicamente de forma orgânica na conjuntura social e política. Sua origem e teorização é basicamente latino-americana. Ou seja, no cotidiano de históricas desigualdades da América Latina sujeitos e coletivos procuram e continuam procurando por si próprios elaborar experiências educativas em que participam ativamente se ressignificando como sujeitos de sua história (ANDRIOLLI; SCHÖNARDIE; FRANTZ;2016, p. 18).

Há a forte presença da luta contra as desigualdades na definição dos autores. Outros elementos podem ser adicionados ao conceito a partir do entendimento de Nogueira: “Entendo a educação popular como o esforço de mobilização, organização e capacitação das classes populares; capacitação cientifica e técnica. Entendo que [...] é preciso poder, ou seja, é preciso transformar essa organização do poder burguês que está aí, para que se possa fazer escola de outro jeito” (apud ANDRIOLLI; SCHÖNARDIE; FRANTZ; 2016, p. 33).

Esse caráter informal, que corre à margem do sistema educacional, é uma constante nas definições de educação popular: “a educação popular parece não só existir fora da escola e à margem, portanto de uma “educação escolar”, de um “sistema de educação”, ou mesmo “da educação”, como também parece resistir a tudo isso” (BRANDÃO, 1995, p. 05).

A confluência entre a educação popular e os esforços cooperativos e associativos está presente no entendimento de diversos teóricos (ANDRIOLLI, 2007; BRANDÃO; ASSUMPÇÃO, 2009; FRANTZ, 2001): são iniciativas que se embasam na capacidade de diálogo e de organização das comunidades humanas para vencer os obstáculos de toda ordem que as impedem de emancipar-se. Nesse sentido,

a capacidade de aprender, condição para a educação, é decorrente de necessidades humanas, do conjunto de desafios que as mulheres e homens encontram para resolver problemas da sua vida. Assim, podemos afirmar que o início da aprendizagem humana procede do ato cooperativo inicial em que, diante de problemas concretos vivenciados, os seres humanos foram capazes de encontrar soluções e reconstruí-las através de seus coletivos. A aprendizagem é um processo cooperativo e a cooperação volta a ser um permanente processo de aprendizagem: a prática social da convivência humana. O cooperativismo carece do espaço educativo para se reproduzir e a educação, baseada na convivência, decorre das relações cooperativas das pessoas (ANDRIOLLI, 2007, p. 45).

Ao reconhecermos as contribuições da educação popular para a cooperação e vice-versa, estamos reafirmando o impulso de emancipação que preside ambas as iniciativas. Foi um longo caminho, no entanto, o da educação popular em nosso país. Esteve

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24 historicamente vinculado à mudança do modelo econômico, como nos ensina Carlos Rodrigues Brandão

Apenas após a Primeira Guerra Mundial, a partir de 1920, é que acontece entre nós o que se poderia chamar de uma ampla luta em favor de uma primeira educação popular. O deslocamento do capital da agricultura para a indústria, da varanda das grandes fazendas para as janelas dos edifícios pioneiros; o surgimento de um empresariado progressista, se comparado com os senhores do café e da cana; a organização de grupos e partidos políticos de tendências liberais colocaram a questão da democratização da educação e da construção, através também de seus efeitos, de uma sociedade democrática, entre os principais temas do período (BRANDÃO, 1995, p. 20).

No entrelaçamento das condições materiais com as necessidades de cunho educativo,estão as primeiras iniciativas de educação popular, no contexto de um capitalismo que se reestruturava e passava a se constituir pela base industrial. As possibilidades de cooperação se apresentam, no entanto, como outra via de crescimento, para além ou também à margem da ordem capitalista estrita (MARX, 1988). É nesse contexto que a educação cooperativa germina. Nele é que se podem entender as possibilidades de educação em organizações cooperativas, tema do próximo segmento.

1.3 Organização cooperativa e as possibilidades de educação

A cooperação, segundo Frantz (2001, p. 242), “é um conceito, de certa forma, ambíguo, permite múltiplos usos. É usado para definir ações, relações entre os indivíduos, ou é empregado como um conceito de organização institucional”.

Na associação, todos os associados possuem algum conhecimento; na maioria dos casos, este conhecimento não é conhecimento científico, e sim um conhecimento de vida, de experiência, que se fortalece cada dia, nas dificuldades que os agricultores encontram no seu dia a dia. No meio rural, existem os ensinamentos que se perpetuam de geração para geração, de vizinho para vizinho, de localidade para outra localidade, constituindo-se verdadeiros centros de educação popular, de conhecimentos do povo. Walter Frantz (2002, p. 34) afirma que

O conhecimento aproxima as pessoas e, portanto, pode dispor para a cooperação. Não existe cooperação sem conhecimento. A educação é um processo que se interpõe, entre a cooperação e o conhecimento, como um elo, aprofundando e consolidando ambos.

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25 relações educativas, assim, “o processo educativo, seja ele formal, não-formal ou informal, sempre é uma ação social, uma vez que está baseado nas relações que se estabelecem entre sujeitos, entre educadores e educandos, que se transformam em aprendizes um do outro” (ANDRIOLLI, 2007, p. 40).

As relações associativas e cooperativas abrigam processos educativos, considerando-se que o empreendimento cooperativo necessita do envolvimento de todos os seus associados em debates sobre o que fazer, isto é, sua organização e funcionamento, sobre seu desempenho e ações nas relações econômicas.

Organizações cooperativas abrigam diferentes práticas e ações de educação. Nessas práticas ou ações educativas podemos encontrar interações dos tipos comunicativo ou estratégico, constituindo campos de educação e espaços pedagógicos, organizados no contexto da correlação de forças e interesses que agem sobre a produção, sua posse e distribuição (FRANTZ, 2012, p. 92)

A educação é um processo social fundamental na vida dos homens: “Na cooperação como processo social, produz-se educação, sendo, assim, a organização cooperativa, além de seus outros significados, também um lugar social de educação. Entrelaçam-se e potencializam-se a educação e a cooperação como processos sociais” (FRANTZ, 2001, p. 243).

Normalmente, os agricultores apresentam as mesmas dificuldades de produção, de acesso ao mercado e assistência técnica. As associações tendem a ajudá-los a resolver problemas que são comuns a todos e, inclusive, a melhorar o desempenho econômico das propriedades. O associativismo também é um dos caminhos para as famílias de agricultores se empoderarem e buscarem maior inserção e visibilidade na sociedade (BALEM, 2016, p. 44).

Promover a oportunidade destes agricultores crescerem, de uma atuação individual para uma atuação coletiva, grupal, é uma garantia de renda e transformação social destas famílias. Assim, Walter Frantz (2002, p. 9) diz:

O associativismo e o cooperativismo são práticas sociais com validade atual e pertinentes à realidade de um mundo em transformação. O seu sentido econômico lhe empresta a importância política e social. Para muitas pessoas e populações, a associação e a cooperação tornam-se, novamente, elementos fundamentais à construção de seus espaços de vida. A organização cooperativa, para além da expressão material, contém também expressões culturais, políticas e sociais que se somam aos interesses, objetivos e necessidades de seus associados e se fazem presentes no funcionamento de uma cooperativa, constituindo-se poder.

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26 Percebe-se que há diversos aspectos comuns para além das especificidades da cooperação e da associação. A confluência das necessidades humanas implica respostas em nível conjunto, pela organização dos indivíduos, e isso também remete às práticas educativas, em sentido amplo:

O homem educa e é educado, aprende e ensina em um processo de convivência com os seus semelhantes, seja por uma relação cooperativa, ou competitiva. Pelo conhecimento, pela educação, pela aprendizagem, constrói os sentidos de sua existência. O conhecimento é produto da capacidade de pensar e viver o mundo, de atribuir significados à realidade, é criação (FRANTZ,2001, p. 250).

A educação cooperativa é talvez uma das respostas mais efetivas para a dinâmica das comunidades que buscam o desenvolvimento, já que nesse contexto os atores envolvidos

Educam-se para a cooperação, produzem conhecimentos e aprendizagens necessárias aos fins da cooperação. A educação é um processo cooperativo, desde que esteja voltado à emancipação humana, um processo interativo e democrático de diferentes vozes que se fazem sujeitos da sua história pela ação comunicativa, pela cooperação na construção dos seus espaços de vida, submetendo-se essas diferentes experiências de vida, suas reflexões e argumentos a um diálogo reconstrutor das relações e práticas sociais decorrentes (FRANTZ, 2012, p. 92).

Está em jogo, sempre, a capacidade humana de autonomia diante da realidade, de buscar respostas para seus problemas, no interior dos grupos sociais. No próximo capítulo, vamos entender como essa dinâmica de criação opera em termos da realidade local.

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27 CAPÍTULO 2: O CONTEXTO LOCAL DAS INICIATIVAS ASSOCIATIVAS E

COOPERATIVAS

Neste capítulo abordaremos as iniciativas de cooperação e associação no contexto local, objeto da presente investigação. Com isso, visamos compreender a configuração da experiência vivida pela comunidade local. Informações de cunho geográfico, econômico e social serão trazidas nesse ponto. Iniciamos pela descrição do município de Três Passos: características, história, geografia, sociedade.

Na sequência, descreveremos dois programas de cunho associativo e cooperativo: o PRORENDA e o Programa Semeando Saúde e Educação na Agricultura Familiar.Trazendo nesse ponto os fundamentos de ambos os programas, procuramos identificar suas propostas no contexto da cooperação e do associativismo.

Finalmente, abordamos a experiência da Associação Bispo Pedro Fernandes Sardinha e o Programa Associativismo Rural, voltando nosso olhar para a experiência associativista em nível local. A partir dessa descrição temos delineados os elementos essenciais da investigação. Iniciemos pelo município de Três Passos.

2.1 O município de Três Passos

O município de Três Passos, assim como outros municípios próximos, iniciou seu processo de formação a partir da conquista do território das Missões, à margem esquerda do Rio Uruguai, a partir do ano de 1801, quando Portugal toma posse definitivamente do território das Missões. A partir desta data, a coroa portuguesa volta seus olhos para a rica região das “Matas do Uruguai”, segundo Graffitti (2004, p. 27).

Mapa 1 – Território de Três Passos

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28 A ocupação do território na época foi um marco para a construção de uma nova sociedade, muito diferente da sociedade construída sob o controle dos jesuítas. Enquanto nas missões tínhamos as bases fincadas no latifúndio, na criação de gado e no plantio de milho, mandioca, legumes frutas e erva-mate, na região noroeste as terras estavam voltadas à pequena propriedade rural, com uma agricultura de subsistência. Terras estas que mais tarde receberiam descentes de alemães e italianos, dentre tantos outros que colonizaram a região.

Por serem terras nativas, sem antes nunca terem sido exploradas, se tratava de terras produtivas, o que despertou a curiosidade dos portugueses, que viam nelas uma terra altamente rentável aos seus interesses. Luís Gustavo Graffitti, na obra Três Passos: Imigração e Colonização (2004, p. 27) observa:

Desde muito cedo ficou patente que o Noroeste era uma região vasta, rica em madeiras, terra fértil para práticas agrícolas, e o mais importante, pouco povoado. Verdade é eu a região era habitada por índios e caboclos, mas, a Lei das Terras de 1850, praticamente impossibilitou a aquisição de propriedades rurais por parte dos trabalhadores nacionais pobres. Segundo esta lei, o acesso à terra só poderia ser feito através da compra do lote e não mais pela grilagem ou sistema de posse.

Devido ao grande número de habitantes na região noroeste, políticas públicas começaram a ser pensadas a partir de duas grandes preocupações:

Primeira e mais urgente era garantir a posse da terra para o Império do Brasil, num contexto de preservação da fronteira sempre disputada entre Brasil e os países platinos. A segunda era trazer imigrante branco para “branquear” a população, dentro de um contexto maior criado pelas elites brasileiras em todos os cantos do país onde houve o uso de escravos negros (GRAFFITTI, 2004, p. 27).

Segundo Hugo Antonio Veit, na obra Memórias de Três Passos e Municípios Descendentes

a solução apresentada por uma comissão militar que percorreu a região entre 1860 e 1862, era a criação de núcleos estratégicos ao longo da fronteira (margem esquerda do rio Uruguai) que povoasse e ao mesmo tempo garantissem a posse em caso de uma provável invasão castelhana. Desta forma, optou-se pela criação de três colônias militares, a saber: na foz do rio Turno, na foz do rio da Várzea e outra entre os rios Santa Rosa e Buricá. Com o estouro da guerra do Paraguai (1865/1870), a instalação de tais colônias ficou adiada (VEIT, 1996, p. 345).

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29 Em 15 de janeiro de 1879, através do Decreto Imperial nº 7221, foi criada a Colônia Militar de Alto Uruguai, com a função de guardar e vigiar as terras do Noroeste, Picada Geral, antiga estrada que a ligava ao município de Palmeira das Missões e tinha como limites originais a oeste a República Argentina.

Pelo fato de a colônia estar isolada dos grandes centros da época, apresentava diversas dificuldades, “apesar da existência da atividade extrativa, a região só alcançaria pleno desenvolvimento se as florestas fossem transformadas em lavouras, dando um dinamismo econômico e a ocupação humana fosse feita por imigrantes” (GRAFFITTI, 2004, p. 28).

Para ajudar nos custos com manutenção da Colônia, recebiam ajuda financeira de Portugal, que enviava recursos financeiros, imigrantes e soldados que participavam ativamente nos serviços dentro da colônia, como a construção de estradas, muito precárias na época, casas, ruas, praças e o quartel que abrigou por muitos anos a colônia. Mas sem dúvida o que permanece até hoje e em bom estado é o cais do porto, localizado às margens do rio Uruguai, divisa da fronteira de Brasil com Argentina, onde foi construída uma escadaria com 37 degraus ligando as ruas da vila até o nível do rio.

Para além disso, os militares eram responsáveis pela “distribuição e demarcação de lotes para quem quisesse instalar-se no povoado. Foram demarcados tantos lotes urbanos como rurais e doados a qualquer pessoa que se dispusesse a ficar morando e produzindo por, no mínimo, cinco anos, quando então receberia título definitivo da terra” (GRAFFITTI, 2004, p. 30).

No ano de 1882, distante a cerca de 35 quilômetros da Colônia, da Picada Geral, que ia do que hoje é o município de Campo Novo até a Vila Militar, foi erguida uma casa de guarda, que na época tinha a incumbência de vigiar e proteger a precária estrada. Estrategicamente ou não, o local foi escolhido por contar com três córregos de água potável, abundante na época, que consequentemente serviria para os homens e animais, recebendo a todos os viajantes com hospitalidade e generosidade. Este local primeiramente ficou conhecido como “Pouso dos três passos”.

O mapa a seguir mostra o território do Rio Grande do Sul, o qual é banhado por três grandes bacias hidrográficas: Rio Uruguai, Guaíba e Litorânea. A bacia hidrográfica do Rio Uruguai é formada pelo rio Uruguai, rio mais extenso do Estado, e seus afluentes. Este rio desemboca no Rio da Prata, que se localiza em Uruguai e Argentina. O município de Três Passos, conforme o mapa, localiza-se na região da Bacia Hidrográfica do Rio Uruguai, sendo que o município se encontra totalmente inserido na Bacia Hidrográfica

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30 Turvo Santa Rosa-Santo Cristo, sendo seu território drenado por afluentes do Rio Uruguai.

Mapa 2 - Bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul

FONTE: Guia Geográfico do Rio Grande do Sul: Disponível em: http://www.brasil-turismo.com/rio-grande-sul/hidrografia.htm. Acessado em 02/08/2017 às 14:49

Devido ao alto custo de manter tropas militares na colônia, em 29 de janeiro de 1913, a Colônia Militar foi extinta, passando o total controle dela ao então presidente, Sr. Hermes da Fonseca, passando a ser controlada pela administração civil do Rio Grande do Sul.

Estas terras sempre foram muito produtivas, não foi à toa que despertaram o interesse de Portugal. Entre os anos de 1920 e 1944, vários imigrantes vindos das mais diversas partes do estado do Rio Grande do Sul chegaram a um pequeno povoado, a região do Alto Uruguai. Os recursos eram escassos, “a vontade de vencer, os desafios, as dificuldades e os contratempos que envolveram esses colonos parece-nos algo ilusório” (GRAFITTI, 2004, p. 45).

A colonização das terras devolutas mantinha seus imigrantes presos à terra, tirando dela o alimento, sustento, riqueza e o crescimento econômico das próprias famílias. Além de agricultores, os colonos também possuíam outras profissões, como carpinteiro, marceneiro, dentista etc.

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31 Com a colonização dos espaços urbanos e rurais, determinada pelas distâncias dos grandes centos, fez com que, mesmo que de forma lenta, a comunidade ganhasse força e consequentemente espaço: “Cada vez mais e mais famílias chegavam para fixar residência na boa terra vermelha, fértil e generosa” (GRAFITTI, 2004, p. 47).

No ano de 1933, devido ao grande crescimento econômico e populacional da Colônia de Três Passos, os dirigentes municipais de Palmeira das Missões transformam-na no 5º Distrito. A partir deste ato, o distrito de Três Passos inicia uma nova fase histórica, com descendentes de alemães e italianos que, na busca de terras férteis e produtividade agrícola, acabaram instalando-se na cidade.

Devido à ocorrência da Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro dedicava uma atenção especial às áreas de colonização germânica e italiana, o movimento de chegada de novos colonizadores nunca parou, era um movimento contínuo. Mas a região não recebia apenas imigrantes alemães ou italianos. Após o término da Segunda Guerra Mundial, o processo de imigração se intensificou em todo o território brasileiro, eram pessoas que acabaram fugindo da guerra que arrasou a Europa.

Em 28 de dezembro e 1944, sob o decreto lei nº 716, assinado pelo general Ernesto Dornelles, foi criado o 92º município do estado do Rio Grande do Sul, Três Passos/RS.

Apresentando um futuro econômico promissor, as terras férteis do 92º município do Estado, atraem cada vez mais colonos que querem construir uma vida melhor e povoar os campos fecundos, cobrindo-os com plantações de alimentos mesmo que os primeiros tempos fossem difíceis. (GRAFITTI, 2004, p. 51)

O município de Três Passos, conhecido como Capital da Região Celeiro, tem como marca a atividade agrícola minifundiária, ou seja, pequenas propriedades rurais. A cadeia produtiva do município é organizada, pois existe no município a empresa JBS, que possui um frigorífico que trabalha no sistema de integração, isto é, trabalha em parceria com o agricultor, garantindo assim a compra da ração, assistência técnica e medicamentos. Devido a esta parceria com a empresa JBS, o município também criou uma parceria com os produtores de suínos, uma força de incentivo à atividade da suinocultura, conforme o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural de 2016 (p. 31).

Por sua vez a administração municipal criou e mantém aviários com o PES – Programa de Extensão da Suinocultura que incentiva a atividade no município. Através da Lei municipal nº 4.296/2009 o agricultor que ingressar na atividade recebe um subsídio da administração municipal, com o auxílio na execução de terraplanagem, cascalhamento no acesso ao pátio, construção da esterqueira, e

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32

auxílio financeiro determinado pelo tamanho do empreendimento conforme o número de animais alojados.

Outra atividade muito presente no município é a avicultura. O município de Três Passos não possui nenhuma empresa instalada no município, sendo que toda a produção de aves é vendida ao frigorífico Mais Frango, localizado na cidade de Miraguaí, município vizinho de Três Passos. Assim como a empresa JBS, a empresa Mais Frango também trabalha com o sistema de integração, e por parte do poder público também há o incentivo, de acordo com o PMDR de 2016 (p. 31): “Através da Lei nº 4.511/2011, o município de Três Passos dispõe sobre os subsídios aos avicultores que recebem auxílio à terraplanagem, acesso e cascalhamento à propriedade, além de subsídio financeiro por ave alojada”.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Agricultura – SMA, do ano 2016, a atividade que vem se destacando também no município é a agropecuária. A atividade leiteira vem sendo destaque, exerce importante papel socioeconômico no município, e também já rendeu até certificado como “Município Amigo do Leite”, no Congresso Internacional do Leite, promovido pela Embrapa Gado de Leite, Instituto Gaúcho do Leite (IGL), Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), FAMURS e Emater-RS.

A administração municipal vem incentivando a produção leiteira com leis municipais específicas com subsídio em horas máquinas na propriedade, subsídio para inseminação artificial e repasse de óleo diesel para as associações manterem os círculos de máquinas. Além disso, a administração mantém1 trator e 1 ensiladeira para auxiliar os agricultores que ainda não possuem maquinário, e disponibilizando apoio técnico com 1 técnico e 1 veículo por associação, totalizando 5 técnicos e 5 veículos. No ano de 2015, o município de Três Passos foi reconhecido através do Programa de Associativismo Rural no Congresso Internacional do Leite em Porto Alegre- RS, ficando entre os 10 melhores municípios com políticas voltadas à cadeia leiteira, sendo certificado como um Caso de sucesso e recebendo o título de Município Amigo do Leite. Três Passos possui um laticínio com fábrica de queijos com capacidade de receber até 100.000 litros por dia e mais de 10 empresas compradoras de leite atuando no município, sendo a comercialização o principal problema encontrado na cadeia produtiva leiteira no município de Três Passos (PMDR, 2016, p. 32).

A produção de grãos também é destaque no município, produzindo-se soja, milho e trigo: “Existe uma cadeia produtiva já organizada e estruturada para atender os produtores de grãos com silos, assistência técnica e insumos e maquinários disponíveis” (PMDR, 2016, p. 32).

Com o êxodo rural, movimento que ocorre nos dias de hoje, a cultura da soja está ganhando ainda mais força no município. Onde antes se localizavam casas e propriedades,

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33 hoje elas dão espaço a grandes lavouras de soja, as quais, devido às novas tecnologias, estão mais fáceis para a produção em grande quantidade.

A produção de milho também cresceu no município, “principalmente nas pequenas propriedades produtoras de leite, carne e ovos, pois o grão entra na dieta do animal. Na forma de grãos inteiros, rações e silagem” (PMDR, 2016, p. 33).

Outra produção desenvolvida no município é o trigo, “praticamente o único grão cultivado no período de inverno, e a sua área é bem menor se compararmos com a cultura da soja” (PMDR, 2016, p. 33). Devido ao custo elevado na produção e aos riscos decorrentes de fatores climáticos, alguns agricultores têm abandonado esta produção, optando pelo cultivo da soja.

E, por fim, existe também uma produção um pouco nova no nosso município, a produção de fumo, cultura típica das pequenas agriculturas familiares, “estando presente em aproximadamente 350 propriedades. O plantio do fumo é mais difundido em dois distritos, o distrito de Floresta e o Distrito de Bela Vista, nas localidades de Barra da Romana, Romana Seca e linha 93” (PMDR, 2016, p. 32).

Atualmente as grandes dificuldades no setor primário do município são a mão-de-obra e o êxodo rural, dificultando assim novos projetos para o desenvolvimento da agricultura.

A grande oferta de empregos em outros setores como na construção civil e comércio, impulsionados pelo bom momento de nossa economia, ocasionam a migração de mão-de-obra das atividades agropecuárias para as atividades urbanas (PMDR, 2016, p. 40).

Entre os fatores responsáveis pelo êxodo rural, cresce o número de jovens que não permanecem no campo, a falta de interesse de novas famílias de ingressarem em projetos produtivos, dificuldades em obter crédito e de financiamentos de novos empreendimentos, a falta de água ainda em algumas propriedades e a dificuldade de obter energia elétrica de boa qualidade nas localidades rurais do município.

2.2 O programa PRORENDA

Há mais de duas décadas, o município de Três Passos vem implementando políticas públicas e ações em favor da agricultura familiar. Um dos programas implementados pelo município com características associativistas e cooperativistas

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34 chama-se programa PRORENDA – Programa de Viabilização de Espaços Econômicos das Populações de Baixa Renda.

Com visão associativista, o principal objetivo deste programa era a melhoria sustentável da qualidade de vida dos pequenos agricultores do estado do Rio Grande do Sul, com base na mobilização do seu potencial de autogestão e mínima intervenção estatal.

O programa PRORENDA nasce a partir de uma política pública:

o primeiro governo civil pós-período militar definiu uma nova Política Nacional de Desenvolvimento Rural (PNDR) que propunha modificações profundas nas políticas públicas, prevendo maior facilidade no acesso à terra através da implementação de instrumentos de reforma agrária, mas por outro lado mantinha basicamente inalterados os tradicionais instrumentos de fomento para a agricultura (crédito e preços mínimos) (BROSE, 1999, p. 79).

Durante o processo de redemocratização do país, houve um acordo entre Brasil e a República Federal da Alemanha.

A Alemanha se encontrava internamente em um processo de aperfeiçoamento dos instrumentos de cooperação com outros países. As conclusões desse processo interno de estudos e seminários apontavam para a necessidade de se implementar projetos seguindo as linhas básicas de i) fortalecimento da auto-ajuda das populações beneficiárias e ii) para a co-gestão participativa dos projetos, como imperativos para o sucesso de processos de desenvolvimento, em especial no meio rural (BROSE, 1999, p. 79).

O programa foi desenvolvido em parceria com o Ministério Federal de Cooperação Econômica (BMZ) da Alemanha, com as atenções voltadas à agricultura familiar. Para Brose (1999, p. 58), “o desenvolvimento local, baseado na agricultura familiar, depende fundamentalmente da intervenção estatal, regulando as assimetrias do mercado através de políticas públicas”. Já aqui se podem destacar os traços de educação popular mesclados às iniciativas de cooperativismo e associativismo:

Ao analisar as atividades desenvolvidas com as famílias da agricultura familiar, pode-se afirmar que representa também um processo de educação para o associativismo e o cooperativismo. Por meio dele foram desencadeados processos sociais de participação, em diversos níveis, somando-se ação e reflexão, pesquisa e ação (FRANTZ, 2012, p. 204).

Outra questão a ser retratada é o fato de que os grandes monopólios ou agroindústrias estabelecem contratos bem amarrados com os agricultores, no sentido de fornecimento de crédito e insumos aos produtores, que em troca precisam vender,

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35 entregar seus produtos para aquela determinada indústria, geralmente a preços bem abaixo do mercado. Todo este processo gera um empobrecimento da agricultura familiar, ficando difícil de sobreviver e concorrer com os grandes mercados.

Ao contrário dos demais setores da economia, na agricultura – especialmente a de cunho familiar – não se aplicam as leis do “livre mercado”. Na história moderna o desenvolvimento da agricultura foi e é condicionado pelas intervenções das políticas públicas. As instituições públicas atuantes no espaço econômico condicionam as regras e os parâmetros que definem como os produtores se inserem no mercado. Portanto são necessárias ações efetivas de ajuste das políticas públicas para contrabalançar os efeitos negativos e excludentes do mercado e do governo (BROSE, 1999, p. 59).

Segundo Barth e Brose (2002, p. 34),

Um dos objetivos primordiais dos projetos do Programa PRORENDA está no desenvolvimento, teste e divulgação de instrumentos que apoiam a efetiva organização comunitária, promovam a renovação das lideranças, facilitem a capacidade de autogestão das comunidades e estruturem o processo de diálogo destas com o setor público, a iniciativa privada e o terceiro setor.

O projeto constituía-se a partir de dois eixos norteadores: participação popular e enfoque produtivo. Havia a intervenção da comunidade, e também uma mediação junto à comunidade, mas que partia dos conhecimentos e das necessidades dos moradores.

Assim, “a orientação básica dos projetos era que a aprendizagem, tanto pessoal quanto coletiva, ocorresse durante as atividades práticas de cada projeto, isto é, pela ação-reflexão” (FRANTZ, 2009, p. 205).

A execução das atividades foi feita em três fases para cada projeto, cada fase “com a duração de cinco anos cada uma: a fase piloto, a fase de expansão e a fase de consolidação” (FRANTZ, 2009, p. 206). Sobre as concepções que nortearam o projeto, temos:

No meio rural, o enfoque da ação do Projeto foi a organização de grupos, a organização comunitária, seja em associações, cooperativas, conselhos ou outras formas de articulação grupal. Trata-se de grupos de vizinhança, integrados pelas famílias dos agricultores. De acordo com a concepção básica do projeto, a formação dos grupos e a organização comunitária não deveriam ser motivadas pela busca de recursos financeiros, nem serem induzidas por agentes externos, superando-se as práticas tradicionais. A organização deveria nascer do interior da comunidade como resultado de um processo de comunicação, de debate e negociação entre os seus componentes e seus interlocutores (FRANTZ, 2009, p. 206).

Entre os anos de 1990 e 1995, foram definidos os instrumentos do processo de organização, denominados os “10 passos” (FRANTZ, 2009, p. 207).

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