• Nenhum resultado encontrado

4 A QUALIFICAÇÃO EM METODOLOGIAS DE PESQUISA: TÉCNICAS E

4.3 QUANTO AO TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Ao realizar o estado da arte com as dissertações em saúde do PPGSS/UFRN nos anos de 2000 a 2014, verificou-se que a técnica para análise dos dados que observados nas dissertações foi a análise de conteúdo, estivesse claramente exposta pelo pesquisador na introdução ou ainda no decorrer do texto, sendo possível assim identifica-la. Não foi percebida nenhuma outra técnica de análise, motivo pelo qual abordaremos neste item apenas a referida técnica. É importante mencionar que existem outros modos de análise dos dados, que em geral se dão conforme a perspectiva teórico-metodológica escolhida para a discussão.

Portanto, a análise de conteúdo tem como finalidade alcançar uma descrição objetiva e sistemática dos conteúdos, analisando a frequência da ocorrência de categorias analíticas essenciais à discussão, relacionando estruturas semânticas com estruturas sociológicas (MINAYO, 2010).

Bardin (1979, p. 42) define análise de conteúdo enquanto:

Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens.

De acordo Gil (2007) com a teoria metodológica de Bardin (1979) sobre a análise de conteúdo, esta se desenvolve em três fases: uma pré-análise dos dados coletados; exploração concreta do material; e, tratamento das informações, inferência e interpretação. Gil (2007) afirma que a pré-análise destina-se à organização do material, com uma leitura pouco direcionada com vistas a formular hipóteses e preparar o material para a análise. A segunda fase é considerada mais extensa, pois tem como objetivo sistematizar as informações, separar por categorias, analisando qual lugar cada informação deve ocupar. A terceira e última fase da análise de conteúdo se destina a tornar válidas as informações coletadas, ao passo que Gil (2007, p. 165) a expõe como: “são utilizados procedimentos estatísticos [...]

que sintetizam e põem em relevo as informações obtidas. À medida que as informações são confrontadas com informações já existentes, pode-se chegar a amplas generalizações”.

Richardson (2008) é mais específico em suas considerações sobre a análise de conteúdo ao explicar no que consiste propriamente a sistematização e a inferência. Sobre a sistematização, o referido autor aponta que se refere à “inclusão ou exclusão do conteúdo ou categorias de um texto de acordo com regras consistentes e sistemáticas” RICHARDSON (2008, p. 223). Quanto à inferência, o autor afirma que implica no reconhecimento da hipótese como verdadeira em virtude de sua relação com outras proposições já concebidas como verdadeiras. De tal modo, Bardin (1979) afirma que a análise é essencialmente temática, frequencial e

quantitativa e transversal.

Minayo (2013) faz uma análise interessante sobre a análise de conteúdo ao colocar em discussão um ponto de dúvida e discordância para muitos estudiosos, a questão da adequação da análise de conteúdo à pesquisas de abordagem qualitativa ou quantitativa. A autora coloca que do ponto de vista prático, a análise de conteúdo privilegia os depoimentos, falas e discursos do entrevistado, a fim de alcançar uma compreensão mais profunda da informação. “Para isso, geralmente, todos os procedimentos levam a relacionar estrutura semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados)” (MINAYO, 2013, p. 308), o que por sua vez possui maior relação com a abordagem qualitativa. Entretanto, a análise de conteúdo também pode vir a ser utilizada na abordagem quantitativa, a depender do aspecto que se quer destacar na pesquisa e do tratamento realizado com as informações coletadas.

As atuais tendências históricas do uso e do desenvolvimento de técnicas de

Análise de Conteúdo conduzem a uma certeza. Todo o esforço teórico, seja

baseado na lógica quantitativista ou qualitativista, visa a ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância crítica ante a comunicação de documentos, textos literários, biografias, entrevistas ou resultados de observação. (grifo da autora) (MINAYO, 2013, p. 308)

A análise de conteúdo compreende diversas modalidades de técnicas que propiciam a leitura dos dados coletados, quais sejam: análise lexical, análise de

expressão, análise de relações, análise temática e análise de enunciação. (MINAYO, 2013)

Para o estudo das dissertações em saúde, foi verificado através do estado da arte, que as dissertações em sua maioria utilizavam a análise de conteúdo na modalidade temática, ou ainda se propunham a utilizar, de modo que não foi percebida nas dissertações outra modalidade de análise de conteúdo. Portanto, será discutida apenas a modalidade temática de análise de conteúdo no estudo das dissertações em saúde do PPGSS/UFRN.

Minayo (2010, p. 316) clarifica o significado da análise temática ao apontar que:

Fazer uma análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado. (...) Para uma análise de significados, a presença de determinados temas denota estruturas de relevância, valores de referência e modelos de comportamento presentes ou subjacentes no discurso. (grifo da autora)

É interessante observar que para Minayo (2013) as três fases citadas anteriormente por Gil (2007) para a análise de conteúdo, essas se referem à modalidade temática da análise de conteúdo, sendo algo particular deste tipo de análise. Não queremos trazer à problemática de qual autor estar certo ou errado, mas apenas veicular a informação de que os dois autores mais utilizados para abordar este tema pensam de forma diferente quanto à este aspecto.

Dito isto, para Minayo (2013) além das três fases anteriormente citadas em Gil (2007), a análise temática consiste em descobrir os pontos centrais do sentido que compõem a comunicação a fim de que tenham algum significado para o objeto de estudo. É a modalidade mais utilizada por ser a mais simples, apesar de seu rigor metodológico na categorização53 das informações; sendo também mais próxima das ciências sociais por vincular-se ao método dialético de compreensão do real, método mais utilizado pelo Serviço Social, no que se refere aqui às dissertações em saúde do PPGSS.

53

De acordo com Bardin (1979, p. 117), “A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias, são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos. (grifo do autor)

A materialização dessa problematização é possível de se observar através do gráfico 18, apresentado abaixo, que traz a exposição da análise de conteúdo nas dissertações em saúde.

Gráfico 18 – Análise de Conteúdo

Fonte: Levantamento de dados realizado pela discente junto ao PPGSS.

De acordo com o gráfico, percebe-se de imediato que a maioria das dissertações em saúde, 70% (14 pesquisas) utiliza a análise de conteúdo como técnica para tratamento e leitura das informações coletadas, o que já era de certa forma esperado, tendo em vista essa técnica ser a mais utilizada pelo Serviço Social, em função, além das características de análise, mas também da vinculação com o método dialético, dominante entre os estudiosos da categoria profissional e na pós-graduação o mais estimulado e esperado que os discentes utilizem.

Ponto interessante se dá entre as outras duas variáveis “não” e “não identificado”. Essas variáveis foram elaboradas em virtude da presença de dissertações que afirmavam categoricamente o uso da técnica de análise de conteúdo, inclusive com citações para reafirmar seu uso, mas na verdade havia apenas uma exposição dos dados encontrados. O que é preocupante é o fato de representar 25% das dissertações (5 pesquisas), estando presente inclusive na discussão sobre Exercício Profissional, algo que é bastante discutido pela categoria e que deveria apresentar reflexões críticas sobre o tema, tendo em vista o direcionamento da profissão em sua vinculação aos pressupostos do método dialético. 0 1 2 3 4 5 6

SIM NÃO NÃO IDENTIFICADO

SAÚDE MENTAL SAÚDE DO TRABALHADOR POLÍTICA DE SAÚDE REDES DE SAÚDE EXERCÍCIO PROFISSIONAL OUTROS TEMAS

Por “não identificado” estamos apresentando que apenas 1 dissertação não definiu de forma clara seu método de tratamento das informações, de forma que para alguns dados era utilizada uma técnica de análise, mas para outras informações eram realizadas apenas leituras descritivas dos gráficos ou dos extratos das falas dos sujeitos entrevistados.

Ocorre que parece haver uma séria confusão sobre a técnica da análise de conteúdo, ou o que é mais assustador, uma confusão sobre o método da dialética, posto que um implica no outro. Queremos deixar claro que esta consideração é apenas uma hipótese formulada frente à análise das dissertações, mas que podem existir outros motivos que expliquem essa situação.

Apesar disso, fica evidente que as dissertações que utilizaram a análise de conteúdo, estava claro nas pesquisas a técnica utilizada, seja por escrito na introdução, quando o pesquisador afirma seus métodos, ou ainda no decorrer do texto. Com isso, podemos afirmar que a utilização da análise de conteúdo, mais propriamente a modalidade temática continua em alta nas ciências sociais, podendo continuar enquanto tendência de análise.