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4 A QUALIFICAÇÃO EM METODOLOGIAS DE PESQUISA: TÉCNICAS E

4.2 QUANTO A EXPOSIÇÃO DOS DADOS COLETADOS

Como continuidade do processo de escolha metodológica da pesquisa, se faz necessário também discutir sobre os instrumentos de exposição dos dados utilizados pelos discentes nas dissertações em saúde do PPGSS/UFRN no período de 2000 a 2014. Sendo assim, serão expostos os instrumentos e ferramentas de análise utilizadas para apresentação dos dados coletados nas referidas dissertações em estudo, deixando claro que existem outras opções que podem exploradas nas pesquisas qualitativas, quantitativa ou quanti-qualitativas, mas que neste estudo não serão abordados, tendo em vista a objetividade da discussão.

O gráfico 15, abaixo, refere-se à elaboração de perfil dos entrevistados enquanto instrumento bastante utilizado nas dissertações das Ciências Sociais e que teve aparecimento nas dissertações em saúde de forma relevante.

Gráfico 15 – Elaboração de perfil

Fonte: Levantamento de dados realizado pela discente junto ao PPGSS.

Este gráfico nos mostra alguns pontos interessantes de reflexão ao verificarmos a relação entre a elaboração de perfil e o uso de questionários, técnica mais utilizada para elaboração desse instrumento. Fazendo uma relação com o gráfico 14, veremos que apenas 2 temas utilizaram a técnica do questionário, Saúde do Trabalhador (1 dissertação) e Outros Temas (1 dissertação), o que nos leva a

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 SIM NÃO SAÚDE MENTAL SAÚDE DO TRABALHADOR POLÍTICA DE SAÚDE REDES DE SAÚDE EXERCÍCIO PROFISSIONAL OUTROS TEMAS

analisar o presente gráfico, em que o uso do perfil se faz presente em 2 dissertações sobre Saúde do Trabalhador e em 2 dissertações sobre Outros Temas, levando a crer que a técnica utilizada para elaboração de perfil foi a entrevista.

Outro tema que aparece em destaque é o Exercício Profissional, que no gráfico 15 aponta 3 dissertações com uso de perfil e 3 dissertações que não se utilizaram desta ferramenta. Em análise conjunta com o gráfico 14, vemos que as 6 dissertações sobre este tema utilizaram a técnica da entrevista, reforçando a ideia exposta no parágrafo anterior de que a entrevista vem sendo utilizada também com esse caráter de elaboração de perfil dos entrevistados.

É necessário ainda fazer uma ressalva quanto ao número de dissertações que não elaboraram o perfil dos entrevistados, pois se compararmos os gráficos 14 e 15 veremos que as pesquisas que utilizaram a técnica documental para coleta de dados foram as mesmas que não fizeram uso de questionário. Em virtude desse fato, 35% é o quantitativo de dissertações com análise documental (gráfico 13), número que se torna relevante para afirmarmos que a elaboração é uma ferramenta que vem se desenvolvendo com mais força nas dissertações. Para clarificar esta informação, basta exemplificar da seguinte forma: se retiramos do gráfico as dissertações que realizaram análise documental, ficaríamos com apenas 3 dissertações sobre o tema Exercício Profissional que não realizaram elaboração de perfil e, em contrapartida, com 10 dissertações que fizeram uso desse instrumento. De tal modo teríamos o seguinte gráfico:

Gráfico 16 – Ilustração da elaboração de perfil sem as dissertações de análise documental

Fonte: Levantamento de dados realizado pela discente junto ao PPGSS. 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 SIM NÃO SAÚDE MENTAL SAÚDE DO TRABALHADOR POLÍTICA DE SAÚDE REDES DE SAÚDE EXERCÍCIO PROFISSIONAL OUTROS TEMAS

Observa-se, portanto, que a elaboração de perfil assume um número significativo de 77% de dissertações (em um universo de 13 dissertações, tendo em vista a hipotética exclusão de 7 dissertações que fizeram uso de análise documental) que utilizaram as técnicas de entrevista ou questionário para sua elaboração.

Há dois pontos a se considerar, a saber: entendemos que a análise documental pode até vir a apresentar perfil em suas pesquisas, entretanto, não serão dados construídos pelo próprio pesquisador enquanto fonte primária, de forma que ao utilizar a análise documental, o pesquisador reproduzirá dados secundários, tendo em vista que as informações já foram coletadas por outros autores, no que se refere à elaboração de perfil socioeconômico, que é o modelo presente nas dissertações em saúde do PPGSS.

A segunda questão é sobre a utilização da elaboração de perfil nas dissertações, ao passo que ao realizar o estado da arte com as produções em saúde do PPGSS de 2000 a 2014, foi percebido que poucas pesquisas realmente justificavam a necessidade da elaboração de perfil em seus estudos, de forma que as demais colocavam a elaboração de perfil não como um objetivo a ser alcançado, mas como um item obrigatório já que estavam fazendo pesquisa com sujeitos. Esse fato é comprovado a partir da leitura de cada dissertação quando se busca uma análise crítica, clara e que envolva uma discussão teórica da elaboração de perfil com o tema em debate, mas não se encontra. Ao invés disso o que temos é uma “chuva” de informações sobre os sujeitos pesquisados, porém, desprovida de reflexão crítica aprofundada e que demonstre alguma relação ou explicação para com o tema ou com o objeto de estudo, a fim de justificar a relevância da elaboração de perfil.

Para definir a elaboração de perfil, buscou-se referências em autores que discutem metodologia da pesquisa, entretanto, para nossa surpresa, não há na área do Serviço Social nem tampouco em outras áreas do conhecimento autores que apontam uma definição para a elaboração de perfil. Assim, apresentamos um conceito extraído de estudos e observações sobre metodologia que nos permitiram construir uma compreensão própria acerca do perfil.

Portanto, trabalhar com elaboração de perfil significa levantar dados e/ou indicadores quanti-qualitativos de uma determinada temática ou objeto de estudo. O

perfil pode ser ele mesmo o tema, exemplo, “O perfil socioeconômico dos professores universitários da UFRN”; técnica, quando se propõe utilizar a elaboração de perfil para revelar informações sobre grupo de sujeitos; ou ainda, instrumento, na medida em que é utilizado como meio de alcançar resultados na técnica qualitativa ou quanti-qualitativa, servindo assim como elemento secundário para apresentação de informações que, quando agrupadas, caracterizam o objeto de estudo.

A elaboração do perfil pode ser obtida a partir da aplicação de questionários ou por meio da entrevista, de forma que as informações devem ser separadas por categorias e, normalmente, são apresentadas ao leitor através de gráficos e/ou tabelas. O objetivo, tal qual o nome já diz, é construir uma visão sobre determinados aspectos da vida pessoal e/ou profissional do objeto de estudos.

Para materializar estas informações, temos que nas dissertações que discutiram o exercício profissional do (a) Assistente Social, os trabalhos que apresentam a construção de perfil socioeconômico dos entrevistados, em que foram abordados aspectos como: renda familiar, renda salarial, quantidade de filhos, estado civil, tempo de trabalho na instituição, ano de graduação, participação em atividades da categoria profissional, entre outros. A apresentação destes aspectos serve ao pesquisador como meio de mostrar ao leitor como se caracteriza seu público-alvo da pesquisa e ainda quais as implicações destes aspectos na problemática em discussão.

Outra ferramenta bastante utilizada nas dissertações em saúde do PPGSS, objeto de análise deste estudo, foi a utilização de gráficos como metodologia de exposição dos dados coletados. O gráfico 17 mostra como se deu a distribuição do uso deste recurso nas dissertações:

Gráfico 17 – Uso de gráficos

Fonte: Levantamento de dados realizado pela discente junto ao PPGSS.

Conforme o exposto é possível verificar, a maioria expressiva das dissertações utiliza a ferramenta de gráficos para abordar de maneira mais clara e objetiva as informações advindas da coleta de dados. Esse número representa 80% (16 dissertações) e inclui as pesquisas que utilizaram as técnicas de questionário, entrevista e documental, com exceção de apenas 4 dissertações que não fizeram uso deste recurso nem mesmo de tabelas, instrumento semelhante ao gráfico. Os temas que mais se destacam na utilização do gráfico são: Saúde do Trabalhador e Exercício Profissional (4 dissertações, cada tema), Saúde Mental e Outros Temas (3 dissertações, cada um).

Richardson (2008) afirma que os gráficos podem ser utilizados de duas maneiras: uma menos usual, separa os gráficos do corpo do texto, transformando-os em anexos. Essa forma torna a compreensão da análise dos dados mais difícil uma vez que é necessário ao leitor fazer simultaneamente a leitura e do texto e a análise do gráfico, e ainda, torna-se um grande risco, pois o leitor poderá deixar para visualizar os gráficos ao final da leitura do texto e acabar por não fazer, o que certamente comprometerá a compreensão da produção; a segunda maneira de apresentar os gráficos é inserindo-os junto ao texto, sendo uma forma mais agradável e perspicaz de provocar a reflexão e compreensão do que está sendo abordado. Essa é a forma mais frequentemente utilizada nos textos científicos e nas pesquisas de investigação social.

Nas dissertações em saúde, os gráficos aparecem de forma interligada ao texto, de modo que ao expor um gráfico posteriormente é apresentada uma análise e reflexão sobre seus indicadores e o tema em exposição. Esse tipo de exibição

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facilita a compreensão e torna o leitor mais envolvido com a apresentação dos dados. Sobre estes aspectos, Richardson (2008, p. 314) destaca um ponto importante:

Cuidando especificamente dos gráficos, não é demais alertar para a qualidade artística que os mesmo requerem. Um gráfico não se resolve nem se apresenta, pela simples combinação de linhas, barras, palavras e, às vezes, cores. É algo mais. Trata-se dessa combinação, porém concebida de forma harmoniosa, clara e que potencializa o que se deseja informar, seja em termos de dado puro, seja no que se refere ao significado e alcance do mesmo.

Assim, é fundamental ter atenção ao tamanho dos gráficos, para que não ultrapassem uma página, e ainda, é preciso que haja clareza na descrição das informações e na relação dessas com o tema estudado, na medida em que a inclusão de um gráfico tem por objetivo facilitar a compreensão e o acesso à informação.

Sobre estes dois recursos de exposição de dados coletados, a elaboração de perfil e o uso de gráficos, podemos afirmar que ambos se fazem bastante presentes nas dissertações em saúde, revelando uma tendência na investigação que ultrapassa barreiras como a conservadora exposição textual que se torna cansativa e não desperta tanto interesse por parte do leitor, quanto uma exposição que dialoga com gráficos, tabelas e aglutinação de informações em forma de perfil. Essa tendência possui inúmeros pontos positivos, já citados anteriormente, mas que se torna importante reforçar que o texto de pesquisa precisa motivar o leitor a adentrar naquela discussão, não apenas como obrigação, mas de forma prazerosa, com facilidade de compreensão da informação sendo possível até veicular para seus pares o que foi exposto na pesquisa.

Entretanto, há que se tomar cuidado com algumas problemáticas que podem surgir nessa construção, como a questão de realizar elaboração de perfis de forma indiscriminada sem que haja uma análise real dos itens abordados, tendo em vista que este é um instrumento valioso e que perde sua importância quando se encontra desprovido de uma discussão reflexiva sobre o contexto que o cerca. Outra questão de ressalva se dá com relação à forma de exposição dos gráficos, para que estejam claros ao leitor e interligados ao texto, pois como apontado, gráficos e tabelas

dispostos ao final do texto discursivo dificultam a compreensão da pesquisa e, possivelmente, sua materialização.