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5 SUGESTÕES E RESULTADOS DAS INTERVENÇÕES PARA OS

5.2 Propostas de ações pedagógicas de intervenção

5.2.1 Quanto à marca oral na escrita

O trabalho com a oralidade em sala de aula ainda é um terreno muito irregular quando pensamos a inserção de atividades mais sistemáticas de valorização da fala no mesmo patamar que agregamos à escrita, em especial, à norma culta. Como nossa intenção neste trabalho é sugerir atividades voltadas para a superação ou minimização de marcas orais na escrita ortográfica, apontaremos intervenções voltadas apenas para esse aspecto da relação oralidade e escrita, o que não exclui um trabalho mais aprofundado com esse campo tão vasto do ensino de Língua Portuguesa.

Não há dúvidas de o que primeiro passo para um trabalho profícuo para superar ou minimizar as marcas orais na escrita de nossos alunos é a conscientização de que há profundas diferenças entre fala e escrita bem como tecermos esclarecimentos sobre a norma culta e a

relação com as demais variedades linguísticas. Cagliari (2009a, p.192) alerta sobre essas questões da fala do aluno e o domínio da norma culta ao dizer que:

Para que os alunos não se desesperem, quando perceberem que terão de aprender a falar um dialeto diferente do habitual, é preciso que o professor, nos momentos oportunos, converse com eles a respeito dos vários problemas de fala, explicando- lhes como a fala funciona e quais os seus usos.

Bortoni-Ricardo (2004) em seu livro Educação em língua materna: a sociolinguística em sala de aula propõe inúmeras reflexões teóricas e exercícios práticos que elucidam bem toda a variedade linguística do português brasileiro, como exemplo, citamos o terceiro capítulo, em que a autora propõe ponderações sobre a variação linguística existente entre o professor e os alunos do ensino fundamental; ainda esclarece que o “erro de português” é apenas uma variante entre as demais existentes na língua e indica aos professores a “adequação linguística” como ferramenta para a escrita monitorada de seus alunos.

Mais especificamente sobre a relação oralidade e escrita, Marcuschi (2003), em sua obra Da fala para a escrita: atividades de retextualização, entre outros pontos, traz esclarecimentos e desmistifica muitos conceitos sobre fala e escrita, além de propor as atividades de retextualização em sala de aula, no caso em questão, esclarece as possibilidades de passarmos o texto falado para o escrito.

Diante desses pontos, acreditamos que o professor deve conversar com seus alunos constantemente sobre a escrita e, sempre que perceber a presença da fala nos seus texto escritos, fazer reflexões sobre oralidade, escrita e ortografia. Como sugestões para esse trabalho, o professor pode gravar áudios do diálogo entre pessoas, como por exemplo, dos componentes da comunidade escolar, como direção, corpo docente, pessoal de apoio, dos pais e, claro, dos próprios alunos e pedir que os alunos transcrevam essas conversas; após essa transcrição, fazer reflexões com seus alunos sobre o modo de falar de cada um e, por fim, fazer a reescrita desses textos para a norma padrão.

Além dessa sugestão, de primeiro momento, pensamos várias outras possibilidades de aprofundar o assunto:

 Retextualização para a norma padrão sem mudança de gênero – o professor pode propor a atividades em que o aluno apenas retextualize um gênero qualquer, fazendo a adaptação do texto para a variante padrão como, por exemplo, as músicas “Asa Branca” de Luís Gonzaga, “Poeta da roça” de patativa do Assaré,

“Chopis Centis” do Mamonas Assassinas, “Negro drama “ dos Racionais MC’s e “Inútil” do Ultraje a Rigor ;

 Retextualização para a norma padrão com mudança de gênero – nessa atividade, o professor sugere não só a passagem do texto para a norma padrão, mas propõe a reescrita do texto em outro gênero, fazendo toda a adaptação necessária. Por exemplo, transformar os quadrinhos do personagem “Chico Bento da Turma da Mônica” de Mauricio de Souza para um conto, um cordel para uma crônica etc;

 Retextualização da norma padrão para a regional – ao contrário do que geralmente é feito, nessa proposição, o professor sugere como atividade que os alunos transformem um texto que esteja em norma padrão para o seu dialeto local como, por exemplo, reescrever “Garota de Ipanema” de Caetano Veloso na variedade local do aluno;

 Rescrita dos textos dos colegas observando a correção de marcas orais – o professor pode sugerir aos alunos que reescrevam os textos dos colegas, observando e corrigindo as marcas de oralidade, passando para a variedade culta;

 Produção de um dicionário com expressões regionais/locais – o professor pode sugerir a elaboração de um dicionário com palavras e expressões características da região/localidade onde vive. Para isso, pode propor a organização por aspectos culturais como culinária, música, artes, comércio, diversão etc.

Redes sociais: a internet está cheia de sites e aplicativos que podem contribuir para um trabalho com a oralidade e escrita. As tirinhas do “Bode Gaiato” e as dos “Signos Nordestinos” hospedadas no Facebook bem como as conversas do aplicativo WhatsApp são ótimas atividades para elucidar e perceber as marcas orais na escrita.

Como dissemos, durante a pesquisa-ação, não foi possível aplicar sugestões para a superação ou minimização dos erros verificados para cada parâmetro. Como não aplicamos uma intervenção em sala de aula para esse critério em discussão, sugerimos uma atividade que imaginamos ser importante para um trabalho profícuo para esse tema em questão.

Identificação

 Retextualização para a norma padrão sem mudança de gênero;

 Atividade coletiva;

04 aulas.

Fala, escrita e ortografia.

Objetivos

 Reconhecer as marcas da oralidade em textos verbais escritos;

 Diferenciar a fala da escrita e ortografia;

Saber adequação linguística ao contexto de produção.

Estratégias/desenvolvimento

 Distribuição do texto escrito da música “Asa branca” de Luiz Gonzaga para os alunos;

Execução da música “Asa branca” de Luiz Gonzaga para os alunos;

Leitura individual e coletiva do texto;

Proposição de atividade de interpretação do texto;

Discussão sobre o tema do texto, seu contexto de produção;

Apresentação da vida do autor e sua relação com a letra da música;

 Atividade de percepção das marcas orais dentro do texto, refletindo sobre a liberdade poética e adequação linguística;

Atividade de rescrita do texto segundo a norma ortográfica;

Leitura dos resultados de reescrita pelos alunos;

 Proposição de atividade de fixação através da retextualização para a norma culta do texto “Poeta da roça” de patativa do Assaré.

Recursos

 Cópia das letras das músicas “Asa branca” de Luiz Gonzaga e “Poeta da roça” de patativa do Assaré;

Aparelho de som;

Quadro, pincel e apagador.

Avaliação  Resolução das atividades propostas;

 Percepção das marcas orais na escrita e formulação de hipóteses de escrita;

Capacidade de adequação linguística ao contexto de produção.

Referências bibliográficas

 ASSARÉ, Patativa do. O poeta da roça. Disponível em:< https://www.letras.mus.br/patativa-do-assare/872145/>. Acesso em: fevereiro de 2015.

 GONZAGA, Luiz. Asa branca. Disponível em https:

<hhtp//www.vagalume.com.br/luiz-gonzaga/asa-branca.html>. Acesso em: fevereiro de 2015.

Quadro 12: Atividade sugestiva para aplicação para erros de marca oral na escrita. Fonte: Organizado pelo autor da pesquisa.