• Nenhum resultado encontrado

Contextualizando as Relações Públicas como atividade do campo profissional

4 QUARTO MOMENTO FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO/CIENTÍFICA (DE 1981 ATÉ OS DIAS ATUAIS)

Esse período apresenta informações consideradas relevantes para o presente trabalho, uma vez que é nessa fase (de l981 até os dias atuais) que a produção das dissertações e teses se consolida. É o período em que, efetivamente os programas de pós-graduação da área de Comunicação Social geram uma produção considerável, tanto no aspecto qualitativo, quanto no quantitativo. É nessa fase que, os pesquisadores que atuam exclusivamente no ensino procuraram aprofundar as discussões teóricas sobre a área de Relações Públicas. Há, também, um aumento considerável da literatura nacional na área. As discussões promovidas nos congressos, simpósios, encontros e semanas de Relações Públicas revelam um salto qualitativo por parte dos promotores e dos

participantes. Merece destaque a criação e evolução do Grupo de Trabalho de Relações Públicas e Núcleo de Pesquisa de Relações Públicas e Comunicação Organizacional, da INTERCOM, que têm possibilitado oportunidades para a socialização das pesquisas desenvolvidas na área.

Os fatos específicos de Relações Públicas que se seguem, referente a esse período, mostram o desenvolvimento da área da década de 80, até os dias atuais.

l984 é um ano de mudanças para a profissão de Relações Públicas: as críticas de estudantes, professores, profissionais e empresários, referentes à qualidade do ensino, resultaram na Resolução nº. 02/84, do Conselho Federal de Educação, ainda em vigor. Mais uma vez o currículo de Comunicação Social era reformulado; tal resolução trouxe novas exigências de instrumental, novas tecnologias de comunicação, aumento da carga horária, fortalecimento do ensino de língua portuguesa e a determinação de que os professores de disciplinas profissionalizantes tivessem pelo menos três anos de prática.

Na época, essa mudança foi bastante debatida e alguns estudiosos inferiram que a proposta da resolução pretendia rebater as reiteradas críticas feitas pelos jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro, referentes à formação, mais especificamente dos jornalistas. Os editoriais eram bastante incisivos, com amostragens sobre falta de pontuação e desconhecimento de grandes vultos da literatura portuguesa e brasileira, por parte dos recém-formados em jornalismo pelas escolas de Comunicação Social.

Muitos profissionais, na época, defenderam a Universidade com a argumentação de que os ataques da mídia aos cursos de Comunicação Social esqueciam sempre de mencionar que as deficiências eram resultantes de alterações no ensino de Primeiro e Segundo Graus, que as Universidades não poderiam facilmente corrigir.

De acordo com Serra (apud KUNSCH, l986, p.227), essa resolução apresenta uma divisão rígida entre básico (teórico) e prático (profissional); de um lado a teoria básica é estabelecida sem levar em conta aquilo que será invocado na profissionalização e por outro lado, a profissionalização faz tábula rasa do básico, pouco incorporando seus conceitos e investindo, ao contrário, em idéias e propostas que não haviam sido anteriormente exploradas.

O mesmo autor ainda destaca que, além do acima exposto, o interesse do aluno em ter acesso rápido à prática da comunicação (razão primeira de sua opção pelo curso) é postergado, desperdiçando-se um tempo caracterizado justamente por sua maior disponibilidade e interesse, na medida em que, aos poucos, o aluno é levado a buscar emprego ou estágio, mesmo que em áreas estranhas à comunicação. Nesse sentido, o aluno ingressa num mercado de trabalho sem ter sido devidamente preparado, produzindo-se uma simultaneidade que é deficitária para o curso, uma vez que o dinamismo e exigências do trabalho são incomparavelmente superiores ao da atividade pedagógica.

Serra também afirma que entende a teoria não como a soma de conhecimentos abstratos que posteriormente sejam aplicados a uma prática, mas como um momento privilegiado de reflexão, especulação e livre imaginação. A atividade teórica não pode ser acantonada num período ou fase exclusiva, mas acompanhar todo o curso; deve estar, ao mesmo tempo, atenta às questões surgidas na prática.

A esse posicionamento, é importante acrescentar as reflexões de Aguiar (l988, p. 31), que não acredita que os velhos problemas (precariedade das instalações das escolas, falta de equipamento ou desatualização das bibliotecas) tenham sido sanados, como num passe de mágica, pelo novo currículo.

Ainda no que concerne às mudanças no ensino de comunicação, a pesquisadora Moura (2000, p.5) ressalta o seguinte:

Em 1980, o CFE criou uma Comissão Especial para Estudo do Currículo do Curso de Comunicação Social para reelaborar o currículo, sendo constituída por professores, empresários, representantes de entidades de classe e estudantes. Isto dificultou a aceitação da Resolução nº. 03/78 pelas escolas, pois já era público que um novo currículo iria ser implantado em breve, o que ocorreu em 1984. O Parecer nº. 480/83 registrou que um estudo sobre o currículo do curso foi realizado resultando em um documento-síntese. Também houve um levantamento da situação dos cursos junto à comunidade acadêmica, áreas empresarial e profissional, mediante a aplicação de um questionário, além da utilização de outros documentos. O número de integrantes da Comissão foi ampliado chegando a 21 membros.

A Resolução nº. 02/84 fixou o currículo mínimo para a formação de profissionais nas habilitações de Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Produção Editorial, Radialismo (Rádio e TV), Cinema. Confere o grau

de Bacharel em Comunicação Social com a indicação da respectiva habilitação do graduado. A Resolução estabeleceu exigências de infra-estrutura para o funcionamento do curso, havendo referência ao Parecer para as instalações, laboratórios e equipamentos adequados à formação profissional nas diferentes áreas. E, existem ementas das matérias do currículo mínimo que serviram de base para o seu desdobramento em disciplinas para o currículo pleno.

Complementando destaca-se o seguinte posicionamento de Aguiar (l988, p. 31):

para aperfeiçoar o ensino algumas providências foram tomadas: desde 1986, no IX Congresso Brasileiro de Relações Públicas, realizado na Bahia, foi solicitado ao Ministério da Educação que desse prioridade e condições para a reciclagem e aperfeiçoamento do corpo docente dos Cursos de Comunicação Social. A ABECOM - Associação Brasileira de Escolas de Comunicação, em conjunto com a USP e ABRP, já realizaram cursos específicos para professores de Jornalismo e Relações Públicas. Alguns cursos regionais também aconteceram: um no Nordeste e outro no Rio Grande do Sul.

É conveniente lembrar que, outras entidades também colaboraram para o avanço das discussões pertinentes ao ensino da área de Relações Públicas: a INTERCOM (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação), através dos seus congressos anuais, criou grupos específicos por habilitação, com objetivos de aprofundar as questões emergentes que se referem ao ensino, pesquisa e mercado de trabalho.

De acordo com Kunsch (l993, p. 57), "a INTERCOM, desde quando foi fundada, em 12 de dezembro de 1977, tem exercido importante papel no processo de desenvolvimento da pesquisa em comunicação no Brasil". A mesma autora afirma que "a contribuição da entidade, fundamentalmente, diz respeito à socialização do conhecimento, mediante uma vasta documentação gerada pelos diversos eventos científicos levados a efeito com o objetivo de debater temas atuais e emergenciais, bem como pelo trabalho de cooperação nacional e internacional".

Especificamente no que concerne à socialização do conhecimento, acreditamos que esse processo se dá não apenas e tão somente pela geração e

discussão de documentos entre intelectuais e pesquisadores, mas sim, numa amplitude maior: a socialização se dá quando pesquisadores, comunidades, organizações e pesquisados têm acesso ao resultado obtido.

Nesse sentido, julgamos pertinente dar ênfase a uma afirmação de Gramsci, complementada por Silva Junior (l994): "de pouco vale uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais. Por isso, é preciso método para descobri-la e método para apresentá-la, se efetivamente pretendemos que a verdade seja o motor da transformação".

A pesquisadora Kunsch também destaca que a INTERCOM tem editado uma série de livros e coletâneas: os Cadernos INTERCOM, a Revista Brasileira de Comunicação, a Bibliografia Brasileira de Comunicação e outras obras. Segundo a pesquisadora, "com essa frente de atuação a entidade realiza o trabalho de divulgação da produção científica de seus pesquisadores, elaborada nos eventos que promove e no âmbito das universidades".

Para Aguiar (l988, p.31),

a tarefa mais importante dos profissionais e professores de Relações Públicas é a de encontrar caminhos para conscientizar os alunos da importância do estudo teórico para uma avaliação crítica dos processos de comunicação. É preciso enfrentar a realidade e lembrar que os problemas dos cursos de Relações Públicas - e os de Comunicação em geral - não são isolados, mas refletem as inquietações de professores e estudantes de tantas outras áreas de ensino, geradas pela crise educacional brasileira.

Atualmente, segundo Brandão (2001, p.50),

a abertura da profissão para segmentos novos que estão atraindo os jovens estudantes de comunicação se baseia no fato de o mercado ter se tornado extremamente competitivo, obrigando as empresas a aumentar e a diversificar suas estratégias de inserção no mercado, de manutenção da imagem e de desempenho do produto.

No que concerne ao panorama brasileiro de Relações Públicas, de acordo com a pesquisadora Brandão (2001, p.50) e,

considerando-se os dados fornecidos pelos Conselhos Regionais de Profissionais de Relações Públicas, existem

6.000 profissionais registrados, ou seja, que exercem legalmente a profissão. Entretanto, apesar do baixo índice de profissionais registrados, segundo dados de 1999 do Ministério da Educação, existem 70 instituições de ensino superior no Brasil que oferecem o curso de Relações Públicas.

No âmbito da pesquisa, ressalta-se um amplo estudo desenvolvido por Kunsch, que destaca:

o conjunto da produção científica analisado, compreendendo as dissertações de mestrado e as teses de doutorado e livre-docência, apresenta essencialmente dois aspectos determinantes. O primeiro diz respeito a um estudo genérico das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional nas suas mais diversas abrangências e aplicações. O segundo denota o valor dado aos processos comunicacionais midiáticos. (disponível em www.eca.usp.br/alaic/boletim1/kunsch )

De acordo com a pesquisadora, nos trabalhos produzidos,

Nota-se, em geral, uma forte tendência em buscar conceitos explicativos para uma eficácia da comunicação aplicada às mais diferentes organizações. Predomina, portanto, uma perspectiva funcionalista, procurando-se demonstrar o “como-fazer”; raros são os trabalhos mais críticos e questionadores e com uma preocupação clara em construir teorias. Entre os temas predominantes, podem ser elencados como os dez primeiros: Relações públicas nas empresas, organizações: conceitos e práticas; Comunicação empresarial/organizacional: conceitos e

aplicações; Relações públicas governamentais/comunicação governamental; Jornalismo

empresarial; Comunicação institucional/imagem institucional; Relações públicas/comunicação com os consumidores; Comunicação interna e processos midiáticos internos (publicações e vídeos); Comunicação e qualidade total nas organizações; Assessoria de imprensa e relações com as fontes; Relações públicas comunitárias, hospitalares, no meio rural etc. (disponível em www.eca.usp.br/alaic/boletim1/kunsch )

Kunsch, em seu estudo, pôde levantar informações importantes para a área. De acordo com a autora, é possível “notar a abrangência e a diversidade temática presentes tanto no campo das Relações Públicas quanto no da Comunicação Organizacional”... complementa ainda que “o número de

dissertações em Relações Públicas é muito maior do que em Comunicação Organizacional: isto começa a se modificar a partir da década de 1990, quando há um aumento significativo de produções de dissertações em relação às décadas de 1970 e 1980”.

Segundo a pesquisadora, “os trabalhos produzidos são variados e não há uma proposição clara de construção de teorias, mas sim de uma busca de fundamentos e técnicas aplicadas setorialmente”. De acordo com a autora, à época do levantamento de informações, “do total de 28 teses de doutorado analisadas – 11 em Relações Públicas e 17 em Comunicação Organizacional/Empresarial –, apenas duas tratam especificamente da opinião pública, mesmo assim sem contextualizá-la nas duas áreas. Trata-se de um tema relevante, que está sendo pouco estudado pelos pesquisadores dessas áreas”.

A pesquisadora Margarida Maria Krohling Kunsch, além desse estudo, que está disponibilizado no site referenciado e em outros documentos, desenvolveu outros de interesse da área, além de ter contribuído com o ensino e a literatura específica de Relações Públicas, organizando e publicando obras que são referência. Outros pesquisadores também deram sua contribuição, sendo pioneiro na área o Prof. Dr. Cândido Teobaldo de Souza Andrade.

Cabe ainda ressaltar neste quarto momento, conforme proposto neste artigo, as conclusões do Parlamento Nacional de Relações Públicas, “que foi o esforço realizado pela categoria sob o comando do seu Conselho Federal, com o intuito de modernizar a atividade adequando-a às exigências dos novos tempos”.

(disponível em http://www.abrpsaopaulo.com.br/guiabrasileiro/legislacao/federal/parlamentonacio

nal.htm).

Após profundas discussões da categoria, conforme consta no site referenciado, foi elaborado um documento,

que é uma versão baseada nos acordos remetidos pelos Conselhos Regionais conforme Instruções para a Operacionalização da Etapa Final do Parlamento Nacional de Relações Públicas, aprovado pelo Conselho Consultivo, realizado em Brasília em 11 de maio de 1996.

O referido documento foi encaminhado às Universidades que possuem Cursos de Relações. Destacamos os seguintes aspectos do documento: