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que acabem

No documento Imagem também se lê (páginas 93-95)

No mundo acadêmico, há um certo preconceito pelo título “Conclusão”, para finalizar dissertações ou teses, pois pode parecer pretensioso (e, às vezes, é). Então, criamos eufemismos como “Considerações Finais”; “Últimas Reflexões”, coisas assim. Mera hipocrisia, pois o conteúdo não muda, só o título.

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Daí eu começar este difícil finalizar com estas considerações, intitulando-o de

THE END

. Esta expressão inglesa remete, ou alude, ou atualiza, ou sintetiza, ou figurativiza, ou presentifica – sei lá, protagoniza alguma ação semiótica – que me leva ao passado ou que traz ao presente o cinema, o do escurinho, aquele com final feliz, da ilusão da felicidade, do mundo ideal, do amor que dá certo, aquele da infância e da adolescência, sem a necessidade de Estatuto. Aquele fim de filme concluído sem dó

com um

The End

escrito com a fonte que chamamos de Blackadder ITC, linhas em forma de palavras que se distanciavam do nosso olhar para, semioticamente, dizer isto mesmo: que nós, espectadores, não podíamos alcançar o fim, que o filme iria terminar, não obstante a nossa vontade de ver as pessoas vivendo felizes para sempre, como éramos dados a supor, aliás, que seriam felizes merecidamente, depois de todas as intrigas do enredo. E todos tínhamos nossa frustração de meros

espectadores sublimada por aquele

The End

fugidio, que prometia tudo aquilo que eles não mostravam, mas que nós, espectadores, éramos capazes de imaginar.

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Depois, expressões em língua estrangeira passaram a ser mal vistas, e aquelas em inglês, consideradas “anglicismos” ou “americanismos” (com um ar de desdém). Depois, passaram a ser “dominação cultural”. Mais tarde ainda, “politicamente incorreto”.

Junto com a falta de preconceito em relação ao final feliz se foi nossa infância, nossa adolescência, nossa ingenuidade, nossa esperança, nossos sonhos; também a crença de que se pode terminar bem uma coisa legal....

Terminar uma relação afetiva, por melhores momentos que se tenha vivido em conjunto, todos que passaram por isto dizem ser uma experiência terrível. Esta experiência falta no meu currículo, mas em compensação, experiência mais rica é ter um

cobaia-mor

, parceiro solidário de um regime de tolerância máxima, que após ler estes originais me falou: “Falta um fim (entre outras coisas)”! Pensei, desesperada: “Ah, meu Deus, ‘O’ FIM!”

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Bem, vocês leram aqui algumas partes de dois trabalhos acadêmicos, um de doutorado e outro de “post doc” (e aqui, mais do que por obrigação, quero lembrar que fui bolsista da

CAPES

no doutorado e do

CNPq

no pós-doutorado). Obrigada, povo brasileiro, pois com seus impostos possibilita a essas agências ajudar os pesquisadores do nosso país, mesmo que ninguém lhe consulte ou esclareça sobre a importância disto.

Fiz nos trabalhos em si, e depois, nos textos, várias lipoaspirações, onde gordura foram consideradas as citações, os conceitos pouco conhecidos e mesmo as construções de frases mais rebuscadas... Foi tudo para a lixeira.

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Eu sou apenas uma modesta “tia de artes” metida, assim como a Semiótica é uma “ciência” metida, porque se “intromete” (são os pesquisadores que a levam) em todas as áreas do conhecimento humano para tentar ajudar, da medicina às artes, da física quântica à exegese, da hermenêutica à estética...

Mas meu entusiasmo é crescente em relação às idéias aqui contidas porque, como professora, na graduação e na pós-graduação, ou orientando meus alunos para aplicar com crianças esta proposta, percebo como a prática desta espécie de leitura altera a capacidade de ver, apura o olhar e faz o que é mais importante para mim, que é

especializar o potencial de extrair das imagens

seus significados

. Em cada turma que dou aula, repito o teste: mostro uma imagem e peço que escrevam sobre ela. Ao final do semestre, repito a operação. Depois, eles mesmos se avaliam.

O Design é uma área nova, no âmbito da academia. Tanto é que muitos dos mais famosos “designers” da contemporaneidade são arquitetos, ou vêm de outras formações de conhecimento. Mas os designers de hoje já “nascem” designers; além do que, já iniciam a criar sob a égide da objetividade

e da síntese, ou seja, sob o ritmo, o nível de reflexão e sob a ética de autoria de uma época vivida com Internet, ou seja, onde nada é privativo (exclusivo), um valor que foi acalentado durante séculos. Sequer o conhecimento é privativo, pois a autoria, porque difícil de comprovar, perde seu valor.

Daí a satisfação de dar a público estes

“textosdesign”.

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Além de alunos de Design, meu objetivo, neste trabalho, é atingir a pessoa leiga, o “simples” mortal que tenha interesse em discutir idéias sobre objetos estéticos do cotidiano, como moda, design e publicidade, sobre arte e cultura; e, se possível, oferecer uma maneira a mais, diferente, para lidar com as questões que essa produção determina. Tudo do modo mais simples possível. É claro, não são assuntos primários; assim, vez que outra pode exigir um pouco mais de concentração...

Este trabalho trata do mundo de imagens que nos rodeia, de textos visuais que nos seduzem, nos fazem ficar alegres, maravilhados, emocionados, frustrados... são imagens que nos fazem correr, trabalhar e comprar mais... Isto porque as imagens “falam”, como pudemos observar. E, se não sabemos como falam essas imagens, acabamos não podendo fazer nossas escolhas com liberdade.

Aos prezados colegas da academia: não leiam este livro; vocês irão detestá-lo, achá-lo muito simples. Leiam outras coisas que eu escrevi.

Este trabalho é, antes, para o cidadão

comum que não gosta de se sentir mudo diante de uma obra de arte

, ou que

No documento Imagem também se lê (páginas 93-95)