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Que a Comissão Parlamentar de Inquérito tenha prazo certo de

II. DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO

2.3 A criação das Comissões Parlamentares de Inquérito

2.3.3 Que a Comissão Parlamentar de Inquérito tenha prazo certo de

A última das três exigências constitucionais para a criação de Comissão

Parlamentar de Inquérito é a de que ela tenha prazo certo para concluir seus trabalhos. Devido

a este limite temporal a que as Comissões Parlamentares de Inquérito se submetem, pode-se

dizer que elas se enquadram entre as chamadas comissões temporárias.

A exigência de que as Comissões Parlamentares de Inquérito tenham

prazo certo, segundo HÉLIO APOLIANO CARDOSO:

“(...) visa a emprestar segurança aos cidadãos, evitando que estes, em geral, fiquem de forma quase que indeterminadamente sob suspeita, ou envolvidos numa Comissão Parlamentar de Inquérito que, de início, não tenha a delimitação para funcionamento no tempo. Por isso é bom que fique consignado que toda CPI tem prazo de duração fixado” 89.

O legislador constituinte, como vimos, exige expressamente que as

Comissões Parlamentares de Inquérito tenham prazo certo e determinado, mas não diz

exatamente qual é esse prazo. Em outras palavras, a Constituição Federal determina que as

Comissões Parlamentares de Inquérito tenham prazo certo, mas não fixa qual a medida de sua

duração.

A esse respeito, isto é, a respeito do prazo de duração dos trabalhos das

Comissões Parlamentares de Inquérito existem algumas normas, com redações diversas. O §

1º, do art. 145, do Regimento Interno do Senado Federal, dispõe que o requerimento de

criação de Comissão Parlamentar de Inquérito determinará o prazo de duração que ela terá,

enquanto o art. 152, do mesmo Regimento, diz que o prazo de duração da CPI poderá ser

prorrogado, automaticamente, desde que a requerimento de um terço dos membros do Senado.

O Regimento Interno da Câmara dos Deputados, por sua vez, estabelece, em seu art. 35, § 3º,

que a Comissão Parlamentar de Inquérito terá a duração de cento e vinte dias, prorrogável por

até a metade. E o § 2º, do art. 5º, da Lei n.º 1.579/52, menciona que a incumbência da

Comissão Parlamentar de Inquérito tem fim com a sessão legislativa em que tiver sido criada,

salvo deliberação da Câmara, prorrogando-a dentro da legislação em curso.

A par dessa controvérsia inicial sobre o prazo das comissões de

investigação, o Supremo Tribunal Federal consagrou entendimento no sentido de que o § 2º,

do art. 5º, da Lei n.º 1.579/52 foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988.

Referido artigo legal prescreve que:

“A incumbência da Comissão Parlamentar de Inquérito termina com a sessão legislativa em que tiver outorgada, salvo deliberação da respectiva Câmara, prorrogando-a dentro da Legislatura em curso”.

E mais, segundo a Suprema Corte inexiste uma contradição entre os

Regimentos Internos das Casas Legislativas e a mencionada Lei, devendo-se, sempre e

contudo, observar o prazo máximo de duração da Legislatura em curso.

Os termos de criação e de encerramento devem ser de conhecimento

público e geral, embora seja possível sua prorrogação, como mencionado acima.

Como se sabe, a Comissão Parlamentar de Inquérito maneja poderes

próprios de autoridade judicial, representando uma “tensão dialética” entre o exercício

parlamentar de investigação e os direitos e garantias individuais dos cidadãos.

No Estado Democrático de Direito, portanto, o prazo certo de

investigação visa emprestar segurança jurídica aos investigados, pois seria inconcebível ou

mesmo kafkaniano um processo de investigação sem um desfecho no tempo. É o que se extrai

da seguinte ementa:

“I. Habeas corpus: cabimento, em caráter preventivo, contra ameaça de constrangimento a liberdade de locomoção, materializada na intimação do paciente para depor em CPI, que contém em si a possibilidade de condução coercitiva da testemunha que se recuse a comparecer, como, no caso, se pretende ser direito seu. II. STF: competência originária: habeas corpus contra ameaça imputada a Senador ou Deputado Federal (CF, art. 102, I, alíneas i e c), incluída a que decorra de ato praticado pelo congressista na qualidade de Presidente de Comissão Parlamentar de Inquérito. III. Comissão Parlamentar de Inquérito: prazo certo de funcionamento: antinomia aparente entre a lei e o regimento interno da Câmara dos Deputados: conciliação. 1. Eventual antinomia entre preceitos de lei e de regimento interno das câmaras legislativas, na maioria das vezes, não se resolve como questão de hierarquia ou de conflito intertemporal de normas, mas, sim, mediante a prévia demarcação, a luz de critérios constitucionais explícitos ou implícitos, dos âmbitos materiais próprios a cada uma dessas fontes normativas concorrentes. 2. Da esfera material de reserva a competência regimental das Casas Legislativas, é necessário excluir, de regra, a criação de obrigação ou restrições de direitos que alcancem cidadãos estranhos aos corpos legislativos e ao pessoal dos seus serviços auxiliares: ai, ressalvado o que se inclua no âmbito do poder de polícia administrativa das câmaras, o que domina e a reserva a lei formal, por imposição do princípio constitucional de legalidade. 3. A duração do inquérito parlamentar - com o poder coercitivo sobre particulares, inerentes a sua atividade instrutória e a exposição da honra e da imagem das pessoas a desconfianças e conjecturas injuriosas - é um dos pontos de tensão dialética entre a CPI e os direitos individuais, cuja solução, pela limitação temporal do funcionamento do órgão, antes se deve entender matéria apropriada a lei do que aos regimentos: donde, a recepção do art. 5, par. 2.,da L. 1579/52, que situa, no termo final de legislatura em que constituída, o limite intransponível de duração, ao qual, com ou sem prorrogação do prazo inicialmente fixado, se há de restringir a atividade de qualquer comissão parlamentar de inquérito. 4. A disciplina da mesma matéria pelo regimento interno diz apenas com as conveniências de administração parlamentar, das quais cada câmara e o juiz exclusivo, e da qual, por isso - desde que respeitado o limite máximo fixado em lei, o fim da legislatura em curso -, não decorrem direitos para terceiros, nem a legitimação para questionar em juízo sobre a interpretação que lhe dê a Casa do Congresso Nacional. 5. Conseqüente inoponibilidade pelo particular, intimado a depor pela CPI, da alegada contrariedade ao art. 35, par. 3., do Regimento da Câmara dos Deputados pela decisão plenária que, dentro da legislação, lhe concedeu segunda prorrogação de 60 dias ao prazo de funcionamento inicialmente fixado em 120 dias”90.

Dois anos depois, ao apreciar novamente a questão, decidiu o Supremo

Tribunal Federal que o §3º, do art. 58, da Constituição Federal, não proíbe prorrogações

90 Supremo Tribunal Federal, Habeas Corpus n.º 71.261/RJ, Tribunal Pleno, rel. Min.

sucessivas do prazo de condução dos trabalhos das Comissões Parlamentares de Inquérito,

desde que dentro da mesma legislatura. Nesse sentido, é a ementa abaixo transcrita:

“CONSTITUCIONAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO: FATO DETERMINADO E PRAZO CERTO. C.F., ART. 58, § 3º. LEI 1.579/52. ADVOGADO. TESTEMUNHA. OBRIGAÇÃO DE ATENDER À CONVOCAÇÃO DA CPI PARA DEPOR COMO TESTEMUNHA. C.F., ART. 133; CPP, ART. 207; CPP, ART. 406; CÓD. PENAL, ART. 154; LEI 4.215, DE 1963, ART.S 87 E 89. I. - A Comissão Parlamentar de Inquérito deve apurar fato determinado. C.F., art. 58, § 3º. Todavia, não está impedida de investigar fatos que se ligam, intimamente, com o fato principal. II. - Prazo certo: o Supremo Tribunal Federal, julgando o HC nº 71.193-SP, decidiu que a locução "prazo certo", inscrita no § 3º do art. 58 da Constituição, não impede prorrogações sucessivas dentro da legislatura, nos termos da Lei 1.579/52. III. - A intimação do paciente, que é advogado, para prestar depoimento à CPI, não representa violência ao disposto no art. 133 da Constituição nem às normas dos art.s 87 e 89 da Lei 4.215, de 1963, 406, CPC, 154, Cód. Penal, e 207, CPP. O paciente, se for o caso, invocará, perante a CPI, sempre com possibilidade de ser requerido o controle judicial, os direitos decorrentes do seu "status" profissional, sujeitos os que se excederem ao crime de abuso de autoridade. IV. - H.C. indeferido”91.

Realmente, não poderia ser outra a posição jurídica sobre o prazo –

peremptório e invencível – de duração das Comissões Parlamentares de Inquérito, na medida

em que a sua vinculação ao término da legislatura atende, “tanto quanto possivel”, a

representação proporcional que originou a aprovação da abertura do processo de investigação.

Venia concessa, admitir o contrário seria desconsiderar que, a cada legislatura, diversas são as

forças políticas em cada Casa Legislativa, como muito bem esclarece JANDER MAURÍCIO

BRUM

92

.

91 Habeas Corpus n.º 71.231/RJ, Tribunal Pleno, rel. Min. Carlos Velloso, j. 05-05-1994, DJ

31-10-1996.

92 Jander Maurício BRUM, CPI (comissão parlamentar de inquérito): federal, estadual,