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Que força é Eça?

No documento Guia Do Professor11 (Word) (páginas 77-83)

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Publicado em 1888, com 990 páginas, Os Maias levou oito anos a ser burilado por Eça, que vivia fora de Portugal e, à distância, expôs no romance toda a sua pendência desconsolada por um país obsoleto e estagnado, ridicularizando demolidoramente parlamentares, poetas medíocres e jorna- listas. A ironia deste romance é que os porta-vozes dessas críticas são eles próprios, João da Ega e Carlos da Maia, não mais do que uns janotas, ociosos, pedantes, indolentes e parasitas da socie- dade. Que têm sempre uns livros para publicar que nunca chegam a escrever ( As memórias de um átomo ou o Lodaçal ). Ou um consultório escrupulosamente decorado, muito bem ataviado, mas que não recebe doentes.

“O que domina como objeto de reflex~o é Portugal, personagem oculta por detrás das persona- gens visíveis. Um país aparentemente sem remédio, um país que as elites n~o s~o capazes de salvar” (Jacinto Prado Coelho); “Livro niilista, livro desesperado mesmo, Os Maias são o dobre a finados duma nação retratada com vitriólica ironia e vingativa s|tira” (Jo~o Medina). Recebido com muitas e severas reservas, { época, é hoje considerado “a mais perfeita obra de arte liter|ria que ainda se escreveu em Portugal, depois de Os Lusíadas” (Gaspar Simões) ou “express~o estética excecional da consciência desistente da geraç~o intelectual a que Eça pertenceu” (Isabel Pires de Lima).

E esta é uma das formas como se pode rever Os Maias, buscar a sua dramática atualidade, nesta adaptação de João Botelho, numa reverência muito respeitosa (talvez demasiada), que coloca o texto literário a prevalecer sobre a linguagem cinematográfica, e todos os exteriores ao abrigo de qualquer anacronismo – e de qualquer realismo também: foram filmados num grande

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hangar em Azeitão, com telas de grandes dimensões pintadas pelo artista plástico João Queiroz. Assim, passam as personagens, não só através da Lisboa novecentista, cruzada por transeuntes, pregões, fadistas, caleches e pelo famoso “americano”, mas também das bermas do Douro, Sintra, Itália e Paris. Tudo isto sem sair dos estúdios de Azeitão.

Encontramos o Portugal de agora (em crise política, económica e de identidade) sobretudo nas palavras de desalento e desistência. Desde a petul}ncia de Ega e Carlos, que acham que “isto aqui é uma choldra”, a um mestre de obras republicano, a desbarretar-se e a deixar arrastar os trabalhos, enquanto filosofa sobre a soluç~o para “desatravancar” o país desta “cambada”, destas “cavalga- duras”: “Um navio fretado { custa da naç~o, em que se mandasse barra fora o rei, a família real, a cambada dos ministros, dos políticos, dos deputados, dos intrigantes...”.

Ana Margarida de Carvalho, in Visão, n.o 1122, 4 a 10 de setembro de 2014 (texto com supressões).

1. Para caracterizar o país queirosiano e os tipos sociais satirizados, a autora, no primeiro período, recorre à

(A) dupla adjetivação e à enumeração, respetivamente. (B) ironia e à metáfora, respetivamente.

(C) dupla adjetivação e à ironia. (D) ironia e à comparação.

2. Ao referir-se a Carlos e a Ega, a autora pretende

(A) enaltecer o comportamento destas personagens da obra queirosiana. (B) enunciar aspetos pouco exuberantes no comportamento dos dois amigos.

(C)  mostrar o paradoxo que existe no facto de serem estes o motor das críticas presentes em Os Maias.

(D) criticar os membros mais ativos da alta sociedade lisboeta.

3. A opção de João Botelho de seguir escrupulosamente o texto da obra, tal como é evidente no penúltimo parágrafo,

(A) tem como objetivo mostrar semelhanças entre o Portugal oitocentista e o Portugal do séc. XXI. (B) pretende fazer prevalecer o texto literário sobre a obra cinematográfica.

(C) deve-se à falta de dinheiro para retratar fielmente os espaços referidos na obra. (D) mostra o respeito do realizador pela obra de Eça de Queirós.

4. O termo “porta-vozes”(l. 4)exemplifica o processo de formação de palavras por

(A) composição por radical mais palavra. (B) derivação por prefixação.

(C) derivação por sufixação.

(D) composição por palavra mais palavra.

5. A oração “que as elites não são capazes de salvar” (l. 10)é introduzida por

(A) um pronome relativo.

(B) uma conjunção subordinativa completiva. (C) uma conjunção subordinativa causal. (D) uma conjunção subordinativa consecutiva.

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6. O segmento “pelo artista plástico João Queiroz” (l. 20)desempenha a função sintática de

(A) sujeito.

(B) complemento direto.

(C) complemento agente da passiva. (D) complemento oblíquo.

7. O conector “mas também”(l. 22), no contexto em que surge, tem um valor

(A) adversativo. (B) disjuntivo. (C) conclusivo. (D) aditivo.

8. Indique a subclasse a que pertence o verbo viver(l. 1), no contexto em que surge.

9. Indique a função sintática do segmento “personagem oculta por detrás das personagens visíveis”

(ll. 9-10).

10. Classifique a oração “que ainda se escreveu em Portugal” (ll. 13-14).

GRUPO III

Escreva um texto expositivo, cuidado e coeso, contendo entre 130 e 170 palavras, sobre a importância das vivências amorosas para o ser humano.

Observe os seguintes tópicos: vocabulário claro e diversificado; estrutura tripartida do texto (intro- dução –  apresentação do tema; desenvolvimento –  apresentação das ideias e sua fundamentação; conclusão – reforço do tema/ideias).

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GRUPO I

 Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Leia o seguinte poema de Antero de Quental.

Noturno

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Espírito que passas, quando o vento Adormece no mar e surge a lua, Filho esquivo da noite que flutua, Tu só entendes bem o meu tormento…

Como um canto longínquo – triste e lento – Que voga e subtilmente se insinua,

Sobre o meu coração que tumultua,

Tu vertes pouco a pouco o esquecimento…

A ti confio o sonho em que me leva Um instinto de luz, rompendo a treva, Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome, A febre de Ideal, que me consome, Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

Antero de Quental, Poesia completa (org. e pref. de Fernando Pinto do Amaral), Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001, p. 240.

1. Caracterize o estado de espírito do sujeito poético.

2. Faça o levantamento dos vocábulos ou expressões que apontam para a relação entre o sujeito lírico e a noite, explicitando-a.

3. Explicite a funcionalidade do uso dos travessões no verso 5.

4. Justifique o uso das maiúsculas nos vocábulos “Bem” (v. 11)e “Ideal”(v. 13).

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GRUPO II

Responda às questões. Na resposta aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

1. O poeta invoca o espírito da noite porque

(A) acredita que só na noite encontrará paz e tranquilidade. (B) pede que lhe seja permitido continuar a sonhar.

(C) sente que a noite intensifica o seu sofrimento. (D) atenua a solidão que a noite acarreta.

2. A referência à noite, ao longo do poema, constitui uma

(A) metáfora. (C) sinédoque.

(B) personificação. (D) aliteração.

3. Na primeira quadra, o vocábulo “esquivo”(v. 3)é sinónimo de

(A) desconfiado. (C) terno.

(B) solidário. (D) afável.

4. No verso “A ti confio o sonho em que me leva” (v. 9), o elemento sublinhado desempenha a

função sintática de

(A) sujeito. (C) complemento indireto.

(B) complemento direto. (D) vocativo.

5. No verso “Um instinto de luz, rompendo a treva,” (v. 10)está presente uma

(A) metáfora. (C) antítese.

(B) personificação. (D) anáfora.

6. A expressão “Génio da Noite”(v. 14)desempenha a função sintática de

(A) sujeito. (C) complemento indireto.

(B) complemento direto. (D) vocativo.

7. Associe cada um dos elementos da coluna A ao segmento que na coluna B completa adequa- damente o seu sentido.

Coluna A Coluna B

[A]Na express~o “Espírito que passas”

(v. 1) [1]está presente uma conjunção subordinativa.

[B]Na passagem “quando o vento /

Adormece no mar”(vv. 1-2)

[2]está presente uma oração subordinada adverbial temporal.

[3]está presente um complemento oblíquo.

[C]No excerto “Tu só entendes bem o meu tormento…”(v. 4)

[4]está presente um complemento direto.

[5]está presente um pronome relativo.

[D]No verso “Buscando, entre visões, o eterno Bem.”(v. 11)

[6]estão presentes uma oração subordinada adverbial temporal e uma oração subordinante.

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GRUPO I

 Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Leia o excerto do poema de Cesário Verde.

Cristalizações

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Mal encarado e negro, um para enquanto eu passo; Dois assobiam, altas as marretas

Possantes, grossas, temperadas d’aço; E um gordo, o mestre, com um ar ralasso E manso, tira o nível das valetas.

Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas! Que vida tão custosa! Que diabo!

E os cavadores descansam as enxadas, E cospem nas calosas mãos gretadas, Para que não lhes escorregue o cabo.

Povo! No pano cru rasgado das camisas Uma bandeira penso que transluz! Com ela sofres, bebes, agonizas: Listrões de vinho lançam-lhe divisas, E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!

Cesário Verde, Cânticos do Realismo– O livro de Cesário Verde,

Lisboa, INCM, 2005, p. 115.

1. Caracterize o grupo social destacado, evidenciando os sentimentos que este provoca no sujeito poético.

2. Descreva o estado de espírito do “eu” lírico perante os aspetos observados, e justifique a sua resposta.

3. Atente na última estrofe e explique de que modo surge a transfiguração do real.

4. Identifique a presença de dois recursos expressivos ao longo do excerto, referindo a sua fun- cionalidade.

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GRUPO II

Responda às questões. Na resposta aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

Leia o texto.

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