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O que não é assédio moral

No documento Assédio moral no direito do trabalho (páginas 34-37)

É de suma importância a identificação correta do comportamento que caracteriza o assédio moral, pois é bastante comum que o chefe ou colega de trabalho acusado de praticar assédio moral, na verdade não esteja intencionado em humilhar ou ridicularizar de maneira propositada a suposta “vítima”, pode tratar-se apenas de cobranças naturais relacionadas ao serviço, que para o empregado a qual é destinada pode ser considerada abusiva, pode ser que o chefe esteja estressado e sobrecarregue esse estresse nos seus subordinados ou mesmo aquele colega de trabalho que sempre

“brinca” com seus companheiros não tenha intenção alguma de prejudicar ou machucar. Hirigoyen46

(2001,p.23) sintetiza bem em sua obra os sintomas que o estresse em um trabalho que exige muito serviço do empregado causa a este, que é completamente diferente dos efeitos que o assédio moral promove,

Sabe-se perfeitamente que as condições de trabalho estão se tornando a cada dia mais duras: é preciso fazer cada vez mais, e melhor (tarefas que têm de ser feitas com urgência, alterações de estratégia), toda essa pressão que conduz ao estresse; contudo, o objetivo consciente da gestão por estresse não é destruir os empregados, mas, ao contrário, melhorar seu desempenho. O propósito é o aumento da eficiência ou da rapidez na realização de uma tarefa. Se a gestão pelo estresse provoca consequências desastrosas sobre a saúde, é por uma alteração imprevista, uma dosagem errada (mesmo que, nos seminários de gestão do estresse, tente-se ensinar os executivos a suportar melhor a pressão!). Mas no estresse, contrariamente ao assédio moral, não existe intencionalidade maldosa.

Portanto, devido às metas impostas é natural o aparecimento do estresse, contudo esta sobrecarga de trabalho ocorre de maneira impessoal, ou seja, para todos os empregados, já o assédio moral é direcionado para determinado empregado, com a clara intenção de prejudicar, de perseguir, de humilhar.

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HIRIGOYEN, Marie-France. Redefinindo o Assédio Moral. Tradução de Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

Segundo Barreto47 (2007, p.59),

[...] a análise de qualquer situação da espécie não pode ser superficial, requerendo a instrução acurada no sentido de verificar se estão presentes os elementos caracterizadores do assédio moral, a intenção de humilhar outrem e os pressupostos do dano, isto é, o comportamento do agente, doloso ou culposo, por ação ou omissão; o resultado decorrente e, finalmente, o nexo de causalidade entre esse resultado e o comportamento do agente a quem se atribui a autoria do suposto dano.

Portanto, para se identificar determinada conduta como assédio moral é extremamente importante se verificar todas as circunstâncias que envolvem os acontecimentos, como a finalidade do comportamento, ou seja, o dolo do suposto opressor, a maneira como a suposta vítima está avaliando o caso, pois se trata de algo muito subjetivo, a política da forma de cobranças adotada pela empresa, a maneira como os chefes se relacionam com os seus subordinados e como está a convivência entre os colegas de trabalho, tudo isso para que não ocorram injustiças, através de uma análise incorreta dos fatos, o que pode dificultar ainda mais o verdadeiro combate a todas as mazelas efetivamente ocasionadas pelo assédio moral.

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BARRETO, Marco Aurélio Aguiar. Assédio Moral no Trabalho: Da responsabilidade do empregador. São Paulo: LTr,2007.

4 ASPECTOS JURÍDICOS,LEGISLATIVOS E JURISPRUDÊNCIA

O assédio moral no ambiente do trabalho, como ficou demonstrado no capítulo anterior, causa sérios danos ao trabalhador que vivencia tal situação, trazendo, inclusive malefícios para a empresa. Trata-se de um fenômeno mundial, com características semelhantes nos mais diversos países e que a cada dia, devido justamente à frequência com que ocorre, torna-se um assunto mais relevante, sendo objeto de estudo nas mais diversas áreas, como psicologia, medicina, sociologia e jurídica. Diante desse cenário, verifica-se que em diversos países já existe uma legislação própria para normatizar e consequentemente punir os opressores, além, claro de indenizar as vítimas.

No Brasil, existem inúmeros projetos de leis sobre o assunto, além de leis já aprovadas tanto no âmbito federal, estadual e municipal que tentam coibir a prática de tal comportamento na política das empresas privadas, através, por exemplo, da vedação de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social a empresas que tenham prática de assédio moral, assunto regulamentado no art.4º da Lei federal nº 11.948/09. Além disso, verifica-se tanto nos projetos de leis, como nas leis já aprovadas, a intenção de também evitar o assédio moral no serviço público, que apesar de ser considerado um setor mais tranquilo, não está imune a ações abusivas que caracterizam tal assédio. Mais adiante em um tópico específico sobre legislação será analisado de forma mais aprofundada o assunto.

A Constituição Brasileira de 198848 através do art.5º, inciso X que afirma “são

invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” abre margem para a questão da indenização por dano moral que se aplica perante os casos comprovados de assédio moral, tratando- se de um direito fundamental, aplicável, portanto, aos trabalhadores em suas relações de trabalho, com base na dignidade da pessoa humana, sendo inclusive garantido ao trabalhador, também em nível constitucional, através do art. 225 da CF/88, o direito a um meio ambiente equilibrado, que inclui o meio ambiente de trabalho e, diante dessas garantias a jurisprudência tanto dos Tribunais Regionais do Trabalho como do Tribunal Superior do Trabalho têm condenado com indenizações voluptuosas as empresas que comprovadamente praticaram o assédio moral, seja de forma individual, seja de forma coletiva. O assunto assédio moral e seu respectivo dano moral será melhor analisado adiante.

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988, atualizada até a Emenda Constitucional nº 62, de 9 de dezembro de 2009. 16. ed. São Paulo: Rideel, 2010.

No documento Assédio moral no direito do trabalho (páginas 34-37)