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7 Resultados

7.3 Desdobramento dos Objetivos do Estudo

7.3.4 Que papel o Centro de Informática teve, e ainda tem, na construção da vantagem

informação do Recife

Este tópico foi destinado à análise do objetivo geral do estudo: analisar a interação entre o Centro de Informática da UFPE e o mercado, a partir das dinâmicas de atuação e dos fluxos de intercessão existentes, compreendendo, dessa forma, as influências exercidas pela academia sobre a capacidade competitiva do setor de tecnologia da informação do Recife. No entanto, a análise da interação entre o Centro e o mercado já foi executada quando da exposição dos modelos Tripla Hélice e de transferência de conhecimento (ambos no item 7.2). Portanto, neste tópico o foco será concentrado na discussão relativa às influências exercidas pela academia sobre a capacidade competitiva do setor de tecnologia da informação do Recife.

Desde o momento em que modificou o perfil da mão-de-obra formada pela instituição, e em seguida quando fomentou a criação do C.E.S.A.R e do Porto Digital, o CIn tornou-se um elemento essencial para a construção do cenário econômico atual (figura 16). Como explica E7, “hoje tem um ‘boom’ muito grande, tem uma demanda enorme de serviços de todo Brasil e do mundo para o C.E.S.A.R, para o Porto Digital e para empresas de Pernambuco que foi fomentada através do CIn, e a gente teve um grande papel neste ponto”.

Figura 16: Ecossistema Fonte: C.E.S.A.R (2005)

É necessário prevenir que não se pretende afirmar que o CIn é o único responsável pelo cenário de tecnologia da informação existente no Recife. Isso por dois motivos: o

primeiro diz respeito ao fato de que as atividades na área de informática existiam antes mesmo do surgimento do antigo Departamento de Informática ser fundado na UFPE. Grandes empresas como a PROCENGE, fundada em 1972 e a Elógica, fundada em 1977, já atuavam no mercado e atuam até os dias de hoje. Tais empresas movimentavam o mercado bem antes da intervenção do CIn e mantinham atitudes bastante arrojadas A Elógica, por exemplo, criou em 1983 o primeiro computador brasileiro. Entretanto essa conduta mercadológica não era, e ainda não é, um padrão na realidade encontrada em empresas de tecnologia da informação locais. Como declara E3:

A indústria local é extremamente tradicional, ao contrario de empresas como a Motorola que já tem tradição em pesquisa e desenvolvimento assim como a Nokia a Samsung todo esse pessoal faz pesquisa na matriz. Eles têm PhD’s trabalhando lá dentro. Então o cara que fez doutorado junto comigo, na mesma sala que eu, hoje trabalha no laboratório da Philips fazendo pesquisa. Então, o que se pode afirmar é que a intervenção do Centro procurou alterar o perfil do mercado existente – agora sim – criando um sistema de empresas mais arrojadas e abertas ao contato com a academia.

O segundo motivo que impede a afirmação de que o Centro foi o único responsável pelo cenário de tecnologia da informação existente no Recife, trata das limitações próprias de qualquer das esferas em uma tentativa de integração. Sozinho, o Centro poderia ter mudado o perfil da mão-de-obra formada, pois essa ação cabe de fato à academia. Todavia, intervir na composição do mercado só foi possível em função da existência do C.E.S.A.R, uma organização híbrida (ETZKOXITZ E LEYDERSDORFF, 1995) capaz de transitar entre as esferas entendendo suas diferenças/limitações e gerando valor com a troca de conhecimento.

Os argumentos levantados apontam para o fato de que uma ação integrada entre o CIn e a organização surgida na interface do relacionamento foi responsável pelo desencadeamento de um processo de intervenção orientado ao desenvolvimento local do mercado de tecnologia da informação. Este processo se completa com a fundação do Porto

Digital, que é resultado de mais uma ação integrada, mas dessa vez, entre as três as forças, como declarou E1. O Porto trouxe mais visibilidade para o Recife como um todo. Agora, além do C.E.S.A.R, outras empresas da Região se tornaram referência para o setor.

A intervenção do Centro de Informática excede os limites percebidos por este ecossistema (figura 15), impactando também outros mercados e atividades que fazem parte do setor. A mão-de-obra formada pelo Centro está, de fato, capacitada para seguir uma carreira profissional inovadora, fundando ou compondo as empresas existentes sem precisar sair do Estado. Todavia, este mesmo profissional também está devidamente preparado para continuar na academia como parte ativa de um processo que se destina à pesquisa e a continuar formando uma mão-de-obra de qualidade. Como declarou E2:

[...] os professores de universidades particulares são nossos alunos ou ex- alunos também. Então se você observar o corpo docente da FIR, que tem curso de sistemas de informação lá, basicamente, todo mundo ou é aluno ou ex-aluno da nossa pós-graduação. Então o Centro também influencia na qualidade dos cursos das instituições particulares. Então a gente tem uma participação importante em toda essa movimentação de informática aqui do Estado.

Esta declaração demonstra que a intervenção do Centro é ampla e continuará afetando a economia do Estado, também por outras vias.

Ao longo de nove anos de atuação, a interação entre o CIn e o C.E.S.A.R trouxe grandes benefícios para o setor, aumentando incontestavelmente a visibilidade do Recife e das empresas de tecnologia da informação existentes aqui. Neste período o C.E.S.A.R tornou-se uma empresa grande e bastante estruturada, com mais de 400 postos de trabalho, fortes ligações com mercado internacional, entre outras características, que fazem dele um competidor de porte. E como declarou E5, com tais características é “inevitável que, por ser uma empresa grande, por ter um nome muito forte, acabe ocupando espaços de outras empresas”, e continua, “mesmo com uma liderança preocupada em fomentar o ecossistema, a

instituição pode acabar atropelando algumas empresas sim”. Então, o que o C.E.S.A.R representa hoje para o mercado que ele mesmo ajudou a criar?

Para fazer esta análise é necessário que primeiro se entenda as peculiaridades que compõem uma instituição como o C.E.S.A.R, visto que o mesmo nem é uma organização inteiramente de mercado nem uma instituição puramente acadêmica. Na verdade, como afirma E3, o C.E.S.A.R tem dois grandes focos de atuação. O primeiro mantém o C.E.S.A.R voltado para inovação e tem o objetivo de fomentar projetos de pesquisa com grandes empresas sobre as tecnologias que estão na fronteira do conhecimento. A preocupação está no avanço tecnológico e no surgimento de novos empreendimentos; O segundo orienta o C.E.S.A.R à produção de sistemas para o mercado atendendo demandas externas e, de fato, competindo pela sobrevivência no mercado. Para E3, “o nó do problema é que tem dois C.E.S.A.R’s, e eles dois precisam existir por que é o C.E.S.A.R comercial que provê recursos. Então para existir o outro [inovação] é preciso do um [comercial].”

É necessário separar o C.E.S.A.R, entre o C.E.S.A.R que produz sistemas para o mercado e o C.E.S.A.R que produz inovações. O C.E.S.A.R inovador que produz novas empresas, o C.E.S.A.R que tem incubação, que tem projetos com a Motorola, esse C.E.S.A.R ele não compete, ele está trabalhando com uma outra esfera na qual o setor produtivo local não vai conseguir atuar, por falta de vocação, por que não tem interação com o CIn, etc., aí sim ele é importante e neste sentido o C.E.S.A.R está em um outro universo. Quando você olha o C.E.S.A.R enquanto fábrica de software aí tem competição mesmo, tem cooperação, mas tem competição, aí a gente pode até questionar se a competição é justa, do ponto de vista tributário, etc. (E3).

No cenário atual, para que o C.E.S.A.R inovador exista é necessário existir também uma fonte de recursos que o sustente. E, “a não ser que exista um mecanismo de fomento exógeno ao sistema que pudesse manter essa unidade inovadora funcionando” (E3), o C.E.S.A.R comercial precisa continuar disputando mercado e aportando recursos. Poder-se-ia então pensar que, em uma sofisticação do modelo de relacionamento, o mercado, agora fortalecido, poderia suprir o C.E.S.A.R inovador, fazendo com que o C.E.S.A.Rcomercial fosse aos poucos reduzindo sua atuação, deixando mais trabalho para as empresas locais. Esta

evolução, entretanto, parece um salto para o qual as empresas locais (dentro e fora do setor) não estão preparadas. Como analisa E3, se a interação com a universidade é algo incomum para a maioria das empresas locais, então o que dizer da possibilidade delas sustentarem o C.E.S.A.R?

O que se pode afirmar é que não há interesse do C.E.S.A.R em monopolizar o mercado tendo em vista a rede de empresas que ele mesmo ajudou a criar. Outras ações também demonstram que o C.E.S.A.R opta, em geral, pela cooperação. Como falou E1, o C.E.S.A.R escolheu no mercado um sistema para sua gestão interna mesmo tendo plena capacidade de concebê-lo. Entretanto, como tudo aquilo que é desenvolvido por sua fábrica de software é vendido, caso resolvesse desenvolver um sistema próprio acabaria promovendo uma competição direta.

Dentro de um processo de evolução natural, espera-se que o sistema de inovação vá se ajustando e construindo novos cenários para que uma instituição como o C.E.S.A.R continue influenciando o sistema sem trazer-lhe maiores danos. Hoje, mesmo que em algumas vezes o C.E.S.A.R tenha atropelado outras empresas, o que fica claro é que a sua presença é uma referência incontestável da capacidade da mão-de-obra local. E, para o mercado de tecnologia da informação do Recife, o C.E.S.A.R têm sido um dos principais articuladores do sistema de inovação, o responsável pelo surgimento de diversas empresas e, principalmente, pela chegada de demandas antes remetidas apenas ao Sul e Sudeste do país.

De fato, como afirmaram alguns dos entrevistados, não se pode dizer que o mercado de Tecnologia da Informação está no Recife. No entanto, a influência da interação entre o CIn e o C.E.S.A.R possibilitou que a Cidade pudesse ser reconhecida pela mão-de-obra qualificada que forma, sendo esta capaz de suprir demandas sofisticadas onde quer que elas estejam.