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7 Resultados

7.3 Desdobramento dos Objetivos do Estudo

7.3.1 Vontade Política do Centro de Informática e a Construção do Relacionamento CIn-

De acordo com Terra e Etzkowitz (1998), o sucesso do modelo Tripla Hélice está intimamente relacionado à vontade política da instituição de ensino e pesquisa, tendo em vista que a forma como a instituição se estrutura, organiza e incentiva as ações voltadas à cooperação Universidade-Mercado influencia o processo de interação que a tende então a ser mais ou menos consolidado. Na relação estudada se pôde perceber que, ao longo dos seus 28 anos de existência, ações específicas foram executadas no Centro para que este pudesse cooperar de maneira mais eficiente com o mercado.

Desde os anos 80 alguns integrantes do Centro lançaram um olhar crítico sobre o mercado, detectando suas deficiências e limitações. Este olhar deu início a um processo de aproximação da academia com o mercado, mencionado na sessão 7.1 deste estudo, que resultou na fundação do C.E.S.A.R. No entanto, para compor este cenário de integração, além das mudanças e atitudes pessoais de engajamento, houve uma reestruturação do modelo de gestão voltada para dar suporte a este processo de aproximação. Tal processo iniciou com a transformação do antigo Departamento de Informática em Centro.

Esta mudança, articulada entre os anos de 96 a 99, foi motivada, de acordo com E1, por dois aspectos, primeiro “porque o número de professores estava ficando grande demais para ser parte de um departamento apenas” e segundo, porque de fato “se obtém mais autonomia sendo centro do que sendo departamento”.

Dessa forma, em 1999, o CIn nasce com características bastante peculiares, começando pela forma como o mesmo foi organizado. De acordo como regimento da universidade é obrigatório haver no mínimo três departamentos em cada Centro, então para não quebrar a coesão existente entre os membros, os três departamentos foram “criados”, no entanto, como afirmou E1, a estrutura real do Centro foi desenvolvida de maneira a aumentar a eficiência do mesmo. Como relatou E2:

O Centro funciona internamente de maneira diferente dos outros centros da UFPE, primeiro que ele foi criado a posteriori. O Centro tem uma característica própria, ele é mais uniforme. [...] e como ele foi criado a posteriori nós nos organizamos internamente através de coordenações. Então existe uma estrutura de coordenações que lidam com assuntos específicos, incluindo uma coordenação de cooperação que existe exatamente para identificar projetos de cooperação, acordos para serem feitos com empresas. Ao invés de seguir os padrões normais de estruturação (figura 14), que acaba por dividir os esforços em estruturas repetidas, foi elaborada uma estrutura de coordenações que além de poder cumprir as atividades naturais em ensino e pesquisa, também serviu como suporte ao processo de interação com o Mercado.

Figura 14: Modelo padrão para organização dos Centros da UFPE Elaborado pela autora com base nos dados coletados

Como exposto no organograma da figura 15, em sua estrutura de coordenações o Centro dedicou uma delas, a de Cooperação e Integração, ao fomento da relação

universidade-mercado. As gerências que aparecem no desenho da estrutura do CIn servem como suporte administrativo de todo o Centro, cuidando de todas as questões burocráticas relativas ao seu funcionamento.

Figura 15: Organograma CIn Fonte : Centro de Informática (2005a)

A constituição da estrutura do Centro deixa clara a iniciativa de se preparar para dar suporte ao relacionamento universidade-mercado. Sua Coordenação de Cooperação tem o objetivo de firmar projetos de pesquisa, tais como os existentes com a Motorola, a Itautec e a Samsung. Então além do C.E.S.A.R, o próprio Centro tenta encontrar oportunidades de interação e entrada de capital.

Para se ter uma idéia mais exata do quanto que uma postura clara e organizada da instituição pode influenciar na capacidade de interagir com o mercado, pode-se fazer uma análise comparativa entre a postura do Centro e a existente na instituição da qual o mesmo faz parte. O posicionamento do Centro diverge inteiramente da postura da instituição como um todo. Nenhum dos entrevistados identificou na UFPE qualquer indício de vontade política de caráter institucional para a interação Academia – Mercado. Foram levantadas reflexões que analisaram desde a fragilidade da missão da instituição até a falta de apoio para grupos ou profissionais, individualmente, que desejem interagir com mercado.

Com relação à missão institucional, como afirma E7, “... a primeira coisa é a falta, não só na Universidade Federal e sim em qualquer outra, de definição clara da missão, sem palavras genéricas que acabam dando margem a qualquer interpretação”. De acordo com o entrevistado, a falta de clareza traz prejuízos que vão desde uma má interpretação da idéia central da missão até a disseminação de preconceito com aqueles que resolvem se aproximar do Mercado.

Para E6, “como a instituição não explicita na sua política ou na sua missão que é para gerar desenvolvimento econômico, as iniciativas que estão relacionadas a dinheiro, a desenvolvimento socioeconômico e a transferência para a indústria, sofrem uma pressão muito grande”. Uma conseqüência imediata da falta clareza na definição de um posicionamento sobre a relação universidade-mercado é a pulverização de esforços. Como afirmam E6 e E4, é possível encontrar alguns esforços, algumas pessoas, alguns grupos, mas não há uma política interna de gestão de transferência de tecnologia. Em várias áreas da UFPE pode-se ver um professor ou outro que desponta na relação com a indústria, mas são iniciativas particulares, pois não existe um auxílio institucional: “não tem um bureau com gente que vai dar assessoria para ele, que vai dar suporte, que vai dar um background daquela ação frente a uma empresa” (E6).

Para alguns dos entrevistados, essa falta de clareza é resultado de uma imaturidade temporária, mas que com o tempo a instituição vai se posicionar de maneira mais clara. Porém, enquanto isso não acontece, os relacionamentos entre a UFPE e uma instituição de interface como o C.E.S.A.R ficam em suspenso e a experiência desta instituição em nada consegue beneficiar a Universidade.