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O presente texto não tem por objetivo falar da avaliação do aluno, mas sim do sistema educativo. Porém, essa modalidade de avaliação envolve todos os atores, ou seja, alunos, pais, professores e gestores da educação.

Os sistemas escolares se apropriaram de uma nova modalidade de avaliação. Dessa forma é extremamente necessário refletir sob que pretexto se avalia e o objetivo educativo da instituição para compreender os resultados oriundos dessa avaliação, os respectivos diagnósticos e as devidas recomendações.

Atender a essas indagações pressupõe definir avaliação, isto é, tanto as avaliações individuais, quanto os dispositivos8 e as organizações dos mesmos. Conforme Figari (1996): “um processo de observação e de interpretação dos efeitos do ensino, que visa orientar as decisões necessárias ao bom funcionamento da escola”. Ou seja, que pode iluminar os caminhos para a tomada de decisões, seja subsidiando o professor em suas reflexões, seja inovando sua prática pedagógica.

Apesar da avaliação institucional ou de dispositivos merecer uma definição, esta não pode ser dada de forma simplista e prévia, pois o assunto ainda está sendo debatido. De acordo com Figari (1996), ao tratarmos dos trabalhos de investigação, é possível operacionalizar várias medidas sobre os estabelecimentos e as organizações, porém tais medidas não devem ser confundidas com avaliações.

Este autor sugere ainda a definição de macroavaliação: “um processo sistemático de recolha e de interpretação das observações com a finalidade de dar a conhecer o desenrolar e os efeitos de um projeto pedagógico” (FIGARI, 1996, p.34). Sendo

assim, o projeto pedagógico pode ser substituído pela expressão dispositivo.

A avaliação de um dispositivo preocupa-se tanto com os atores envolvidos nos procedimentos, quanto ao processo de apropriação das informações realizado pelos integrantes dessa ação que assim complementarão sua aprendizagem. O uso da avaliação implica, necessariamente, numa clara explicitação do que está em jogo, ou seja, dos critérios implícitos e, sobretudo, dos modos de interpretação da informação. Conforme Figari (1996), a procura e utilização da avaliação podem constituir finalidades opostas, tais como:

A procura social que expressa a compreensão dos fenômenos escolares, na tentativa de que o emprego de alguma estratégia tenha sucesso, viabilizando, assim, uma exigência de eficácia, bem como em termos de recepção e funcionamento de uma política educacional implantada.

A procura institucional que ratifica a procura social. As organizações pressionadas pelas leis da rentabilidade e das evoluções técnicas são conduzidas a controlar os resultados de uma política, a regular as devidas adaptações dos grupos e dos indivíduos às mudanças que deixam de afetar o seu funcionamento.

A procura internacional surge sob a forma de grupos de trabalho com o objetivo de comparar a eficácia observada dos sistemas educacionais dos diversos estados representados como, os países da OCDE e o trabalho conjunto do Grupo Quebec e do Francês. Figari (1996)

A procura pedagógica, finalmente, apesar de ser mais conhecida, apresenta características contraditórias, pois a avaliação associa-se a um instrumento de ameaça aos atores do sistema educacional. Entretanto, quanto à forma, visa uma procura frequente no tocante à formação.

De acordo com Figari (1996), em face das diversas procuras, são várias as respostas apontando problemas, dentre os quais se destacam:

1. A confusão que reina em torno da própria noção de avaliação: acontece devido às várias finalidades e formas a ela atribuídas, podendo assumir o sentido de verificação, comparação de indicadores, de controle, de sanções, de medida etc. Então, pode-se concluir que para os sujeitos avaliados, a avaliação nem sempre significa um instrumento positivo à aprendizagem.

2. A confusão dos papéis que daí resulta entre os gestores (autores de dispositivos educativos), os avaliadores externos (que serão objeto de análise), os atores de base, alunos ou professores: apoiar-se-ão mutuamente? Os professores irão se apropriar dos resultados da avaliação de forma positiva sem atribuir como fenômeno sancionador e competidor entre escolas? A equipe escolar não ficará constrangida em decorrência dos resultados?

3. A tendência para a profissionalização da função de avaliação. Os métodos, as linguagens, as práticas avaliativas desenvolvem-se de maneira cada vez mais especializada. Dessa forma, a instituição de ensino torna-se alvo desejável para os observatórios de peritos e auditores, de maneira que a avaliação passa a ser objeto de estudo e poder dos agentes externos à instituição escolar.

Considerando esses problemas, Figari (1996) alerta que a “avaliação relacionada com os dispositivos põe os mesmos problemas que a avaliação respeitante aos indivíduos”. É comum ouvirmos o contrário a isso, ou seja, que os organismos, as estruturas, estão conectados a outros campos conceituais (a psicologia social, a sociologia das organizações, a etnografia, a análise dos sistemas, etc.). É evidente que necessitamos destas leituras para entendermos o funcionamento dos dispositivos educativos, tratando-se de elucidações apropriadas pela investigação, e não pela avaliação propriamente em si, através da abordagem normativa: o objetivo é a dimensão da classificação dos alunos ou das escolas de forma comparativa, permitindo atribuir parâmetros de sucesso ou insucesso. Já a abordagem criterial é a emissão de produção do aluno em função do parâmetro estabelecido visando o sucesso e o progresso individual.

Tendo em vista esses problemas relacionados com a avaliação, Figari (1996, p. 36) aponta como resposta no plano teórico que

[...] só podemos avaliar um objecto (quer dizer, um estabelecimento, uma organização, um serviço) já referenciado, definido, circunscrito, que deu lugar a uma descrição das suas finalidades, funções, especialidades, ou seja, um objeto de qualquer forma já conceptualizado.

Quanto à resposta metodológica, esta tem como premissa desvelar uma avaliação da especificidade e dos efeitos de todo o dispositivo. Sendo assim, a resposta

deve se encontrar na “referencialização, ou seja, na interrogação e no desvendamento de um sistema de coordenadas realizado em função do desígnio e do desenho que os actores dele podem traçar”. (FIGARI, 1996, p.37).