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Quem era o fundador da Companhia de Jesus?

No documento Marcos Roberto de Faria (páginas 75-82)

De acordo com O’Malley (2004), Inigo52 Lopez de Loyola nasceu, como último de muitos filhos, provavelmente em 1491, no castelo de Loyola, no território basco ao Nordeste da Espanha, perto de Azpeitia, na província de Guipuzcoa. Recebeu a rara educação cavalheiresca e acadêmica de sua classe social. Quando tinha cerca de 13 anos, foi enviado por seu pai a Arévalo, para o lar de João Velázquez de Cuéllar, tesoureiro-mor do rei Ferdinando de Aragão, onde foi treinado nas maneiras e nas habilidades apropriadas para um cortesão. Permaneceu em Arévalo um certo número de anos. Numa visita a Loyola, em 1515, Inigo foi citado na corte por briga; naquela ocasião, reivindicou que levava a tonsura e, portanto, tinha privilégios de clérigo. Este incidente e sua revelação mais tarde de que tinha sido indiscreto em seus relacionamentos com mulheres indicam que sua condição clerical, adquirida não se sabe quando, representou para ele apenas uma conveniência legal.

Quando Velázquez morreu, em 1517, Inigo entrou no serviço militar, sob indicação de Dom Antônio Marique de Lara, duque de Nájera e vice-rei de Navarra. Em 1521, o rei Francisco I da França iniciou a primeira fase de sua longa luta contra o recentemente eleito imperador Carlos de Habsburgo, que desde 1516 era também rei da Espanha. Quando as tropas francesas entraram na Espanha e avançaram para Pamplona, Inigo estava lá para defendê-la; em 20 de maio, uma bala de canhão explodiu e o atingiu, fragmentando sua perna direita e machucando gravemente sua perna esquerda.

Enquanto se recuperava no castelo de Loyola, um pouco desesperado, voltou-se à única literatura à mão: as vidas dos santos na Fábula dourada, de Jacopo da Voragine, e a Vida de Cristo, escrita por Ludolfo da Saxônia, ambas traduzidas para o castelhano. A primeira leitura levou-o a especular sobre a possibilidade de moldar sua própria vida à maneira dos santos e imitar suas proezas, imaginadas por ele nos padrões dos heróis cavalheirescos com que estava mais familiarizado. Foi assim que se iniciou sua conversão.

Na sua imaginação, contudo, debateu por um longo tempo as alternativas: continuar seu caminho anterior ou mudar completamente para os modos de vida exemplificados especialmente por São Francisco de Assis e São Domingos. Descobriu que, quando se demorava na primeira alternativa, sentia-se mais tarde seco e agitado em espírito, enquanto que, ao demorar-se na segunda, sentia serenidade e conforto. Assim, gradualmente, chegou à

52 Segundo O’Malley, quando estava em Paris, Inigo começou a estudar latim: “matriculou-se, então, no Colégio Santa Bárbara e começou a se referir a si mesmo indiferentemente como Inácio ou Inigo, porque erroneamente pensou que o primeiro nome era apenas uma variante do último” (O’MALLEY, 2004, p. 53). Porém, alguns

conclusão de que Deus estava lhe falando e resolveu começar uma vida inteiramente nova. O processo pelo qual chegou a tal decisão tornou-se uma característica da maneira como ele continuaria a governar a si mesmo e tornou-se um modelo do que ensinaria aos outros.

Confira-se como esse processo foi registrado em sua autobiografia:

Notou, todavia, esta diferença: quando pensava nos assuntos do mundo, tinha

muito prazer; mas, quando, depois de cansado, os deixava, achava-se seco e descontente. Ao contrário, quando pensava em ir a Jerusalém descalço, em não

comer senão verduras, em imitar todos os mais rigores que via nos Santos, não se consolava só quando se detinha em tais pensamentos, mas ainda, depois de os deixar, ficava contente e alegre. Mas não reparava nisso, nem parava a ponderar esta diferença, até que uma vez se lhe abriram um pouco os olhos, e começou a maravilhar-se desta diversidade e refletir sobre ela. Colheu então, por experiência,

que de uns pensamentos ficava triste e de outros alegre. Assim veio pouco a pouco

a conhecer a diversidade dos espíritos que o moviam, um do demônio e outro de Deus (LOYOLA, Autobiografia, n. 8 – grifos meus).

Uma vez que sua força física ficara restabelecida, pôs-se a caminho de Loyola para o monastério beneditino de Montserrat, na Catalunha. Aí, após passar uma noite inteira em vigília diante da famosa estátua de Nossa Senhora Negra, abandonou sua espada e adaga e as substituiu pelo bastão de peregrino e a roupa de mendigo. Quando deixou Montserrat, passou algum tempo na pequena cidade de Manresa, perto de Barcelona, onde meditou sobre a vida de Cristo e descobriu a Imitação de Cristo, um livro ao qual permaneceu devoto durante toda a sua vida. Ao mesmo tempo, obrigou-se a uma vida de grande austeridade e abandonou toda a preocupação com sua aparência.

Durante esse período, começou a usar suas experiências religiosas para ajudar outros e fez registros com tal fim em mente. Depois de algum tempo, certamente os elementos essenciais dos Exercícios espirituais emergiram e começaram a tomar forma. O livro era uma espécie de destilação simplificada de sua própria experiência, moldada especialmente para ser útil aos outros.

Depois disso, permaneceu um período na Terra Santa. E “se sentiu inclinado a passar algum tempo em estudos”. No outono de 1524, encontrava-se em sala de aula em Barcelona, tentando aprender gramática latina com jovens que tinham um pouco menos da metade de sua idade53. Mendigava para sua alimentação e, depois, ao anoitecer, repartia o que havia recebido

jesuítas que se ocuparam de sua biografia dizem que ele assumiu o nome Inácio, alguns anos após sua

“conversão”, por sua devoção a Santo Inácio de Antioquia (cf. CARDOSO, 1991).

53 Em artigo sobre o ensino ministrado nessas aulas em Barcelona, Marimón e Dalmases (1968) descreveram que pela manhã interpretavam-se Quintiliano, os Evangelhos e a retórica. Tomavam-se oralmente as lições de cor. À tarde, interpretavam-se Terêncio e Virgílio e praticava-se a sintaxe. Explicava-se o livro De officiis de Cícero, entre outros. Aos sábados, explicava-se Horácio, gramática latina e interpretavam-se as Epístolas de São Paulo. Os alunos exercitavam-se, ainda, a conjugar e a compor. Na parte da tarde, cada professor repetiria suas lições (MARIMÓN; DALMASES, 1968, p. 380). Em uma carta deste período há referência ao conteúdo do que se

com outros mendigos que buscava nas ruas. Após dois anos, começou a assistir a aulas na Universidade de Alcalá, onde os programas de estudo eram fortemente influenciados pela Universidade de Paris e por certos aspectos do movimento humanista54 da Renascença italiana. Nesse período, Alcalá foi também um centro de entusiasmo na Espanha pelos escritos de Erasmo, dentre eles o Manual do soldado cristão.

Ainda vestindo seu traje de peregrino, Loyola assistiu a palestras sobre dialética, física de Aristóteles e sentenças de Pedro Lombardo. Nas suas horas livres, continuou a mendigar e também começou a orientar algumas pessoas por meio dos Exercícios e a ensinar o catecismo a “um grande número de pessoas”, que se reuniam para ouvi-lo. Foi ligado a outros homens que se vestiam do mesmo modo e seguiam o mesmo estilo de vida. Rumores logo se espalharam de que esses homens vestidos com “roupas de saco” eram alumbrados55. Os rumores acerca de Loyola e seus amigos chamaram a atenção da Inquisição de Toledo, que o pôs 42 dias na prisão.

Um pouco desnorteado, Loyola foi confirmado pelos conselhos amigos de Afonso de Fonseca y Acebedo, arcebispo de Toledo, em sua intenção de interromper os estudos em Alcalá e ir para a mais distinta das mais velhas universidades espanholas: Salamanca. Ele e quatro companheiros tinham chegado lá apenas no meio do verão de 1527, quando caíram na suspeita dos dominicanos, pelo menos alguns dos quais viam o mundo contaminado pelos

ensinava e quem foram os mestres de Inigo em Barcelona. Veja-se: “Compañia de estudos humanísticos –

Barcelona, 13 de noviembre 1532. (...) Em nom de Déu y de la gloriosa e umill Verge Maria és estada feta e tractada amigable concórdia entre los magnífics mossèn Ivarra, mossèn Cosma Mestre, mossèn Arnau de Sant Joan e mossèn Hieròmim Ardèvol, per a legir, interpretar e praticar les liçons y exercicis del art de grammàtica y poesia y oratòria” (apud MARIMÓN; DALMASES, 1968, p. 385).

54 De acordo com Lins (1967), “em fins do século XV, quando adquiriu pleno surto, consistiu o humanismo, essencialmente, no cultivo dos conhecimentos que visavam à felicidade e ao aperfeiçoamento do homem, em oposição às cogitações dos teólogos, os quais, voltados para Deus, consideravam a Terra passageiro exílio. Dessa oposição típica entre o homem e Deus, entre a Terra e o Céu, tirou o humanismo o seu nome” (LINS, 1967, p. 96). O autor destacou que o humanismo atingiu fortemente os meios eclesiásticos nesse período. Por exemplo, Ficino, cônego da Igreja de São Lourenço em Florença, comentou do púlpito as obras de Platão, esforçando-se por fazer os Evangelhos concordarem com o filósofo, e não este com eles. Em 1545, “inaugura-se solenemente o Concílio de Trento com um sermão do bispo de Bitonto, Cornélio Mussi, em que este prova a necessidade do Concílio, ‘primeiro, porque vários concílios depuseram reis e imperadores; e, segundo, porque, na Eneida, Júpiter convocou o Concílio dos deuses’” (LINS, 1967, pp. 104-8). Porém, os “exageros” do humanismo eram condenados pelo mesmo Concílio quando, por exemplo, na sessão de 3 de dezembro de 1563, decidiu-se por tirarem as “nudezes escandalosas das pinturas da Capela Sistina”. Para tanto, o escolhido foi Daniel de Volterra, discípulo de Miguel Ângelo, que retocou os quadros do mestre, o que lhe valeu o apelido de “pintor de calças” (LINS, 1967, p. 111 – nota).

55 Eram “os ‘iluminados’, adeptos de um movimento especialmente difundido em Castilha, que exaltava a procura da perfeição espiritual por meio da iluminação interna, foram perseguidos pelas autoridades temerosas desses pseudomísticos, que desprezavam as expressões mais tradicionais de piedade” (O’MALLEY, 2004, p. 51).

erros de Erasmo. Menos de duas semanas depois, Loyola estava novamente preso56. Dessa vez, quatro juízes o interrogaram, os mesmos que já haviam examinado uma cópia do manuscrito dos Exercícios espirituais e deram especial atenção à parte que tratava do “discernimento dos espíritos”, na qual eram discutidos os movimentos de consolação e desolação na alma e sua função no encontrar e seguir a vontade de Deus.

Os juízes novamente o absolveram. Mas Loyola estava convencido de que não deveria mais permanecer em Salamanca. Resolveu continuar os estudos em Paris. Após uma viagem de quase 700 milhas, em 2 de fevereiro de 1528, chegou sozinho a Paris. Nessa cidade, adquiriu o grau de mestre em Artes em 1535.

Antes disso, porém, em 1533, encontrou nas ruas de Paris dois jovens espanhóis que tinham recém-chegado à capital – Diogo Laínez e Alfonso Salmerón, com a idade de 20 e 17 anos, respectivamente. No inverno de 1534, ambos fizeram os Exercícios espirituais sob a direção de Loyola e, por isso, suas vidas tomaram um rumo radicalmente diferente. Ainda em 1534, associaram-se ao grupo dois outros estudantes – Nicolau de Bobadilla, que, após receber um diploma em filosofia em Alcalá e de ensinar lógica e estudar teologia em Valladolid, chegou a Paris em 1533, e um português que havia estudado em Paris desde 1527, Simão Rodrigues. Nesse período, eram apenas “amigos do Senhor”. Dentre esses “amigos” estava também Favre, ordenado sacerdote em julho de 1534. Na festa da Assunção de Maria em 15 de agosto de 1534, eles se uniram por voto para trilhar o mesmo caminho de ação, assim como levar uma vida de pobreza. Estavam irmanados pela liderança de Loyola e, mais profundamente, pela experiência religiosa dos Exercícios.

Na primavera de 1535, Loyola deixou Paris para fazer o que seria sua última visita à sua terra natal, para depois juntar-se aos outros em Veneza. Onde, em 24 de junho de 1537, ele e alguns companheiros foram ordenados sacerdotes. E, antes de dispersarem-se por outras cidades italianas, deliberaram que, para qualquer pessoa que lhes perguntasse quem eles eram,

56 Sobre Salamanca e as “correntes místicas” que aí estavam presentes, veja-se o que disse Tüchle (1966). De acordo com o autor, “El humanismo cristiano fue favorecido eficazmente por una corriente mística. Se tradujeron obras como la Vida de Cristo, de Ludolfo de Sajonia; en 1493 apareció un Lucero de la vida cristiana; era conocida la explanación del Miserere hecha por Savonarola. La meta anhelada de todos los dirigentes eclesiásticos parecía ser un cristianismo orientado totalmente hacia la interioridad y la gracia. El estudiar la Etica de Aristóteles, así como a Cicerón, Séneca y Boecio, se apreciaba únicamente como preparación para la imitación de Cristo. Añadió a esto la impresión que a los hombres de aquella época produjo el prodigio de la dilatación de la cristandad, que iba más allá de todo lo imaginado, y algunos años más tarde, en torno al joven rey. Pero de los teólogos nominalistas de Salamanca salieron los primeros españoles que más tarde se hicieron sospechosos de tendencias luteranas; de sus filas salieron los alumbrados, aquellos místicos que dos generaciones más tarde habían de ser perseguidos rigurosamente por la Inquisición y el Santo Oficio” (TÜCHLE, 1966, pp. 18-9).

responderiam que eram da “Companhia de Jesus”, visto que não tinham outro superior senão Jesus. Por isso eram “jesuítas”.

Loyola, Favre e Laínez dirigiram-se a Roma para oferecer a Paulo III seus serviços. O papa apontou Laínez e Favre como conferencistas de teologia na Universidade de Roma e agraciou o trio com outros favores. Loyola continuou guiando pessoas através dos Exercícios. Entre aqueles guiados, provavelmente estava cardeal Gasparo Contarini, que um pouco mais tarde seria a figura-chave na aprovação da nascente Companhia de Jesus pelo papa. Rumores espalharam-se novamente entre a poderosa comunidade espanhola em Roma de que Loyola e os outros eram alumbrados ou luteranos disfarçados, porém, algum tempo depois, em 1538, ele obteve do governador da cidade um atestado de inocência. Foi nesse ponto que Loyola terminou a sua Autobiografia, com as palavras: “E o mestre Nadal pode lhes contar o resto”. Os anos de peregrinação de Loyola tinham, de fato, terminado, porque ele passaria o resto de sua vida em Roma (O’MALLEY, 2004, pp. 45-61).

Na carta que se reproduz adiante, escrita por Loyola em 1538, dirigida a Elisabethae Roser57, o fundador da Companhia falava da sua chegada a Roma e dos serviços prestados por

ele, Favre e Laínez. Veja-se a relevância dada ao ensino:

Más ha de um año que tres de la Compañia llegamos aquí en Roma58 como me

acuerdo averos scrito. Los dos comenzaron luego á leer gratis en la scuela de la

Sapiencia, el uno teología positiva y el otro scholástica, y esto por mandado del papa; yo me di todo á dar y communicar exercicios espirituales á outros, assí fuera de Roma como dentro. Esto concertamos por aver algunos letrados de nuestra parte, ó principales, ó por mejor decir, da la parte, honor e honra de Dios N. S., pues la nuestra no es otra que alabanza y servicio de la su divina magestad, porque en los mundanos no hallássemos tanta contrariedad, y después pudiéssemos más líberamento predicar su sanctíssima palabra, oliendo la tierra ser tan seca de buenos fructos y abundosa de malos (MI, Tomo I, 1903, p. 138 – grifos meus).

No trecho que se segue, da mesma carta, Loyola ressaltava a eficácia dos Exercícios e já podia contar com pessoas de “muitas letras”. Porém, como já foi destacado, ainda enfrentava rumores contrários à sua pessoa em Roma. Confira-se:

Después que por los tales exercícios (Dios N. S. obrando) ganamos algunos en

nuestro favor y sentencia, y personas de muchas letras y de mucha estima, al cabo de quatro meses de nuestra venida, pensamos juntarmos todos los de la Compañia en esta misma ciudad; y començando de llegarmos, pusimos diligencia en sacar licencia para predicar, exortar y confessar, la qual nos dió el legado muy copiosa,

aunque en este medio dieron muchas malas informaciones de nosotros á su

57 Elisabethae Roser conheceu Loyola já em 1523, na sua primeira passagem por Barcelona, onde foi sua grande benfeitora, durante todo o tempo de seus estudos. Em 1543 ela foi a Roma, com outras duas companheiras, e em 1545 conseguiu do papa fazer seus votos, “pondo-se à obediência da Companhia” (CARDOSO, 1991, p. 63 – nota).

vicario, estorvando la expedición de la tal licencia. Después da avida, comenzamos quatro ó cinco á predicar en las fiestas y en los domingos en diversas iglesias; assimesmo á mostrar á los muchachos los mandamientos, los peccados mortales, etcétera, en otras iglesias; continuándose siempre las dos liciones en la Sapiencia, y confessiones por otra parte. Todos los otros predicaban en lengua italiana, y yo solo en la española; y para todos sermones avía asaz concurso de gentes, y sin comparación más de lo que pensábamos que vuiera...

De Roma, 19 de Dicembre de 1538. De bondad pobre,

Iñigo (MI, Tomo I, 1903, pp. 138-144 – grifos meus).

Faço referência, por fim, a mais algumas cartas escritas por Loyola. Avalio que elas revelam alguns aspectos do modo de ser do fundador da Companhia de Jesus. Na primeira carta59 em que se referiu ao Brasil, o jesuíta explicitava sua visão da providência, dizendo que tudo concorria para a maior glória divina. Veja-se:

Quanto á la 2ª parte, que es del Brasil aunque emos entendido por letra de M. Simón que el Rei le dió licencia por tres años para yr á la tal India del Brasil, y que, llevando consigo hasta diez ó doze, se partirían para mediado este mes de Enero, no estamos seguros de sua partida; porque, como él esperava la llegada de Santa Cruz, y después se aya entendido que es passado para la otra vida sin fin, le daría que pensar cerca su partida, si más convenia para mayor gloria divina... tamem, yo penso, según que ha más de dez annos que este espírito le sigue y á nosotros de nuevo nos escrive, que será menester condescender á sus deseos, esperando que, si

son de Dios N. S., todo redundará á su mayor honra y gloria; y si son de otros, siendo su voluntad sana y buena su intención, que el mismo Señor le hará vencedor, y le dará victoria sobre todo, á maior gloria suia (MI, Tomo II, 1904, pp. 307-9 – grifos meus).

Em seguida, cito a carta de Loyola dirigida aos jesuítas de Portugal, na qual ele trata da questão da obediência. Segundo minha análise, essa carta também revela muito sobre seu modo de ser. Para ele, a obediência é o “distintivo” da Companhia de Jesus. Confira-se:

Sociis Lusitanis Roma, 26 Martii 1553.

(...) Y aunque en todas virtudes y gracias spirituales os deseo toda perfectión, es

verdad (como abréis de mí oydo otras veces) que en la obediencia, más

particularmente que en ninguna otra, me da deseo Dios nuestro señor de veros señalar, no solamente por el singular bien que en ella ay, que tanto en la sagrada Scriptura con exemplos y palabras en el viejo y nuevo Testamento se encareçe, pero porque (como dize san Gregorio) obedientia sola virtus est, quae menti caeteras virtutes inserit, insertasque custodit; y en tanto que esta floreçiere, todas las demás se verán floreçer y llevar el fructo que yo en vuestras ánimas deseo, y el que demanda el que remidió por obediencia el mundo perdido por falta della, factus obediens usque ad mortem, mortem autem crucis (MI, Tomo IV, 1906, pp. 669-70 – grifos meus).

59 “Carta que N. P. M. Ignácio escreveu de Roma a hum Padre da Companhia que então residia na corte d’el-rei de Portugal dom João 3º, a 17 de Janeiro de 1549”.

A obediência se construía na humildade e a maior expressão disto seria o colocar-se como servo inútil para a maior glória de Deus60.

Em outro trecho da mesma carta, Loyola dizia que a vontade do superior dentro da Companhia era a vontade de Deus. Esta questão da obediência ao superior me parece fundamental para pensar na organização administrativa da Companhia nesse período. Estabelecia-se aí uma das condições para colocar a “pedagogia da vigilância” em funcionamento. Acompanhe-se:

Assi que hermanos charíssimos, procurad de hazer entera la resignación de vuestras voluntades; offreced liberalmente la libertad que él os dió á Vuestro Criador y señor en sus ministros. (...) Y así no debéis procurar jamás de traer la voluntad del

superior (que debéis pensar ser la de Dios) á la vuestra, sino esto sería, no hazer

No documento Marcos Roberto de Faria (páginas 75-82)