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Os imóveis de escritórios

V. ii Para quem servem os edifícios não-residenciais do centro

V.3. Quem saiu e quem chegou

Instituições inanceiras

Nos levantamentos realizados, os bancos aparecem como um dos maiores proprietários de imóveis do Centro, mas já não como os principais ocupantes destes imóveis, conirmando as informações apresentadas no capítulo anterior, sobre os índi- ces de migração do setor inanceiro para as outras regiões. Observando-se a partir do ponto de vista da ocupação dos imóveis, no âmbito desta pesquisa, no ano de 1995, 52 edifícios aparecem como propriedade de instituições inanceiras, sendo que 47 destes eram também ocupados por atividades do setor. Em 2009, 33 aparecem como proprie-

dade de instituições inanceiras e 32 mantém alguma atividade ligada ao setor (pode ser apenas agência de banco no piso térreo). Ou seja, 40% dos imóveis que em 1995 eram propriedade de instituições inanceiras, em 2009 tinham mudado de proprietário, e 30% de ocupação. Estes dados mostram, por um lado, que as instituições inanceiras passaram a se desfazer de seus prédios, e por outro, que, embora tenham migrado, ainda são grandes ocupantes do parque construído no Centro. Isto se deve porque, se- gundo depoimento coletado por NOBRE (2000) de um consultor imobiliário da Brazil Realty,

(...) o que está acontecendo na verdade é que só a diretoria e a gerência estão saindo do Centro e indo para esses lugares [Zona Sul]. O core-business do banco é ganhar dinheiro, é atrair cliente, é associar o banco a uma imagem boa, segura. Então ele precisa estar num prédio que passe essa imagem. (...) Já o back-oice é o pessoal da parte operacional, telemarketing, compen- sação de cheques, que não precisa estar num local ‘chique’. O pessoal que trabalha lá é mão de obra e não é necessário que eles iquem em um local caro. O banco não vai precisar pagar um imóvel caro para esse pessoal op- eracional (NOBRE, 2000: 306).

Na mesma linha, vai a explicação de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco de Boston – instituição entusiasta da revitalização do Centro, fundadora da As- sociação Viva o Centro - sobre a saída da sede do banco da Rua Líbero Badaró rumo a um edifício projetado pelo escritório americano S.O.M., na Marginal Pinheiros:

O banco não está mudando a sua sede. Ele está fazendo uma descentraliza- ção de recursos, que é o que se faz hoje no mundo inteiro. (...) A tendência é a mesma em São Paulo. As áreas de negócios e atendimento ao cliente do banco vão para a Marginal Pinheiros, porque estarão perto dos seus clientes. Não faz sentido tais clientes se deslocarem para o Centro e depois voltarem à região da Marginal Pinheiros. Já o Centro de tecnologia do nosso Global Bank se instalará no Centro158.

Há, também, os bancos que saíram e depois voltaram para o Centro, como o caso do Banco Holandês – ABN Amro Bank,que trouxe sua matriz antes localizada no Rio de Janeiro para o Centro Velho de São Paulo no início dos anos 90. Em 1993, mudou-se para um edifício construído para ele na marginal. Em 1997, voltou para o

Centro, ocupando as instalações da antiga sede do Lloyds Bank com seiscentos fun- cionários das áreas operacionais e de atendimento a clientes particulares. Na marginal, icaram outros quinhentos funcionários da diretoria, do departamento de recursos hu- manos, serviços gerenciais para grandes investidores privados ou corporativos (NO- BRE, 2000:202).

Resumindo a espacialização acima descrita, segundo Lilian Feng, Gerente de Pesquisas da Jones Lang LaSalle, as instituições inanceiras localizadas em São Paulo distribuem-se hoje da seguinte forma: os bancos de investimentos estão na Av. Faria Lima, os bancos tradicionais na Av. Paulista e, no Centro, icaram os serviços opera- cionais159.Esta descrição corrobora com as asserções feitas pela geógrafa Helena Kohn

Cordeiro (1993), sobre a coniguração de um “complexo corporativo do Centro metro- politano da cidade de São Paulo” dividido em três núcleos complementares.

Nos edifícios onde se percebeu a mudança de ocupante, veriicou-se, dentre os novos, a predominância dos departamentos do poder público, instituições de ensi- no superior, empresas de call center e informática, seguradoras, sindicatos, entre out- ros serviços diversiicados, especialmente no caso dos que estão alugados para várias empresas. Um bom exemplo de como os edifícios vêm sendo ocupados é o caso do patrimônio deixado pelo Banco de Boston. Quando a sede desta instituição saiu do Centro rumo a sua nova sede padrão AA na marginal do rio Pinheiros, os seus edifí- cios foram ocupados da seguinte forma: um por uma instituição de ensino superior, a Universidade Anhembi-Morumbi; outro por uma empresa de telemarketing, a Atento; outro está dividido em condomínio e tem, entre seus ocupantes, secretarias do governo municipal.

Cabe destacar, também, que várias instituições inanceiras criaram, desde meados da década de 90, centros culturais que ocupam o pavimento térreo de seus edifícios, ou edifícios inteiros, como no caso do Centro Cultural do Banco do Brasil e da Caixa Cultural-Sé, da Caixa Econômica Federal.

Telemarketing/ Call center

Dentre os serviços que os bancos deixaram no Centro, estão os de telemar-

keting, atualmente mais conhecidos como call center, um dos setores de prestação de serviços que tem se destacado na evolução dos empregos (Capítulo III).

A localização das empresas de call centers no Centro tem hoje uma grande importância na dinâmica de ocupação dos edifícios, pois se tornaram, junto com o poder público, as maiores inquilinas dos imóveis disponibilizados para locação. Além dos departamentos ligados aos bancos, há empresas de vários portes que terceirizam o serviço e que, segundo Feng, vão para o Centro em busca de baixos valores de aluguel e não chegam a ocupar prédios inteiros - alugam salas em edifícios divididos em con- domínios.160 Não precisam de prédios com grandes qualidades, mas sim de bastante

espaço, já que empregam muitos funcionários. Já as iliais das três grandes empresas do ramo com sede no Município - a Atento, a Tivit e a Teleperformance, mencionadas no capítulo anterior -, estão nos edifícios de único proprietário.

Ainda segundo Feng, além do valor do aluguel, o Centro tem qualidades de infraestrutura fundamentais para este setor: diversidade de meios de transportes, ca- beamento de telefonia e ibra-ótica161, e ainda a grande vantagem de sofrer pouco com

queda energética, já que, por aí, passa a malha de fornecimento da cidade. Por outro lado, este tipo de uso em edifícios de condomínio acaba espantando outros inquilinos: “Na hora de troca de turno, podem ser mil funcionários entrando e saindo ao mesmo tempo. Ninguém quer ir para um prédio onde tem call center”162. A localização dos call

centers também virou um termômetro de baixos valores de aluguel: “aqueles prédios ruins, onde não dá pra fazer mais nada, acabam virando call centers. Quando o call center vai para o prédio, já dá pra saber que o aluguel é bem baixo, em torno de R$ 8,00/m²”163.

Universidades

Entre 2002 e 2009, 19 edifícios do Centro passaram a ter como ocupantes departamentos de instituições de ensino superior, sendo que 18 destas até então não es-

160 A autora deste trabalho teve esta informação através das entrevistas, já que se trata de uma ocupação car- acterística dos edifícios divididos em condomínio, que não entraram no levantamento para este trabalho.

161 Embora, segundo informações que recebemos recentemente, a rede esteja já bastante saturada. 162 Entrevista com Lilian Feng, Gerente de Pesquisas da Jones Lang LaSalle, realizada em maio/2010. 163 Entrevista com Roberto Sampaio, Diretor de Real State do Banco HSBC, realizada em 25/05/2010.

tavam localizadas na região Central164. Destes edifícios, seis pertenceram a instituições

inanceiras, um foi cinema, um é o Shopping Light, outro pertencia à Santa Casa de Misericórdia, grande proprietária no Centro, e os demais são de proprietários descon- hecidos pela autora deste trabalho. Do total, seis estavam vagos entre 2003 e 2004.

A instalação de uma instituição de ensino no Shopping Light segue uma tendência que vem se difundindo: associação entre captação de alunos e reanima- ção do comércio. “A instituição instala-se num local de grande movimento e os alu- nos se beneiciam da estrutura do shopping, como área de alimentação, cinemas, estacionamento”165. E o shopping se beneicia com os estudantes-consumidores que

passam a circular em seus corredores. A universidade vira uma das lojas-âncora do complexo comercial, ao atrair para este mais consumidores em potencial. Este é o caso do Shopping Light, inaugurado em 2000, onde desde 2008 se instalou um campus da Universidade Guarulhos166.

164 A Universidade Presbiteriana Mackenzie, que se localiza desde sua fundação no distrito Consolação, adquiriu um edifício localizado na Rua Amaral Gurgel.

165 D.C.I.Ensino superior privado mira nos shoppings. 02.04.2008. In www.metodista.br/sala-de-imprensa. 166 Segundo o reitor da UnG, foi investido R$ 1,4 milhão na adequação do campus, que ocupa uma área de 1.800 metros quadrados no quarto andar do edifício. “O valor do investimento em uma unidade com este modelo é menor se comparado a uma tradicional. O aluguel do espaço será pago pela mantenedora Associação Paulista de Educação e Cultura à administradora do complexo, a General Shopping Brasil”. D.C.I.Ensino superior privado mira nos shop- pings. 02.04.2008. In http://www.metodista.br/sala-de-imprensa.

Fonte: Elaboração própria

Poder Público

O maior impacto na dinâmica de ocupação dos edifícios não residenciais tem sido causado pela transferência de órgãos públicos para a região das imediações do Vale do Anhangabaú, principalmente para a região do triângulo histórico (ruas São Bento, Quinze de Novembro e Direita) e . Vários destes órgãos já estavam localizados nas cercanias do Centro, como é o caso do gabinete da Prefeitura, que do Parque Dom Pedro foi para o Viaduto do Chá, ou da Secretaria Municipal de Cultura, que da Rua Frei Caneca de quadra próxima à Avenida Paulista, foi para a Av. São João. Os departa- mentos dos governos municipal, estadual e federal estão presentes hoje em pelo menos 50 prédios desta área. Ao observar a mudança de ocupação dos edifícios pesquisa- dos, percebe-se que em torno de 40 edifícios que atualmente são ocupados pelo poder público não eram antes de 2004.