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H ) A QUESTÃO DA O RIGEM DAS TERRAS NOS ALDEAMENTOS E SEU DESTINO

No documento Atlas Ambiental SJC Completo (páginas 161-163)

A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM

H ) A QUESTÃO DA O RIGEM DAS TERRAS NOS ALDEAMENTOS E SEU DESTINO

Para se en tender a origem espacial dos aldeam entos é necessário avaliar a origem fundiária de suas terras e a quem se destinou na prática.

Para Petrone (1995), a concessão de terras aos indígenas aldeados foi um instrum ento de fixação. O i ndígena, que não po ssuía noção de propriedade fundiária pa rticular, mas que normalmente dispunha de a mplos horizontes, passou a de pender de providê ncias do europeu, que, atra vés de

um ato de posse c olonial, se tornou proprietário da terra e m que promovia o processo de colonização.

O Alvará de 1700 transcrito de Petrone (1995) evidencia esta origem: “...ser justo Se de toda a providencia necessária a sustentação dos Parochos, Indios, e Missionarios que assitem nos dilatados certões de todo o Estado do Brazil. Sobre que se tem passado repetidas ordens, e se não executam pela repugnancia dos donatarios, e Sesmeiros. que possuem as terras dos mesmos certões [... decidiu que para cada missão fosse dada] huma legoa de terra em quadra para a sustentação dos Indios e Missionarios, com declaração que cada Aldea se ha de compor ao menos de cem cazais, ou separadas humas das outras em pouca ou menos distancia, se repartir entre ellas a dita Legoa de terra em quadra...[Mais adiante advertia o rei que as terras eram dadas para os aldeamentos e não para os missionários] porque pertence aos Indios e não a elles; e porque tendo-as os Indios as ficão logrando os Missionarios no que Ihe for necessário para ajudar o seo sustento e para o ornatto, e culto das Igreja..."

Apesar do que se firm a no Alvará de 1700, na verdade em nenhum caso as terras foram realm ente dos i ndígenas. Eles foram proprietários dessas terras coletivamente, e de direito, quando as receberam por Cartas de Sesmarias. Não o foram, todavia, de fato.

No caso das fazendas dos jesuítas, a te rra pertencia ao Colégio de São Paulo, portanto à Companhia de Jesus.

Durante a segunda metade do século XVIII, em seguida ao confisco dos bens dos jesuítas, as terras de todos os aldeam entos passaram , na prática, a ser controladas pelo governo da Capitania.

Deve-se frisar b em a distin ção en tre propriedade coletiva e de direito, e o controle de fato, dentro de um sistem a de tutelagem , para melhor serem compreendidos os problemas que foram suscitados por essas terras.

As sesmarias eram concedidas aos indígenas e já nos anos seguintes parte das terras estava tom ada por in trusos. Adicionalmente, desde muito cedo, também o afora mento de terras dos aldeamentos contribuiu com sua parcela para completar a obra de espoliação processada pelos intrusos.

Utilizava-se do argumento de que os indígenas não as cultivavam, para aforar as terras. É precis o com preender que, dentro das técn icas e sist emas utilizados na atividade agrícola, por um punhado de indígenas, então já não muito n umerosos, só pa rcialmente se pod eria u tilizar as te rras dos aldeamentos.

Entretanto, se num dado m omento a área de colheita poderia parecer modesta, em longo prazo a s t erras t odas s e r evelariam i mprescindíveis p ara completar a área de subsistência do indígena aldeado. Por outro lado, percebe-se que o in teresse pelas terras era tão grande que che gou a constituir o principal fator nas disputas entre a Câmara e o Governador pela tutela dos aldeamentos.

O fat o é que, al guns anos de pois, Frei Antonio do Espí rito Santo, "como procurador e Superior da Aldeya de S. Miguel" repres entou ao Governador, então o Conde de Sarzed as, argumentando sobre a leg itimidade da sesmaria dos indígenas, protestando contra o fato de a Câmara pretender aforar as terras e solicitando que fosse impedida de continuar a aforá-las. O despacho do Governador foi s imples: "Vistos os documentos que o R.d° Supp. me apresentou e consta que invadem as terras dos Indios da Aldeya de S. Miguel,

expeça-se. S. Paulo 11 de Fevr.° de 1733". Tendo em vista o despacho acima, voltou a carga a Câmara por intermédio de seu procurador, argumentando que: “1. os elementos da sesmaria eram confusos; 2. seu tamanho era demasiado grande; 3. quando foi concedida, o aldeamento era considerável e, além disso, na ocasião eram esperados mais indígenas do sertão; 4. na ocasião (1734), o aldeamento era pequeno; 5. as terras estavam em grande parte ocupadas por moradores; 6. os indígenas não tinham as suas sesmarias confirmadas, e 7. a Câmara aforava aquelas terras há tempo imemorial”.

Assim, as invasões e os aforam entos prosseguiam e dada a gravidade dos fa tos a lgum te mpo depois, entre as providências sugeridas pelo m esmo Conde de Sarzedas para o desenvolvimento dos aldeamentos, encontrava-se que o rei m andasse o Ouvidor dem arcar as terras que se achas sem desocupadas nos limites dos aldeamentos, pondo-se m arcos visíveis de um para outro; caso foss em encontr adas b enfeitorias, não deveriam ser compreendidas na de marcação, ma s som ente as t erras, enquanto não se decidisse sobre a legitim idade da posse . Depois de dem arcadas as terras , os moradores nelas localizad os deveriam apresentar se us títulos de p ropriedade, e nos casos em que isso se fizesse necessário devolvendo-se a terra aos indígenas, ainda que com benfeitorias . A Câ mara, em suas visitas anuais aos aldeamentos, deveria zelar pelas terras, impedindo a presença de intrusos.

Por outro lado, entretanto, das sugestões constava, também, que deveriam "ser advertidos os off.es da Câmara para não aforarem terras algumas sem primeiro precederem informações exactas se pertencem ou não aos Índios”.

Daí a ordem para que fosse m medidas as terras de Em bú, Carapicuíba e Itapecerica, além de Barueri e Peruíbe. São José constituiu um

caso a parte, dado que em 1767 foi elevado à categoria de vila. Na sua ereção, entretanto, frisava-se que as terras pert enciam aos indígenas, no ano seguinte ficando sua Câmara proibida de aforar as terras dos indígenas.

Mesmo assim, o processo de espolia ção pros seguiu com a prática do aforamento, embora a pretexto de beneficiar os indígenas.

As c onseqüências i nevitáveis s ó pode riam s er a i mpossibilidades de praticar a agricultura, c omo foi vis to para o in icio do sé culo XVIII, e a definitiva dispersão dos indígenas, que s em t erra e meios p ara s obreviver, procurava ocupações fora dos aldeamentos.

A consideração das terras dos aldeam entos permite abordar um dos mais significativos aspectos das relações entre esses núcleos do passado e as paisagens culturais mais recentes.

A presença de entrantes ou de foreiros não i mpediu, como se vi u antes, que se verificasse a perm anência do problema das terras do s aldeamentos ate o século XIX adentro. Trata-se, portanto, de terras que, mais ou menos ocupadas por luso-brasileiros, continuaram a suscitar problem as de posse, propriedade e usufruto; terras qu e, por isso m esmo, efetivam ente perm itiam que permanecessem formas de organização de espaço particulares.

Assim, o quadro fundiário atual está profundam ente enraizado na usurpação das terras dos aldeamentos e na organização de um “cinturão” de propriedades particulares (fazendas e povoados rurais) no entorno dos aldeamentos (e mesmo da vila de São José), que condicionaram ainda mais a dispersão da população e que estão pres entes na estrutura fundiária atual destes antigos aldeamentos.

I)SÍNTESE DA INFLUÊNCIA DOS ALDEAMENTOS NA ATUAL ESTRUTURA

No documento Atlas Ambiental SJC Completo (páginas 161-163)