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G ) E VOLUÇÃO DOS ALDEAMENTOS E A TRAJETÓRIA DO ALDEAMENTO DE S ÃO

No documento Atlas Ambiental SJC Completo (páginas 158-161)

A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM

G ) E VOLUÇÃO DOS ALDEAMENTOS E A TRAJETÓRIA DO ALDEAMENTO DE S ÃO

JOZÉ

A evolução dos aldeam entos pr ende-se à própria evolução administrativa, seguindo suas fases e acontecimentos principais:

A fase quinhentista vê-se caracterizada pela definição de boa parte dos aldeamentos. É, necessariam ente, um a f ase de grande instabilidade nos quadros demográficos indígenas, a gradativa definição dos aldeamentos devendo ser considerada com o um a das resu ltantes dos problem as suscitados p elos contatos entre o elemento europeu e o indígena.

Dois fatos m ais significativos m arcam os núcleos indígenas que se formam nessa época: de um lado, a presença e ação cristalizadora dos elementos jesuítas, responsáveis pe lo e nquadramento de vel hos núcle os indígenas ( aldeias i ndígenas) de ntro do sistem a da ca tequese, ou pela reorganização, dentro desse sistem a, dos c ontingentes dem ográficos residuais do processo de dissolução dos quadros tradicionais do povoamento ameríndio; de outro, a c riação dos núcleos indígenas de fazendas, a serviço direto do processo de colonização.

Em um e outro cas o os alde amentos for am c aracterizados por uma permanência da grand e m aioria dos tra ços cu lturais, espec ialmente de vida material, dos indígenas. E ssa situação teria sido favorecida, tanto pelo tipo de atividade do jesuíta, m antendo o indí gena isolado, quanto pelo interesse do fazendeiro, que no indígena via, antes de tudo, um a reserva de eventuais elementos para a luta ou para o trabal ho, normalmente deixando-os viver a seu modo.

Nesta fase e nas duas subseqüent es, os aldea mentos ou faze ndas jesuítas cara cterizaram-se antes de q ualquer cois a, pela es tabilidade de sua vida. Alguns criados ainda nessa f ase mantiveram-se, como é natural, com condições muito próxi mas das que desfrutavam antes, dentro dos quadros das propriedades as que pertenceram. De resto, o fato de esses aldeam entos serem administrados dentro das conheci das normas jesuítas, que chegava m a evitar “com penas rigorosissimas a comunicação não só entre os Índios e os brancos, como de umas para outras que não fossem da mesma grei, contribuía para que não fossem perturbados em sua evolução”.

Na evolução dos aldeamentos a fase do Diretório vê-se marcada por dois fatos funda mentais: em primeiro lugar , a definitiva extinção da administração jesu ítica em todos os aldeam entos e fazendas, em conseqüência da expulsão dos jesuítas; em segundo lugar, a ação de D. Luís de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus.

A expulsão dos jesuítas teve as m ais funestas conseqüências para seus antigos aldeamentos e fazendas. Todos eles ficaram a mercê de todos os problemas que até então praticame nte haviam de sconhecido e entrar am e m plena decadência.

Com Morgado de Mateus na adm inistração, verificou-se uma séria tentativa no sentido de or ganizar os aldeam entos, pois para ele os aldeamentos d everiam c onstituir i nstrumentos d e u ma política de povoamento no seu m ais amplo sentido, visando a reor ganização dos quadro s do habitat. Pela sua im portância, esse aspecto m erece um tratamento a parte. Aqui cabe lem brar, apenas, que sob o governo do Mor gado de Mateus o aldeamento de São José adquiriu o predicamento de vila.

A situação e ncontrada pelo Morgado de Mateus n a então Vila de São Jozé do Parahyba era deplorável. Em ofício de 21 de dezembro de 1766, assim se refere a ela:

“As Aldêas dos Indíos (...) achey em tal decadencia (...) porque verdadeiramente destas Aldeas se pode dizer que existe só nome onde ellas estiverão. As mesmas causas que cooperarão para se deminuirem as villas desta Capitania influirão com mayor força na dicipação destas Aldeas, porque derrubadas as habitações com o tempo faltos de meyos os pobres indios para a repararem, e destetuidos do precizo abrigo foram-se pouco a pouco espalhando-se por todas as partes, alguns q. ainda se encontrarão estão vivendo em cabanitas de palha pelos matos vizinhos e somente em duas ou tres Aldêas existem em pe algumas poucas cazas, e todas as mais desfeitas.

As causas para essa decadência se riam várias. A condição de paria social do indígena, os casam entos m istos, com escravos negros, os maus processos agrícolas, a perda das terras e em particular o constante emprego dos indígenas fora de seus aldeamentos.

Para Petrone (1995) , ne m mes mo São José, então já com o predicamento de Vila, constituía exce ção. Ele cita como exemplo, o caso de um casal do bairr o de Pau Gra nde, em Jacareí, com terras próprias e outras aforadas, roças e benfei torias, que foi obrigado pe lo Diretor dos Índios da Aldeia de São José, então Vila Nova, a residir nesse núcleo juntamente com seus filhos, " em huma caza aberta forada e coazi caindo", e desta forma, o governador tendo acedido a que voltasse para o próprio sitio. No início da década de 1780, a maioria dos indígenas de São José andaria dispersa e a vila,

segundo expressão do governador , não só estava decadente, mas a situaç ão tendia a se tornar mais grave.

São José , embora vila, m as sob m uitos aspectos mantendo identidade com os de mais aldeam entos, encam inhava-se para condições sem elhantes de decadência, t anto qu e o C apitão-General Fr anca e H orta, pa ra e vitar qu e, "tendo ella todas as boas dispozicoens p.a

prosperar, se aniquile, e vá cada vez em maior decadência", decidiu desanexá-la de Jacareí, nomeando-lhe comandante próprio. Este deveria providenciar para que a vila tivesse algum aumento, seus moradores cuidando melhor de suas atividades agrícolas.

No caso de São José, sendo vila co ntinuou abrigando u m aldeamento; mais que isso, o m esmo núcleo pass ou, em funç ão da composição d e sua população, a ter duas condições diferentes e paradoxais, o status de aldeamento e vila.

Uma tentativa séria no sentido de emancipar os aldeamentos, tornando- os freguesias ou vilas, foi levada a efeito pelo Morgado de Mateus. Essa foi, de resto, um a das preocupações que o car acterizaram desde o m omento em que tomou posse, dado que se incluía dentro de sua política de povoam ento, um dos mais signif icativos aspectos de se u governo. Já em dezem bro de 1766 manifestava intenções de elevar a categoria de vilas os aldeam entos de Pinheiros, São Miguel e São José. Entre as dificuldades que se opunham ao seu intento, segundo seu m odo de ver, arrolavam-se o desprezo em que eram tidos os indígenas.

É preciso frisar que as iniciativas do Mor gado de Mateus, em ultim a analise, obedeciam às instruções do Soberano, segundo as quais (26 de Janeiro de 1765) era conveniente ao re al serviço se erigissem vilas nos

aldeamentos. E foi com esse fundam ento que, em 1 1 de julho de 1767, o governador ordenou ao O uvidor e C orregedor da C omarca que elevass e o aldeamento de São José à condição de vila.

A elevação de Sã o José a vila deu- se a 27 de julho de 1767, o edital do Ouvidor tendo sido divul gado no dia anterior " no Largo da Igreja dessa Aldêa de S. Jozé da Parahyba asistindo a publicaç8ao delle o mesmo Ministro, e todos os Indios, e Indias da dita Aldêa, e o Director dos mesmos".

Dando conta da elevação de Sã o José o Mor gado de Mateus afirmava otim isticamente que "as dispozições do terreno, a fertilidade dos campos, e a bella cituação que tem muito perto do Rio Parahyba, prometem que será, pelo tempo adiante, huma das melhores villas desta Capitania".

Embora adquirindo o predicam ento de vila, São José não deixou, todavia, de continuar a ser um aldeamento ou, mais propriamente de abrigar um aldeamento.

Rendon (1842) chamou a atenção para o fato, lembrando que, tendo São José nom e de vila, com pelourinho e Câm ara, em que serviam brancos e indígenas, ainda conservava o nom e de aldeia, quando a visitou, contando inclusive com um diretor.

Aliás, durante toda a segunda metade do século XVIII, a documentação oficial r efere-se indif erentemente a vila e aldeia de São José, seus indígen as continuando rigorosa mente dentro do siste ma de tutela comum a todos os demais aldeamentos. Bast aria uma rel ação das solicitações de indígenas desse núcleo para comprovar essa situação. São José funcionava, na verdade, como um organismo bicelular , a vila contendo em s i um ald eamento, num a condição original e excepcional. O paradoxo, c onforme acentua Rendon, é que, pode ndo

os indígenas fazer part e da Câ mara, port anto e m c ondições de re ger administrativamente a pr ópria popula ção bra nca, mantinha m-se, entreta nto, como membros de grupos tutelados. O paradoxo era, por outro lado, be m representativo d as c ontradições na orientação d o governo da Capitania. A emancipação dos aldeamentos, instrumento necessário para o desenvolvimento desses núcl eos, i mplicaria na p rática a abo lição das reserv as de m otores animados, f erindo f rontalmente interesses d os moradores e da própria administração. A resultante do conflit o não poderia ter sid o outra senão a sui- generis São Jose da segunda metade do século XVIII.

Na verdade, durante todo o século XIX os a ntigos aldeam entos permaneceram no olvido. Um a cidade com o a de São José dos Cam pos, entre as de m aior desenvolvimento no Vale do Paraíba, ou centros urbanos como Itapecerica e Em bu, ou m ais m odestos, com o Barue ri, Peruíbe ou Itaquaquecetuba, um subúrbio com o São Miguel ou um bairro com o o de Pinheiros parecem, e em não poucos aspe ctos o são verdadeiramente, fatos novos, raras vezes p ercebendo-se, em sua existência, ou na consciên cia de seus habitantes, a sua origem.

No documento Atlas Ambiental SJC Completo (páginas 158-161)