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A questão da titularidade dos interesses versus a legitimação para agir

A LEGITIMAÇÃO PARA AGIR NAS DEMANDAS COLETIVAS A partir de agora, o estudo buscará demonstrar a melhor conceituação acerca da

4.2 A questão da titularidade dos interesses versus a legitimação para agir

A legitimação para agir, consagrada definição de Alfredo Buzaid, corresponde à pertinência subjetiva da ação, isto é, a regularidade do poder de demandar de determinada pessoa sobre determinado objeto.124

Barbosa Moreira ensina: “Diz-se que determinado processo se constituiu entre partes legítimas quando as situações jurídicas das partes, sempre consideradas in statu

assertionis – isto, independentemente da sua efetiva ocorrência, que só no curso do próprio

processo se apurará – coincidem com as respectivas situações legitimantes”125.

Em outra oportunidade, o mesmo autor afirma que “a legitimidade ad causam significa que uma dada pessoa se apresenta como titular de uma relação jurídica material, tal como vem retratada na petição inicial”126.

Pois bem, em regra, a situação legitimante coincide com a própria situação jurídica posta em juízo para decisão. No entanto, em algumas situações, a lei confere a outrem a legitimação para a defesa do interesse em juízo, estranho, portanto, à relação de direito material.

Quando a situação legitimante coincide com a situação deduzida em juízo, diz-se ordinária a legitimação; caso contrário, a legitimação diz-se extraordinária.127

124 Alfredo Buzaid, Do agravo de petição na sistemática do código de processo civil, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1945, apud Vicente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, p. 77.

125 José Carlos Barbosa Moreira, Direito processual civil (ensaios e pareceres), p. 59.

126 José Carlos Babosa Moreira, Apontamentos para um estudo sistemático da legitimação extraordinária, p. 9-18.

É sabido que a questão envolvendo a legitimação para agir é objeto de análise no processo. Entretanto, a sua identificação se dá na relação material, ou seja, é esta que define as relações jurídicas entre os sujeitos de direito, determinado quais os respectivos titulares. Portanto, para a estabelecer a legitimação para agir, o juiz precisa investigar primeiramente a relação material discutida, para então definir os legitimados.

Por isso que se afirma, com freqüência que a análise das questões de legitimidade envolve discussão de mérito,128 embora seja ela uma das condições da ação, na forma do que dispõe o artigo 3º, do código processual: “para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade”.

A doutrina sobre a defesa coletiva dos interesses em juízo ressalta que a discussão envolvendo a relação entre o titular do direito discutido e a legitimação para agir, não faz sentido na esfera das demandas coletivas.129

Isso porque, na lógica imposta pelo artigo 6º. do Código de Processo Civil – que não é rechaçado pela legislação trabalhista, portanto de aplicação subsidiária pela regra imposta pelo artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho – impõe, como regra, a necessária coincidência entre a parte e o titular do direito material discutido, conferindo assim, a legitimidade ordinária.

Então, a conclusão primeira a que se chega é a seguinte: todas as vezes em que a lei autorizou um terceiro a defender em juízo o direito de outrem, o fez conferindo àquele, um legitimidade extraordinária.

A legitimação extraordinária foi estudada com muita propriedade por Barbosa Moreira que a classificou em diferentes espécies: (i) subordinada; (ii) autônoma e (iii) autônoma e concorrente e (iv) autônoma e exclusiva. Referido estudo, repetido até os dias

128

Ovídio A. Baptista da Silva e Fábio Gomes, afirmam que “para que se possa determinar qual a parte ativamente legitimada e qual aquela a quem cabe a legitimação passiva, seria preciso examinar a natureza do contrato e os direitos e obrigações por êle produzidos, o que seria entrar no mérito da causa.” Teoria geral do processo civil, p. 117.

129 Édis Milaré, Direito do ambiente, afirma que “a liberalização dos mecanismos de legitimação ad causam foi uma das grandes inovações introduzidas pela lei 7.347/85, na medida em que, além do Ministério Público (que já tinha desde a Lei 6.938/81), estendeu-a também a outras entidades públicas e privadas, entre as quais merece relevo lembrar as associações que tenham um mínimo de representatividade”. p. 1013.

atuais, serve de base para o adequado enquadramento do instituto no âmbito do processo civil lastreado na defesa individual dos interesses.

4.2.1 A legitimação extraordinária subordinada

Esta hipótese está ligada a necessidade da presença do titular do direito material em juízo para validar a legitimação da parte.

São situações em que a participação do legitimado extraordinário tem menor importância, sempre condicionada à permanência do titular do direito discutido.

Não nos parece adaptável às demandas coletivas, já que a presença do substituído (se assim se entender a espécie de legitimação para essas ações) é dispensável, justamente para se garantir uma celeridade processual adequada aos dias atuais, atendendo-se ao preceito constitucional do contraditório e da ampla defesa a partir da figura do legitimado na forma da lei.

4.2.2 A legitimação extraordinária autônoma

Há situações previstas na legislação em que a participação do titular do direito material é pouco importante e que a presença do legitimado extraordinário nos autos é bastante para a satisfação do contraditório regular. Assim, o caminho a ser traçado na demanda independe da vontade do titular do direito material. Sua participação torna-se desnecessária e por vezes não permitida, denominando-se legitimação extraordinária e autônoma.

4.2.3 A legitimação extraordinária autônoma e concorrente

Existem casos em que a presença do legitimado extraordinário não é fator determinante para a formação do regular contraditório, nem tampouco a sua presença inviabiliza a condição de parte do legitimado ordinário.

Na verdade em tais casos, o legitimado extraordinário concorre com o ordinário, sendo indiferente a presença de um ou de ambos no processo, classificando-se então como legitimação extraordinária e concorrente.

Um exemplo clássico desta modalidade de legitimação é a declaração de nulidade de casamento que pode ser pretendida por qualquer dos cônjuges como também pelo Ministério Público, salvo se houver falecido um dos cônjuges.

4.2.4 A legitimação extraordinária autônoma e exclusiva

Em certos casos, a lei atribui grande relevância ao legitimado extraordinário. Nestas situações, o contraditório só será regularmente constituído se a pessoa do legitimado extraordinário estiver compondo o rol de partes no processo.

O conceito de exclusividade, não pressupõe, necessariamente, o impedimento da participação do legitimado ordinário no processo como parte. Entendimento este corroborado por Barbosa Moreira, ao citar o exemplo clássico do marido que vem aos autos representar os bens dotais que estavam sendo defendidos exclusivamente pela mulher, proprietária dos referidos bens130.