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Questões éticas e deontológicas do processo de investigação

CAPÍTULO II : Metodologia de Investigação

7. Questões éticas e deontológicas do processo de investigação

A pesquisa e a investigação ocupam um lugar cada vez mais relevante na nossa sociedade, em que a tecnologia se reinventa diariamente, alterando hábitos, comportamentos e valores.

A ética em investigação desempenha um papel relevante por impor limites e orientar a metodologia da investigação através de um conjunto de regras pelas quais se rege. É por meio do cumprimento dessas regras que os resultados obtidos na investigação se tornam válidos e credíveis, contribuindo para uma determinada sistematização na investigação. A ética baseia-se em questões como a justiça, onde existe um confronto entre direitos e deveres.

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Em termos etimológicos as palavras ética e moral são idênticas: “ética” remete para uma raiz grega, ethos, e “moral” remete para uma raiz latina, mores. Ética é a ciência que tem por objeto o juízo de apreciação com vista à distinção entre o bem e o mal. Moral é a teoria, geralmente considerada normativa, do dever e do bem (Mercier, 2003). A moral indica as grandes linhas gerais do comportamento do cidadão, reguladas pela sua consciência e pela tendência para a concretização dos objetivos individuais. A ética, por seu turno, indica as razões filosóficas das decisões de ação, ou seja, é a ciência que estuda as regras e comportamento e a sua fundamentação (Nunes, 2004).

A ética “consiste nas normas relativas aos procedimentos considerados corretos e incorretos por determinado grupo” (Bogdan & Biklen, 1994:75).

A deontologia é definida por Mercier (2003), citando Isaac, como um “conjunto de regras de que uma profissão, ou parte dela, se dota através duma organização profissional, que se torna a insistência de elaboração, de prática, de vigilância e de aplicação destas regras”.

A teoria deontológica, na opinião de Nunes (2004), enaltece o conceito de dever previamente ao conceito de bem e dos efeitos das ações. Há contudo, diferenças entre a ética utilitária (utilitarista) e a ética deontológica: um determinado comportamento é considerado eticamente correto se os fins justificarem os meios utilizados para os alcançar; por outro lado, a teoria deontológica avalia os atos de acordo com o seu princípio implícito e independentemente dos efeitos.

No âmbito da ética relativa à investigação com sujeitos humanos, Bogdan & Biklen (1994) referem que há duas questões a ter em conta: o consentimento informado e a proteção dos sujeitos contra qualquer espécie de danos, normas que tentam assegurar que os sujeitos participam, voluntariamente, no projeto de investigação, conhecedores e conscientes do estudo e dos perigos e obrigações inerentes ao mesmo, não ficando expostos a riscos maiores que os benefícios que possam vir a ter.

Estes autores destacam ainda que têm surgido propostas relativas a um código deontológico para os investigadores qualitativos, visto que o seguimento dos procedimentos habituais de consentimento informado e proteção de danos pouco mais parece ser do que um ritual. A investigação qualitativa, segundo Bogdan e Biklen

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(1994), assemelha-se mais ao estabelecimento de uma amizade do que de um contrato. Estes autores defendem ainda que, mesmo que os investigadores qualitativos não tenham escrito um código deontológico específico, existem convenções de ordem ética para o trabalho de campo.

Na perspetiva de Lima & Pacheco (2006), existem duas perspetivas sobre a aplicação de princípios éticos universais na pesquisa: a posição deontológica (que pressupõe seguir sempre determinadas regras de comportamento, independentemente das consequências) e a posição consequencialista (que recomenda a ação tendo como referência as consequências do modo de agir escolhido). Estes autores mencionam ainda uma ética do cuidado, que tem vindo a ganhar mais seguidores, baseada em critérios que vão para além do racional na tomada de decisões éticas durante a investigação (a emotividade tem um papel preponderante).

Para Lima & Pacheco (2006) os padrões éticos têm vindo a evoluir e ganhar um carácter mais formal decorrente da necessidade de regulação, de códigos de comportamento, da melhoria da qualidade de investigação.

A este respeito Tuckman (2005), considera que “o investigador em educação deve começar por considerar e assumir o facto de a investigação constituir um potencial de ajuda para as pessoas melhorarem a sua vida e, por conseguinte, deve fazer parte do empenho humano”. Ao fazê-lo, deverá ter em conta questões éticas de modo a não atentar contra os direitos humanos. Tuckman (2005) apresenta essas questões:

1. O investigador deve salvaguardar a privacidade dos sujeitos evitando questões desnecessárias e mencionar respostas individuais. O investigador deve obter um consentimento informado dos participantes (esclarecendo-os sobre natureza da investigação, os procedimentos a utilizar, a duração da participação, a sua total liberdade para abandonar o projeto, as consequências da sua participação na pesquisa e os fatores que poderão torná-los suscetíveis (Lima & Pacheco, 2006); A pessoa tem o direito de não participar na investigação.

2. Os participantes na investigação têm direito a que os seus dados de identificação pessoal sejam protegidos, não figurando em qualquer documento da investigação (o investigador pode atribuir nomes fictícios aos sujeitos ou identificá-los por números).

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3. Os participantes têm o direito à confidencialidade, ou seja, a que os dados recolhidos e que lhes dizem respeito sejam tratados com confidencialidade. 4. Os investigadores devem garantir aos potenciais participantes que não serão

prejudicados por terem participado. Assim sendo os participantes têm o direito de contar com o sentido de responsabilidade do investigador.

A ética envolve questões que o investigador em educação tem de ter sempre presentes em todas as fases da investigação de modo a que esta seja credível, válida e fiável, desde que escolheu o tema até ao momento em que publicou os resultados da sua investigação. O investigador deve garantir os direitos de todos quantos participaram e contribuíram voluntariamente para o desenvolvimento do seu trabalho, honrando os compromissos de forma séria e com respeito pelos participantes.

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