3 OS IDOSOS DA CONTEMPORANEIDADE E O ENVELHECIMENTO
3.2 QUESTÕES FÍSICAS E COGNITIVAS DOS IDOSOS NO USO DE
Com as novas formas de comunicação, é possível observar que uma parcela cada vez maior de idosos têm se conectado. A figura da avó tricotando na cadeira de balanço está se tornando cada vez mais rara e sendo substituída por uma senhora ativa, informada e ciente do que acontece no mundo ao seu redor, mesmo
que faça tricô nas horas vagas. Ainda assim, existem problemas inerentes à idade que são enfrentados por esse público, é o que abordaremos nesse tópico.
A percepção do idoso é afetada pelo declínio dos sistemas sensoriais, que acontecem durante o processo de envelhecimento. No cérebro, as regiões mais afetadas são os lobos frontal e temporal medial, o que afeta diretamente os sentidos da visão, audição e olfato. Isto posto, percebe-se que envelhecimento causa uma série de alterações físicas e cognitivas nos humanos, que resulta na perda
progressiva de algumas capacidades. As principais alterações ocorrem em três sistemas sensoriais, de acordo com Macedo e Pereira (2009):
Auditivo: Diminuição da discriminação de sons e percepção da fala Háptico: Diminuição da Sensibilidade tátil na palma das mãos
Visual: Diminuição da acuidade visual, do campo visual periférico, da noção de profundidade, da discriminação de cores e capacidade de adaptação ao claro e escuro.
Sendo assim, pode-se concluir que alguns aspectos do design da interface podem influenciar o uso dos artefatos digitais pois dependem diretamente dos sentidos acima (ANJOS et al, 2014):
Cor: Contraste tonal entre textos e imagens;
Texto: tamanho, estilo, justificação do texto e espaçamento entre linhas; Ícones: Símbolos e pictogramas;
Feedback sonoro: respostas sonoras diversas;
Tela sensível ao toque: Sensível ao toque de um ou mais dedos, toque de caneta.
Além dessas questões físicas, os idosos enfrentam a diminuição de aspectos relacionados à cognição que afetam diretamente a forma como eles navegam e
interagem com os smartphones. Para Padovani e Moura (2008), durante a navegação em hipermídia, vários processos cognitivos são desencadeados. Ao navegar por um ambiente físico, por exemplo, ele busca se orientar ou navegar pelo lugar explorando e observando sinalizações, rotas, mapas, informações com outras pessoas, entre outras formas, para poder tomar suas decisões com base nas informações colhidas. Já em sistemas hipermidiáticos, o usuário vai em busca de informações para poder chegar ao conteúdo que busca no sistema e essas pistas devem estar bem visíveis. De acordo com as autoras (idem), esses processos cognitivos afetam pelo menos três áreas: percepção, atenção e memória.
Percepção: estágio cognitivo importante para o processo de interação pois, é responsável pelo princípio da informação;
Atenção: Existem quatro tipos de atenção – focada, seletiva, dividida e
sustentada/contínua. Em condições normais, o usuário pode selecionar o tipo de atenção que deseja priorizar para a navegação.
Memória: o processo dinâmico entre obtenção, armazenamento e consulta de informações percebidas ao longo do tempo. Pode ser de curta ou de longa duração. Durante o processo de navegação, é utilizada a memória de longa duração para armazenar novas informações, reconhecer objetos, ambientes e tarefas.
O processo de percepção e processamento de informações é proposto por Preece et al. (1994) e foi adaptado pelas autoras (PADOVANI & MOURA, op. Cit.) em um gráfico que estende seus conceitos, seguindo a estrutura cognitiva:
Percepção, Atenção, Memórias de curta e longa duração, resolução de
problemas, tomada de decisão e formação de mapas cognitivos. Elas criaram um esquema que explicita de forma mais elucidativa o processo:
Figura 10 - Processamento da informação
Preece et al (1994) adaptado por Padovani & Moura (2008)
Assim, analisando a imagem, observa-se que o início do processo cognitivo se dá a partir da percepção da informação, com base em Iida (2005)
complementamos que ele é iniciado ainda antes, durante a sensação, iniciada a partir da captação de impulsos pelas células nervosas. A partir disso, há o
processamento do estímulo sensorial e a significação do mesmo, que possibilita a percepção. Enquanto a sensação é um processo biológico, esta última trata do processamento do estímulo com base em informações já contidas na memória do indivíduo.
A percepção é, de acordo com Padovani & Moura (op. cit.), um processo de grande importância para a interação em qualquer meio. Iida (op.cit.) a divide em dois estágios:
• a pré-atenção, na qual o indivíduo apenas detecta as características globais do artefato, como formas, cores e movimentos;
• e a atenção que consiste na focalização dos sentidos nos aspectos interessantes a ele a partir do reconhecimento e de informações já armazenadas na memória.
Durante o processo de navegação em uma interface hipermídia, o usuário utiliza diversos níveis de percepção, desde visual e auditiva, até tátil. Toda a
informação visual da interface de um artefato como informações textuais, ilustrações, fotografias animações e vídeos emitem sinais visuais que são processados e armazenados pelos usuários. A percepção auditiva é utilizada
quando o sistema emite sinais sonoros de alertas, avisos, música ou narração. Já a percepção tátil, até um tempo atrás pouco utilizada em sistemas hipermídia, pode ser acessada a partir da utilização de mouse, touchpad ou tela sensível ao toque em smartphones, tablets e computadores com monitores sensíveis, além de feedbacks vibratórios em smartphones. (PADOVANI & MOURA, 2008).
A atenção, próxima etapa do processo cognitivo possibilita selecionar e concentrar o foco e o tipo de canal perceptual a ser utilizado. Após a percepção da informação, o usuário pode utilizar até quatro tipos de atenção de acordo com o seu interesse em determinada tarefa:
Focada: Direcionada a uma única fonte ou tarefa, aqui o usuário está apenas realizando uma ação;
Seletiva: Prioritária a uma fonte ou tarefa, nesse caso o usuário está realizando a ação principal, mas ainda assim existe alguma atividade secundária;
Dividida: O usuário divide a atenção entre várias tarefas simultaneamente; Contínua: Direcionada a uma única fonte ou tarefa por longos períodos. A memória, segundo Iida (2005) utiliza processos de transformações das sinapses da estrutura neural para armazenar informações percebidas a fim de que elas possam ser recuperadas em momentos posteriores. Ainda segundo ele (idem) o processo de memorização - ou registro - segue um percurso de três níveis: registro sensorial, composto pela sensação e percepção; memória de curta duração, que possui capacidade de armazenamento e retenção limitadas além de codificação fonética, esse processo pode durar entre 5 e 30 segundos e caso não sejam retidas
as informações, elas se perdem facilmente; e por fim memória de longa duração, responsável por reter a informação por um tempo maior e é de natureza semântica. O quadro abaixo explica as principais diferenças entre os tipos de memórias:
Tabela 9 - Diferenças entre a memória de curta duração e a memória de longa duração
Característica Memória de curta duração Memória de longa duração Capacidade de armazenamento Tempo de retenção Forma de codificação Perda de informação 7 +- 2 itens 5 a 30 seg. Fonética
Concorrência com outros sinais
Grande Muitos anos Semântica
Dificuldade de relembrar
Fonte: Iida (2005)