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CAPÍTULO 2 BERGSON E AS IMPLICAÇÕES DE SUA TEORIA PARA UMA

3.6 DESCREVENDO OS PASSOS DA PESQUISA

3.6.1 QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS

Como chegar aos professores, com os quais realizaríamos as etapas da pesquisa?

Não partimos do pressuposto de que todos os professores de um curso de Pedagogia de fato têm uma convicção pedagógica formada no sentido mais profundo que abordamos. Precisamos, portanto, procurar uma forma de selecionar os professores que nos dão pelo menos uma certa expectativa nesse sentido. Como nosso estudo é de caráter exploratório, não nos interessa identificar a quantidade de professores que estão cuidando da sua própria convicção pedagógica. A questão aqui é nos aproximar de como essa se instala, como o próprio professor a adquire e põe em prática.

Partimos do pressuposto que o fato de ter uma convicção pedagógica só é válida caso haja uma repercussão nos alunos. Temos claro que nem todos os alunos tenham a sensibilidade de detectar uma convicção íntima dos seus professores, mas também é de se esperar que um professor que conduz sua prática a partir da sua própria convicção não vai ser totalmente despercebido nessa questão pelos alunos. Escolhemos os professores, portanto, a partir da percepção dos discentes.

Elaboramos como primeiro momento um questionário37 para ser aplicado com os alunos do sétimo, oitavo e os chamados alunos de período indefinido38.

A escolha destes alunos e respectivos períodos se justifica por os mesmos estarem no mínimo há três anos e meio na instituição “A” e “B”39, ou seja, especificamente era de nosso interesse que estes alunos, a princípio, estivessem lá tempo suficiente para ter passado por vários professores da instituição.

Ao todo, na instituição “A”, os questionários foram respondidos por 165 alunos, destes, 24 deixaram a questão 2 em branco e 6 foram nulos. Já na instituição “B”, 86 e apenas um ficou em branco.

O questionário tinha uma estrutura simples, apenas com três questões que pessoalmente acompanhamos a sua aplicação, o que possibilitou, em alguns momentos, dialogar com os mesmos e também ouvir algumas expectativas de alguns professores.

As questões utilizadas para seleção dos professores foram a 1 e a 2. A terceira questão foi colocada por nós no questionário para satisfazer uma curiosidade específica a respeito da compreensão dos alunos em relação aos conceitos de educação e formação humana40.

Na primeira questão, os alunos deveriam marcar um X, caso lembrassem, no nome dos professores que já haviam ensinado a eles. Solicitamos aos alunos que eles não deixassem de responder.

37 O questionário encontra-se em anexo. No modelo do questionário em anexo foram alteradas algumas informações como nome da instituição e dos professores para preservar a identidade dos mesmos.

38 Os alunos indefinidos que entraram em nossa amostra pagavam disciplinas do sétimo ao nono períodos.

39 Os alunos que responderam os nossos questionários estão em uma proposta curricular que prevê o término do curso em quatro anos e seis meses para os alunos regulares.

Nas colunas onde os alunos deveriam marcar, constavam os nomes apenas dos professores efetivos dos últimos quatro anos de cada área41. Não colocamos nomes de professores substitutos nos questionários. Referimo-nos aqui a professores substitutos como sendo aqueles que possuem um contrato por tempo determinado na instituição, lecionando por um período, geralmente, no máximo de vinte e quatro meses. A inclusão desses professores nos traria algumas dificuldades na coleta, visto a grande rotatividade destes nos cursos. A opção de inclusão desses na nossa pesquisa traria problemas que se agravariam por termos inclusive optado por aplicar o questionário apenas com os alunos dos três últimos períodos do curso de Pedagogia. Ressaltando que na instituição “A” o curso tem a duração de quatro anos e na instituição “B” de três anos e meio, incluir os professores substitutos, nesses casos, empreenderia ter que ir à procura de muitos que, com certeza, já haviam se desligado do curso e da universidade.

Mesmo se o aluno não havia estudado com o professor “A” que ensinou Didática quando ele estudou no terceiro período, lá no sétimo, por exemplo, talvez ele já tivesse tido a oportunidade de ter sido aluno do mesmo.

Consideramos também que os alunos marcaram os nomes de alguns professores que conheciam de outras atividades (extensão, pesquisa, monitoria, palestras).

Para nós isso é importante, pois alguns alunos, como pudemos observar, mesmo quando não tinham estudado com o professor “A” em sala de aula marcavam o nome do mesmo, e alguns ainda justificavam oralmente sua resposta.

Na segunda questão foi solicitado que os alunos apontassem segundo algumas características os nomes de três professores do curso. Foram as questões:

• Demonstra segurança nos assuntos que ensina.

• Está preocupado com a formação pedagógica dos seus alunos.

• Tem uma posição teórica própria, mas não impôs seu pensamento aos alunos.

• É coerente na sua prática pedagógica com as idéias que defende.

41 Estas áreas representavam disciplinas que se agrupavam por afinidades de conhecimento. Esta separação já era definida pela instituição, nós apenas colocamos no quadro do questionário.

• Insiste na responsabilidade dos alunos encontrarem as próprias convicções pedagógicas.

Pensamos nestas características como pertencentes a um professor que guia sua prática por suas convicções pedagógicas, mesmo que ele muitas vezes não perceba. Então, foi a partir destas características sugeridas que os alunos deveriam refletir e apresentar o nome dos três professores em ordem crescente. Todos os alunos foram avisados que a classificação (1º, 2º e 3º lugar) não seria considerada de forma aleatória, ou seja, seria vista como um dado de importância atribuída pelos alunos ao professor indicado; assim, o professor que apareceu no 1º lugar era compreendido como sendo, dentre os outros dois, mais aproximado às características sugeridas no questionário; o que aparecia em 2º lugar era considerado mais próximo do que o 3º, e assim subseqüentemente.

Não entraremos de forma mais aprofundada nas percepções que possivelmente estavam presentes nas respostas dos alunos, porém alguns registros podem ser feitos de expressões destes alunos ao responderem os questionários. Lembrando que o nosso objetivo ao trabalhar com o questionário era chegar mais adiante aos professores com os quais trabalharíamos, isso não invalida que brevemente registremos estes momentos com os alunos.

O que nos chama mais atenção na fala abaixo é que a professora mencionada pela aluna foi uma das quais fizemos uma rodada da primeira entrevista, ou seja, ela teve entre os demais professores uma média que a destacou.

“A professora ‘B’ é de fato como ela nos ensina que devemos ser. Veja só... Tem professores que nos ensinam que se deve avaliar o aluno dessa ou dessa forma, mas quando nos avalia faz o de sempre. Essa professora não, ela chega e no início, mesmo agente dizendo que não é capaz, ela consegue que agente vá acreditando mais em nós mesmos. É isso ela permite que agente acredite, no nosso potencial, ela faz agente ver que podemos saber mais” (ALUNA 142).

Percebemos que há presente na prática dessa professora, segundo a fala da aluna, uma coerência entre o que discursa e sua ação; este seria um comportamento marcante no cotidiano de um professor que abraça sua convicção.

Esta professora também aposta na autonomia e na formação do aluno, quando, mesmo com um comportamento descrente dos alunos, ela tenta mostrar-lhes que eles têm possibilidade de atingir os seus próprios objetivos.

Quando começamos a observar os resultados obtidos com a aplicação dos questionários, decidimos que iniciaríamos a contagem das respostas a partir da segunda questão, respeitando a ordem dada pelos alunos. Apesar de respeitar as indicações dos alunos, não achamos coerente abrir mão dos nomes que apareciam na segunda e na terceira indicação. Isto ocorreu por percebermos que, por exemplo, havia professores que eram citados muito em segundo lugar e outros que tinham uma grande freqüência no terceiro. Dessa forma, estes professores chamaram nossa atenção.

Este primeiro momento foi decisivo para seguir na contagem da primeira questão, pois nela apareciam os nomes de todos os professores efetivos dos últimos cinco anos de cada instituição. Enfim, com os resultados da contagem da segunda questão, optamos por tabular apenas os 10 primeiros nomes com maior pontuação na segunda questão.

Considerando as respostas dos alunos, chegamos a um resultado sobre o qual fizemos algumas reflexões originadas principalmente nas observações resultantes da aplicação do questionário.

Entre estas falas de alunos também nos chamou a atenção a de outra aluna que expôs não ter condições de apontar apenas três professores, pois achava que muitos dos professores que lhe haviam ensinado tinham aquelas características. Esta aluna realmente não indicou três, mas, segundo ela – e a leitura do seu questionário -, quase todos os professores que lhe ensinaram alguma disciplina durante o curso. Apesar de considerarmos muito importante esse depoimento da aluna, este questionário foi tabulado como nulo, pois fugiu às orientações dadas para seu preenchimento.

Esta posição de defender que a indicação de três professores era insuficiente foi percebida em várias falas de alunos. Para a maior parte dos casos, apesar de fazerem questão de registrar verbalmente, na folha com o questionário os alunos escreviam apenas os três nomes solicitados.

Para este levantamento, atribuímos uma pontuação que seria multiplicada pelo total de vezes indicadas, ficando da seguinte forma: primeira indicação = 10, segunda indicação = 8, terceira indicação = 6.

Dessa forma, por exemplo, se o professor “C” apareceu 20 vezes na primeira indicação, 5 na segunda e 5 na terceira, ele teria no final 270 pontos (200+ 40+30=270). Dividimos a pontuação alcançada por cada professor pelo número das vezes em que aparecem como professores dos alunos que responderam ao questionário.

Com o resultado da questão 2, verificamos os dez professores que obtiveram a maior soma de pontos e então fomos para o levantamento da quantidade de vezes que este mesmo professor aparecia na questão 143. Exemplificando, se o professor “C” na questão 2 obteve o total de 270 pontos e apareceu em 67 questionários, então ele ficava ao final com valor 4,02. Esses valores formaram a nossa escalação dos 10 professores.

Destes dez professores, na instituição “A”, 2 estavam afastados de suas atividades no semestre da nossa coleta e tinham que ser excluídos dos possíveis sujeitos da nossa pesquisa; mais dois foram excluídos, pois apresentaram uma diferença de 2,50 em relação aos demais. Então resolvemos ir para um segundo momento do nosso levantamento com os 6 que apresentaram o resultado maior. Na instituição “B”, observamos que os seis primeiros professores apresentavam uma diferença muito maior em relação aos demais, e foi então com estes que prosseguimos na nossa coleta.

Sem sombra de dúvida, não se trata, apesar da quantidade significativa de números e cálculos, de uma escolha segura de professores com convicção pedagógica. Precisamos levar em conta toda problemática da avaliação docente pelo aluno que não cabe aprofundar na nossa pesquisa. Poderíamos ter feito um levantamento semelhante entre os colegas de trabalho, e o resultado teria que contar também com um número significativo de fatores que distorcem a percepção mais objetiva da realidade. O que importa de fato nessa primeira fase foi um aumento da probabilidade de selecionar professores com o perfil desejado. Os

43 Apesar de solicitarmos dos alunos que não deixassem de assinalar os nomes dos professores na questão 1, aconteceram casos de alunos que simplesmente não lembravam dos nomes.

primeiros resultados confirmam a expectativa em relação ao caminho escolhido.