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4. Estudo Piloto

4.7 Questionários e entrevistas

Ao final do estudo, foi aplicado um questionário35 com o gerente de Recursos Humanos, Supervisora de produção do setor de Acabamento, supervisora de produção do setor de Embalagem, professores dos cursos e com a Telefonista que acompanhou a estagiária nessa função e foi realizada entrevista com as pessoas com deficiência que participaram da experiência.

Os professores dos cursos relataram36 a adequação da carga horária ao conteúdo programático. Apontaram que os alunos não apresentaram grande dificuldade na absorção do conteúdo das aulas, unicamente o professor de matemática apontou dificuldade dos alunos referentes a disciplina: “Os alunos tiveram dificuldade com a

disciplina, devido a alguns fatores como ter estudado estas matérias há muito tempo ou por ter deficiência no ensino anterior de matemática. Todos os alunos se esforçaram e

35 Os questionários são apresentados no anexo 04 e 05.

conseguiram fazer os exercícios sozinhos, demonstrando o interesse e o aprendizado em pouco tempo de curso”.

Os cursos tiveram seus conteúdos programáticos baseados nas análises das tarefas de trabalho e sua carga horária adequada com a experiência profissional dos docentes contratados. Os cursos foram realizados na empresa parceira, a proposta de uma sala na empresa facilitou o pedido de vale transporte devido a localização da empresa ser de fácil acesso, no entanto, a falta de preparação do departamento de Recursos Humanos da empresa influenciou negativamente, pois, durante todo o processo preparatório para o estágio, segundo as pessoas com deficiência, elas sentiram-se analisadas quanto a seu perfil pessoal. A avaliação constante realizada por parte da empresa valorizava as pessoas com pequenas deficiências e julgavam que as outras com deficiências mais aparentes não teriam capacidade de realizar os estágios, fato este que desencorajou e corroborou com a desistência de dois estagiários. Assim como na literatura, o desconhecimento das limitações e capacidades das pessoas com deficiência por parte da empresa dificultou a inclusão, pois, a empresa ao procurar pessoas com deficiência para completar suas cotas, selecionam essas pessoas através da aparência da sua deficiência ou limitação e não pela sua capacidade funcional.

Esta experiência apresentou a demanda de capacitação dos professores, existe a necessidade de serem apresentados conteúdos relativos aos tipos de deficiência, suas limitações e capacidades funcionais, desmistificar situações, além de uma preparação pedagógica, pois, o conteúdo a ser ministrado é de domínio dos professores, mas, os métodos didáticos devem ser adequados às pessoas com deficiência. Esta questão foi apresentada também pelos professores que apontam a necessidade de maior conhecimento da população com deficiência para melhor adequação dos métodos pedagógicos.

Foi unânime a indicação pelos professores dos problemas de acessibilidade da empresa como fator de dificuldade de acesso das pessoas com deficiência à sala de aula e a preocupação com o acesso dos mesmos à planta da fábrica para a realização dos estágios.

A questão da acessibilidade na empresa esteve muito presente durante todo o desenvolvimento da inclusão. Desde a catraca na portaria da empresa, rampa de

acesso a produção, escadarias de acesso ao setor administrativo e refeitório, número de sanitários adaptados insuficiente e utilização deste como depósito ou banheiro exclusivamente feminino, falta de acesso aos bebedouros e falta de sinalização de alerta áudio/visual para casos de abandono de área, todas estas questões dificultaram o acesso e a prática da inclusão. Tornou-se evidente a limitação do ambiente dificultando que as pessoas com deficiência realizassem suas atividades e a despreocupação da empresa em garantir condições de igualdade de acesso dentro da planta para todos os seus trabalhadores, já que possui em seu quadro 25 trabalhadores com deficiência contratados. A questão da acessibilidade foi apontada pela equipe, pelas pessoas com deficiência, professores e pela empresa.

Segundo o gerente de recursos humanos da empresa, em ambos os setores a produção dos estagiários ocorreu dentro das expectativas desejadas. Relatou que todos os estágios foram acompanhados na integra pela supervisão do setor, contando com atenção especial dos setores de SESMT e Recursos Humanos.

Relata ainda que o setor de Recursos Humanos na empresa não possui treinamento ou metodologia própria para a seleção de pessoas com deficiência, quando necessário o preenchimento de vagas a empresa recorre aos trabalhadores com ou sem deficiência que já trabalham na empresa, os quais indicam outros. O concorrente a vaga, após ser selecionado para entrevista, vem acompanhado a empresa de responsável (pai/mãe), o qual auxilia nos procedimentos inerentes a contratação.

Quanto aos pontos positivos do estudo, disse o Gerente de Recursos Humanos da Empresa: “... a aprendizagem foi bilateral, ou seja, compartilhamos experiências com

os alunos, identificando pontos nos quais deveremos repensar. Exemplo: estacionamento com vagas para deficientes, acessibilidade a portaria, infra-estrutura apropriadas como sanitários e refeitório, procedimentos para abandono de local de trabalho em caso de sinistro, alerta aos líderes de abandono, principalmente com os portadores de necessidades especiais, sinalização de alerta áudio/visual...”.

Sugere que o período de estágio poderia ser expandido e como dificuldade aponta a preocupação quanto a acessibilidade das pessoas até seus postos de estágio e a segurança e preservação quanto a integridade física dos mesmos.

Referente à contratação dos estagiários, o gerente relatou que embora o resultado do estudo tenha sido favorável, a empresa está com a cota de contratações cumprida conforme percentagem de lei, 25 pessoas com deficiência trabalham na empresa: 12 pessoas com deficiência auditiva, 6 pessoas com deficiência física, 3 pessoas com deficiência mental e 4 pessoas com deficiência visual, podendo ser analisada contratações futuras.

As supervisoras de produção apontaram que o desempenho dos estagiários foi excelente e que corresponderam à produtividade em comparação aos demais trabalhadores da empresa porque eles têm muita vontade de trabalhar. Apresentaram bom relacionamento com os demais trabalhadores e com a supervisão. Nenhum acidente ou incidente ocorreu com as pessoas com deficiência durante os estágios, assim como nenhum acidente foi provocado por elas.

Quanto aos pontos positivos as supervisoras apontam a coragem, vontade de trabalhar e aprender a tarefa. Relataram não ter havido pontos negativos e quanto a dificuldades, foram apontadas questões de acessibilidade da empresa, por exemplo, acesso ao bebedouro.

As supervisoras relatam que os estagiários estão aptos e preparados para trabalhar nas tarefas em que estagiaram e que são favoráveis a inclusão de pessoas com deficiência no trabalho: “Acho a inclusão de pessoas com deficiência no trabalho

uma boa, se eles têm condições, nós temos dever de dar oportunidade a eles de se sustentar com seu trabalho”.

A trabalhadora que acompanhou o estágio da telefonista relatou que a estagiária aprendeu a tarefa de ajudante de telefonista com muita facilidade e que apresentou boa produtividade. Não houve acidentes ou incidentes com a estagiária, ou provocados por ela. Apresentou bom relacionamento com os demais trabalhadores. Relata que o estágio poderia ter seu tempo expandido para que a estagiária pudesse aprender todo o conteúdo que compõe a função de telefonista nesta empresa.

Quanto à inclusão de pessoas com deficiência no trabalho a telefonista da empresa relata: “Acho ótimo, pois todos somos iguais e temos a capacidade para

As pessoas com deficiência que participaram do estudo em entrevista relataram que é necessário o esclarecimento de questões referentes à previdência social para que as pessoas comprometam-se a participar da capacitação profissional. Todos apresentaram receito de perder benefícios ou aposentadorias por estarem envolvidos em um estágio dentro de uma empresa. A equipe não estava treinada a responder essas questões o que fez com que muitas das pessoas convidadas a participar do estudo recusassem. Na experiência as dúvidas quanto aos direitos da previdência estiveram presentes desde a classificação da capacidade funcional e perdurou até o momento do estágio.