• Nenhum resultado encontrado

Questionamentos à conduta do BCB e atos de supervisão sobre

CAPÍTULO 5 DISCUSSÕES NA COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONÔMICOS

5.9 Questionamentos à conduta do BCB e atos de supervisão sobre

Esse grupo reúne ocorrências de críticas claras à atuação do BCB no exercício de suas atribuições, ainda que relacionadas a temas relativos a outros grupos de classificação, e quaisquer iniciativas que representassem atos de supervisão dirigidos ao BCB adicionais às rotinas de supervisão existentes como as sabatinas, o exame de programação monetária e audiências públicas determinadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Em virtude dos critérios adotados, há

diversos casos em que uma mesma discussão é classificada tanto no seu tema específico como em “questionamentos à conduta do BCB ...”, desde que a manifestação do parlamentar seja clara e objetiva no sentido de criticar ou condenar a atuação do BCB no exercício de suas funções. O propósito da classificação é tentar obter indicações a respeito da atuação da CAE exclusivamente na sua função supervisora do BCB.

Em 1995, há o registro de cinco ocorrências referentes à qualidade dos pareceres do BCB sobre pedidos de endividamento, demora, por parte do BCB, no envio de relatórios de programação monetária e questionamentos a respeito da ação do BCB em relação ao Banco Nacional. A partir dos dados disponíveis, pode-se concluir que no ano em questão houve na CAE um debate relacionado ao BCB com grande interesse sobre as políticas monetária e cambial, mas poucas iniciativas de supervisão fora das rotinas.

Já em 1996, os registros se elevam a 12 e se referem aos seguintes aspectos: críticas e questionamentos à qualidade da fiscalização do BCB, que demorou a agir no caso do Banco Econômico e não identificou as fraudes no balanço do Banco Nacional; críticas e identificação de supostas falhas do BCB na condução da intervenção no Banespa; críticas à falta de transparência do BCB na condução da intervenção do Banespa; questionamentos da qualidade dos dados repassados pelo BCB à CAE sobre o endividamento dos estados e municípios e a ocorrência de apresentação de um projeto de resolução, de autoria do senador Gilberto Miranda, que previa a remessa à CAE de informações periódicas a respeito de operações de redesconto por parte de instituições financeiras, junto ao BCB. Neste caso específico, o senador Vilson Kleinubing, representante do governo na comissão, pede vistas ao projeto e apresenta voto contrário. Como envolve fornecimento de informações sigilosas e tem a oposição do BCB, o projeto acaba remetido à CCJ para exame da constitucionalidade. Naquele ano, acompanhando o aumento dos debates em torno do saneamento do sistema financeiro, a fiscalização do BCB foi intensamente criticada, mas, com exceção do projeto de resolução do senador Gilberto Miranda, não há registro de debate de outras iniciativas concretas de supervisão. Prevaleceu o discurso.

Em 1997, há uma grande redução no número de ocorrências (5) concentradas em temas relacionados à remessa, pelo BCB, de documentos rotineiros sobre estados e municípios, críticas ao atraso do BCB no envio de relatório de programação monetária e um questionamento específico do senador José Eduardo Dutra (PT-SE) sobre a denúncia de que os bancos públicos

federais estariam socorrendo bancos em dificuldades por determinação do governo. Trata-se de um ano de baixa ocorrência de debates de maneira geral e, aparentemente, o item acompanhou a tendência dos demais. Em 1998, ano da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, da crise da Rússia e do pior ataque especulativo que o país atravessou no governo FHC, é o de menor número de incidências em todo o período pesquisado: há um requerimento de autoria do senador Eduardo Suplicy pedindo a presença de Malan e Gustavo Franco para prestar esclarecimentos sobre as turbulências internacionais, que foi aprovado e cumprido, e uma crítica relacionada ao atraso no envio de documentos. Observa-se que nesse ano, há poucos debates de maneira geral e o mais baixo número de reuniões da série pesquisada.

Em 1999, quando a desvalorização cambial e a troca de comando no BCB ocorrem, há um pequeno aumento nas ocorrências. Elas versam sobre os seguintes assuntos: um relatório do TCU apontando prejuízos na aplicação das reservas cambiais é divulgado pelo senador Roberto Requião, durante a sabatina de Francisco Lopes; críticas ao atraso no envio de relatórios sobre dívidas dos estados; críticas à gestão do BCB no Produban, o banco estadual de Alagoas; críticas à qualidade dos pareceres do BCB em pedidos de endividamento e a apresentação de dois requerimentos. Um deles pede a presença de Francisco Lopes para explicar o seu afastamento e o outro solicita a presença do ministro Pedro Malan para explicar a demissão de Lopes, a escolha de Arminio Fraga e a revisão do acordo com o FMI, em março daquele ano. O segundo requerimento foi cumprido.

Em 2000, há uma súbita elevação no número de ocorrências, chegando a 16, o maior de todo o período pesquisado. As críticas e questionamentos são relacionados a eventuais prejuízos causados ao país no lançamento de títulos no exterior, cobrança de informações ao BCB a respeito de operações de endividamento não identificadas, acusações de que o BCB não atua em favor do consumidor na supervisão bancária, críticas à linha monetarista da política econômica (o senador Eduardo Suplicy defende a presença de economistas especializados em desemprego e pobreza na diretoria colegiada do BCB) e cobrança de informações mensais ao banco central sobre endividamento dos estados. Há, ainda, o registro dos seguintes atos de supervisão: o senador José Eduardo Dutra requer o sobrestamento da indicação de Tereza Grossi para a diretoria de Fiscalização do BCB até que fique esclarecido o envolvimento dela nas operações de socorro aos bancos Marka e Fonte-Cindam (rejeitado); é discutido o projeto de lei do deputado Geraldo Cândido, já citado, que cria a conta-salário isenta de tarifas bancárias (como descrito no

item 5.8, a comissão segura o projeto e convoca o diretor de Normas do BCB, Sérgio Darcy, para dar explicações e, mais tarde, o próprio BCB se antecipa e cria uma norma atendendo o projeto); a senadora Heloisa Helena apresenta requerimento pedindo a convocação do liquidante do Produban, o banco estadual de Alagoas; é aprovado um requerimento convocando o diretor de Liquidações e Desestatização, Carlos Eduardo de Freitas, para explicar a ação do BCB no Banco do Estado de Santa Catarina (Besc). Esse diretor, junto com Tereza Grossi, também comparece à comissão para explicar uma auditoria feita pelo BCB no Banestado, o banco estadual do Paraná incluído no Proes e, finalmente, há a apresentação de um requerimento pedindo o comparecimento da diretora de Fiscalização do BCB para falar sobre o vazamento de informações sigilosas dos cadastros da Serasa, uma denúncia veiculada pela TV Bandeirantes. Em 2002, há também mais discussões envolvendo os demais temas e comparativamente aos demais anos, poucas rotinas legais. A CAE parece ter tido mais tempo de exercer o seu papel supervisor nesse ano. Merece destaque o maior número de atos de supervisão, embora ainda prevaleçam nos debates sem aparente conseqüência prática.

No ano de 2001, há apenas três registros: um requerimento do senador Eduardo Suplicy pedindo o comparecimento da diretora Tereza Grossi para dar explicações a respeito de uma matéria publicada na revista Veja sobre vazamento de informação privilegiada no caso Marka e Fonte-Cindam; o senador José Eduardo Dutra questiona os motivos do afastamento do diretor de Fiscalização anterior a Grossi, José Carlos Alvarez, e um debate a respeito da suspeita de que Arminio Fraga teria tido acesso a informações privilegiadas antes de assumir o BCB. Por alguns dias, antes de assumir o cargo, Fraga integrou-se à equipe como assessor de Malan. O comportamento diverge do padrão dos demais temas, que registra um número médio de ocorrências. Há uma pequena elevação em 2002, quando são registradas 7 ocorrências. Há o registro de uma ação supervisora: um requerimento convidando o presidente do BCB, Arminio Fraga, para explicar o tumulto na aplicação da regra de marcação a mercado, que ganhou as manchetes dos jornais. Além disso, há aprovação do já citado projeto de resolução originalmente apresentado pelo senador Paulo Hartung a pedido de José Serra. Mas o substitutivo aprovado é uma versão bastante suavizada da proposta original, que previa a convocação trimestral de diretores do BCB para explicar as decisões sobre juros. O substitutivo prevê a eventual convocação de integrantes do CMN ou do BCB para explicar decisões do Copom, o que pouco muda a rotina atual. Existem menções a falhas do BCB na fiscalização do Banco do Nordeste do

Brasil, o deputado Sérgio Miranda questiona operações do BCB com swaps cambiais no mercado futuro e há críticas à atuação do BCB no processo de implantação de regras de marcação a mercado das cotas dos Fundos de Investimento. O BC foi acusado negligência na cobrança do cumprimento das regras por parte dos bancos, o que causou prejuízo a cotistas. Há ainda críticas ao banco, que não cobra dos bancos integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) a aplicação dos recursos exigidos em empreendimentos imobiliários.

O exame a atividade supervisora da CAE em relação ao BCB mostra que a comissão é, sobretudo, um espaço de debates, até críticas objetivas, mas não de iniciativas práticas de supervisão. O levantamento também mostra que, mesmo nos atos de supervisão, o instrumento mais utilizado é o da audiência pública. Há ainda um indicativo de que, durante o período analisado, o governo, com sua presença majoritária, buscava evitar novas rotinas de supervisão ou iniciativas legislativas que não contassem com o apoio do Banco Central e do Ministério da Fazenda. São os casos do projeto de resolução apresentado pelo senador Paulo Hartung e do projeto de lei do senado que previa a criação da “conta de pagamento padrão”, já citados. O exame dos dados também leva à conclusão de que com frequência a Comissão age a reboque dos fatos, reagindo principalmente a matérias publicadas na imprensa. Ao compararmos a ordem de grandeza das supervisões de rotina com as de extra-rotina, vemos que a última ostenta quase o dobro de incidências, mas, como já mencionado, prevalecem as denúncias e críticas sobre ações concretas, como requerimentos de informações e de convocações, ao menos no âmbito da CAE.

5.10 Pesquisa de matérias relacionadas ao BCB no Senado Federal,