4. CAMINHOS METODOLÓGICOS DA CONSTRUÇÃO DO ARTEFATO A
4.2. Etapas da pesquisa
4.2.3. Terceira Etapa
4.2.3.5 Quinto Encontro do Grupo Focal – 26 nov 2013
A proposta para este encontro consistiu na criação de uma representação do trabalho coletivo, utilizando-se, para tal, de diferentes linguagens.
O grupo escolheu a linguagem corporal para representar a disciplina de TPE. As professoras improvisaram uma coreografia com o objetivo de demonstrar os movimentos de uma engrenagem, que, em sua continuidade, foi se transformando em uma Ciranda de Roda. Esta atividade teve o acompanhamento musical da professora Maria que cantou e tocou no violão a música Velha Infância39. O trabalho
39
Música: Velha Infância. Grupo: Tribalistas. Disponível em: <http://letras.mus.br/tribalistas/64148/>. Acesso em: 27 nov. 2014.
apresentado por elas ficou intitulado, por mim, como: Na representação do trabalho
coletivo: o movimento dos corpos como obra dos artífices.
Fig. 9 – Representação do trabalho coletivo: o movimento dos corpos como obra dos artífices (foto 1)
Fonte: Arquivo pessoal da autora.
Fig. 10 - Representação do trabalho coletivo: o movimento dos corpos como obra dos artífices (foto 2)
Após a apresentação da coreografia, elas expressaram suas percepções e sentimentos sobre o trabalho realizado, estabelecendo, assim, um diálogo entusiasmado no grupo. Maria, emocionada, aplaudiu as colegas e disse que este foi um momento especial.
E o legal é isso: de improviso! Muito bonito, me deu um arrepio. Eu estava vendo o movimento com a visão periférica, para poder me concentrar na questão da música e não errar a letra. Mas foi muito bonito, deu para perceber o quanto vocês viveram esse momento diferente. E, se a gente tivesse ensaiado, não ia ter a mesma representatividade. Ficou muito bonito como se vocês fossem crianças de novo, a sensação que me deu foi essa
(Maria, Encontro, 26/11/2013).
Concordando com a fala da professora Maria, Maria Lúcia contribui com a reflexão, explicando sua visão sobre a relação com a disciplina de TPE:
mas eu acho que não é só em TPE, é na nossa vida. Têm momentos na nossa vida que a gente vai e se atira de cabeça. Eu acho que em TPE o pano de fundo sempre é a criança. Quando a gente trabalhou com o baú, a gente trabalhou com outras expressões e isso aí mexe com a nossa vida, e nada melhor que a gente voltar ao tempo de criança (MARIA LÚCIA,
Encontro, 26/11/2013).
Carla com a intenção de explicar como a atividade foi planejada, justificou a escolha da dramatização pela metáfora da engrenagem, comparando-a com os movimentos do grupo:
a proposta era fazer uma engrenagem em que cada uma ia entrando, aí eu pensei: o nosso trabalho tem a questão da engrenagem, porque nós vamos combinando as coisas e o trabalho vai dando certo como uma engrenagem, mas a gente extrapola isso e vai além e transforma e cria outras coisas. E eu digo: a gente não pode ficar em um movimento repetitivo (CARLA,
Encontro, 26/11/2013).
Ela complementou, explicitando a proposta realizada, para tornar a coreografia mais próxima da representação do trabalho coletivo:
eu acho muito interessante a questão da roda. Para mim, a questão da ciranda traduz muito o que é esse trabalho, que é a questão do coletivo. Então se a gente puder brincar de roda de ciranda... (CARLA, Encontro,
Ao ouvir e ler várias vezes as palavras de Carla, fazendo referência à ciranda de brincadeira e à roda de conversas, para representar o trabalho coletivo, uma música surge em minha memória. Ela traz, em seus versos, palavras que traduzem a movimentação de pessoas, associada a grupo, vida, criatividade e união entre pessoas. A música Redescobrir 40, de Luiz Gonzaga Júnior:
Como se fora brincadeira de roda memória Jogo do trabalho na dança das mãos macias O suor dos corpos na canção da vida história O suor da vida no calor de irmão magia [...]
Vai o bixo homem fruto da semente memória Renascer da própria força, própria luz e fé memória Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós história Somos a semente, ato, mente e voz magia
Não tenha medo, meu menino povo memória Tudo principia na própria pessoa beleza
Vai como a criança que não teme o tempo mistério [...]
Essa música está presente no rol de músicas que, particularmente, tenho como uma das minhas favoritas. Trazê-la aqui, relacionando-a com a representatividade que as professoras expressaram para o trabalho coletivo, é significativo para mim.
Carla explicou que o improviso utilizado pelas professoras para realizarem a representação, aconteceu porque elas atuam sem ensaios em TPE, “então a gente
tinha que se jogar aqui para ver o que ia dar. Eu acho que isso é muito do trabalho de TPE e vários momentos tem essa questão do improviso e da gente voltar a ser criança” (CARLA, Encontro, 26/11/2013).
40
Música: Redescobrir. Cantor: Luiz Gonzaga Júnior. Disponível em: <http://letras.mus.br/gonzaguinha/46286/>. Acesso em: 26 nov. 2014.
Ao propor a representação do trabalho coletivo, eu apostei na criatividade das professoras, mas fui surpreendida pela escolha da linguagem corporal, porque esta prática não é usual em nossa ação didática. Como professora de Educação Física, eu sei o quanto é difícil para um grupo de professoras, expressarem-se através do corpo. Elas se movimentaram de uma forma serena e expressiva, demonstrando a intimidade e a cumplicidade, que o trabalho coletivo propicia. Eu fiquei emocionada e tive vontade de largar a máquina de fotografias, e fazer parte da ciranda, juntamente com elas, mas eu precisei me conter, pois estava ali como pesquisadora.
É importante salientar que as colegas têm o hábito de trabalhar a musicalidade, desde 2010, com a chegada da professora Maria, de Música, no grupo de TPE, intensificamos o ato de cantar nas nossas aulas. Com frequência, por solicitação das professoras ou das alunas, escolhemos músicas que tenham vínculos com as temáticas de estudos na disciplina, explorando suas letras e/ou cantando na sala de aula. Juntas, alunas e professoras, cantamos e expressamos nossas emoções, e por certo cantamos também, como diria Gonzaguinha41, em uma de suas músicas “cantar e cantar e cantar a beleza de ser[mos] etern[as] aprendiz[es]”. Considero que elas, ao utilizarem a música para a representação do trabalho proposto, foram fiéis ao trabalho realizado na disciplina de TPE.
Para finalizar nosso último encontro, agradeci-lhes pela contribuição e participação nas reuniões. Entreguei-lhes fotografias como forma de recordação, pela participação de cada uma delas nesta pesquisa.