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G RÁFICO 2: E VOLUÇÃO DOS E STABELECIMENTOS C OMERCIAIS DE C OVA DA I RIA

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A carência ao nível do abastecimento de água na época era extremamente significativa e, como tal, era necessário tomar providências em relação a esse facto. É neste sentido que, a 13 de Junho de 1924, foi aberto o primeiro poço a 50 metros da Capelinha das Aparições onde foram colocadas diversas torneiras para abastecer a população, sobretudo, os peregrinos. Algum tempo depois, esse abastecimento foi reforçado com a abertura de mais dois poços, a pouca distância uns dos outros. Junto de cada construção abriu-se também um depósito para armazenagem da água que provinha das chuvas, e que corria através de caleiras colocadas nos telhados dos edifícios.

O culto de Nossa Senhora de Fátima espalhou-se rapidamente e as peregrinações foram crescendo de ano para ano, com dezenas de milhares de fiéis, vindos de todo o país, a acampar na Cova da Iria nos dias 13 de cada mês. Daqui surge, então, a crescente necessidade de reunir esforços na criação de infra-estruturas que permitissem não só acolher os peregrinos, como também atrair pessoas de outros países. Neste contexto, várias visitas ministeriais tiveram lugar na Cova da Iria com o intuito de se inteirarem dos diversos problemas existentes e, algum tempo depois, são realizados diversos estudos para a elaboração de um adequado plano de urbanização para o lugar.

A 28 de Março de 1928, o Ministro das Obras Públicas e Comunicações, nomeia uma Comissão para realizar o primeiro estudo do plano de urbanização da Cova da Iria, o “Projecto de Urbanização dos Arredores da Cova da Iria” e das medidas necessárias para a defesa, protecção e engrandecimento do local. Neste projecto previa-se uma zona de protecção em volta da Basílica e dos hospitais, um parque de automóveis, hotéis e diversas edificações para vários fins. Todavia, o projecto elaborado não chegou a ser aprovado.

Quando se inicia a construção da Basílica, em 1928, já existia um hotel em construção. Esta situação demonstra a crescente afluência de peregrinos à região, e se este não bastasse, a confirmá-lo, inaugurou-se, em 1929, não só o Hospital-Sanatório, para onde seria transferido um posto de verificações médicas, mas também o primeiro hotel funcional da Cova da Iria conhecido como “Hotel da Madeira”.

Efectivamente, após as primeiras peregrinações, o aumento do número de pessoas para dormir e descansar na Cova da Iria tornou-se uma constante. A fadiga da viagem e o desejo de assistir às celebrações nocturnas, em especial à procissão das velas, originava a procura

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de quartos e locais de descanso em todas as casas e até nas barracas de madeira que se passaram a construir nos terrenos.

Só a 13 de Outubro de 1930, o Bispo de Leiria declara dignas de fé as aparições e autoriza o culto à Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Esta postura fez com que o movimento de expansão do culto à Virgem de Fátima se incrementasse, para além das fronteiras nacionais.

Quanto à principal fonte de subsistência na época, esta era, indubitavelmente, a agricultura. A comunidade era maioritariamente constituída por pequenos proprietários que exploravam o solo com muito esforço, mas escasso rendimento. Os solos eram de tal modo fracos, acidentados e pedregosos, que tornavam o trabalho do campo difícil e pouco compensador, numa agricultura de subsistência, destinada quase exclusivamente ao autoconsumo. De referir que, um conceito como trabalho infantil não existia neste período, este apenas fazia sentido em sociedades desenvolvidas, e em países subdesenvolvidos, o trabalho desempenhado por crianças era encorajado e encarado como um instrumento de aprendizagem e, muitas vezes, visto como uma “iniciação não ritual ao mundo dos adultos”.22

No que se refere à pastorícia, esta funcionava como actividade complementar da agricultura, sendo rara a família que não tivesse o seu pequeno rebanho. Este era, na maioria das vezes guardado por crianças ou idosos, pois os restantes tornavam-se necessários nas tarefas mais penosas do campo.

Sendo a agricultura e a pastorícia as principais fontes de rendimento, começaram a surgir, para apoio dessas actividades ou delas derivadas, algumas indústrias tradicionais e ofícios. Nos montes foram construídos moinhos de vento, pequenas adegas para a produção de vinho, e lagares, para a produção de azeite. Será conveniente mencionar que a azeitona constituía a riqueza da zona, o que levava a que os olivais fossem muitos e bem cuidados. De facto, a oliveira encontrou uma boa zona de proliferação na região, dada a

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Martins, J; “Fátima Profunda – Esboço Etnográfico”; 1ª Edição; 2001; Casa do Povo de Fátima (Edição); pág.65

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sua apetência por terrenos calcários e a sua exigência de invernos rigorosos e estios quentes e secos – um clima tipicamente mediterrânico.

Contudo a impossibilidade de cultivar as terras situadas em redor do local das Aparições, conduziu a que muitos proprietários desistissem do cultivo das mesmas e passassem a tirar rendimento da construção de barracas improvisadas para venda de artigos religiosos e outro comércio.

A construção de todo este conjunto de habitações e estabelecimentos de comércio estendeu-se ao longo da estrada (EN 356) que havia sido construída já depois de 1917, e pelos campos. Todo este desenvolvimento ocorreu antes da existência de qualquer espécie de planeamento e fora das normas administrativas.

No que se refere aos processos, às trocas e aquisições de bens, estas realizavam-se, principalmente, nas Feiras mensais e no mercado semanal de Ourém.

Um meio de comunicação como o telefone, essencial ao desenvolvimento civilizacional, é inaugurado em Fátima a 16 de Novembro de 1930, tendo a primeira cabine sido instalada no Hotel de Nossa Senhora de Fátima.

2.3.2 2ª ÉPOCA:DO INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DA BASÍLICA AO ENCERRAMENTO