• Nenhum resultado encontrado

2 R EFERENCIAL T EÓRICO

2.6 R ECORTE C ONCEITUAL

O recorte conceitual desta dissertação está baseado em três metacategorias (GIL FLORES, 1994) que estão relacionadas aos objetivos específicos propostos inicialmente na introdução deste trabalho. São elas: o dinamismo do mercado; indícios de capacidade dinâmica; e os elementos de processos e rotinas de busca e inovação.

Em relação ao dinamismo, evidencia-se que o dinamismo do ambiente é um elemento antecedente do construto capacidade dinâmica, considera-se neste estudo que o dinamismo do mercado e do tempo têm um efeito importante nas capacidades dinâmicas (BITAR, 2004).

A necessidade de reconfiguração e renovação dos recursos e rotinas pode emanar de mudanças nas condições organizacionais e da evolução ambiental (ZAHRA; SAPIENZA; DAVIDSON, 2006).

Salienta-se que, quanto mais dinâmico o ambiente onde as empresas estão inseridas, mais evidente elas exibem características de que possuem capacidades dinâmicas. Essas características podem ser evidenciadas pelo contínuo investimento em tecnologia e pela capacidade de se adaptar às mudanças macroeconômicas que o setor provê. A perspectiva das

capacidades dinâmicas concentra-se em adaptar, integrar e reconfigurar habilidades e recursos tendo como direcionador a mudança (TEECE, 2007, 2009). Conforme destaca Teece (2009), a velocidade de perceber e gerenciar as ameaças e de detectar e aproveitar as oportunidades de mercado também são características de empresas que possuem capacidade dinâmica. Portanto, é importante identificar os recursos tecnológicos utilizados e as ameaças e oportunidades que estão dispostas no mercado.

Além desses fatores, são avaliados como as empresas se adéquam às mudanças, porque os fatores que explicam esse dinamismo são avaliados a partir de um ambiente de mudanças tecnológicas e de práticas de inovação.

Os indícios, sinais aparentes e prováveis, de capacidade dinâmica foram analisados neste estudo a partir das categorias apontadas por Teece, Pisano e Schuen (1997), tais como: processos (como as atividades são desenvolvidas na empresa), posições (seus diferenciais perante a concorrência) e trajetórias (escolhas estratégicas) de uma empresa. Além destes, incluem-se os demais aspectos apontados por Teece (2009), como a busca de oportunidades tecnológicas, a implementação de decisões estratégicas e a capacidade de gerenciar ameaças. Além de Teece, esses indícios são apontados por vários autores, como Eisenhardt e Martin (2000), Ambrosini e Bowman (2009) e Zollo e Winter (2002). Conforme destacam Helfat et al. (2007), as capacidades dinâmicas surgem em diversas formas. As empresas que possuem capacidades dinâmicas tendem a crescer de forma sustentável, buscando sempre soluções inovadoras e de qualidade que satisfaçam os clientes e maximizem os resultados da empresa, buscam novos segmentos de atuação e se adaptam às mudanças organizacionais, e ajudam a desenvolver o mercado com a prática de inovar.

A partir dos indícios apresentados, são analisados os elementos componentes da capacidade dinâmica, que, no recorte conceitual deste estudo, são expressos nos processos e rotinas de busca e inovação. Adotam-se aqui as perspectivas dos autores que analisam capacidades dinâmicas do ponto de vista de processos e rotinas (TEECE; PISANO; SCHUEN, 1997; EISENHARDT; MARTIN, 2000; ZOLLO; WINTER, 2002; WINTER, 2003; TEECE, 2009).

Os processos são uma sequência de atividades, com entradas e saídas bem definidas pelas competências individuais. Para uma empresa sobreviver, ela tem que adaptar seus processos e rotinas de acordo com a demanda do ambiente. As empresas podem desenvolver processos eficazes que sejam previsíveis e relativamente estáveis com passos lineares, começando com a análise e terminando com a implementação (HELFAT, 1997). Porém, para Nelson e Winter (2005), a taxa de mudança dos procedimentos operacionais difere de uma

empresa para outra, podem existir rotinas mais automatizadas e estáveis, que podem estar conectadas a procedimentos operacionais, assim como pode haver rotinas mais dinâmicas, ligadas à busca e seleção.

Pode-se dizer que as capacidades dinâmicas são o conjunto de processos estratégicos e organizacionais específicos e identificáveis, que criam valor para as empresas que operam em mercados dinâmicos, através da manipulação dos recursos para a implementação de novas estratégias criadoras de valor (EISENHARDT; MARTIN, 2000). Para esses autores, são exemplos de operacionalização através de processos e rotinas, a capacidade de fazer alianças e aquisições, rotinas de alocação de recursos e transferência e replicação do conhecimento. Eles ainda citam que, em processos eficientes de desenvolvimento de produtos, a participação de times multifuncionais leva a níveis superiores de desempenho.

De acordo com Eisenhardt e Martin (2000), a capacidade dinâmica de uma empresa está enraizada em seus processos e rotinas, como, por exemplo, os processos de desenvolvimento de novos produtos e serviços. Esses processos e rotinas refletem a velocidade e em que medida recursos e competências da empresa podem ser alinhados e realinhados para corresponder às oportunidades e exigências do ambiente de negócios, além de moldá-lo.

A análise das rotinas segue as características identificadas por Becker (2004), que são: padronização, recorrência, caráter coletivo, atores inconscientes versus realização de esforços, natureza processual, dependência de contexto, dependência de trajetória e gatilho de atividades. Como se pode observar no Quadro 7, a seguir, a característica de padrão está presente entre os principais autores que associam rotinas e capacidades dinâmicas. Portanto, essas características de padrão recorrente de interação serão abordadas na identificação dos elementos responsáveis pela criação e desenvolvimento de tais capacidades.

Quadro 7 – Definições de rotina.

Autores Definições de Rotina

Winter (2000) Padrões repetitivos de comportamento sujeitos a mudanças diante dasvariações de contexto. Zollo e Winter (2002) Padrões estáveis de comportamento que caracterizam reações

organizacionais a estímulos internos e externos.

Nelson e Winter (1982) Padrões comportamentais, regulares e previsíveis das firmas são as habilidades e características permanentes de uma organização. Teece, Pisano e Schuen

(1997) Padrão corrente de práticas e aprendizagem.

Grant (1991)

Padrão regular e previsível de atividades que são compostas por uma sequência coordenada de ações individuais. Rotinas são para as organizações o que habilidades são para os indivíduos.

Essa característica de padrão recorrente de interação é analisada em relação aos seguintes aspectos: implementação de novos processos, memória da organização, mudanças nas rotinas operacionais, implementação da inovação, estrutura organizacional e motivação para inovação.

Em resumo, a capacidade dinâmica reflete as mudanças que uma empresa pode fazer em suas rotinas. Ao se conhecer as rotinas de inovação, é possível identificar os elementos que contribuem para a competitividade e sobrevivência das empresas, envolvendo questões relativas principalmente aos processos de inovação.

Portanto, o recorte conceitual descrito anteriormente constitui as três metacategorias que correspondem aos três objetivos específicos deste trabalho.

Apresenta-se, a seguir, uma breve descrição do segmento das corretoras de valores mobiliários no Brasil, objeto de estudo deste trabalho, buscando contextualizar a sua formação até os dias atuais de atuação.