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Racionalidade e século das luzes: liberdade, igualdade e fraternidade

2 “SPIE” METODOLÓGICO

4 A CIÊNCIA COMO RAZÃO LEGITIMADORA: da revolução das luzes à crise de paradigmas na modernidade

4.1 Racionalidade e século das luzes: liberdade, igualdade e fraternidade

A racionalidade foi o caminho encontrado pelos iluministas para vencer as trevas, superar os limites mais profundos da humanidade, sobretudo nas inferências acerca da existência dos sujeitos em seu mundo comum e categorizado pelo “si próprio”, ou seja, pela intersubjetividade:

A história iluminista é dominada pelos conceitos de sistema e de totalidade. Ela é a realização de um sujeito universal, de um sujeito coletivo, que sabe de si e quer saber cada vez mais de si. O sujeito consciente é movido por um desejo de totalização de si, de autoconsciência. Em busca de uma consciência total de si, ele

de documento, enquanto elemento estático passa a ser visto pela dinâmica da informação, inerente a qualquer registro e em qualquer suporte. É nesse sentido que poderá contribuir na reformulação do objeto de estudo e de trabalho da Arquivística (SILVA, 2012, p. 45, grifo nosso).

realiza ações totais, visando obtê-la aceleradamente (REIS, 2006, p. 69).

Destacamos, pois, que a razão instaurou uma nova ordem de pensar o mundo, visto que a universalidade, a individualidade e a autonomia acabaram difundindo-se em diversos lugares da Europa33. A partir daí começa-se a pensar em críticas ao

próprio Estado Absolutista. Segundo Habermas (1987, p. 232), “aquilo que chamamos de razão se aprende no momento em que ela enquanto tal, se executa como autorreflexão”. Essa reflexão estará interligada nos anseios dos intersujeitos.

Desse modo, o iluminismo vincula-se à lógica da razão a serviço da crítica do presente, de suas estruturas e realizações históricas. Assim, as características iluministas emancipariam os homens das especulações marcadas pelas improvisações dos dogmas da Idade Média e reportaria ao homem um sentido “progressivo” sobre si mesmo.

A racionalidade provocou uma grande transformação nas relações cotidianas, os homens aflorados por essa razão crítica queriam se desvincular daquilo que os prendiam como os dogmas e a fé. Então, nas luzes esses homens travaram uma luta racional por liberdade provocando uma ida vertiginosa ao futuro, ou seja, contra o passado subordinado a uma teologia da fé utópica, “o projeto iluminista legitima toda a violência contra o passado-presente, encarado como entrave, obstáculo à liberdade, e propõe uma ida vertiginosa ao futuro” (REIS, 2006, p. 69).

Com base no exposto, Reis (2006) faz refletir que o instrumento da liberdade humana se separa de um passado-presente e aufere uma visão futurista que se distancie do passado dogmático, no entanto, é necessário recuperar o impulso crítico que acenou ao homem possibilidades de construir racionalmente seu próprio destino, seu percurso enquanto tal, “a autorreflexão é percepção sensível e emancipação, compreensão imperativa e libertação da dependência dogmática numa mesma experiência” (HABERMAS, 1987, p. 228).

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Para Bellotto (2002, p. 14) “com a criação e evolução dos estados modernos na Europa, na idade moderna (1453 a 1889), surge a centralização do poder e passam a existir grandes arquivos reais (os chamados “tesouros do rei” e também os arquivos notorais organizados”.

Sendo assim, toda essa ânsia de liberdade configurou-se no seio da Arquivologia, pois antes da Revolução Francesa de 178934 os arquivos de um modo

geral, não eram permeados por uma centralização organizativa, ou seja, cada setor ministerial tinha sua própria forma de organização dos documentos. Com efeito, já difundido o processo revolucionário, a Arquivologia não seria mais como era antes, pois nessa mesma Revolução foi edificada uma “comissão de arquivo”, leis foram criadas para separar a documentação da Idade Média feudalista da administrativa.

Segundo Silva et al. (2009, p. 96), “o iluminismo deu veste cultural à Arquivística, mas foi também germe de consideráveis desvios”. Os autores tecem a respeito das influências que a Arquivologia sofreu com o iluminismo, visto que essa roupagem trazia consigo o “vício” do positivismo na realidade da própria linguagem documental, e nos seus valores intrínsecos.

Na transição do século XIX para o século XX e durante os primeiros anos deste século, assiste-se a uma consolidação definitiva das ideias da Revolução Francesa, quanto ao modelo arquivístico. É a afirmação inequívoca da perspectiva historicista e positivista, que se desenvolveu na Europa ao longo de Oitocentos. Tal modelo assenta na proliferação e desenvolvimento de arquivos com uma finalidade, que poderemos considerar exógena, relativamente aos fins específicos que determinam a própria formação dos arquivos. (SILVA

et al., 2009, p.115).

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A partir da Revolução Francesa ocorrem muitas mudanças na Europa, especialmente no âmbito dos arquivos, e essas se expandem aos outros continentes. É nesse contexto que a realidade dos arquivos é alterada nos seguintes termos: estruturam-se os arquivos em um sistema nacional; o conceito de arquivos de Estado é alterado para arquivos nacionais; e, ainda, os documentos de instituições extintas passam a incorporar os arquivos históricos e ficam à disposição para consulta (CRUZ MUNDET, 2003). Surgem os primeiros passos para uma divisão dos arquivos em históricos e administrativos e isso marcará de forma bastante significativa a profissão do arquivista, o qual passa a se dedicar com afinco aos arquivos históricos, deixando a gestão administrativa à margem da sua atividade profissional. (CALDERON, 2011, p.33).

Nesse mesmo sentido, Bellotto (2002, p. 14) endossa apontando que: “a Revolução Francesa, é uma baliza na história dos arquivos. Isto porque ocorre uma certa abertura dos arquivos públicos aos cidadãos e se procede a à reunião da documentação oficial dispersa, em Paris, criando-se um arquivo nacional. “O uso, no entanto, prosseguia sendo o jurídico-administrativo, isto é, os documentos servindo somente como instrumentos de informação administrativa e domo artesanal de testemunho das relações Estado-Nação”.

Dessa maneira, para Reis (2000, p. 190), “Habermas insiste nos conceitos iluministas de sujeito e consciência, que seriam fundados numa linguagem estável, que possibilita o diálogo e a ação legitima pelo discurso”. De todo modo, essa vertente de pensamento em longo prazo faz os iluministas terem confiança e esperança na razão.

Ainda conforme Reis (2000, p. 166), “os iluministas acreditam ter decifrado o segredo da história e recomendam a produção vertiginosa de eventos que o concretizem”. Essa concretização só aconteceria de fato quando o homem se enxergasse como partícipe do processo histórico, ou seja, “razões porque devemos entender as ações do iluminismo como a tentativa de testar, em circunstâncias dadas os limites de exequibilidade do conteúdo utópico, próprio ao patrimônio cultural” (HABERMAS, 1987, p. 297). O iluminismo trouxe outra veste para o contexto histórico, ou seja, a categorização da racionalidade.

A Europa ocidental não é mais o que era antes (presa a uma herança dogmática), começa a decifrar novas formas de se pensar a história dos sujeitos, ou seja, o interesse emancipatório.

O conceito de “modernidade”, portanto, assim como o próprio processo que ele designa revelam uma tensão: no inicio, nos séculos XIII-XVI, representara a ruptura com o passado de universalismo cristão e abrira um presente secularizado, com suas conseqüências – racionalização da ação e fragmentação da vida interna do homem ocidental (REIS 2006, p. 28).

A ideia de uma vida abundante e caracterizada pelo progresso vem de algum modo exprimir essa nova situação do homem, suas realizações futuras e suas profecias mais absurdas. As luzes vão romper com a religião, afetando a maneira do saber, de entendimento e consciência. Para Reis (2006, p. 32), “as luzes se separam da religião por cisão, colocando-se ao lado dela. Houve uma cisão da fé e do saber que as luzes são incapazes de superar seus próprios meios”.

Observamos, pois, que a vertente da religiosidade ainda se fazia presente nessas discussões e na relação com a ciência moderna. De todo modo, era fundamental substituir as validades explicativas das legitimações impregnadas pela fé, ou seja, a esfera do conhecimento por longos períodos históricos:

A substituição representativa do sagrado, sobre o qual se validam as explicações das coisas, pelas legitimações comprovadas da ciência, filiadas à racionalidade, fez do século XVIII um período impregnado de fé na unidade e imutabilidade da razão. É assim que a racionalização passa a ser esfera imprescindível da modernidade, visto que a função unificadora do pensamento iluminista passou a ser função fundamental da razão. (MEDEIROS, 2008, p. 90).

Medeiros (2008) compreende que essas variações iluministas de pensar a história da humanidade têm uma ideologia que anseia incondicionalmente pela busca do que venha posteriormente acontecer, porque é fundamental a ida ao futuro para compreender seu significado. Os iluministas acreditavam crer numa razão que assegurasse um mundo com seus parâmetros, ou seja, era preponderante que a humanidade tivesse um significado provindo das próprias vivências e estrutura enquanto intervetor e construtor de pensamentos e aspirações peculiares.

Então, os meios reais estão sempre em mudança, em transformação. As construções singulares em busca da “liberdade” se acentuam, e tudo passa a ser manobrado e pensado a serviço do próprio homem. Para Reis (2000, p. 167), “a grande narrativa iluminista garante a legitimidade da intervenção radical da realidade”.

Nessa realidade que se aflorou com a Revolução Francesa as tendências de mudança se tornaram necessárias para que o homem não ficasse estagnado em si mesmo, em uma luta obscura, descontínua e sem rumo. Com efeito, os iluministas fortaleceram o saber racional, queriam a todo custo vencer as trevas, ou seja, aquela antiga propulsão dogmática da “verdade suprema e inviolável”.

Medeiros (2008) esclarece que o iluminismo desenvolveu uma relação profunda com o sujeito cognoscente. De todo modo, para Reis (2006, p. 41, grifo nosso): “as luzes geraram dois tipos de conhecimento histórico: a história como

consciência crítica de uma época, reformista e discursiva, e a história como consciência crítico-prático, uma arma de combate”.

Diante dessas características iluministas, observamos diferentes olhares e intenções sobre os procedimentos unidimensionais atestados pela ciência, o interesse prático da lógica instrumental era validado pela vitalidade do empirismo:

Ao passo que o saber é valorizado, há também uma supervalorização da técnica como fim último, que aumenta os

investimentos para obrigar o conhecimento empírico a se renovar. A racionalidade técnica se torna a racionalidade da dominação. Saber e conhecimento, com isso, são sinônimos de poder; de um poder universal e onipresente como é a razão instrumental. (MEDEIROS, 2008, p. 93, grifo nosso).

Concordamos com Medeiros (2008) que essa racionalidade técnica se transformaria em uma dominação35, essa “ação de dominação” na Arquivologia acabou se generalizando. Então, parece-nos que com a utilização da racionalidade os homens chegariam e atingiriam diversos lugares e progresso, e isso se confirma em 1789 com a revolução, “o fim do século XVIII, como vimos, foi uma época de crise para os velhos regimes da Europa e seus sistemas econômicos, e suas últimas décadas foram cheias de agitações e de movimentos coloniais em busca de autonomia” (HOBSBAWM, 2010, p. 98).

A Revolução Francesa de 1789 assinalou profundamente a história da humanidade, nesse período os cidadãos estavam esgotados com o autoritarismo monárquico, representado pelo absolutismo do rei. Nessa ocasião, a população não aguentava mais ser massacrada pela cobrança de impostos abusivos, visto que a bonança era sempre remetida à nobreza e ao alto clero.

Como vimos, esse evento revolucionário teve repercussão no universo da Arquivologia através dos arquivos e da ligação direta com as instituições e principalmente depois da Revolução, pois o acesso aos arquivos era considerado um direito civil conquistado, além disso, surgiu a Fundação do Archives Nationales:

Em decorrência desse fato, ocorre a anexação da massa documental dos arquivos privados aos depósitos do Estado (RIBEIRO, 1998, p. 28), juntamente com as apropriações desordenadas dos bens materiais, livros e documentos em um só depósito. Com a promulgação do Decreto de 18 de Brumário (1789), criam-se os

Archives Nationales na França com a finalidade de conservar e

manter os documentos oficiais nos quais se passava a assentar o novo regime do Estado-Nação (SILVA, 2012, p. 29).

35 Para Habermas (2009, p. 47), “a racionalidade da dominação mede-se pela manutenção

de um sistema que pode permite-se converter em fundamento da sua legitimação o incremento das forças produtivas associado ao progresso técnico-científico, embora, por outro lado, o estado das forças produtivas represente precisamente também o potencial, pelo qual medidas, as renúncias e as incomodidades impostas aos indivíduos estas surgem cada vez mais como desnecessárias e irracionais”.

Com isso, a população não estava mais interessada em aceitar ou obedecer às ordens e regras dessa nobreza, e essa insatisfação só fez aumentar, quando houve um grave aumento fiscal, “a Revolução Francesa pode não ter sido um fenômeno isolado, mas foi muito mais fundamental do que os outros fenômenos contemporâneos e suas consequências foram, portanto, mais profundas” (HOBSBAWM, 2010, p. 99). Nessa temporalidade foram criados os arquivos nacionais36, um legado que visa a uma ideia identitária de “nação”. Logo, esses atos de liberdade eclodiram na Arquivística.

Durante o século XIX a Arquivologia sofreu a ação do modelo paradigmático

histórico-tecnicista que era auferido pelo saber-fazer da racionalização do agir funcional instrumental (técnica), “os arquivos da Revolução Francesa agrupam, em

primeiro lugar, os documentos das instâncias governamentais” (ROSSEAU; COUTURE, 1998, p. 37). Devido a isto, os documentos no período da Revolução Francesa eram considerados básicos para a manutenção de sociedades antigas, ou seja, preservar para ações futuras.

Nesse sentido, Schellenberg (2007, p. 27) aponta:

Durante toda a Revolução Francesa, os documentos foram considerados básicos para a manutenção de uma antiga sociedade e para o estabelecimento de uma nova. Os documentos da sociedade antiga foram preservados principalmente e, talvez, sem essa intenção, para usos culturais. Os da nova sociedade foram preservados para a proteção de direitos públicos. O reconhecimento da importância dos documentos para a sociedade foi uma das grandes conquistas da revolução.

Desse modo, foram surgindo arquivos que configuravam uma praticidade organizativa da documentação administrativa, os documentos tinham uma vinculação institucional muito acentuada e que era concebida nas realidades dos arquivos:

36 Durante o século XIX, foram nascendo os arquivos nacionais, nos distintos países

(inclusive o nacional brasileiro, em 1828, então imperial, todos destinados a recolher e organizar a documentação inativa inexistente nas diversas dependências governamentais) (BELLOTTO, 2002, p. 15).

● Criação de ‘arquivos históricos’ concebidos para conservar, gerir e possibilitar o acesso à documentação, essencialmente de carácter patrimonial, cuja finalidade primeira é a de fonte para a historiografia; ● Existência de um organismo estatal coordenador da política arquivística, voltada acima de tudo para a salvaguarda e difusão do patrimônio documental;

● Princípios ditos ‘teóricos’ baseados na evidência e no pragmatismo os conhecidos ‘princípio de respeito pelos fundos’ ou ‘princípio da proveniência’ e ‘princípio da ordem original’ -, não passíveis de confirmação ou refutação pelo trabalho de investigação científica, uma vez que não se inserem num contexto de teorização cabalmente fundamentado;

● Adopção de pretensas ‘teorias’ como base de opções práticas meramente operatórias, como seja a chamada ‘teoria das três idades’, a qual tem servido para justificar separações artificiais do que são os arquivos, aduzindo a aplicação de técnicas e métodos diferenciados no tratamento da informação de diferentes idades, como se de realidades distintas se trate;

● Valorização da componente técnica de uma forma excessiva, tendendo a confundir operações e procedimentos como, por exemplo, a descrição arquivística com o método da disciplina e enfatizando a normalização, numa perspectiva redutora, que muitas vezes provoca desvios grosseiros na própria representação da realidade dos arquivos;

● Assunção do ‘documento’ como objecto material constitutivo do arquivo, patente nas expressões ‘gestão documental’ ou ‘ciências documentais’, o que denota uma perspectiva com uma forte carga patrimonialista e historicista (não esqueçamos a frase ‘a História faz- se com documentos’), que não se ajusta aos novos desafios postos pela sociedade da informação, em que actualmente se inserem os arquivos (RIBEIRO, 2002, p.100-101, grifo nosso).

Diante o exposto, os termos liberdade, igualdade e fraternidade tornaram-se o

slogan da Revolução Francesa de 1789, visto que os cidadãos lutavam pelo fim da

servidão à nobreza e travaram uma luta por direitos e garantias, por leis que favorecessem ao povo e não a nobreza.

Declaração dos direitos homens e do cidadão de 1789:

a) “Os homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis” b) “Somente no terreno de utilidade comum”.

c) “Todos os cidadãos têm o direito de colaborar na elaboração das leis” (HOBSBAWM, 2010, p. 106).

Com a Revolução Francesa de 1789, algumas inquietações começam a se estruturar principalmente através das racionalidades, das quebras com as verdades dogmatizadas. Então, o povo identificado e instigado pela ideia de “nação”

reivindicava de forma revolucionária seus direitos comuns, atacando o autoritarismo e as subversões do poder absolutista que impregnava um poder abusivo.

No contexto das conquistas do iluminismo, que surge da Revolução Francesa e da Reforma Protestante a ideia do universalismo que assume o apogeu de seu grande ideário utópico: liberdade, igualdade e fraternidade. Essas linhas de ação são vertentes políticas que agem como princípios subjetivos em esfera coletiva, o que retirou o paradigma da subjetividade como parâmetros de maior destaque da modernidade. Na perspectiva da subjetividade, o iluminismo não restringe sua compreensão ao esclarecimento de uma matéria, mas valoriza a posição que cada pessoa exerce frente ao entendimento de si mesma(MEDEIROS, 2008, p. 91, grifo nosso).

A episteme moderna tem toda essa criação formada pelas narrativas filosóficas, calcadas em conceitos, rompendo com pensamentos e correntes que se monopolizavam como a fé e que determinavam regras. Segundo Medeiros (2008), na ciência moderna a razão é o meio que constitui o sentido profundo da existência humana, pois nela a inteligência é chamada a procurar livremente as soluções capazes de oferecer um sentido pleno à vida.

Então, os discursos que muitas vezes foram criados têm essa idealização do homem como obra pensante de si mesmo, porém, na maioria das vezes tornam-se seres condicionados, por questões sócio-econômicas, “a ideologia do mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até então resistido as ideias européias inicialmente através da influência francesa. Esta foi a obra da Revolução Francesa” (HOBSBAWM, 2010, p. 98).

A Revolução Francesa do final do século XVIII teve profundas consequências no século XIX marcando assim a história da humanidade, esse evento tornou-se uma revolução além de seu tempo, espalhando-se pelo mundo, ou seja, a Revolução Francesa não foi só da França, mas serviu-se de modelo para as aspirações dos cidadãos e para a redescoberta da história e todo seu apogeu cronológico.

A principal consequência da Revolução Francesa, durante o século XIX, foi uma mudança profunda na percepção do tempo, que levou à redescoberta da história. Esse evento complexo revelou a história em duas direções: do presente ao passado, do presente ao futuro. A história foi redescoberta como produção do futuro, seja como reconstrução do passado. O revolucionário tempo burguês, acelerado em direção ao futuro, utópico, confiante na razão e na capacidade dos homens de fazerem a história, encontrou a

resistência de um tempo aristocrático, desacelerado, retrospectivo, reflexivo, meditativo, contemplativo, que desconfia da razão e suspeitava dos seus pretensos portadores e parteiros do futuro (REIS, 2006, p. 207).

Para tanto, a Revolução Francesa instigou o sentido reflexivo e contributivo do trabalho humano baseado numa sociedade racional, moral e relacional não presa aos dogmas imutáveis da temporalidade passada. Ademais, essa razão só poderá ser desenvolvida quando tiver um caráter ou uma vertente histórica manifestada na exatidão do “eu” que por sua vez é envolvida profundamente em diferentes grupos que compõem o cotidiano. Essa Revolução mobilizou e provocou uma nova forma de enxergar as prerrogativas que cada ser humano exerce na sociedade, buscando reivindicar seus direitos.

A Revolução Francesa instigou os homens a olharem para si mesmos e concentrarem forças para derrubar as ambições do absolutismo, das violações por liberdade, igualdade e por direitos de escolherem seus rumos, desejos, sentidos. Ademais, a Revolução provocou o espírito coletivo, em um fio condutor que gerava uma força inigualável, ou seja, a força da voz que ecoava nos sentimentos, nas lutas, nas quebras com as verdades imperativas do “absoluto”, cativando uma ação fraterna entre os sujeitos que não queriam estar mais à mercê das imposições alheias do “domínio” Absolutista.