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A aquicultura é uma atividade técnico-econômica que tem como finalidade a maior produção de seres aquáticos aproveitáveis, sistematicamente, com a participação do homem no processo produtivo e/ou mediante o oferecimento de maiores facilidades da mesma (KOIKE, 1987).

Segundo dados da FAO (2010), a aquicultura continua a ser o setor que mais cresce na produção de alimento de origem animal no mundo, com um aumento no abastecimento per capita de 0,7 kg, em 1970, para 7,8 kg, em 2008, com uma taxa média de crescimento anual de 6%, observando um aumento substancial na taxa de emprego oriundo dessa atividade nas últimas três décadas, tendo taxa de crescimento em torno de 3,6% desde 1980.

A aquicultura moderna envolve três componentes: a produção lucrativa, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social. Estes são essenciais e indissociáveis para que a atividade seja perene (VALENTI, 2002).

Na busca do desenvolvimento de atividades que sejam economicamente viáveis, ambientalmente corretas e socialmente justas, faz-se necessário considerar a prática do reúso de águas como uma das boas opções para a problemática da oferta hídrica. Quando é feito reúso em aquicultura, é possível agregar a atividade econômica, a geração de emprego e a produção de proteína (SANTOS et al. 2009a).

Em diversas variedades de sistemas de aquicultura, o esgoto doméstico tem sido mundialmente usado, na maioria dos casos na produção de peixes (FELIZATTO; STARLING; SOUZA, 2000). Contudo, Edward (1992) comenta que a utilização de águas residuais na aquicultura em países desenvolvidos e países em desenvolvimento possui diferentes motivos. Para os países em desenvolvimento, o motivo principal é a produção de alimentos, enquanto que para países desenvolvidos é de tratamento de águas residuais.

A piscicultura com esgotos sanitários, bem como a piscicultura em si, como contribuição à segurança alimentar, deve obedecer aos princípios da sustentabilidade econômica, sanitária e ambiental, ou seja, a atividade deve garantir retorno financeiro, não impor riscos à saúde humana e não provocar impactos ambientais. Adicionalmente, impõe- se o desafio de vencer resistências de natureza cultural (BASTOS et al, 2003b).

As experiências indicam que a aquicultura abastecida com esgoto tratado, especialmente aquele em que o tratamento é constituído por várias lagoas, fornece efluente com propriedades higiênicas adequadas. Um sistema de lagoas de estabilização com duas a

três lagoas pode ser suficiente para reduzir o número de bactérias fecais para níveis aceitáveis (JUNKE-BIERBEROVIC, 2001), dependendo das condições locais.

Moscoso (1996) relata que existem três tipos de sistemas que integram o uso de águas residuárias na aquicultura:

• Viveiros de peixes que recebem esgoto bruto diretamente; • Viveiros de peixes precedidos por um tratamento primário;

• Viveiros de peixes que recebem efluentes que foram tratados para remoção de patógenos. Além destes, Edward (1992) acrescenta o cultivo de peixes diretamente nas Lagoas de Estabilização como outro sistema para uso de águas residuárias na aquicultura.

Um claro atrativo para a utilização de esgotos sanitários na piscicultura é a oferta de água. Considerando uma contribuição per capita de esgotos de 150 – 200 L hab -1

dia-1, e uma demanda genérica de água para piscicultura de 10 L s-1 ha-1 , constata-se que o esgoto produzido por uma única pessoa seria suficiente para suprir 1,7 - 2,3 m² de cultivo de peixes, ou seja, uma população de 10.000 habitantes produziria “água” para 2 ha de cultivo de peixes. Em geral, a criação intensiva envolve taxas de renovação volumétrica diária de 10% até 100%, dependendo da qualidade da água, da densidade de peixes, fatores climáticos e da produtividade desejada (BEVILACQUA; BASTOS; LANNA, 2006).

O uso de excretas na aquicultura pode ter como objetivo a produção de peixes para consumo humano ou para alimentação de espécies carnívoras, bem como produção de farinha de peixe para produção de rações. Outro objetivo seria o uso direto para produzir macrófitas aquáticas, que poderiam ser utilizadas como fonte de proteína na produção de rações para peixes ou gado. Assim, várias estratégias podem ser utilizadas no uso de águas residuárias na aquicultura, tendo como objetivo a produção de alimentos para consumo humano com uso direto ou indireto de excretas (EDWARD, 1992).

Na Figura 2 estão indicadas as diversas estratégias no uso de águas residuárias na aquicultura.

Figura 2– Estratégias de uso de excretas na aquicultura.

Fonte: Adaptado de Edwards (1992).

Excretas

Viveiros para peixes Viveiros para macrófitas

Peixes Algas

Ração Alimento

Peixes Gado

Em 2010, no Estado do Ceará, foi utilizada outra modalidade de uso de águas residuárias na aquicultura. Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará realizaram o cultivo de peixes ornamentais em esgoto doméstico tratado no Centro de Pesquisa sobre Tratamento de Esgoto e Reúso de Águas (DIÁRIO DO NORDESTE, 2011). Assim, verifica-se que vários objetivos podem ser alcançados no uso de águas residuárias na aquicultura, como produção de bens de elevado valor (produtos alimentares, alimentos para animais e animais ornamentais) (JUNKE-BIERBEROVIC, 2001).

Experiências em escala real ou no âmbito de pesquisa registram a viabilidade do uso de esgotos sanitários em piscicultura e indicam que, com adequado manejo, é possível alcançar boa produtividade e minimizar os riscos à saúde, além da aceitabilidade de mercado de consumo (MOSCOSO et al., 1992 apud BASTOS et al., 2003b).

A reação adversa de muitas pessoas à idéia de consumir peixes criados em sistemas com uso de excretas é, provavelmente, em grande parte devido à crença errônea de que os peixes se alimentam diretamente dos sólidos fecais. Na realidade, em um sistema projetado para minimizar os riscos para a saúde pública, a nutrição de peixes deriva de organismos que se desenvolvem como resultado dos efeitos da fertilização de nutrientes inorgânicos contidos no meio (EDWARD, 1992).

Os peixes cultivados em sistemas de reutilização de excretas são de alta qualidade e são iguais ou até superiores em sabor e odor de peixes cultivados em outras formas de cultivo (EDWARD, 1992).

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