• Nenhum resultado encontrado

PARTE I POSSIBILIDADES DE ARTICULAÇÃO ENTRE

1.3. Ação, discurso e pensamento

1.3.1. Reação, dialogação e condizente representação

O enfrentamento dos conflitos, notoriamente aqueles entre docente e discentes, deparou-se com insuficiente eficácia de medidas institucionais para enfrentá-los,

29

destacando-se o procedimento de autoavaliação dos docentes pelos estudantes. Estes, então, valeram-se da metodologia avaliativa que lhes possibilitou opinar anonimamente e dar vazão a toda sorte de subjetividade em relação a este ou àquele docente. Os resultados dessa avaliação somaram-se a outros desafios relacionados com a necessidade de atrair e fixar professores, tendo-se em conta recorrentes conjunturas em que emergiam disparidades entre a remuneração desses docentes e o poder aquisitivo de novos estudantes, pais e/ou responsáveis. Trata-se de situação em que se potencializava a rotatividade de professores, o que veio a se efetivar.

Assim, nova medida institucional foi adotada na perspectiva de justificar níveis diferenciados de remuneração para docentes contratados em regime de tempo integral, atendendo padrões de qualidade sistemicamente definidos para os atos regulatórios de reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos. Neste atendimento, foi prevista uma carga horária semanal referente à pesquisa e extensão através da qual essa diferença de remuneração foi institucionalizada mediante adoção do Plano de Trabalho Acadêmico (PTA), cuja elaboração passou a ser exigida dos docentes contratados em tempo integral.

Paralelamente, aquela carga horária semanal incidiu em condições favoráveis de promover atividades de pesquisa na IES, uma vez que a existência destas atividades contava positivamente para avaliação de cursos in loco, apesar de não se constituir em exigência legal nos casos de faculdades isoladas. Por sua vez, tal promoção se inseria numa trama de iniciativas que se voltavam, de uma parte, à abertura de espaços para expor resultados de pesquisas de professores da Instituição, assim como de eventuais pesquisadores que atuavam em Barreiras e região, e de outra parte a projetar a imagem da IES mediante atividades de extensão.

Dentre os desdobramentos da iniciativa de pesquisa voltada internamente para o desenvolvimento das atividades de ensino, recorreu-se, em períodos regulares, à presença de um pesquisador sênior, aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica e Social Aplicada (IPEA). Essa presença foi materializada mediante interlocuções com professores e dirigentes a respeito de eventuais objetos de pesquisa, o que foi inicialmente implementado à base de uma sondagem de entendimentos sobre componentes de insustentabilidade de amplo alcance (local, regional, individual e coletivo). A complexidade técnica e conceitual

30

desses componentes defrontou-se com restrições de linguagem junto aos interlocutores, haja vista as concernentes especialidades. Para fazer frente a essa complexidade, agendaram-se encontros com professores para interpretar conteúdos de assertivas dessa sondagem e reelaboração, de forma embrionariamente interdisciplinar desses mesmos conteúdos, na perspectiva de apresentá-los em linguagem coloquial e pluralmente mais acessível. Das análises realizadas à base de respostas a essa sondagem, verificou-se que a problemática educacional interna à própria Instituição desvelava-se, também, como matriz de objetos de pesquisa, tendo por fulcro a busca de veraz qualidade da educação a ser local- regionalmente promovida.

A partir dessa matriz e da delimitação de objetos de pesquisa dela procedentes, evidencia-se compatibilidade entre esse marco inicial de pesquisa e a metodologia de pesquisa-ação que passa a ser seguida com apoio de um mediador, este a coincidir com o referido pesquisador sênior. Em decorrência desse seguimento emerge um linguajar comum a uma significativa proporção de docentes e, desta forma, torna-se afeito a atender carência de interdisciplinaridade para tratar de problemas relacionados com a local-regionalmente promoção de ensino superior.

No contexto desses problemas, há de se considerar a conduta de discentes e inclusive de docentes, a qual corrobora a sustentabilidade coletiva como questão de fundo, cuja solução postularia cooperação peculiarmente junto a raros docentes com percepção de totalidade e esta lhes facultasse considerar também a pessoa do educando enquanto merecedora de atenção.

Na perspectiva dessa atenção, veio a ser vislumbrada paradoxalidade na situação em que estudantes se conduzem de modo generoso para aprender e posteriormente agir na perspectiva inversa, ou seja, individualistamente no futuro exercício de suas ocupações. À conta desse vislumbre, adveio oportunidade de estudar eventual quadro de injustiças a se configurar na disparidade entre a situação de estudante de instituição privada comparativamente ao status de estudante de instituição pública. Trata-se de disparidade cuja abordagem, embora presumida, poderia despertar atenção de docentes à pessoa do educando. Além disso, a temática da insustentabilidade coletiva, à deriva do cenário recém-

31

delineado, prenunciava-se instigadora de diálogo com estudantes a respeito das relações entre a esfera pública e os espaços privados.

Para instigar tal diálogo, convinha engendrar itens a comporem uma sondagem sobre questões que expunham aspectos pouco ou nada visíveis naquele quadro de evidenciadas injustiças na comparação entre as situações privada e pública de estudantes. Efetivamente, resultados dessa sondagem chegaram a motivar a reedição de um curso de aperfeiçoamento, chancelado pela coordenadoria de pesquisa e extensão da IES e aberto a docentes e profissionais técnico-administrativos. O objeto deste curso contemplava relações entre sustentação e educação universitária9. Ao longo dessa reedição, emergiu espaço de ação, discurso e pensamento para uma recíproca aproximação de docentes que vieram a compor um inusitado núcleo de voluntários inicialmente convencidos a considerar também a pessoa do educando na interação entre ensino e aprendizagem.

Entrementes, ameaças de insustentabilidade da IES justificaram a inciativa de alcance administrativo no sentido de elaborar um planejamento estratégico, em cuja efetivação tornou-se oportuna a colaboração de estudantes do curso de Administração à base de respostas a questões de sondagem sobre a relação entre sustentação e educação universitária. Em desfecho desta inciativa, foram projetados cenários com alternativas dentre as quais prevaleceu aquele em que se impunha o dilema univalente, exarado nos termos de “qualidade ou qualidade”, uma vez que era imprescindível ir ao encontro também da pessoa do estudante no contexto geográfico e histórico em que se instalou a IES.

Tal imprescindibilidade respondia à constatação de que o empenho pessoal dos estudantes na Instituição era a principal e mais decisiva razão apontada por ingressantes. Por sua vez, esta razão foi inicialmente vislumbrada e a seguir confirmada mediante formulário de pesquisa no qual ela era apontada em termos de “empenho pessoal, vale dizer, vontade própria de aprender”, juntamente com “influência positiva (encorajamento

9 O curso foi oferecido em 4 (quatro) módulos, no ano 2004 e reeditado em 2005, sob o título de “Sustentação

da Educação Universitária: tema-chave em pedagogia vocacional-libertária”. Barreiras (BA): FASB-COPEX, 2004 (mimeo).

32

ou ajuda dos pais ou de seus substitutos)” e “cobrança/pressão dos pais ou de seus substitutos”10.

Nesta perspectiva de ir ao encontro da pessoa do estudante, o processo de pesquisa- ação conta com sujeitos que contribuem de um modo paradoxal no sentido de ser obrigatoriamente opcional ou opcionalmente obrigatório. Além disso, assume contornos de criteriosidade para engendrar instrumentos de pesquisa e estes se desvelaram eficazes na apreciação qualitativa e análise comparada de falas à base de textos de discentes, cujos conteúdos diziam respeito, direta ou indiretamente, à problemática de pesquisa enquanto (in)sustentabilidade coletiva.

A seguir, tais objetos passam a ser itens de sondagens que têm sido feitas a partir de pertinentes e recorrentes ajuizamentos expressos em formulários. Os teores destes ajuizamentos tendem a ser indicativos de suportes de ideologias, cuja criticidade teórica cumpre deparar-se com referências especializadas a respeito dessa mesma problemática. Tendo-se em conta essas referências, tornou-se possível reelaborar os itens de sondagem na perspectiva de haver congruência entre ajuizamentos e objetos a serem propriamente pesquisados.

Em termos dessa sondagem, houve oportuno vislumbre da missão educacional da IES, bem como o recurso a instrumentos de promover produção social e/ou estudantil. Em decorrência, colocou-se a oportunidade de realizar capacitação de docentes e profissionais técnico-administrativos, em cujo desenvolvimento veio à tona o embrião de sustentabilidade coletiva no âmbito do coletivo grupal-natural-mínimo. A análise de componentes deste embrião facultou antever e, a seguir, conceituar a distinção entre produzir e apropriar os inelimináveis resultados, cuja referencial-fundamentalidade justificou estabelecer a meta de “avaliação também por produção”.

Nesta perspectiva, engendrou-se a especificidade do instrumento de avaliação de aprendizagem e ensino11, ambos ainda em processo e mediante elaboração de registro pessoal em que há de constar o conteúdo de aula recém-ministrado em termos que representem o mais fundamental desse conteúdo. Trata-se de registro cuja realização tende

10 Tais itens compõem a atualizada versão do formulário de pesquisa intitulado Pesquisa Espelho-Imagem

(Fase VII – 2014).

33

a intensificar a objetividade estudantil no sentido de enxergar e valer-se de conteúdos, assim como a desvelar-se potencialmente preventiva de situações de conflito entre discentes e docente, além de favorecer a interação entre ensino e aprendizagem no sentido de dinamizá-los.

A difusão desse instrumento junto a docentes tinha que desafiar a prevalência do conteúdo representado de forma alheada à processualidade real e específica a que presumidamente há de corresponder este conteúdo. Todavia, essa difusão não ocorreu por força de autoengano a se reproduzir, informalmente, no imediatismo do exercício de poder pela docência e pela discência em termos de meras dação/escuta de aulas, seguidas por testes de aprendizagem que costumam evocar a memorização dos conteúdos comunicados de forma excessivamente analítica ou fragmentária. Trata-se de evocação que privilegia o discurso em detrimento da ação e da reflexão, as quais segundo Arendt (2001), perfazem requisitos para a criação da esfera pública.