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5. Edificado

5.4 Reabilitação dos edifícios

A construção é um dos setores mais relevantes em termos energéticos, representando um custo anual mundial de 3000 biliões de dólares e um décimo da economia global (Leitman, 1991). Um sexto dos recursos mundiais são gastos no setor da construção (Bitan, 1992).

Estima-se que 75 a 85% dos edifícios que existirão nas áreas urbanas em 2030 existem já nos dias de hoje. Estudos internacionais referem que nos próximos 30 anos é espectável que 139 biliões de metros quadrados necessitem de renovação. Por isso se focarmos a tecnologia simplesmente em edifícios novos, não nos levará à redução de consumos energéticos necessários a nível mundial. Torna-se assim claro que os edifícios existentes representam uma enorme oportunidade de redução dos consumos de energia primária (Gordon, 2009).

A reabilitação de edifícios desempenha um importante papel ao nível da redução energética já que permite poupar matérias primas e recursos energéticos decorrentes do aproveitamento do edificado e da infraestrutura já existente, resultando numa maior eficiência energética.

O recurso à reabilitação permite também a melhoria da qualidade ambiental, já que os edifícios abandonados provocam muitas vezes situações desfavoráveis em termos de saúde pública, inclusive pela degradação se alastrar aos prédios vizinhos, pondo até em causa a estabilidade da sua estrutura. Outra vantagem consiste na revitalização de bairros desertificados de zonas centrais das cidades, impedindo a expansão urbana e consequente aumento da percentagem de solo construído e promovendo a reocupação dos fogos devolutos e a compactação da cidade consolidada. Para além das razões apresentadas, são claras as vantagens económicas ao enveredar pela reabilitação em detrimento da construção nova, quer diretas pela redução de custos em termos de matérias primas e recursos energéticos, quer indiretas decorrentes da revitalização de zonas abandonadas, que trazem emprego, comércio e serviços, melhorando a economia local.

82 culturais e históricos, resultam na melhoria da imagem da cidade, incentivando ao usufruto da cidade, à sociabilização e a uma melhoria da qualidade de vida em geral.

No entanto os dados no gráfico do Euroconstruct, que consiste numa rede de 19 institutos de investigação do setor da construção (Figura 34) demonstram que, comparativamente a outros países da União Europeia, Portugal é o país com menor percentagem de reabilitação no setor da construção, incentivando e favorecendo construção nova em detrimento da reabilitação. Apesar do declínio sofrido nos últimos anos no setor da construção, Portugal continuava em 2004, a apresentar um valor bastante elevado de construção nova, correspondente a 90,5%, muito superior à média Europeia de 52,5% (Figura 35).

Figura 34: Segmento da reabilitação no setor da construção em 2002. Enquadramento internacional.

Fonte: Euroconstruct in Pinho e Aguiar, 2005.

Figura 35: Peso da construção nova no setor da construção de edifícios em 2004. Enquadramento internacional.

Fonte: Euroconstruct in Pinho e Aguiar, 2005.

Entre 1970 e 2000, em 16 capitais de distrito portuguesas, verificou-se uma duplicação do número de alojamentos sem correspondência com idêntica dinâmica demográfica, sendo que apenas 71% dos fogos eram (em 2001) ocupados por famílias residentes. A percentagem de alojamentos com “ocupação ausente” e os fogos com “uso sazonal” e “vagos” triplicou, sendo que desses se verificou uma tendência não só exclusivamente nas zonas antigas mas também nas zonas “novas” e suburbanas das cidades analisadas (Pinho e Aguiar, 2005).

83 Este cenário pode ser explicado pelo facto de que durante o período entre 1990 e 1999 foram reduzidos os fundos provenientes do Estado destinados à reabilitação e ainda porque os fundos do programa RECRIA destinado à reabilitação não foram utilizados na sua totalidade (Figura 36).

Figura 36: Apoio do Estado ao setor da habitação entre 1990 e 1999: compra de casa própria, parque de arrendamento e reabilitação.

Fonte: Secretaria de Estado da Habitação in Pinho e Aguiar, 2005.

Em Portugal a tradição de compra de casa própria, tem sido incentivada pelo Estado, representando 8% do PIB em 2002, ao contrário das médias europeias em que esse valor era de 2% no mesmo período e o investimento em habitação própria era 3 vezes menor (Figura 37). Esses valores na prática traduzem-se na compra de casas novas, já que entre 1996 e 2001, foram gastos 5 mil milhões de euros em apoios para a compra de casa própria e apenas 160 milhões foram destinados à reabilitação. Em 2003 esta tendência manteve-se, destinando-se o valor de 456 milhões de euros para operações de crédito bonificado e apenas 30 milhões de euros foram aplicados na recuperação de imóveis (Pinho e Aguiar, 2005).

Figura 37: Investimento em habitação no ano de 2002 (%). Fonte: Aecops in Pinho e Aguiar, 2005

84 é posterior a 1981, sendo Portugal um dos países europeus com o valor mais elevado de alojamentos mais recentes em comparação com a média europeia de 23%.

Portugal é assim, dos países europeus com maior taxa de construção habitacional nova e fogos de segunda habitação.

Só em Lisboa existem atualmente 55 000 edifícios, que representam 290 000 alojamentos, destes 42 379 alojamentos estão em ruína e mau estado, representando uma percentagem de 14,6% e 11 702 estão devolutos, representando 4% do total de alojamentos (Tabela 5).

Edifícios Alojamentos

Em ruína e mau estado 7 085 42 379

Devolutos 4 681 11 702

Anteriores a 1951 22 389 56 883

Posteriores a 1951 32 611 233 117

Com estrutura calculada a sismos 7 033 49 231

Total 55 000 290 000

Tabela 5: Caracterização do edificado em Lisboa em 2011 Fonte: CML, 2011 b

É por isso necessário avaliar o cenário atual da reabilitação para que possam ser tomadas medidas de incentivo aos privados, começando por ser dado apoio por parte do estado e dos municípios em termos de avaliação, inspeção, obras de reabilitação e monitorização do estado do edificado. Uma inversão na evolução atual da taxa de reabilitação é mais uma oportunidade de tornar o edificado mais eficiente, poupando recursos materiais e económicos, fazendo mais com menos. É neste contexto que é escolhida a 17ª diretriz, como forma de redução dos consumos energéticos e de melhoria da eficiência.

Diretriz 17: Reabilitação de edifícios

Como indicador foi escolhida a percentagem de edifícios reabilitados, tendo por valor recomendado, por uma questão de razoabilidade, que pelo menos 50% dos edifícios existentes estejam reabilitados.

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