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2.6 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS INTERFACES DA PESSOA COM ESTOMIA INTESTINAL

2.6.5 A reabilitação e a reinserção social

A assistência de enfermagem à pessoa estomizada é de suma importância para a promoção da QV, deve ser fundamentada no processo de reabilitação que se direciona ao autocuidado, envolvendo não só o paciente, mas também os familiares. Tal tese é validada por Leite (2004) que destaca a reabilitação do estomizado como um processo que engloba a capacitação física para o autocuidado, a reinserção social, vocacional e sexual, envolve desenvolvimento de atitudes pessoais de ajustamento ou adaptação por parte do paciente.

Contudo, os profissionais de saúde precisam estar preparados para o cuidado dessa pessoa estomizada com uma equipe multidisciplinar, na qual o objetivo deve se voltar para todo auxílio profissional possível para uma melhor adaptação e reabilitação, tanto do paciente estomizado quanto de sua família.

Outrossim, o paciente tem a oportunidade, por meio do autocuidado, de participar diretamente do seu processo de reabilitação e adaptação diante da nova situação. As atividades de autocuidado são definidas como habilidades humanas para engajamento em ações, de modo a promover a QV, prevenir agravos e recuperar a saúde ou superar doenças e enfermidades (NASCIMENTO et al., 2011; ÁVILA; PETUCO, 2001).

Para a pessoa com estomia intestinal, a reabilitação inicia-se no período pré-operatório e vai até após a alta hospitalar, dando continuidade ao processo de educação do indivíduo e família, iniciado desde o diagnóstico clínico e prosseguindo durante toda a internação (NASCIMENTO et al., 2011; MENDONÇA et al., 2007). Tem por objetivo principal fornecer ao paciente assistência integral e ajudá-lo a si e à sua família a enfrentar problemas relacionados à estomia intestinal, tanto os de ordem psicológica e social, quanto os de natureza física (NASCIMENTO et al., 2011).

Desta maneira, para que se alcance uma reabilitação efetiva, faz-se necessário um trabalho individualizado, contínuo e interessado do enfermeiro, baseado nas necessidades, condições físicas e psíquicas do indivíduo, implementando um plano de orientações específico.

Para Oliveira e Nakano (2005, p. 283):

A meta da equipe de assistência ao estomizado é a reabilitação. Alcançar esta meta significa obter a sua inserção participativa na sociedade através do desenvolvimento da capacidade adaptativa. Detectados os componentes que passaram a afetar o estomizado, o esforço deve ser conjugado, no sentido de aproximá-lo, o mais possível, da qualidade de vida anterior à cirurgia.

Afirmam as autoras que a reinserção social das pessoas com estomias intestinais constitui-se em desafio para os profissionais da equipe de saúde envolvidos no processo de reabilitação, pois, para que a participação efetiva desta equipe seja efetiva, faz-se necessário que ela receba um preparo adequado, em que aprenda a lidar com esses pacientes e seus temores, suas fantasias e frustrações, bem como com a falta de conhecimento e com o preconceito social em relação à estomia intestinal. Deve-se entender que a busca da sobrevivência por meio do tratamento cirúrgico (estomia) desencadeia na pessoa com estomia, a sensação de que está mutilado.

Além das dificuldades emocionais, a estomia intestinal gera uma série de alterações de ordem física que prejudica o convívio social. Como consequência, a pessoa sente-se diferente das outras e até mesmo excluída (NASCIMENTO et al., 2011; SILVA; SHIMIZU, 2006). Isso ocorre porque todo o ser humano constrói, ao longo de sua vida, uma imagem de seu próprio corpo, que se ajusta aos costumes, ao ambiente em que vive, enfim, que atende às suas necessidades para se sentir situado em seu próprio mundo (SILVA; SHIMIZU, 2006).

Além disto, o equipamento coletor passa a representar a parte perdida do corpo, estabelece novos hábitos por meio de uma aprendizagem, principalmente para o autocuidado. A estomia altera o papel da pessoa estomizada na família e na sociedade. Após a cirurgia, muitas pessoas estomizadas passam a depender dos cuidados familiares, mesmo que temporariamente, além de vivenciarem as incapacidades impostas socialmente e de afastarem- se dos atributos de independência, de eficiência e de produtividade (NASCIMENTO et al., 2011; FULHAN, 2008; HAUGEN, 2006; SAVIK, 2006).

Pereira e Pelá (2006) justificam a perda do controle da eliminação de fezes e gases como condição predisponente ao isolamento psicológico e social, baseado em sentimentos negativos que permeiam as relações interpessoais. Menezes e Quintana (2008), Barbutti et al. (2008), explicam ainda, este fato ao mostrarem em seus estudos que o uso dos equipamentos coletores dificulta o convívio social uma vez que despertam no paciente, preocupações com os gases, odor de fezes eliminadas, vazamentos e desconforto físico, induzindo os usuários a uma postura de distanciamento e isolamento social.

Desse modo, uma rede de apoio social é de suma importância para as pessoas estomizadas. Ademais, conhecer o apoio social acionado por essas pessoas pode oferecer subsídios aos profissionais de saúde para que possam incluí-los no plano, individual e coletivo, de assistência especializada (SOUSA et al., 2012; SILVA; SHIMIZU, 2006).

Portanto, o apoio social pode ser de três tipos: emocional, material e educacional. O emocional está relacionado aos sentimentos de estima, de pertencimento e de confiança, estimula a pessoa a expressar seus medos, angústias, dores, ansiedades e tristezas. O material ou instrumental representa qualquer ajuda direta ou oferta de algum tipo de serviço que propicie auxílio material e financeiro. O educacional ou informativo enfoca vários temas de interesse do grupo, possibilita a troca de informação entre as pessoas para que se sintam mais seguras (SILVA; SHIMIZU, 2006).

A Associação dos Ostomizados é considerada um apoio social, ocupa um lugar importante na vida das pessoas estomizadas. Ela representa um espaço onde os estomizados buscam diversos tipos de recursos, tanto recursos materiais, como de informações técnicas

para o autocuidado. Na Associação é desenvolvido um trabalho de cunho social que cumpre a função de integrar seus participantes num só contexto em busca de melhoria de assistência e informação sobre o uso de materiais, oportunizando a eles novos conhecimentos (SILVA; SHIMIZU, 2006).

O apoio da família, após a realização deste tipo de intervenção cirúrgica, é considerado determinante para a adaptação da pessoa estomizada à sua nova realidade. Observa-se que o apoio percebido pela pessoa estomizada, proveniente das pessoas significativas, a influencia na retomada de sua vida, sobretudo da reinserção social (BECHARA et al. 2005; MARUYAMA, 2004). Contudo, neste processo é essencial também uma rede de apoio e de suporte social, que inclua não só a família, mas também, profissionais de saúde e de grupos de apoio.

Diante disso, na assistência a pessoa estomizada, se faz necessário estabelecerem-se estratégias educativas continuadas de esclarecimentos, para satisfazer suas necessidades específicas, assim como de seus familiares, respeitando sua individualidade e dialogicidade, constituindo-se como um cuidado complexo no meio social. Objetivando tanto sua mais pronta reabilitação, sobretudo a reinserção social, quanto à promoção de uma melhoria em sua QV.