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Realização dos Direitos Humanos como condição para o desenvolvimento

4 DA CONDIÇÃO ATUAL DE ACESSO A DIREITOS HUMANOS E

4.2 Realização dos Direitos Humanos como condição para o desenvolvimento

Primeiramente é cediço estabelecer que os direitos humanos aqui discutidos guardam relação íntima com os direitos fundamentais e os direitos que se ligam á noção de cidadania. Estes últimos, seriam uma espécie de direitos fundamentais, visto que estabelecidos pela ordem jurídica interna de um Estado e, juntamente com os deveres, aplicáveis aos seus membros. Nesse sentido, os direitos do cidadão englobariam os direitos individuais, políticos e sociais, econômicos e culturais e, somente quando efetivamente reconhecidos, seria possível falar em cidadania democrática, a qual pressupõe, também, a participação ativa dos cidadãos nos processos decisórios da esfera pública. (BENEVIDES apud CARVALHO, 2004)

Ainda segundo Carvalho, seria papel da Assembleia Constituinte, do governo ou parlamento definir, portanto, as prioridades, os deveres e os direitos dos cidadãos em razão da idade, estado civil, condição de sanidade física e mental, estar ou não em dívida com a Justiça, entre outras coisas. Assim, do ponto de vista legal, o conteúdo dos direitos dos cidadãos ou a ideia de cidadania podem ser modificados pela inovação legislativa e, embora decorrente de valores universais humanísticos, não teriam caráter universal, pois dependem de um vínculo com o Estado. (CARVALHO, 2004)

Os direitos do cidadão podem, pois, coincidir com os direitos humanos – mais amplos e abrangentes – mas, nas sociedades democráticas eles retiram seu fundamento de validade dos direitos humanos fundamentais.

Nesse sentido, a expressão cidadania abarca um conjunto de direitos e deveres dos cidadãos, criados pelo seu Estado, coincidentes muitas vezes com os direitos humanos, mas nunca superior a estes, que foram uma conquista da humanidade. Quando esses direitos são efetivamente reivindicados e reconhecidos, então se vive uma ‘cidadania democrática’.

Nesse seguimento, Dallari ensina que “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo” (2004, p. 14). Desse modo, na ausência das condições para a concretização da cidadania, ocorre a marginalização daqueles que não podem exercê-la.

Como visto, seguindo as tendências liberais, existiria uma liberdade natural e individual inerente ao ser humano que não permitiria que as pessoas sejam obrigadas a valer- se de seus direitos. Dallari (2004) considera, porém – mesmo que se possa achar estranho definir direitos como deveres, o que valeria dizer obrigação – que o ser humano tem uma natureza associativa, uma solidariedade natural que faz dos direitos da cidadania, deveres.

Desse modo, se afasta, portanto, com essa noção associativa das teorias liberais de governo que acreditavam na valorização do individualismo por meio do reforço dos ideias de liberdade e propriedade de modo a possibilitar o crescimento econômico de cada um por seus próprios meios.

Nessa perspectiva, as fraquezas de um indivíduo isolado demonstrada na hora de enfrentar forças como organizações poderosas ou classes de maior poder econômico e, consequentemente, maior influência, tornam necessária a participação de todos nas atividades sociais de modo a garantir os direitos básicos do indivíduo hipossuficiente, além do que, não se vive democraticamente se os membros da sociedade não expressarem suas opiniões e vontades. Dado a isso é que afirma a imprescindibilidade do exercício dos direitos da cidadania. Para Dallari:

a sociedade humana é um conjunto de pessoas, ligadas entre si pela necessidade de se ajudarem umas às outras no plano material, bem como pela necessidade de comunicação intelectual, afetiva e espiritual, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfação de seus interesses e desejos.(DALLARI, 1998, p. 17)

Ainda nessa acepção, Junqueira ao citar José Afonso da Silva, define que:

[...] democracia é conceito histórico. Não sendo por si um valor-fim, mas meio e instrumento de realização de valores essenciais de convivência humana, que se traduzem basicamente nos direitos fundamentais do homem, compreende-se que a historicidade destes a envolva na mesma medida, enriquecendo-lhe o conteúdo a cada etapa do evolver social, mantido sempre o princípio básico de que ela revela um regime político em que o poder repousa na vontade do povo. Sob esse aspecto, a democracia não é um mero conceito político abstrato e estático, mas é um processo de afirmação do povo e de garantia dos direitos fundamentais que o povo vai conquistando no correr da história. (JUNQUEIRA apud SILVA, 2006, p. 87-88)

Este autor entende ainda que para a real implementação de um Estado Democrático de Direito na sua ampla acepção, este e os direitos humanos deverão ser respeitados em conjunto, pois direitos humanos e democracia seriam essencialmente indissociáveis. Sobre esse aspecto, comenta:

De há muito, contudo, espera-se a sua real implementação, pois, o que se vê, em geral, é uma enorme disparidade entre o que diz a teoria e o que se põe à pratica, tendo-se por desafio, ainda no século XXI, uma mais que necessária transmutação do abstrato para o concreto. Em verdade, falar-se em democracia ou Estado democrático tornou- se questão bastante delicada, não se podendo, em virtude de um leque de fatores, afirmar-se, ao pé da letra e com absoluta convicção e certeza, de que se vive em uma sociedade com caracteres totalmente democráticos. (JUNQUEIRA, 2006, p. 89) Sob essa perspectiva, Benevides também assevera que a profunda desigualdade social em sociedades da América Latina – caso do Brasil – e a consequente divergência entre os valores positivados e a experiência prática da população causam uma dificuldade de concretização da democracia de forma plena, pois a “quando falamos em cidadania democrática, automaticamente supomos a vigência dos direitos humanos; não há democracia sem garantia dos direitos humanos e vice-versa” (Carvalho apud Benevides, 2004, p.44)

Desse modo, entende-se que apesar do reconhecimento formal, existe um enorme distanciamento “[...] entre os marcos jurídicos de proteção e promoção dos direitos humanos e a contínua e permanente realidade de violações aos direitos humanos [...]” (SACAVINO, 2009, p. 196) da maioria da população brasileira.

Dallari (Carvalho apud Dallari, 2004), nessa sequência, expõe que as eleições nesse modelo de sociedade seriam eleições não livres, com eleitores que não livres, com coação física, com miséria e ignorância não pode ser considerado democracia. Para ele, democracia pressupõe liberdade e é preciso garantir a possibilidade de ser verdadeiramente livre, pois não basta uma proclamação formal. Não se considera assim, livre o homem que não pode desfrutar de sus direitos básicos, enquanto restrito por uma situação de indignidade. Assim sendo

democracia é muito mais do que a formalidade do voto, pois seu pleno exercício pressupõe liberdade e igualdade. Estas, por sua vez, se efetivam mediante o acesso às mesmas oportunidades educacionais, às mesmas informações e às mesmas frentes de desenvolvimento interior. (CARVALHO apud DALLARI, 2004, p.41)

Nas palavras de Rosita Carvalho,

o que vivemos atualmente na América Latina e no Brasil, são processos de democratização, com maior ou menor êxito, desenvolvidos e orientados por uma ou outra visão da democracia, num marco também de ação e de vigência e realização dos

direitos humanos. Esses processos democráticos atualmente se desenvolvem dentro dum marco ideológico hegemonicamente neoliberal. (CARVALHO, 2003, p. 37) Assim, entende-se que o emprego das teorias liberais nos governos dos países latino-americanos tem algo que ver como atual processo de democratização por que passam esses países. Em que pese serem tais processos resultado de vários fatores, há que se considerar a possibilidade da contribuição de tais teorias políticas para os já mencionado problemas de concretização dos Direitos Humanos na região.

Segundo afirma Sacavino (2003), tais teorias têm se saído vitoriosas, já que convenceram amplos setores da sociedade e elites políticas de que esta é a única saída, de forma a impor seu programa e ressuscitar dentro da sua ótica o sentido das palavras, o que pode se inferir da ascensão ao poder de vários governos influenciados por duas ideias.

Todavia, há que se fazer notar que os processos de democratização que se realizam a partir da democracia liberal colocam a ênfase nos procedimentos eleitorais, promovendo uma democracia de “baixa intensidade”. Segundo Sacavino, essa ênfase é dada

[...] por parte elites dominantes dos países sob a orientação e pressão das receitas aplicadas pelos organismos internacionais – o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial -, por um lado institucionaliza e limita as práticas democráticas reduzindo-as ao processo eleitoral e, por outro, estreita e desfigura o que no imaginário social da população se entende por esse valor da democracia, construindo uma mentalidade que o restringe simplesmente a uma prática eleitoral. (SACAVINO, 2003, p. 38)

As democracias neoliberais têm, assim, substituído a forma de organização e desenvolvimento social e político a partir do Estado pela organizada em torno do mercado, sem nenhum limite. A articulação da sociedade está colocada no âmbito econômico e é realizada por meio do mercado, como se pode auferir das pesquisas realizadas pelo PNDU de 2004 (ONU, 2004).

Nessa perspectiva, como explica Sacavino (2003), é importante desvelar as lógicas subjacentes nessa construção social e política, os valores que as animam e reforçam e a mentalidade que elas constroem.

Sobre o assunto, Comparato (2003) coaduna que é um traço comum aos governos liberais a lógica mercantil do intercâmbio de prestações que retira o poder-dever de submeter os interesses particulares à supremacia da coisa pública, ou bem comum do povo. Sendo objetivo da justiça proporcional ou distributiva instaurar a igualdade substancial de condições

de vida, é coerente que ela só possa realizar-se por meio de políticas públicas ou programas de ação governamental.

Dessa forma, um Estado diminuto, permanentemente submetido às injunções do capital privado, no plano nacional ou internacional, é incapaz de atender à exigência do estabelecimento de condições sociais de uma vida digna para todos. Nunca como hoje, percebeu-se, tão nitidamente, o caráter comunitarista dos direitos humanos de natureza econômica, social e cultural.

No tocante ao sistema institucional a ser criado para a concretização dos valores de Direitos Humanos, Comparato (2003) entende que ele terá como pressuposto lógico a superação da dicotomia entre Estado e sociedade civil, sobre a qual fundou-se a aliança histórica do capitalismo com o Estado Liberal. Nessa concepção dicotômica, o povo é reduzido a uma massa de indivíduos, cada qual dividido em si mesmo na dupla posição de homem, isto é, componente da sociedade civil, e de cidadão, isto é, membro da sociedade política. Ambas essas funções são puramente passivas: o indivíduo é tão impotente diante do poder econômico na sociedade civil quanto o é o cidadão para exercer a parcela individual da soberania popular que teoricamente lhe cabe.

Relevantes ainda as observações de Rousseau, citado por Comparato (2003), contra o sistema representativo de governo e seu diálogo com a contemporaneidade. Nesse sentido, faz-se notar que a bipartição do indivíduo em integrante da sociedade civil e cidadão do Estado veio atender, excelentemente, ao grande desígnio do sistema capitalista em matéria constitucional: separar a economia da política, ou melhor, pôr esta a serviço daquela, de modo a manter a atividade empresária ao abrigo de qualquer interferência governamental.

De outro modo, encarando a concretização dos Direitos Humanos como prioridade, tem-se que o direito público da civilização comunitária há de fundar-se, de um lado, na prerrogativa inalienável e indelegável do povo para deliberar e decidir diretamente sobre as questões fundamentais de política interna ou internacional, mesmo que, como na atualidade, nas oportunidades de ação direta da população por meio de referendos, plebiscitos, iniciativas populares, ou pela elaboração de orçamentos públicos. Fundar-se-á também, de outro lado, no poder de supervisão e sanção direta, pelo povo, dos agentes políticos de qualquer natureza, sejam eles governantes, altos funcionários, parlamentares, magistrados ou membros do Ministério Público. No direito público da civilização comunitária, além do mais, exatamente

porque ele é público, isto é, do povo, a soberania popular não pode confinar-se somente à esfera estatal, mas há de exercer-se no âmbito da sociedade como um todo. Os direitos democráticos em vez de se restringirem a uma atuação pontual no momento de escolha dos representantes, serão antes realizados por todos em vez de conscrito a um grupo eleito como únicos encarregados de pensar a política, gerando um direito ativo ou positivo em vez da liberdade negativa defendia pelos liberais. A vida econômica, assim, já não será submetida ao interesse supremo de acumulação ilimitada do capital privado, mas organizar-se-á no sentido do serviço à coletividade e do atendimento prioritário das necessidades e utilidades públicas.

A teoria liberal, contudo, caminha no sentido contrário. Nas palavras de Rawls, o erro fundamental do conceito de “liberdade positiva” é que este anula totalmente o conceito de “liberdade negativa”. É simplesmente impossível, conforme essa definição, que um indivíduo receba condições para “exercer sua liberdade”, as quais seriam garantidas pelo Estado, sem que a propriedade de outros seja violada, seja pela taxação, pela regulação ou pela proibição. Contudo, é justamente isso que os defensores da “liberdade positiva” almejam com a justificativa de conceder a todos “igualdade de oportunidades”. A ideia em essência consiste que ao Estado caberia fornecer a todos os indivíduos um grupo de bens e serviços considerados básicos que possibilitem, de forma igualitária, que a “liberdade” possa ser exercida da forma mais ampla possível (RAWLS, 2000, p. 96-98.).

Oportuno apontar, todavia, nesse sentido que a teoria, ao criticar a atuação estatal no sentido de garantir um mínimo existencial dignificante, não só fica presa ao campo individualista de concretização de direitos, mas considera que, nesse caso, em vez de se adotar a técnica neoconstitucionalista de sopesamento de direitos para que se chegue a um meio termo e se consiga proteger a ambos, simplesmente se deve conceber a liberdade como um direito anterior ou superior aos direitos de cunho social e cultural. Não suporta, assim, a ideia de qualquer redução ao campo de liberdade individual mesmo que seja para a realização de um conjunto de direitos a toda uma parcela da população.

Ainda sob essa perspectiva, a experiência histórica dos displaced people levou Hannah Arendt a concluir que a cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direito dos seres humanos não é algo dado, certo ou inerente ao ser humano, mas construído da convivência coletiva, que requer o acesso a um espaço público comum. Em resumo, é esse acesso ao espaço público – o direito de pertencer a uma comunidade política –

que permite a construção de um mundo comum através do processo de asserção dos direitos humanos. (LAFER apud ARENDT, 1997)

Assim, cumpre considerar que no espaço da multiculturalidade de interações das formas de vida, empregar processos comunitários significa adotar estratégias de ação vinculadas à participação consciente e ativa de novos sujeitos sociais. É ver em cada identidade humana (individual e coletiva) um ser capaz de agir de forma solidária e emancipadora, abrindo mão do imobilismo passivo liberal e do beneficiamento individualista comprometido. (WOLKMER, 2000, p.97)

Nesse contexto, é importante que se relembre a concretização de todo o catálogo de direitos fundamentais como um dos objetivos nacionais de diversos países da América Latina, protegidos pelas constituições. No mesmo sentido, Kelsen aponta que a dignidade humana e os Direitos Humanos de liberdade e igualdade exigem uma ação do Estado no sentido de garantir esses valores. Todavia, não se fala aqui de uma garantia meramente formal (vinculada à legalidade), mas sim da criação de oportunidades reais na sociedade, as quais garantam a existência física das pessoas através do mínimo social para todos, sem distinções. (KELSEN, 1979. p. 62)

Nessa concepção, por todo o exposto, tem-se que não seria possível a instituição de uma democracia plena sem que primeiro, especialmente diante das condições atuais das políticas de Direitos Humanos na América Latina, houvesse um trabalho de investimento em concretização desse catálogo de direitos fundamentais à toda a população de forma universal, pois só tendo acesso aos direitos básicos os indivíduos seriam verdadeiramente livres para desempenhar seus direitos de cidadania de forma plena a, de fato, tomar parte nas decisões governamentais em vez de exercer seus direitos políticos somente ao escolher representantes.

Oportunamente, SORONDO (c.a. 2005) preleciona que os Direitos Humanos julgam a ordem vigente e funcionam como um formador de opinião, de forma que põem a descoberto os condicionamentos econômicos, sociais e políticos que impedem sua completa realização.

Dessa forma, se faz necessário preparar pessoas para serem cidadãos exercendo seus direitos e deveres com dignidade, contribuindo, assim, para o rompimento com o individualismo e valorização da solidariedade entre os povos onde o respeito mútuo são constantes. Em vista disso, com a Educação em Direitos Humanos haverá efetivação dos direitos, uma sociedade justa, igualitária e a convivência pacífica entre os povos. (ROSADO JR., 2015).

Para tanto, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou, em 10 de dezembro de 2004, o Programa Mundial para Educação em Direitos Humanos que é uma iniciativa para promover e integrar a educação de tais direitos em todos os setores da sociedade. Com o propósito de buscar e promover um entendimento comum dos princípios e das metodologias básicos da educação de tais direitos. (UNESCO, 2006). Este programa é uma iniciativa que incentiva medidas para integrar a educação em direitos humanos em todos os setores dos países que são signatários. (UNESCO, 2012).

Nesse sentido, o Brasil por ser um país signatário, através do Comitê Nacional em Educação para Direitos Humanos, passa a elaborar o Plano Nacional para Educação em Direitos Humanos, ficando pronto em 2006, sendo este um instrumento orientador e fomentador de ações educativas que corroboram para uma cultura de direitos humanos. (COMITÊ NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS, 2007)

Observe-se que tais medidas tomadas por órgãos internacionais tem sempre o Estado entranhado na responsabilidade intervencionista dentro da sociedade, desde que com poderes limitados pelos direitos fundamentais positivados e oriundos dos direitos humanos, que demandam por outro lado mecanismos de proteção da pessoa humana, mas não apenas de forma restritiva, mas ampla e com dimensão universal, de forma a realizar todos os direitos positivados, sejam eles individuais, sociais ou culturais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Primeiramente, fez-se um estudo bibliográfico de base de Direitos Humanos, abarcando um esboço de conceito e a evolução do instituto ao longo do processo de construção da sociedade. Assim acompanha-se o percurso, indo de uma concepção religiosa cristã da existência de direitos naturais inerente aos seres humanos que lhes foram concedidos por Deus à necessidade de garantia de um mínimo civilizatório aos indivíduos que servisse como fundamento a proteção da liberdade. Perpassando assim pelas teorias jusnaturalistas, que vão dar ensejo posteriormente às teorias liberais, e avançando pelas lutas pela emancipação das colônias das amarras do absolutismo até a elaboração dos textos jurídicos internacionais atuais que foram internalizados pelas Cartas Magnas de muitos países, entende-se que a proteção e efetivação de Direitos Humanos se impõe com objetivo não só da comunidade internacional, como também das nações em geral de forma interna.

Em seguida, procedeu-se ao estudo de diferentes teorias políticas que estruturam formas de governo relacionando-as diretamente com a preocupação com a realização dos diferentes grupos de Direitos Humanos e sua contribuição para o desenvolvimento democrático. Iniciando o estudo das teorias liberais, observa-se que os primeiros pensadores dessas teorias conceberam não só o jusnaturalismo como também lançaram as bases para o estabelecimento e garantia dos Direitos Humanos de primeira geração: os direitos individuais com ênfase na liberdade e propriedade. Todavia, há que se fazer notar que a acepção dessas liberdades pelo liberalismo se dá de forma negativa, visto que se presume que detém liberdade de forma natural, simplesmente por nascer, todos os seres humanos, desde que não haja interferência da força coibidora do Estado. Assim, todos estariam livres, em teoria, para de forma individual construir patrimônio e gozar de sua propriedade.

Contudo, as teorias consideradas comunitaristas vem justamente criticar essa posição liberal que menospreza a situação concreta de desigualdade de acesso a direitos básicos que possibilitem o desenvolvimento da democracia. Nesse sentido, enquanto se considera o liberalismo como teoria clássica que possibilitou a ascensão e proteção dos direitos de primeira geração, nota-se que essa teoria não consegue conceber seu sopesamento com outros direitos para a realização de direitos sociais, econômicos e culturais como forma de efetivação dos princípios elencados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao passo que não admite

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