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Teorias liberais como desafio à efetivação de direitos humanos e desenvolvimento democrático na América Latina

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO

ANA LETICIA FONTENELE BARROS

TEORIAS LIBERAIS COMO DESAFIO À EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS E DESENVOLVIMENTO DEMOCRÁTICO NA AMÉRICA LATINA

FORTALEZA 2019

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ANA LETÍCIA FONTENELE BARROS

TEORIAS LIBERAIS COMO DESAFIO À EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS E DESENVOLVIMENTO DEMOCRÁTICO NA AMÉRICA LATINA

Monografia apresentada ao Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direitos Humanos.

Orientador:Prof. Drª. Cynara Monteiro Mariano FORTALEZA 2019

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B273t Barros, Ana Letícia Fontenele.

TEORIAS LIBERAIS COMO DESAFIO À EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS E

DESENVOLVIMENTO DEMOCRÁTICO NA AMÉRICA LATINA / Ana Letícia Fontenele Barros. – 2019. 65 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2019.

Orientação: Prof. Dr. Cynara Mariano .

1. Liberalismo. 2. Direitos Humanos . 3. Efetivação . 4. América Latina. I. Título.

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TEORIAS LIBERAIS COMO DESAFIO À EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS E DESENVOLVIMENTO DEMOCRÁTICO NA AMÉRICA LATINA

Monografia apresentada ao Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direitos Humanos. Aprovada em: ____/ ____/_____. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. Cynara Monteiro Mariano (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Dr. Ligia Maria Silva Melo de Cassimiro

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Dr. Beatriz Rego Xavier

Universidade Federal do Ceará (UFC)

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço à minha mãe, Zuleide Fontenele, por todo o cuidado, dedicação, suporte e apoio. Agradeço, ainda, ao meu pai, Emílio Barros, pelo carinho e pelos valores ensinados.

Agradeço, ainda, ás minhas irmãs, Ana Patrícia e Ana Caroline, pelas mulheres fortes que são e pelas conversas compartilhadas.

Agradeço à minha família maravilhosa e amada, todos os meus tios, tias e primos que são pessoas tão prestativas e solícitas.

Agradeço aos amigos da faculdade de direito que, com certeza, vou carregar comigo ao longo da jornada. Fernando Paes, você é meu amigo de todas as horas, meu parceiro de luta, que sempre fez e continuará fazendo o caminho mais leve. Renan Ribeiro, aquele amigo improvável, mas que tem um coração tão bom que surpreende. A Idelson Cavalcante, por todo o apoio carinhoso nessa reta final da graduação. Às minhas amigas de Sobral: Beatriz, Livya,

Jussara, Raquel, Harrisan, Lara, Mariel e Letícia, por terem feito da faculdade uma

experiência tão maravilhosa.

Às minhas amigas de infância, Isa Saldanha e Morgana Penha, duas mulheres inspiradoras que ocupam grande parte da minha saudade e do meu coração, agradeço por serem minhas companheiras de vida.

Agradeço à Professora Raquel Coelho pelas contribuições, pessoais e profissionais, valiosas e pelo carinho de sempre.

Agradeço profundamente à Professora Cynara Mariano, que inspirou a mim e a tantos outros a ser resistência mesmo em ambientes desacolhedores.

Agradeço ainda aos projetos de extensão, NudiJus e EDUP, por contribuírem para a caminhada.

Agradecer às professoras Beatriz Xavier e Lígia Melo que tão gentilmente concordaram em compor a banca examinadora, cedendo seu tempo para contribuir com o presente trabalho e minha formação acadêmica.

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“As pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza.”

Boaventura de Souza Santos

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RESUMO

A América Latina, de forma geral, tem uma tradição em cultura de Direitos Humanos. Há registros da contribuição latina para a elaboração da Declaração dos Direitos Humanos de 1948, com o envio de delegados para a Comissão presidida por Eleanor Roosevelt responsável por elaborar o documento por países como Chile e Venezuela, além de projetos de textos enviados ao redator do primeiro rascunho de declaração e envolvimento direto nas negociações referentes à inclusão de artigos sobre a igualdade entre homens e mulheres, entre raças, e também à negociação diplomática da inclusão de direitos econômicos e sociais no documento final em igualdade de condições com direitos civis e políticos. Desse modo, diante de um histórico do qual resultaram documentos como Pacto San Jose da Costa Rica ePacto Internacional sobre direitos econômicos, sociais e culturais, causa no mínimo estranheza quando se considera a relação atual da América Latina com os Direitos Humanos, especialmente quando se considera uma certa ênfase nos direitos sociais e culturais. Atualmente, Direitos Humanos virou uma pauta secundária e marginalizada, onde o homem médio não consegue reconhecer suas garantias, que tem como certas em vez de resultante de luta, como oriundas do instituto, resultando numa conformidade como o atual projeto que vai além da simples redução de investimentos da realização, fazendo mesmo um trabalho ativo de retirada de direitos. Tal fenômeno resulta da conjunção de vários fatores, nesse sentido, o presente trabalho busca estudar a influência das teorias liberais nesse processo, enfatizando sua relação com o individualismo, pouco apreço aos direitos de cunho social e despolitização da população, que resulta diretamente em um reprimir do desenvolvimento democrático.

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ABSTRACT

Latin America, in general, has a tradition in the culture of Human Rights. There are records of the Latin contribution to the elaboration of the 1948 Declaration of Human Rights, with the sending of delegates to the Commission chaired by Eleanor Roosevelt responsible for elaborating the document by countries like Chile and Venezuela, as well as texts projects sent to the editor of the first draft declaration and direct involvement in the negotiations on the inclusion of articles on equality between men and women, between races, and also the diplomatic negotiation of the inclusion of economic and social rights in the final document on equal terms with civil and political rights. Therefore, in view of a history that resulted in documents such as the San Jose Pact of Costa Rica and the International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights, it causes at least strangeness when considering the current relationship between Latin America and Human Rights, especially when considers a certain emphasis on social and cultural rights. Currently, Human Rights has become a secondary and marginalized agenda, where the average man can not recognize his guarantees, which have as certain instead of resultant of struggle, as coming from the institute, resulting in a conformity as the current project that goes beyond simple reduction of realization investments, even doing an active work of withdrawal of rights. In this sense, the present work seeks to study the influence of liberal theories in this process, emphasizing its relation with individualism, lack of appreciation of social rights and depoliticization of the population, which results directly in a repression of the democratic development.

Keywords: Liberalism. Human Rights. Effectiveness. Latin America. Challenge.

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 DOS DIREITOS HUMANOS ... 13

2.1 Conceito ... 13

2.2 Histórico ... 14

2.3 Direitos Humanos e Direitos Fundamentais ... 20

2.4 Direitos Humanos no Brasil ... 25

2.5 Direitos Humanos e Cidadania ... 28

3 DAS TEORIAS POLÍTICAS E SUA RELAÇÃO COM A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ... 31

3.1 Das Teorias Liberais ... 32

3.2 Das Teorias Comunitaristas ... 36

4 DA CONDIÇÃO ATUAL DE ACESSO A DIREITOS HUMANOS E DESENVOLVIMENTO DEMOCRÁTICO NA AMÉRICA LATINA ..40

4.1 Da condição atual de acesso a Direitos Humanos na América Latina ... 43

4.2 Realização dos Direitos Humanos como condição para o desenvolvimento democrático ... 45 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 53 REFERÊNCIAS ... 58

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa intitulada “Teorias liberais como desafio à efetivação de direitos humanos e desenvolvimento democrático na América Latina” busca fazer um estudo acerca das condições para efetivação dos direitos humanos, de forma especial aqueles ligados a valores de cunho social, político e cultural, no contexto atual da América Latina.

Ocorre que os países latinos em geral carregam uma tradição histórico-jurídica de valorização da cultura de Direitos Humanos. Há inclusive, no século XX, registros da contribuição latina para a elaboração da Declaração dos Direitos Humanos de 1948, com o envio de delegados para a Comissão presidida por Eleanor Roosevelt responsável por elaborar o documento por países como Chile e Venezuela, além de projetos de textos enviados ao redator do primeiro rascunho de declaração e envolvimento direto nas negociações referentes à inclusão de artigos sobre a igualdade entre homens e mulheres, entre raças, e também à negociação diplomática da inclusão de direitos econômicos e sociais no documento final em igualdade de condições com direitos civis e políticos (GLENDON,2000).

Desse modo, a América Latina esteve ativamente presente na construção e elaboração de vários dos mais importantes documentos jurídicos acerca de Direitos Humanos, tais como Pacto Internacional sobre direitos econômicos, sociais e culturais e o Pacto internacional sobre direitos civis e políticos, ambos de caráter mais universal. Mais especificamente no que concerne a América Latina podemos destacar a Declaração Americana dos direitos e deveres do homem que segundo Gorczevski (2009, p. 168) destaca-se antes mesmo da Declaração Universal.

Contudo, observa-se na atualidade uma crescente dificuldade na América Latina de se efetivar os direitos positivados nestes documentos jurídicos. Há uma sensação em geral de que apesar dos avanços alcançados quando da positivação destes direitos a sociedade não teve uma participação tão próxima dessas conquistas, resultando numa situação em que boa parte dos indivíduos não se enxergam como beneficiários diretos das políticas públicas de inclusão e geração e distribuição de renda, entres outras políticas afirmativas de acesso aos direitos sociais, mesmo quando o são.

No Brasil, especificamente, de forma mais enfática após o golpe de 1964, houve um afastamento da população do discurso de defesa dos direitos humanos que ficaram

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conhecidos como direitos que abarcariam uma parcela muito particular e restrita da população, em geral, associada a ideia de realização custosa a todos.

Nesse sentido, houve uma grande mudança de paradigma. Contudo, observa-se na atualidade uma crescente dificuldade na América Latina de se efetivar os direitos positivados nestes documentos jurídicos. Há uma sensação em geral de que apesar dos avanços alcançados quando da positivação destes direitos na Constituição Federal de 1988 que preceitua que constitui um dos objetivos da República Federativa do Brasil seria construir uma sociedade livre, justa e solidária, sendo esses objetivos materializados, dentre outras formas, pelos direitos fundamentais sociais, a sociedade não teve uma participação tão próxima dessas conquistas, resultando numa situação em que boa parte dos indivíduos não se enxergam como beneficiários diretos das políticas públicas de inclusão e geração e distribuição de renda, entres outras políticas afirmativas de acesso aos direitos sociais, mesmo quando o são.

Atualmente, a tendência dos governos vai na contramão daquilo que foi conquistado em 1988 não só reduzindo investimento na realização de direitos sociais para todos, como também deliberadamente retirando direitos.

Em que pese a necessidade de uma multiplicidade de fatores para realização de tal mudança, o objetivo do presente trabalho se fixa em estudar a relação entre as teorias liberais e a efetivação dos Direitos Humanos na América Latina, de forma a traçar um paralelo entre a política liberal e o desenvolvimento democrático. Observe-se, nesse contexto, que dependendo da teoria política aplicada é possível favorecer ou refrear a realização adequada dos direitos fundamentais.

Trazendo a discussão para um plano mais concreto seria a situação da efetivação, in casu, do direito fundamental à saúde. Sendo direito de todos e dever do Estado requer uma atuação estatal direta para sua plena realização, especialmente pela população de baixa renda. Não obstante essa previsão estar em sede constitucional, a efetivação desse direito encontra alguns óbices. Associada à ineficácia de algumas medidas adotadas Estado na prestação atendimento a quem necessita, ainda são apresentadas algumas teorias que justificam essa inércia e negam que o indivíduo possa demandar por prestações perante o Estado.

No capítulo 2, intitulado “Dos Direitos Humanos”, há um esboço de conceito e um estudo da evolução do instituto ao longo do processo de construção da sociedade. Assim acompanha-se o percurso, indo de uma concepção religiosa cristã necessidade de garantia de um mínimo civilizatório aos indivíduos, perpassando pelas teorias jusnaturalistas, que vão dar ensejo posteriormente às teorias liberais, avançando pelas lutas pela emancipação das colônias

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das amarras do absolutismo até à elaboração dos textos jurídicos atuais que tem exigibilidade mundial, consolidando a garantia em abstrato de direitos de primeira, segunda e terceira geração a todos de forma indistinta.

O capítulo 3 denominado “das teorias liberais e sua relação com os direitos humanos ” direciona a reflexão em torno de como surgiram e como se estruturam e se posicionam as teorias liberais de acordo com a concretização dos Direitos Humanos. Ainda neste capítulo, traz-se as críticas feitas às teorias de cunho mais liberal pelos que ficaram conhecido como comunitaristas, por se oporem à ideia de individualismo liberal.

Já o capítulo 4 “Da condição atual de acesso a direitos humanos e desenvolvimento democrático na América Latina” direciona-se a análise para a situação atual de acesso a Direitos Humanos nos países latino-americanos, da deficiência de acesso a políticas públicas afirmativas que garantam um mínimo de diretos básicos à população em geral e suas consequências diretas sobre a participação política e, consequentemente, o desenvolvimento democrático desses países.

A área dos Direitos Humanos e democracia sempre se manifestou como uma constante na vida acadêmica, por ter sempre sido uma fonte de questionamento e estudos pessoais. Atrelado a isso, há uma situação atual em contexto nacional e internacional que chama todos aqueles que se preocupam com a luta pelos direitos humanos a se manifestarem, seja no meio acadêmico, seja na rua ou nas urnas. Ocorre que há um projeto que supera o mero congelamento de investimentos na temática e avança ao desaparelhamento dos institutos garantidores de acesso a esse catálogo de direitos e retirada de direitos, ameaçando não só a existência digna das pessoas como uma ameaça à própria democracia.

Nesse sentido, problematiza-se: como países com uma tradição em direitos Humanos tão notória migraram para uma situação de afastamento ideológico da população em relação à necessidade da luta pela sua efetivação que levou a deficiências tão pronunciadas? Como a população que insistiu pela inclusão do catálogo de direitos aceita a retirada de direitos de forma pacífica e distante? Como essa dificuldade na realização dos Direitos Humanos afeta o desenvolvimento democrático e qual o papel das teorias políticas liberais nesse processo?

Este trabalho utilizou na metodologia o levantamento bibliográfico, que, segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 166), abrange ―toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo‖, tendo como método o hipotético-dedutivo. A pesquisa foi feita a partir de literatura que aborda os direitos sociais fundamentais nos seus mais variados aspectos, bem como de teorias da filosofia política, com especial atenção às obras de teorias liberais e

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comunitaristas. Após realizar o levantamento bibliográfico das obras selecionadas, foi feito um processo de avaliação e crítica. Nesse momento, estabelecemos o confronto entre as ideias consideradas relevantes, examinando a consistência de seus argumentos, bem como o nível de coerência, comparando-as entre si e utilizando obras que comentem ideias de outros autores com a lógica da implementação dos Direitos Humanos. O principal objetivo dessa etapa é identificar os pontos positivos e negativos nas teorias analisadas, fazendo sua interrelação e considerando que a crítica tem sempre em vista o problema investigado. Posteriormente, iniciaremos a ordenação sistemática das ideias coletadas, dos objetivos da investigação e das teorias relevantes que abordam, com seus pontos positivos ou negativos, as hipóteses levantadas, e respondem as questões norteadoras propostas.

O percurso da pesquisa é imprescindível para alcançar os resultados ao final do estudo, isto é, propor soluções viáveis para o problema objeto de análise na ótica jurídico. Nesse sentido, o primeiro momento do percurso metodológico será a revisão bibliográfica de obras nacionais e estrangeiras acerca da temática em apreço, dando inicial destaque à evolução histórico-jurídica dos institutos estudados.

A análise das Convenções Internacionais acerca de Direitos Humanos e como se deu a entrada desses direitos no Ordenamento jurídico dos países latino-americanos, bem como seu aperfeiçoamento ao longo do tempo.

A compreensão descritivo-exploratória caminha-se não apenas para privilegiar o aspecto descritivo da pesquisa, mas adentra a explicação, esclarecimento e interpretação do objeto em estudo, isto é, torná-la palpável aos leitores. Em termos de exploratória busca-se analisar a relevância das teorias políticas liberais para a atual situação envolvendo direitos Humanos na América Latina.

O pesquisador já envolvido com o objeto de estudo científico deve empolgar o leitor para descobrir novos horizontes jurídicos no campo dos Direitos Humanos, mais especificamente, na efetivação desses direitos para o desenvolvimento democrático tão fundamental nos tempos atuais.

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2 DOS DIREITOS HUMANOS

2.1 Conceito

O conceito de direitos humanos é deveras complexo e foi muitas vezes alterado ao longo do tempo. Atualmente, são tidos como os direitos e liberdades básicas inerentes a todos os seres humanos.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os direitos humanos são “garantias jurídicas universais que protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos governos que atentem contra a dignidade humana”. São exemplos de direitos humanos o direito à vida, direito à integridade física e o direito à dignidade (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1948).

Não há como pensar a conceituação do instituto sem levar em consideração a concepção fornecida pela principal legislação internacional existente sobre o tema: a Declaração universal dos Direitos Humanos. Nesse sentido, os direitos humanos são, para além de todos aqueles direitos considerados universais e inalienáveis, “um conjunto mínimo de direitos necessário para assegurar uma vida ao ser humano baseada na liberdade e na dignidade”. (RAMOS, 2001 apud Oliveira, 2012, p.19).

Esse conceito se mostra muito atual pois coloca em evidência uns dos grandes fundamentos dos intitulados direitos humanos na sua configuração contemporânea: o respeito pela dignidade e valor de cada pessoa. Na definição de Ricardo Castilho, a dignidade humana:

Está fundada no conjunto de direitos inerentes à personalidade da pessoa (liberdade e igualdade) e também no conjunto de direitos estabelecidos para a coletividade (sociais, econômicos e culturais). Por isso mesmo, a dignidade da pessoa não admite discriminação, seja de nascimento, sexo, idade, opiniões ou crenças, classe social e outras. (CASTILHO, 2011)

Todavia, apesar de seu ideal de mais notoriedade atual ser a dignidade da pessoa humana, a ideia de Direitos Humanos também se relaciona com os ideais de liberdade de pensamento, de expressão, e a igualdade perante a lei sem distinção alguma, nomeadamente de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou outro estatuto.

Nesse sentido, Fábio Konder Comparato trata que “todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza”.

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Em razão desse reconhecimento universal, conclui: “ninguém – nenhum indivíduo, gênero, etnia, classe social, grupo religioso ou nação – pode afirmar-se superior aos demais”.(COMPARATO, 2010, P.13)

Ainda nesse ínterim, a ONU (Organização das Nações Unidas, 2019), a responsável por proclamar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, entende que o documento traz princípios que devem ser respeitados por todas as nações do mundo, com o objetivo de evitar guerras, promover a paz mundial e de fortalecer os direitos humanitários. Nesse diapasão, o preâmbulo da Declaração de 1948 traz:

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,[ …] a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações […].

Esta Declaração afirma ainda em seu artigo primeiro que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, dotados de razão e de consciência, e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

A Declaração Universal – que não é, em si, um tratado vinculativo, algumas de suas disposições têm o caráter de direito internacional consuetudinário - tem uma importância mundial, apesar de não obrigar juridicamente que todos os Estados a respeitem. Para a Assembleia Geral da ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem como ideal ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que todos tenham sempre em mente a Declaração, para promover o respeito a esses direitos e liberdades.

2.2 Histórico

Para o professor Fernando Sorondo, Direitos Humanos podem ser considerados sob dois aspectos: “constituem-se em um ideal comum para todos os povos e para todas as nações; tratar-se-iam de um sistema de valores” e “referido sistema de valores, enquanto produto de ação da coletividade humana, acompanha e reflete sua constante evolução e acolhe o clamor de justiça dos povos. Por conseguinte, os Direitos Humanos possuem uma dimensão histórica”.(SORONDO, c.a.2000)

Analisando historicamente o surgimento dos Direitos Humanos as primeiras afirmações em relação à gênese do que hoje se conhece como esse instituto se dá bem antes dos primeiros textos normativos que se propuseram a tratar de assuntos análogos: é muito anterior

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e vem inserida no combate ao absolutismo e à sociedade feudal.

Ocorre que princípios de garantia de proteção aos direitos básicos do indivíduo já apareciam em algumas situações ao longo da idade média graças à alta influência da filosofia católica cristã com o Direito Natural (Jus Naturale): uma das bases do cristianismo consiste no ideal de que todos os homens, tanto nobres quanto plebeus, passaram a ter o mesmo patamar mínimo de direitos da personalidade, sendo colocados como criaturas e filhos de Deus. No final desse período histórico, São Thomás de Aquino discute diretamente a questão dos Direitos Humanos, retomando Aristóteles e dando à sua filosofia a visão cristã com fundamentação iminentemente teológica: o ser humano teria direitos naturais que fazem parte de sua natureza que lhe foram dados por Deus.(AQUINO, 1991)

Até mesmo os Reis que eram, em muitos lugares da antiguidade, considerados como naturais representantes dos Deuses encarnados com o direito natural de origem divina que justificava o absolutismo e atos arbitrários que causavam toda espécie de violências, discriminações e, em última análise, até a negação dos direitos humanos, passaram então a necessitar da benção da igreja, pois do contrário nada mais seriam que déspotas excomungados. Nesse sentido, tem-se em 1215, na Inglaterra, no governo de João Sem Terra, a Carta Magna ou Magna Charta Libertatum que é considerada por muitos como o grande marco de proteção dos direitos fundamentais, visto que em seu corpo continha várias limitações ao poder e garantias de liberdade, entre outros direitos. Contudo, sempre lembrando que a Igreja e os barões eram os mais protegidos pela lei, não apresentando ainda um caráter realmente universal (GORCZEVSKI, 2009, p. 112).

Todavia, logo no início da Idade Moderna com as tendências burguesas, associadas aos pensadores liberais que tinha uma preocupação com a liberdade como um valor racionalista que começaram a desvincular a visão divina do Jus Naturale e começaram a defender que o homem é por natureza livre e possuidor de direitos irrevogáveis que não podem ser subtraídos ao se viver em sociedade, ou seja, “firmou-se a noção de que o homem possui certos direitos inalienáveis e imprescritíveis, decorrentes da própria natureza humana e existentes independentemente do Estado” (COMPARATO, 2003, P.20). Já nesta época Rousseau desenvolve a teoria da igualdade natural entre os homens e Voltaire insiste na tolerância religiosa e na liberdade de expressão pois a religião já não podia explicar tudo.

Ainda na Inglaterra, estes pensamentos começam a dar frutos, inicialmente, durante a Revolução Inglesa. Nesse sentido, as comuns prisões ilegais feitas por Monarcas absolutistas começam a ser contestadas. É nesse ambiente que surgem institutos como a Petição de Direitos de 1628 e o Habeas Corpus, ambos importantes documentos que abrem as portas para

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discussões acerca de direitos que devem ser protegidos para a vida em sociedade. Logo após, em 1689, é assinado ainda o Bill of Rights que se destacou por apresentar reais limites à Coroa e garantir alguns direitos individuais, além de apresentar um caráter mais universal (CAVALCANTE JUNIOR, 2013, p.2).

Seguindo essa linha temporal, em 4 de julho de 1776, os Estados Unidos da América se inseriram como um dos pioneiros na proteção dos direitos inerentes ao ser humano quando, ao obter a independência das colônias, tiveram o cuidado de procurar proteger em sua Constituição os direitos naturais do ser humano que entendiam que deveriam ser respeitados por todos. Nesse sentido, com a Revolução Americana, começam a surgir prerrogativas básicas aos cidadãos a partir do pensamento independente das colônias que começaram a se revoltar contra a influência inglesa e seu pensamento mercantilista que favorecia somente os interesses da metrópole e não condizia com os pensamentos americanos sobre a luta pela separação política.(GORCZEVSKI, 2009, p. 115-117).

É nesse intuito que a Virgínia traz a primeira manifestação da América sobre as liberdades e garantias dos indivíduos, ao declarar sua independência aprovando a Declaração do Bom Povo da Virgínia, onde traz questões básicas de proteção do indivíduo, à vida, garantindo sua liberdade, propriedade e igualdade perante os outros e falando em direitos que não poderiam ser abandonados enquanto sociedade, sendo essenciais a um governo que procurasse o bem comum. Em sua primeira cláusula trazem:

Que todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes, e têm certos direitos inatos, dos quais, quando entram em estado de sociedade, não podem por qualquer acordo privar ou despojar seus pósteros e que são: o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de buscar e obter felicidade e segurança.(Declaração do Bom Povo da Virgínia, 1776).

Antecipa assim a Declaração da Virgínia o que seria embutido na Declaração de Independência dos EUA, escrita em grande parte por Thomas Jefferson, que expôs uma lista de vários atos cometidos pela Inglaterra que violavam os direitos naturais dos colonos já elencados na Declaração de Virgínia, que serviram como justificativa para a separação política das colônias, como afirma o documento inicialmente, dado que “quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a um povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro [...] exige que se declarem as causas que os levam a essa separação”. (DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1776)

Nesse sentido Leandro Karnal (2007) traz que este momento representa uma séria guinada na política ao redor do mundo ocidental:

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Com todas as suas limitações, o movimento de independência significava um fato histórico novo e fundamental: a promulgação da soberania “popular” como elemento suficientemente forte para mudar e derrubar formas de governo estabelecidas de governo, e de cada capacidade, tão inspirada em Locke, de romper o elo entre os governantes e governados quando os primeiros não garantissem aos cidadãos seus direitos fundamentais. Existia uma firme defesa da liberdade, a princípio limitada, mas que se foi estendendo em diversas áreas.(p.94)

Assim, esta Declaração exprime e resume as principais ideias daquele momento, que inicia a era das revoluções que se seguiriam na política da noção de direitos autoevidentes, naturais e inalienáveis sobre os quais todos os governos deveriam estar alicerçados, que inclusive marcaram forte presença na futura Constituição do país e futuras nações ao redor do globo.(RÉMOND, 1989)

Na Europa da época começa a eclodir o que ficaria conhecido como a Revolução Francesa que deu “reconhecimento da legitimidade democrática e dos direitos humanos”, no ano de 1789 (GORCZEVSKI,2009, p. 119) e padrões mais universais para o Direito Natural, no sentido de romper com o absolutismo e instalar um governo de todos.

Essa Revolução foi marcada pelas mais variadas influências filosóficas, dentre elas dos filósofos franceses Montesquieu, Voltaire e Rousseau. Nesse sentido, demonstrou um forte desejo pelo fim dos privilégios legais da aristocracia e do clero, e da necessidade de assentar o novo governo sob o consentimento popular, com o fito de preservar os direitos naturais dos homens de forma universal. (BOBBIO, 1992)

Esse universalismo é expresso pelo lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade, sendo também dessa época a expressão Direitos do Homem. Outro ponto de inovação elencado pela Revolução Francesa foram o surgimento de novas formas de pensamento e governo, diante da necessidade da população por mais respeito aos seus direitos de forma que pudessem viver em sociedade de forma digna. É com esse intuito que é aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que traz em seu preâmbulo o seguinte:

Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre conservação da Constituição e à felicidade geral (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789).

Apesar de ambas as declarações de direitos da França e dos Estados Unidos abraçarem a tendência do direito natural universal, inclusive ao ponto de influência e

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envolvimento americano na Revolução Francesa, há algumas diferenças entre as declarações de direitos desses países: segundo Bobbio (1992), as distinções entre elas residem tanto na ausência, na declaração francesa, de uma concepção eudemonológica do Estado, presente nas declarações americanas, e da finalidade dos direitos declarados. Enquanto na França o intuito principal seria afirmar politicamente os direitos individuais, nos EUA pretendia relacioná-los ao “bem comum da sociedade”.(BOBBIO,1992,p. 85-89)

Ao resumir os principais artigos da Declaração dos Direitos do Homem, Hunt (2009, p.131-132) afirma:

Os deputados franceses declaravam que todos os homens, e não só os franceses, “nascem e permanecem livres e iguais em direitos” (artigo 1). Entre os “direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem” estavam a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão (artigo 2). Concretamente, isso significava que qualquer limite aos direitos tinha de ser estabelecido na lei (artigo 4). “Todos os cidadãos” tinham o direito de participar na formação da lei, que deveria ser a mesma para todos (artigo 6), e consentir na tributação (artigo 14), que deveria ser dividida igualmente segundo a capacidade de pagar (artigo 13). Além disso, a declaração proibia “ordens arbitrárias” (artigo 7º), punições desnecessárias (artigo 8º) e qualquer presunção legal de culpa (artigo 9º) ou apropriação governamental desnecessária da propriedade (artigo 17). Em termos um tanto vagos, insistia que “ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo as religiosas” (artigo 10), enquanto afirmava com mais vigor a liberdade de imprensa (artigo 11).

Esse documento foi, portanto, um avanço primordial para a história dos Direitos Humanos. Não obstante, ressalta Comparato (2010, p. 24) que após esses períodos:

foram necessários vinte de cinco séculos para que a primeira organização internacional a englobar a quase totalidade dos povos da Terra proclamasse, na abertura de uma Declaração Universal de Direitos Humanos, que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) deu, nesse sentido, uma amplitude muito maior às liberdades individuais e serviu de base para edificação dos Direitos Humanos do tempo atual. Contudo, os acontecimentos históricos que mais influenciaram este insituto se deram entre os anos de 1914 e 1948, quando o mundo criou consciência sobre as atrocidades terríveis acontecidas.

Observe-se que datam desta época as atrocidades ocorridas na 1ª e 2ª Guerra mundial que mudaram intensamente a geografia política da Europa e do restante do planeta (MAGNOLI, 2006), na guerra Espanhola, na Exterminação Ética de 10 milhões de Ucranianos em 1932 pela URSS,) no Holocausto com o extermino de 6 milhões de Judeus, entre outras barbáries acontecidas neste período (LAFER, 1988). Esse contexto histórico infeliz faz surgir, em outubro de 1945, à Organização das Nações Unidas, cujas finalidades principais eram de intermediar as relações entre nações antes e durante conflitos, que no dia 10 de dezembro de

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1948 proclamaria à Declaração Universal dos Direitos Humanos (CASTILHO, 2011) para garantir os direitos dos indivíduos independentes de sua nacionalidade, classe social, cor ou gênero (OLIVEIRA, 2012).

Nesse sentido, colaciona Erival da Silva (2012):

No texto da Declaração relacionam-se os direitos civis e políticos (conhecidos por direitos de primeira geração: liberdade) e os direitos sociais, econômicos e culturais (chamados direitos de segunda geração: trabalho), e há, ainda, a fraternidade como valor universal (denominados direitos de terceira geração: espírito de fraternidade, paz, justiça, entre outros – nos considerandos e arts. I, VIII, entre outros).(P.65)

Assim, é possível afirmar que estes direitos específicos previstos na Declaração Universal encontram ressonância na tradição jusnaturalista que possui raízes na antiguidade clássica, se relacionando com escritos de Aristóteles, cuja noção de direito natural foi resgatada e reformulada teologicamente durante a Idade Média por Tomás de Aquino, e ganhando sua versão mais moderna e tida como mais racional graças a filósofos iluministas, como Hugo Grotius, John Locke e Immanuel Kant. (DEL VECCHIO, 2006)

Apesar de muitos autores considerarem que a Declaração Universal dos Direitos Humanos seja parte de uma tradição de declarações de direitos que descende diretamente dos ideais elencados por textos anteriores como a Declaração de Direitos de Virgínia (1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), elas são meras inspirações à declaração da ONU, que é bastante diferente das anteriores, apesar de certas similaridades normativas.(HUNT, 2009)

Nesse sentido, como colacionado, a ONU (Organização das Nações Unidas) foi a responsável por proclamar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que deve ser respeitada por todas as nações do mundo, com o objetivo de promover entre os Estados-membros da ONU a adoção de políticas públicas e legislações nacionais que tivessem como parâmetros normativos os princípios elencados pela declaração.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma ainda que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, dotados de razão e de consciência, e reitera o dever de agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Deste espírito denota-se que a ONU, de fato, adotou a Declaração Universal com o objetivo de evitar guerras, promover a paz mundial e de fortalecer os direitos humanitários.

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2.3 Direitos Humanos e os Direitos Fundamentais

Por outro lado, para abordar a questão dos direitos humanos na América Latina, após o estudo dos documentos que o precederam convém ressaltar que, de forma geral, esses códigos fundamentavam-se no direito natural (jusnaturalismo) que tinha o foco muito acentuado nos direitos individuais: conjunto de direitos e liberdades individuais, de natureza civil, especialmente os econômicos. Com o advento das democracias e das repúblicas forma-se uma relação política entre o indivíduo e o Estado, donde brotam os direitos políticos, entre o cidadão e a comunidade política, um vínculo que consolida o Estado-nação e é um marco na progressiva implantação das democracias representativas. Inclusive, com a promulgação da Constituição de Weimar surge um novo conteúdo que é essencialmente social. Surgem, assim, os direitos sociais que permitem ao cidadão ter direito a receber educação, saúde, segurança, serviços sociais públicos, entre outros. Desta forma, o estatuto jurídico dos direitos humanos configura, no século XX, um conjunto de direitos individuais, políticos, civis e sociais, em suma, direitos humanos, econômicos, políticos, sociais e culturais, que conferem aos sujeitos o pleno direito do usufruto dos mesmos, seja os adquiridos por nascimento ou pela aquisição posterior.

Alguns pactos ainda não citados neste trabalho são considerados de grande importância para a afirmação dos direitos humanos, tais como Pacto Internacional sobre direitos econômicos, sociais e culturais, Pacto internacional sobre direitos civis e políticos, ambos de caráter mais universal. Mais especificamente no que concerne a América Latina podemos destacar a Declaração Americana dos direitos e deveres do homem que segundo Gorczevski (2009, p. 168) destaca-se antes mesmo da Declaração Universal.

Note-se, entretanto, que, segundo a ONU (2013):

a DUDH, em conjunto com o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e sobre pena de morte) e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Opcional, formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos.

É mister destacar ainda que, em contexto de América Latina, o Pacto São Jose da Costa Rica, nada mais é do que uma convenção sobre direitos humanos em que os Estados Americanos estão comprometidos a observar esses direitos que são intrínsecos do homem, devendo atendê-los de forma a permitir que se cumpra e colabore para a proteção da dignidade da pessoa humana (GORCZEVSKI, 2009, p.172-173).

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criação de organismo internacionais e regionais para que se possa fiscalizar o cumprimento dos pactos e recomendações feitas pelas declarações.

Nesse sentido, em contexto de América Latina, tem-se ainda a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que estabeleceu uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos, bem como a Corte Interamericana de Direito Humanos. No que concerne a região europeia existe a Convenção Europeia dos Direito Humanos a qual definiu um Tribunal responsável pelos casos de violação dos direitos humanos.

Há ainda a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, estipulando também uma Comissão para dar amparo aos direitos humanos.

O Pacto de São José da Costa Rica, que também ficou conhecido como Convenção Americana estabelece em seu art. 33 que a Comissão e a Corte Interamericana de direitos humanos, são órgãos responsáveis pela proteção e promoção dos direitos humanos. Considerando-se que os dois órgãos foram estipulados “a fim de salvaguardas dos direitos essenciais do homem no continente americano” (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 2013).

Como se viu, no decorrer do tempo, houve grande preocupação em fiscalizar e proteger os direitos humanos, não em caráter global, mas também a partir de estruturas regionais que procuram garantir a aplicação dos princípios humanísticos.

De forma ainda mais especializada, visando a garantia da efetivação dos direitos humanos de forma ainda mais próxima, houve em geral, uma tendência à positivação de direitos de caráter humanísticos dentro do texto das Constituições de vários países de modo que a regulação dos direitos econômicos e sociais passou a incorporar as Constituições Nacionais.

A primeira Carta Magna, a revolucionar a positivação de tais direitos, foi a Constituição Mexicana de 1917, a qual versava, inclusive, sobre a função social da propriedade. Nesse diapasão, ainda durante o século XX nos Estados Unidos, o movimento a favor dos direitos humanos defendia a igualdade entre todas as pessoas. Na sociedade americana daquela época, havia uma forte discriminação contra os negros, que muitas vezes não desfrutavam dos plenos direitos fundamentais. Um importante defensor dos movimentos a favor dos direitos humanos foi Martin Luther King Jr.

Nesse sentido, Alexy (1999, p. 55) retrata em sua obra que os direitos do homem resultam principalmente do seu desenvolvimento ao longo do tempo e como é aceito dentro de cada país. Inicialmente, declara que essa aceitação seria um consenso em que os países entrariam sobre o que se pode compreender sobre os valores que são fundamentais para a vida em sociedade, trazendo ao direito interno a ideia geral do artigo a Declaração Universal dos

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Direitos do Homem, de que seriam “os direitos do homem um ideal universal”.

Ainda nesse diapasão, Manoel Gonçalves Ferreira Filho bem define este momento de declaração de direitos:

O pacto social prescinde de um documento escrito. Entretanto, nada proíbe que seja reduzido a termo, em texto solene. Isto, inclusive, tem a vantagem da clareza e precisão, bem como um caráter educativo. Tal documento o século XVIII cuidou de formalizar. Não é ele a Constituição que já o presume existente. É a declaração de direitos. No pensamento político setecentista, a declaração de direitos, por um lado, explicita os direitos naturais, por outro, como já se apontou, enuncia as limitações destes, que são admitidas a bem da vida em sociedade. (FERREIRA FILHO, 1995,p.5)

Nesse mesmo sentido, ressalta-se que a Constituição surgiu com “a pretensão de vinculação do poder ao Direito”, de forma a trazer a concretização de forma positivada de direitos que haviam sido conquistados, principalmente, em função da Revolução Francesa. Essas mudanças operaram inclusive alterações quanto ao papel da jurisdição constitucional nesses cenários. (LEAL, 2007, p. 5). Leal (2007, p. 18) ainda destaca que:

Tão-somente um caráter declaratório, não passando, o seu conteúdo, de meras proclamações políticas, carentes de incidência jurídica e insuscetíveis de aplicação direta nas relações sociais. Somente num momento posterior, à medida que seus conteúdos fossem assegurados pela lei é que os direitos nela previstos poderiam passar a ser tidos como direitos objetivos e, consequentemente, exigíveis.(LEAL, 2007)

Raul Machado Horta também confirma o raciocínio da longa trajetória não só da constituição formal dos direitos humanos até sua materialização e posterior recepção dos direitos individuais deles decorrentes no ordenamento jurídico:

A recepção dos direitos individuais no ordenamento jurídico pressupõe o percurso de longa trajetória, que mergulha suas raízes no pensamento e na arquitetura política do mundo helênico, trajetória que prosseguiu vacilante na Roma imperial e republicana, para retomar seu vigor nas idéias que alimentaram o Cristianismo emergente, os teólogos medievais, o Protestantismo, o Renascimento e, afinal, corporificar-se na brilhante floração das idéias políticas e filosóficas das correntes do pensamento dos séculos XVII e XVIII. Nesse conjunto temos fontes espirituais e ideológicas da concepção, que afirma a precedência dos direitos individuais inatos, naturais, imprescritíveis e inalienáveis do homem.(HORTA, 1983,p.147-148)

Esses direitos do homem são compreendidos como tão imprescindíveis que seriam mesmo fundamentais, devendo, portanto, estar protegidos pela Constituição. Nesse sentido se posiciona Alexy, (1999, p. 63-64) “constituições modernas dão aos direitos fundamentais em geral, por conseguinte, a força de concretização suprema e quando elas não fazem deveriam ou ser interpretadas neste sentido ou, quando isso não fosse possível, modificadas”, por isso ainda, destaca que a ponderação e interpretação se faz necessária em muitos casos para a concretização e aplicação dos direitos humanos.

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Sobre a relação entre direitos humanos e Estado, Cruz (2006, p.57) leciona que no período pós-guerra, a Alemanha busca uma nova dimensão para o Estado buscando um Estado de direito de forma material e também consequentemente buscando um estado social, permanecendo a Constituição com o sentido aberto que possuía a Constituição de Weimar. Esta Constituição estabelecia como básicos alguns direitos que deveriam ser observados, principalmente no que dizia respeito aos direitos fundamentais e direito à igualdade, com finalidade de restringir o individualismo pregado pelo liberalismo, e visando a busca da justiça social com a atuação do Estado de forma a intervir na sociedade para garantir o bem-estar dos cidadãos. Contudo, há que se destacar ainda que a Constituição de Weimar não era compreendida como uma Constituição que possuía muitas garantias do indivíduo perante o Estado, visto que, em geral, materializava concessões feitas pelo Estado com a finalidade de estabelecer uma boa convivência. (CRUZ, 2006, p. 58).

Nesse sentido, os direitos humanos careceriam ainda de serem realizados:

A questão técnica que se apresenta na evolução das declarações de direitos foi a de assegurar sua efetividade através de um conjunto de meiro e recursos jurídicos, que genericamente passarm a chamar-se garantias constitucionais dos direitos fundamentais. Tal exigência técnica, no entanto, determinou que o reconhecimento desses direitos se fizesse segundo formulação jurídica mais caracterizadamente positiva, mediante sua inscrição no texto das constituições, visto que as declarações de direitos careciam de força e de mecanismos que lhe imprimissem eficácia bastante.(SILVA, 2005, P.166-167)

Ademais, essa realização só poderia se dar a partir de uma necessária liberdade política, aliada a uma vontade geral de criação do direito, a partir de um acordo de vontades, não podendo ser algo posto apenas por setores da população, principalmente tendo em mente que os direitos humanos, quando instituídos nos países são então compreendidos como direitos fundamentais sendo perfeitamente exigíveis. (CRUZ, 2006, p. 71).

Nesse sentido, deve haver uma preocupação cm a normatização de forma que a introdução desses direitos enquanto direitos constitucionais de fato se realize no campo fático, ou seja, “es entonces uma constitución dirigente que fuerza a la realización de los princípios básicos em ella contenidos” (CRUZ, 2006, p. 73).

No entanto, Sarlet (2001, p. 26) traz que não é suficiente que constem os direitos do texto da Constituição para assegurar o seu efetivo cumprimento, embora se faça necessária a sua presença para proteção dos direitos. Isto é, se faz necessária a existência de uma

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Constituição para que os direitos humanos e a dignidade da pessoa humana sejam respeitados, já que isso fornece um amparo legal que pode ser questionado em juízo quando da sua violação. Porém, constar do texto não é suficiente, há que se ter uma iniciativa do Executivo para a efetiva realização desses direitos.

Assim, as constituições se apresentam como “base e fundamento do governo”, fortalecendo os direitos humanos na medida em que passam a serem compreendidos como fundamentais para a estrutura do Estado e para que haja observância e responsabilidade do Estado frente aos direitos humanos. Nesse sentido:

Os direitos fundamentais são direitos constitucionais, que não devem em primeira linha ser compreendidos numa dimensão “técnica” de limitação do poder do Estado. Devem ser compreendidos e inteligidos como elementos definidores e legitimadores de toda a ordem jurídica positiva (QUEIROZ, 2010, p. 47-49).

Via de regra, as constituições liberais apresentam uma tendência em trazer os direitos naturais como inerentes aos indivíduos e naturais a eles, no mesmo sentido preleciona Segovia (2004, p. 31) “las contituciones liberales consagrarán, em principio, derechos naturales de los individuos , según el concepto de naturaliza ya visto”, pois como se sabe os liberais primam pela liberdade e igualdade a todo custo, não se podendo esperar qualquer coisa diferente das legislações por eles inspiradas.

Perez Luño (2005, p. 47) destaca que ainda alguns autores confundem as definições de direitos fundamentais e direitos humanos, utilizando-os como sinônimos. Nesse sentido, diferentemente de muitos que os diferenciam apenas com base em estar ou não dentro de um ordenamento jurídico de um país, o autor demonstra que “derechos humanos aparece como um concepto de contornos más amplios e imprecisos que la noción de los derechos fundamentales”, pois para ele ainda é um tanto quanto obscura a definição anteriormente exposta, definindo os direitos fundamentais como direitos limitados espacial e temporalmente.

Assim também é o pensamento de Queiroz, que assegura que:

Os direitos fundamentais variam tanto no “espaço” (isto é, segundo o Estado constitucional) como no “tempo” (isto é, segundo o período histórico) no que concerne à “distribuição de papéis” no seu desenvolvimento jurídico. À dependência dos direitos fundamentais do texto constitucional contrapõe-se a sua dependência do “contexto histórico-social” em que se movem (2010, p. 61).

Nesse ínterim, Hesse (1991, p. 16) complementa ao afirmar que “[...] somente uma Constituição que se vincule a uma situação histórica concreta e suas condicionantes, dotada de uma ordenação jurídica orientada pelos parâmetros da razão, pode efetivamente,

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desenvolver-se”, visto que somente assim percebem-se as reais necessidades e o que se pretende ser protegido pela Constituição.

2.4 Os Direitos Humanos no Brasil

No concernente à implementação dos direitos inerentes ao homem nas Constituições Brasileiras, Gorczevski (2009, p. 181) faz uma ampla reflexão, buscando sempre lembrar que o seu processo de inclusão foi deveras atribulado, tendo em vista que ao mesmo tempo em que se falavam em direitos humanos eles não eram aplicados de forma plena em que a dignidade da pessoa fosse de fato observada, mesmo porque houve certa instabilidade no poder político brasileiro por muito tempo dificultando, assim a aplicabilidade de políticas públicas que viabilizassem o usufruto desses direitos.

A história dos direitos humanos no Brasil está intimamente vinculada à história das constituições brasileiras. Nesse sentido, importante apontar que a Constituição de 1824 trouxe de fato muitas ideias de forte influência liberal, procurando assegurar sempre direitos de primeira geração e trazendo inovações quanto à separação e independência dos três poderes de forma garantir que os direitos por ela protegidos não ficassem a mercê de um grupo específico, por mais que concentrasse o poder nas mãos do imperador. Foi rejeitada de forma massiva pela população principalmente por causa da dissolução da Assembleia Constituinte. A inviolabilidade dos direitos civis e políticos contidos na constituição tinha por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade.

Ainda em 1889 é importante lembrar que houve a proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil que se mostrou um formidável marco ao ampliar a participação política da população e instituir o princípio da laicidade estatal, com a separação do Estado e da Igreja, mantendo, em sua grande maioria, os direitos da Constituição de 24. A primeira constituição republicana, garantiu sufrágio direto para a eleição dos deputados, senadores, presidente e vice-presidente da República, mas impediu que os mendigos, os analfabetos e os religiosos pudessem exercer os direitos políticos. A força econômica nas mãos dos fazendeiros permitiu manipular os mais fracos economicamente. (GORCZEVSKI, 2009, p. 183-187).

Com o advento da República, surgem no Brasil os regimes liberais clássicos, marcados por regimes muito pouco flexíveis. Isso acaba por acarretar diversas revoluções como a de 1930, na qual Getúlio Vargas se faz presente tomando o poder. Getúlio inicia seu governo fazendo algumas concessões deveras esperadas pelas classes operárias e, consequentemente, dá

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ensejo a promulgação da Constituição de 1934, onde os direitos sociais, principalmente os direitos de segunda geração, começam a ganhar grande destaque (GORCZEVSKI, 2009, p. 187-188).

Todavia, logo em 1937, com o golpe de Estado há um grande retrocesso dos direitos humanos no cenário brasileiro, como afirma Gorczevski (2009, p. 189): “nesta Carta, desapareceram direitos, [...], impôs-se limites aos direitos de manifestação [...]. Os direitos de segunda geração permanecem, mas a mercê do poder presidencial [...]”. O Brasil se encontra então diante de um poder de viés ditatorial.

Não foi até o fim da 2ª Guerra Mundial e a criação da ONU embasada nas Declarações existentes de garantia dos direitos humanos que se deu a promulgação de uma nova constituição brasileira. Assim, em 1946 há a elaboração de uma nova Carta sendo “um instrumento de reação contra o autoritarismo e as tendências ditatoriais dos governos que os antecederam”, pois previa a garantia de direitos individuais, sociais, bem como a ampliação do acesso à Justiça (GORCZEVSKI, 2009, p. 190-191).

Já em 1964 o Brasil vê os piores tempos em termos de violação dos direitos humanos, visto que com o estouro do golpe de 1964 o país passou a ser assombrado por um “autoritarismo revolucionário”, sendo promulgada em 1967 uma nova Constituição que destacava como prioridade a segurança nacional. Durante o Regime Militar, houve muitos retrocessos, como restrições ao direito de reunião, além de outros. Houve em favor da afirmação e segurança da nação uma vasta castração da soberania popular e muitos direitos foram negados à população. (GORCZEVSKI, 2009, p. 192).

Nesse sentido, há, após um longo período de repressão, por fim a retomada no sentido de reconquista dos direitos. Após uma grande incidência de denúncias à ONU quanto à situação de direitos humanos no Brasil, há finalmente a convocação de uma Assembleia Constituinte para retomada do poder e redemocratização do país, para que novamente a população pudesse ter seus direitos garantidos (GORCZEVSKI, 2009, p. 192-198).

Então em 1988, surge a tão esperada Constituição da República Federativa do Brasil que perdura até os dias atuais. Também conhecida como “Constituição Cidadã”, a CF de 88 trouxe um rol muito amplo de direitos fundamentais, ampliando o rol também de direitos sociais como afirma Gorczevski (2009, p. 199)

seu conteúdo revolucionário, extremamente avançado em termos de direitos humanos, rompe com uma tradição totalitária de anos de repressão e usurpação de direitos e inaugura um Brasil que tenta abarcar e respeitar as diferenças.

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direitos humanos é uma questão política e não será resolvida sem uma participação consciente, inteligente e objetiva da sociedade”, ou seja, é necessário haver a colaboração de toda a população no sentido de serem garantidos os direitos humanos, possibilidade que só se firma quando passados os direitos humanos para as Constituições se tornando direitos fundamentais dentro dos ordenamentos jurídicos em que estão.

Os direitos humanos no Brasil são amplamente garantidos no texto da Constituição de 1988. Nessa Carta se consagra logo em seu artigo primeiro o princípio da cidadania, dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Ao longo do corpo da constituição, encontra-se ainda no artigo 5.º o direito à vida, à privacidade, à igualdade, à liberdade, além de outros, conhecidos como direitos fundamentais, que podem ser divididos entre direitos individuais, coletivos, difusos e de grupos. Os direitos individuais têm como sujeito ativo o indivíduo humano, os direitos coletivos envolvem a coletividade como um todo, direitos difusos, aqueles que não conseguimos quantificar e identificar os beneficiários e os direitos de grupos são, conforme o Código de Defesa do Consumidor, são direitos individuais "homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum".

No Brasil da atualidade muito se fala em Direitos Humanos. Todavia, se tornou-se apenas “politicamente correto mencioná-los” como um instituto desprovido de sua força anterior visto que boa parcela da população brasileira mão consegue se enxergar enquanto objeto principal de proteção destes direitos. No regime militar, houve uma campanha de maculação da pauta de Direitos Humanos de sorte tal que “ era considerado subversão, os seus divulgadores eram mal vistos e até execrados como defensores de bandidos”(Genovois, 2009). Mesmo em plena democracia representativa, “certos setores da sociedade ainda encaram com desconfiança aqueles” que os defendem.

Nesse sentido, em uma palestra ministrada no Instituto de Direitos Avançados da Universidade de São Paulo, no Brasil, em 30 de novembro de 1995, Etienne-Richard Mbaya fez a seguinte fala que se relaciona muito como atual momento vivido no país:

Falar da universalidade de tais direitos numa época em que são universalmente violados pode apresentar um caráter desafiador. Ora, no plano dos princípios, todos os homens podem invocar os mesmos direitos e todos os poderes políticos devem perseguir fins humanos, caso nos atenhamos, ao menos, à leitura dos múltiplos instrumentos internacionais que regulamentam o campo dos direitos em questão e o aproximam em suas duas direções; pois, enfim, não se deve esquecer que qualquer problema relativo a eles faz surgir uma relação vertical e outra lateral. A vertical é a do cidadão face ao poder, isto é, os direitos humanos concebidos como protesto, reivindicação. Há, entretanto, uma relação lateral que lembra um esforço de solidariedade, cooperação. Essas duas relações reencontram-se no direito internacional dos direitos humanos e pode-se dizer sumariamente que a relação vertical marca o lugar dos direitos civis e políticos, os quais dizem respeito às relações entre o cidadão e o poder; a relação lateral coloca em evidência os direitos econômicos

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e sociais que, na ordem interna, exigem do Estado, ou seja, por meio dele, contribuições em favor dos menos favorecidos feitas pelos cidadãos mais aquinhoados e, na ordem internacional, a ajuda dos países ricos àqueles em desenvolvimento com base em uma obrigação jurídica. (i1nformação verbal)¹

2.5 Direitos humanos e cidadania

Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e obrigações, garantindo que estes sejam colocados em prática, de forma a estar em pleno gozo de todas as disposições constitucionais. Nesse sentido, preparar o cidadão para o exercício da cidadania deveria ser um dos principais objetivos da educação de qualquer país, visto servir como base para exercício da própria democracia. Ora, para exercer a democracia de forma plena, os membros de uma sociedade devem usufruir no mínimo de direitos humanos e direitos fundamentais nos âmbitos individual, coletivo e institucional. Somente assim também poderiam cumprir os seus deveres e exercitar seus direitos de forma a promover o progresso de toda a sociedade.

Com efeito, Hannah Arendt, Norberto Bobbio, T. S. Marshall entre outros teóricos, se propuseram a retomar criticamente o pensamento político-jurídico ocidental para reconstruir novas reflexões acerca das bases morais e empíricas dos Direitos Humanos. Isso se deu principalmente devido às consequências aterradoras das Guerras Mundiais e o surgimento de regimes totalitários que colocaram em evidencia os limites morais da humanidade, que puseram em questão princípios comuns de Direitos humanos, cidadania e a própria democracia.

Nesse ínterim, ao se analisar a realidade fática dos direitos humanos não se pode deixar de analisar o tema da cidadania. Para Marshall (1967), referência fundamental para quem começa a refletir sobre cidadania na sociedade contemporânea, cidadania poderia ser considerada a participação integral do indivíduo na comunidade política que se manifesta como lealdade ao padrão social de civilização vigente e acesso ao bem-estar e à segurança material alcançados. Nesse sentido ainda, propõe uma classificação marshalliana dos direitos dos individuais equivalentes a um verdadeiro quadro de indicadores de cidadania.

São, nesse diapasão, direitos civis para Marshall aqueles direitos que concretizam a liberdade individual, como os direitos à livre movimentação e ao livre pensamento, à celebração de contratos e à aquisição e manutenção de propriedade, além do direito ao acesso à justiça que instrumentaliza a defesa a todos os direitos anteriores.

Seriam ainda direitos políticos, segundo Marshall, aqueles que compõem, em

1 Palestra feita pelo autor Etienne Richard Mbaya, em 30 de novembro de 1995 no Instituto de Estudos

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conjunto, a prerrogativa de participar do poder político, de sorte a possibilitar tanto a elegibilidade – possibilidade de atuar ativamente como membro do governo – quanto o exercício dos direitos políticos passivos na democracia que consistem no direito de se manifestar politicamente para escolher aqueles que farão parte do governo pelo exercício do voto.

Por fim, os direitos sociais, ponto principal a ser abordado nesse trabalho, que equivalem à prerrogativa de acesso a um mínimo de bem-estar e segurança materiais. Nesse sentido, busca-se interpretá-los como como acesso de todos os indivíduos ao nível mais elementar de participação no padrão de civilização atualmente vigente, para assegurar a exercício da democracia e mínimo de dignidade humana.

É mister ressaltar, nesse ínterim, que, para Marshall, não bataria que tais direitos fossem declarados e constassem de algum texto legal para se concretizarem e fossem considerados como em plena operacionalidade no campo fático. Tal concretização de cada um desses grupos de direitos dependeria então da incidência de um quadro institucional muito específico. Assim, os direitos civis dependeriam, por exemplo, para que fossem fielmente respeitados e cumpridos, do desenvolvimento da profissão de defensores particulares com capacidade postulatória para a defesa em juízo desses direitos, da capacitação financeira de toda a sociedade par arcar com as custas de litígios que se traduz basicamente em assistência judiciária aos pobres, além da completa independência por parte dos magistrados julgadores em relação às pressões exercidas por particulares econômica e socialmente poderosos.

Nesse sentido, Marshall é firme em diferenciar a efetiva cidadania experimentação na realidade fática pela população da simples necessidade de elencar esses direitos na legislação de cada país. Ora, como vimos vários países tem em sua legislação interna hoje, garantias referentes à proteção aos direitos humanos. Todavia, em que pese já ser algum avanço a previsão de tais direitos em lei, há que se fazer notar que a execução prática de tais diretos em muitos países, especialmente pela população de mais baixa rena ainda é muito deficitária. Note-se que confundir a previsão legal com a efetivação concreta de tais diretos permitiria alçar qualquer República Sul-americana contemporânea à condição de “paraíso dos direitos”.

Quanto aos direitos políticos, só se viabilizariam caso o Estado em seu papel de julgador e Disciplinador (Poder Jurisdicional e Poder de Polícia) criassem condições favoráveis ao exercício universal dos direitos políticos ativos e passivos.

No que concerne aos direitos sociais, no mesmo sentido que os demais já elencados, para Marshall, só seriam concretizados caso o estado fosse dotado de um aparato administrativo suficientemente forte, a ponto de propiciar, a todos, serviços sociais que garantam o acesso

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universal a um mínimo de bem-estar e segurança materiais.

Nesse sentido, se pretende estudar a seguir diferentes autores e teorias políticas sobre o comportamento do Estado com o intuito de tentar compreender qual seria mais interessante para garantir a proteção e aplicação mais efetiva dos direitos humanos civis, políticos e sociais a todos de forma universal de sorte a propiciar o desenvolvimento da democracia na contemporaneidade.

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