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4.2 AS AÇÕES DO PROJETO: EVENTOS E PRÁTICAS DE LETRAMENTO

4.2.1 A realização da palestra

Fonte: Do próprio autor

Após as entrevistas realizadas com pessoas da comunidade, percebeu-se que os entrevistados traziam algo em comum: uma apatia em discutir e falar sobre política. Os alunos

observaram que, nesse período, as pessoas comentam o que acontece e se divulga nas mídias, que sabem que participarão e tomarão decisões importantes referentes a esta temática, mas não gostam de discutir sobre o assunto.

Essa observação tornou-se a questão social para a realização da pesquisa. Os alunos se sentiram instigados a discutir e desenvolver trabalhos referentes ao assunto, mais especificamente, ao processo eleitoral. Por isso, de maneira coletiva e compartilhada algumas ações foram decididas e o início do desenvolvimento do projeto Eleições começou a tomar forma.

Uma das primeiras ações realizadas foi a palestra com o representante da Justiça Eleitoral, no caso, um profissional técnico. Nesse sentido, foi de suma importância o desenvolvimento de atividades prévias para a sua realização. Na sequência, tem-se um quadro que resume as decisões previamente discutidas e decididas pelos participantes para o desenvolvimento dessa ação:

Tabela 5: Resumo das atividades para a efetivação da palestra

PALESTRA

Atividades Objetivos

Visita ao Fórum Eleitoral

Conhecer a instituição responsável pelo acompanhamento das eleições na região e convidar um representante da Justiça Eleitoral para, através de uma palestra, esclarecer como funciona o processo eleitoral e tirar as dúvidas mais comuns dos eleitores.

Preparação da palestra.

Em sala de aula, de maneira coletiva, foram colocadas propostas de como organizar essa visita do Fórum Eleitoral em nossa escola, surgindo então várias atividades.

Divisão da turma em grupos e delegação de tarefas para cada grupo

Preparar perguntas ao palestrante; convidar alunos das outras salas, dos demais turnos, professores e funcionários para assistirem e participarem da palestra; ornamentar o caderno de assinaturas; produzir o texto das lembrancinhas da palestra; confeccionar cartazes (charge, dizeres, dentre outros) para ornamentação da sala; escolher o brinde a ser ofertado ao palestrante pela turma; decidir os responsáveis pela ornamentaçãoda sala no dia da palestra; além da construção coletiva de dois gêneros

discursivos de suma importância para a efetivação dessa palestra: o convite e o ofício.

Retorno ao Fórum

Eleitoral Entregar o convite e o ofício de solicitação.

Efetivação da palestra

Abertura → fala da Diretora da escola e da professora da disciplina. Exposição oral do técnico da Justiça Eleitoral acerca do surgimento do ato de votar, da criação da Justiça Eleitoral e de toda a organização de um pleito eleitoral (preparativos, durante o processo e após o pleito). Discussão: realização de perguntas elaboradas previamente pelos alunos e respostas apresentadas pelo técnico palestrante.

Encerramento da palestra → colocações da professora, palavra da aluna representante da turma e a entrega do cartão e do presente ao ministrante.

Através dessa tabela, é possível perceber quantas atividades foram necessárias para vivenciar essa ação específica. Um ponto fundamental para sua realização foi a troca de conhecimentos e habilidades entre os envolvidos, ou seja, a interação entre os participantes, atendendo assim ao anseio dos colaboradores quando questionados sobre o modo como as aulas de LP deveriam ser ministradas. Segundo o discente, as aulas deveriam ter “mais interatividades dos alunos” (C24), ou seja, aulas dinâmicas em que os alunos pudessem interagir mais entre si e desenvolver trabalhos em grupo.

Nessa ação, alunos e professores somaram suas habilidades e partilharam conhecimentos, em que cada um assumiu uma determinada responsabilidade para a concretização da ação. Foi necessário somar esforços, empenho e engajamento entre os colaboradores, construindo assim uma comunidade de aprendizagem como define Oliveira, Tinoco e Santos (2011, p. 51):

Esse conceito corresponde a uma organização de aprendizagem em que alunos e professores, na qualidade de agentes de mudança e num contínuo processo de construção do conhecimento, agem colaborativamente, potencializando recursos para compreender o mundo e alcançar resultados que verdadeiramente lhes interessem [...].

A realização de palestra com técnico da Justiça Eleitoral na escola exigiu dos colaboradores a escrita de diversos gêneros discursivos: ofício, convite, cartazes, perguntas, cartão de agradecimento, mensagem de agradecimento aos visitantes/convidados a ouvir e participar da palestra, caderno de assinaturas, roteiro para divulgação oral do evento nas demais turmas da escola, dentre outros. A produção desses gêneros ora ocorria em pequenos grupos, ora no grande grupo, realizada de modo coletivo e sempre de maneira processual.

A produção de dois desses vários gêneros merece ser melhor descrita. É o caso da escrita e reescrita coletiva dos gêneros convite e ofício. O uso do convite justifica-se pela ação que se pretendia realizar (palestra na escola) e o trabalho em torno do gênero ofício foi realizado devido à visita feita ao Fórum Eleitoral do município, a pedido do próprio técnico para justificar a sua ausência da instituição no horário de trabalho e, consequentemente, oficializar sua visita a escola.

Nesta ação, ficou bem evidente o trabalho com a escrita de maneira processual e colaborativa, pois foram necessárias cerca de dez aulas para construir e reescrever esses gêneros. No quadro, aos poucos, com a leitura e a participação de todos foi sendo produzido o texto. Cada aluno dava sua sugestão, lia, relia, acrescentava, trocava um termo por outro, visando sempre à construção de sentido e à organização composicional do gênero.

Em seguida, em outro momento, foi a vez da formatação do texto. Uma aluna voluntariamente o digitou e, no computador, ele foi ganhando forma. Pensou-se no tipo e tamanho da letra, nos destaques de alguns aspectos ligados à configuração do texto, dentre outros até se eleger a uma formatação aceitável do gênero proposto.

Para continuidade das atividades propostas, veio o trabalho em torno do gênero ofício. Primeiramente foi necessário explicar aos alunos o que era um ofício, muitos não sabiam do que se tratava o gênero e, por conseguinte, sua funcionalidade. Assim como o convite, esse gênero levou algumas aulas para se constituir e a sua digitação foi feita em sala de aula, por um dos alunos colaboradores à medida que ia se construindo o texto. Depois de tudo, foi feita a impressão, a secretária da escola enumerou e a diretora assinou, concluindo então a construção do gênero.

Além disso, essa ação oportunizou o trabalho com os aspectos gramaticais e composicionais que envolvem os textos, tais como ortografia, regras gramaticais, a linguagem do texto, dentre outros aspectos, correspondendo, assim, às expectativas dos discentes quanto à prática de leitura, produção textual e gramática a serem desenvolvidas nas aulas de LP, como se observa nas citações a seguir: “produção textual, linguagem formal” (C28); “Gramática,

substantivo, interjeição, conjunção, numeral, preposição etc...” (C3).

Em síntese, pode-se afirmar que esta ação foi uma das mais extensas do projeto. Através dela, os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar a prática da escrita processual e colaborativa, de ter a questão social como ponto de partida para as produções textuais, além de vivenciar aulas mais dinâmicas, com interações entre os participantes e entre a escola e outras esferas sociais.

Além disso, foi uma ação que contribuiu para o desenvolvimento comunicativo dos discentes, pois estiveram inseridos em diferentes contextos sociais, com propósitos comunicativos diversificados e com o uso da leitura e da escrita em interações distintas, aproximando-se do objetivo proposto por Travaglia (2001) para o ensino da LP.