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O escritor mexicano Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcaíno (1918 ― 1986) publicou El llano en llamas em 1953. Trata-se de uma coletânea de quinze contos cujas ações se desenvolvem num cenário que, dadas as descrições geológicas, se aproxima das terras calcinadas do sudoeste do estado de Jalisco, no México. Em 1955, a nova edição de El llano

en llamas constou de dezessete contos. Neste mesmo ano é lançado o romance Pedro Páramo. Em 1980, Juan Rulfo publicou El galo de oro, um roteiro para cinema. A excelência

Trata-se do que Hugo Rodríguez-Alcalá chamou de "la máxima fama con la mínima obra"4 (1965, p. 88). No entanto, a crítica demonstrou de início, uma reação negativa em relação à obra do escritor. A primeira censura aconteceu ainda em 1955 e proveio de Ali Chumacero, paradoxalmente, editor-chefe da Editora Fondo de Cultura Económica, responsável pela publicação do romance Pedro Páramo. Chumacero classificou o romance como "una

desordenada composición [...] Sin núcleo, sin un personaje central en que concurran los demás, su lectura nos deja a postre una serie de escenas hiladas solamente por el vapor aislado de cada una"5(1969, p. 109).

A falta de ordenação lógica entre os fragmentos textuais, as idas e vindas temporais, o desdobramento do espaço em diferentes camadas, a linguagem sintética e aparentemente simples desnortearam os críticos da época. A quebra da cerrada visão lógica do mundo de modo a afetar o pensamento racionalista era uma prática estranha ao texto ambientado em regiões rurais. A crítica norteava-se pela concepção de que, à focalização específica do cenário, deveria corresponder uma forma de conhecimento engendrada no contato com a realidade concreta, o que limitava sobremaneira as experiências estéticas. Poucos críticos, dentre eles Salvador de la Cruz, puderam compreender, de início, o propósito da inovação de Rulfo: "es que Juan Rulfo acaba de despertar con esta obra el marasmo en que se halla

sumida la novela mexicana que hace muchos años se ha anquilosado en la repetición de los mismos temas"6

(apud MONTOTO, 1999, p.18). Ao enxergar nos romances mexicanos, a "repetición de los mismos temas", Cruz revelou estar um passo à frente de seus colegas, uma vez que não norteou a avaliação da obra de Rulfo com base nos parâmetros estéticos dos romances regionais de teor crítico-social.

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"a máxima fama com a mínima obra". (Vale esclarecer que todas as traduções apresentadas neste capítulo são da autoria da pesquisadora)

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"uma desordenada composição [...] Sem núcleo, sem uma personagem central em torno de quem se reúnam as demais. Sua leitura deixa-nos a posteriori uma série de cenas alinhadas somente pelo vapor isolado de cada uma".

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"é que Rulfo acaba de despertar, com esta obra, o romance mexicano do marasmo em que estava perdido e no qual esteve por muitos anos enrijecido na repetição dos mesmos temas".

Não obstante a inicial recepção negativa, apenas três anos depois o romance já estaria traduzido para o alemão e, em 1970, para o inglês, sueco, norueguês, italiano, polonês, francês, português, russo e esloveno. Na década de oitenta, o romance encontrava-se traduzido para mais de trinta idiomas.

Passado o impacto inicial, os leitores mostraram-se receptivos e, mais tarde, completamente seduzidos pela obra de Rulfo. Não é difícil entender os fatores que permitiram a aproximação entre as narrativas densas de Rulfo e o leitor comum. Em primeiro lugar, o substrato regional não limita nem circunscreve os esquemas operacionais do texto, pois o homem de Rulfo é o homem atormentado em sua trajetória existencial, aquele que busca um sentido para a vida, sendo o portador das inquietações que perseguem o homem moderno. Um segundo ponto de identificação seria exatamente a aspiração ao indefinido, o desejo do ilimitado, aspectos que fazem o leitor valorizar Comala ― o cenário onde se desenvolvem as ações de Pedro Páramo ― justamente naquele ponto que desagradou os críticos, ou seja, trata-se de um lugar onde os eventos não estão mais subordinados ao raciocínio de causa- efeito. A naturalidade e a espontaneidade com que acontece a quebra do ordenamento causal foi um recurso que agradou ao leitor não mais satisfeito com a lógica cartesiana presente nos textos regionalistas.

A década de sessenta foi o momento de revisão da antiga postura crítica. Grande parte das mudanças no posicionamento crítico ante a obra de Rulfo se deveu ao estudo El arte

de Juan Rulfo, de Hugo Rodríguez-Alcalá, publicado em 1965. Com o subtítulo "Historias de vivos y difuntos", Rodríguez-Alcalá realizou o primeiro estudo de fôlego destinado a analisar

a obra de Rulfo em sua complexidade estrutural e temática. A primeira parte constitui-se de um exame de quatro contos de El llano en llamas. Neste exame, o autor abordou questões relacionadas com o processo de composição dos contos que, segundo ele, apresentam uma ação fragmentada e desordenada, mas que não se pode chamar de caótica porque é possível

reconstituir o processo fabular, embora as ações não se apresentem lineares no discurso narrativo. Os contos têm por finalidade contrariar as expectativas habituais do leitor, de modo a instaurar significados não explícitos na manifestação textual. Na segunda parte, o autor procedeu ao estudo do que chamou "estrutura escatológica" do romance e da paisagem desolada, entendida por meio do binômio "inferno/paraíso". O autor analisou ainda a complexidade emocional das principais personagens de Pedro Páramo. Segundo o estudioso, o grande mérito de Rulfo consistiu em reaproveitar o cenário da revolução cristera7 não para destacar os conflitos ocorridos entre a Igreja e o Estado nos anos de 1926-29, mas para revelar o cotidiano do homem comum que habitava o interior mexicano quando da revolução. O que ganha relevo não é a pugna entre cristãos e federalistas, mas o homem em sua trajetória solitária de existir. Quanto ao aspecto que mais desnorteou a crítica de então, ou seja, o aparente "caos estrutural" da obra, o ensaísta alega que a ausência de laços conectivos entre as partes componentes das micronarrações de Pedro Páramo obedece a uma intenção subjacente, uma vez que não se pode "unir" logicamente aquilo que se apresenta fragmentado e inconcluso. No entender de Rodríguez-Alcalá, a linguagem sintética de Rulfo, ao mesmo tempo em que evoca sentidos não-manifestos no tecido textual, também mostra o homem que não se abre ao diálogo, como se pode constatar na declaração seguinte: "Esta parquedad se

nos manifiesta ora como economía de medios expresivos con los que logra Rulfo um máximum de efectos cuando él mismo actúa de narrador, ora como un laconismo propio de sus personajes ensimismados y, por consiguiente, caracterizador de su índole

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A revolução cristera consistiu no conflito armado entre guerrilheiros católicos e soldados do governo. A Igreja se encontrava em conflito com o Estado desde 1917, quando da promulgação da Constituição que limitava a ação do clero. Em 1926, a tensão chega ao clímax quando o Estado expulsa duzentos padres estrangeiros. A Igreja contra-ataca com a suspensão dos cultos. É fundada a Liga Nacional de Defesa da Liberdade Religiosa (LNDLR), que resolve iniciar um boicote econômico ao governo enquanto não fossem revogadas as leis anticlericais. A guerra começa no campo, apesar da liderança da LNDLR ser fundamentalmente urbana. Os conflitos se concentram nos estados de Jalisco, Guanajuato e Michoacán, chegando os cristeros, como passam a ser chamados os guerrilheiros, a arregimentar cerca de trinta mil homens. Com dificuldades para debelar o movimento, o governo mobiliza o exército e as milícias camponesas. Depois de três anos de guerra, a Igreja e o Estado chegam a um acordo.

reconcentrada"8 (1965, p. 207). De fato, no nível textual, o texto forma uma rede de sentidos que ultrapassa a ordem habitual do mundo organizado logicamente. No que se refere ao laconismo das personagens, pode-se afirmar que nem sempre a palavra possibilita revelar a amplitude e intensidade das emoções e o silêncio é, paradoxalmente, a forma de expressão de aspectos sutis da experiência subjetiva.

As décadas de setenta e oitenta foram profícuas em estudos críticos sobre a obra de Rulfo pois "o número de livros dedicados a estudar quase que exclusivamente a narrativa rulfiana quadruplicou" (MONTOTO, 1999, p. 31). Em 1970, no México, o autor recebeu o

Premio Nacional de Literatura, fator que chamou a atenção da crítica e dos leitores para sua

obra. Na década de setenta, o nome de Rulfo como um dos melhores prosadores do mundo latino-americano era consenso entre os críticos literários.

A década de oitenta marcou um período em que os estudos sobre a arte de Rulfo foram tão intensos que os Cuadernos Hispanoamericanos, de números 421 a 423 9, publicados entre julho e setembro de 1985, foram inteiramente dedicados ao estudo da obra do escritor mexicano. Trata-se de quarenta e um artigos em que o estilo do autor, os contos e o romance são abordados sob diferentes enfoques temáticos. É um alentado volume de quinhentas e quinze páginas, a maior reunião de artigos que se destinam à compreensão da obra de Rulfo. De tal legado crítico, destacar-se-á, a seguir, alguns estudos.

Julio Rodríguez-Luis em "La función de la voz popular en la obra de Rulfo"10 teve como objetivo oferecer algumas claves para explicar o fenômeno Rulfo. Para o ensaísta, os temas que perpassam toda a obra do autor são a violência, a indiferença em relação à morte, a solidão e a tristeza. De acordo com Rodríguez-Luis, as personagens são representantes de um

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"Esta moderação nos é manifestada ora como economia dos meios expressivos com os quais Rulfo logra um máximo de efeitos quando ele mesmo atua como narrador, ora como um laconismo próprio de suas personagens ensimesmadas e, por conseguinte, caracterizador de sua índole densa".

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Cuadernos Hispanoamericanos. Madrid: Instituto de Cooperación Iberoamericana, nos. 421-3, jul/sept. 1985, 515 p.

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povo que parece ser vítima de uma interminável opressão. O crítico observou que o resgate de entrevistas concedidas por Rulfo serviu para o estudo do contexto social e histórico de El

llano en llamas e Pedro Páramo, resultado do interesse do autor pelo povoado camponês,

cuja vida recria em tons doloridos de solidão. Para o crítico, o compromisso de Rulfo com a realidade histórica faz de sua obra um ato político que se expressa por vias muito diferentes das empregadas nas obras comprometidas com a explícita denúncia de uma economia agrária injusta. Assim sendo, o silêncio e o sentimento de abandono substituem as vozes de solicitação de mudança política, o que confere um tom trágico ao romance. As personagens são vítimas tanto do sistema político como de um destino que não lhes possibilita outro caminho senão a morte.

Na segunda parte do estudo, Rodríguez-Luis analisou os monólogos interiores dos contos de Rulfo e verificou que as personagens expressam seus pensamentos de acordo com a ordem em que eles ocorrem em sua mente, sem submetê-los a uma análise lógica. Isto faz com que se estabeleça um contato direto entre o leitor e a personagem, contato que prescinde da mediação do narrador. Conforme assinala o crítico

son las voces de los personajes las que importan, son ellas las que el narrador desea que recordemos, y no la propia, de ahí que los cuentos más efectivos de El llano sean aquellos donde desde un principio nos habla el

personaje directamente, o en los que la presencia del narrador es mínima.11

(1985, p. 138).

Rodríguez-Luis estudou ainda a estrutura coloquial e o uso de palavras populares na narrativa de Rulfo. Segundo ele, a palavra popular é vista como "unidade significativa", ou seja, apresenta uma pluralidade de significantes num só significado, própria da poesia. A recriação da fala popular se conduz por um propósito que não visa reproduzir a linguagem específica de dada localidade. No caso de Rulfo não se trataria de "reprodução", mas sim de

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são as vozes das personagens que importam, são elas que o narrador deseja que recordemos e não sua própria voz. Segue-se que os contos mais efetivos de El llano sejam aqueles em que desde o princípio nos fala diretamente a personagem ou aqueles em que a presença do narrador é mínima.

uma intenção de identificação total com a mentalidade liberta das amarras causais do discurso lógico. O ensaísta argumentou que os diálogos curtos, as perguntas sem resposta, as frases impessoais e a adjetivação comprometida com a idéia de opacidade conferem à fala popular um sentido que transcende a ordem do mundo objetivo e se projeta num universo onírico. Neste universo, o sortimento de representações e relações imediatas é substituído por imagens que desconhecem as limitações da realidade material e temporal.

O crítico constatou que a linguagem aparentemente simples é a forma de Rulfo captar "pedaços" da vida diária. Por isso, os enunciados são curtos, as histórias não podem ser compreendidas seqüencialmente, faltam explicações sobre como teria acontecido um ou outro fato. É que, na visão do crítico, as personagens de Rulfo são portadoras da articulação sem consistência lógica, típica dos povos primitivos. Tal como o homem primitivo, as personagens de Pedro Páramo pensam e raciocinam de modo diferente do homem civilizado. O modo como o homem das sociedades antigas enxergava o mundo não obedecia às leis da coerência do homem civilizado e não se baseava na estreita causalidade de ações. O homem primitivo não entendia a necessidade de evitar contradições, uma vez que as coisas podiam ser elas mesmas e algo mais, elas e outras. No estágio inicial da evolução, o homem não conhecia o princípio da "oposição". Rodríguez-Luis explica que, para o pensamento primitivo, era concebível a intervenção de fatos e seres sobrenaturais na camada da vida habitual.

José Manuel García Rey iniciou o estudo "La plática: una memoria colectiva de la

desgracia"12 com uma apreciação valorativa sobre a obra de Rulfo. Para ele, a linguagem rulfiana é "breve", "contundente", "seca" e "definitiva". Segundo o ensaísta, tal linguagem entra em contraste com as extensas páginas que a crítica tem dedicado à narrativa. O mundo de Rulfo, imediato e natural, está representado no planalto seco e deserto, que é a geografia do desassossego vital, da tragédia que pesa e atua sobre as personagens de modo ineludível. A

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tristeza que emana constantemente da obra de Rulfo resulta da captação de um cosmo sem humor, sem alegrias e sem risos. O ensaísta dá destaque para o fato de que Rulfo buscou os nomes para suas personagens em cemitérios. Assim sendo, argumentou que a morte, enquanto evento nivelador de todas as diferenças em vida, é a motivadora real para a composição do processo fabular das obras do autor. No universo narrativo não há nenhuma razão que justifique a luta pela vida, não há relutância das personagens em se entregar ao mistério final da morte. Segundo o crítico, todos os indivíduos têm em comum a mesma falta de esperança, a mesma desolação e tristeza e é por isso que todos os seres são reconduzidos à circunstância que fundamentou a sua criação ― a morte.

García Rey comparou a trajetória existencial das personagens de Rulfo ao destino das personagens das tragédias clássicas, pois em ambos os casos o homem é impotente presa de um emaranhado de situações que o levarão à morte. No entanto, diferentemente das tragédias clássicas, em Rulfo, as ações mais terríveis, como os assassinatos, fazem parte da vida cotidiana e a morte não significa o acesso para um outro nível de existência. As mortes provocadas obedeceriam apenas à necessidade de um "ajuste de contas" que substituiria a desacreditada justiça humana. Estas circunstâncias são, em geral, rígidas e imutáveis e, frente a elas, as personagens nada questionam. Os textos de Rulfo apresentam-se, na opinião do autor, perpassados por uma "conciencia o memoria colectiva de la desgracia”13 (1985, p. 180). Trata-se de uma funda convicção de que o homem vive como se carregasse uma carga vital dolorida e antiga e, por isso, as personagens se movem em direção a um destino infausto.

De acordo com o ensaísta, a situação comum a quase todas as personagens de Rulfo é sentir a pobreza material de que são vítimas como uma culpa ancestral que se deve pagar com o sofrimento e a morte. A desgraça é o tema característico e o "planalto" é o seu ambiente de

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desenvolvimento. Tal cenário de desgraças configura o universo particular de Rulfo, na opinião do crítico, já que o planalto

este mundo cerrado por la sangre, la muerte y la miseria es la ambientación, configura la particular geografía textual de Rulfo; el cosmos de Rulfo. Allí suceden las terribles historias, las acciones como accidentes casi de una historia infinita que empieza siempre y que siempre termina. El llano es marco y símbolo y este marco no transcurre aunque es iluminado por el

transcurrir, por la sucesión de historias desarrolladas.14 (1985, p. 181).

García Rey entendeu que a geografia de desgraças está amparada em uma estrutura terceiro-mundista de dependência econômica e política de países pobres em relação a países desenvolvidos. Para ele, o estancamento e o empobrecimento dos países terceiro-mundistas são facilmente perceptíveis nos modelos econômicos rurais. Trata-se de um subdesenvolvimento que, em certas zonas camponesas, converte-se em miséria, gerando formas de vida que se pode chamar de "subcultura". A morte constitui uma das circunstâncias do mundo recriado por Rulfo e se revela presença habitual nesse cenário o que, no entanto, não significa que a morte esteja presente como conseqüência natural da vida. O crítico relembrou que há poucos casos de morte natural já que, na grande maioria das vezes, ela é decorrência de crimes e de vinganças pessoais. A violência e o ódio revelam a inexistência da atitude protetora, comum em pequenas comunidades. Os indivíduos integrantes de um clã ou de uma classe com rotina e interesses comuns costumam desenvolver um sistema de defesas que, protegendo o grupo, protege também cada indivíduo. No entanto, conforme García Rey, não é o que acontece com as personagens de Pedro Páramo. A proteção e o zelo para com o outro inexistem porque nada há que seja perene. Mesmo a força econômica de Comala só perdura alguns anos. Por isso, na opinião do crítico, a ruína e a desolação não permitem o surgimento de um sentido de união, visto que, na maioria das vezes, a existência do outro é uma ameaça para o indivíduo.

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este mundo cerrado pelo sangue, morte e miséria é a ambientação, configura a particular geografia textual de Rulfo, o cosmo de Rulfo. Ali sucedem as terríveis histórias, as ações como acidentes de uma história quase infinita que sempre começa e sempre termina. O planalto é marco e símbolo e este marco não se altera, embora seja iluminado pela passagem do tempo, pela sucessão de histórias que se desenvolvem.

Em "Dualidad y desencuentro em Pedro Páramo"15, Mario Muñoz comentou a existência de uma vasta bibliografia crítica que traz à luz os múltiplos significados suscitados pelo romance Pedro Páramo em diferentes épocas de leitura. O crítico enfatizou o "salto qualitativo" do escritor ao resgatar elementos regionais que transcendem seu campo semântico para adotar funções que ultrapassam a superfície textual ganhando novos significados. De acordo com Muñoz, o romance é um clássico da literatura universal que, cada vez mais, tem sido alvo de interesse dos críticos, o que deriva das múltiplas possibilidades interpretativas da obra. Muñoz viu a "dualidade" e o "desencontro" como fatores de estruturação do romance. Por "dualidade" deve-se entender a capacidade da narrativa em diminuir o distanciamento entre pólos opostos, ou seja, haveria uma conjunção entre o real e o pressentido, o regional e o universal, o concreto e o transcendente. O "desencontro" refere-se à capacidade da narrativa em levantar elementos de oposição que se comunicam diretamente, mas que continuam apartados. Assim, por exemplo, as "recordações" das personagens expõem a semelhança entre o tempo passado e presente. O "desencontro" das personagens com o tempo em que vivem advém da angústia de não haver o tempo futuro.

A captação das situações de dualidade e de desencontro corresponde a uma leitura

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